17 anos de dor, medo e angústia... Não saber se ele come, bebe, se trocam suas fraldas constantemente ou se está bem agasalhado me consumia ano após ano. Um pedaço de mim havia sido arrancado a sangue frio e não consigo descrever tamanha dor. Lembro dos primeiros anos sem ele, meu pequeno e tão amado filho, chorei dia e noite, enfrentei presídio para tentar convencê-lo a devolver meu pequeno, mas o ódio que ele sentia era tão grande que era impossível fazer ele enxergar que aquela atitude dele era a mais cruel de todas que ele havia cometido na sua vida de traficante. Eu fiz de tudo que estava ao meu alcance para tê-lo em meus braços novamente, fui a delegacia, implorei Majú para interceder por mim junto a Lyon, viajei para as Bahamas e falei pessoalmente com ele, eu precisava tentar, ele precisava ver o farrapo que eu me encontrava, mas infelizmente não obtive sucesso, Fael não falava de forma alguma. Cada criança que eu olhava na rua era inevitável não pensar, será esse meu João
Estou me reparando para levar Jhudy para a escola, Caíque já havia ido trabalhar quando meu celular toca. Meu coração erra uma batida quando aparece um numero desconhecido, eu sabia que era ele, eu sentia. — Achou meu filho? É a primeira coisa que falo quando atendo o telefone. — Bom dia pra você também! — Bom dia! Respondo seca. — Precisamos conversar! Eu esperei tanto por esse dia, minhas mãos estão tremendo e uma falta de ar me domina, eu não consigo nem responder, Jhudy percebe meu estado e enquanto Fael fala do outro lado da linha, Jhudy fala comigo bem na minha frente. — Alô, ainda está aí? Fael fala enquanto Jhudy também diz: — Mamãe, a senhora está bem? Eu estou em meio a uma crise de ansiedade, isso já aconteceu outras vezes, mas nunca sozinha com Jhudy. — Marina?! Fael chama. — Mamãe?! Jhudy também me chama e começa a chorar. Eu tento falar alguma coisa para acalma-la, mas minha voz não saí. Meu coração parece que vai parar, minha respiração está pesada e
— Vamos cara, deixa de ser velho! Bêh me chamava para uma festa. — Amanhã cedo eu tenho moto Cross, vou nada! Rejeito. — Vamos sim! Diz Vanessa Entrando no meu quarto já toda arrumada. — Eu já disse que tenho moto cross amanhã cedo! — Ah vamos Leon, ficamos só um pouquinho. Vanessa diz sentando no meu colo e envolvendo seus braços ao redor do meu pescoço. Tem três anos que voltei a morar no Brasil, minha mãe não ficou nada feliz, mas eu queria fazer faculdade de administração e as melhores estão no Brasil, mentira, eu que queria voltar para o Brasil mesmo. Meu pai topou na hora, ele quer me preparar para administrar seus negócios e apesar dele não me dizer em qual tipo de negócios eu vou administrar na sua ausência, tenho certeza que não são lícitas. Atualmente eu moro na casa dos meus pais em um condomínio no recreio, dinda Lôh e tio Kadu me auxiliam em tudo que preciso já que moram ao lado. Vocês estão se perguntando quem é Vanessa. Bem, ela é uma mina que “pego”, conhe
Passeio pela festa observando geral, a galera está enlouquecida, muita bebida, as meninas de biquíni na piscina, adolescentes se pegando em cada canto da casa. Olho em direção a cozinha e vejo o tal do Noah enchendo dois copos de bebidas e em um dos copos vejo ele colocando algo em uma delas. Acho estranho e fico de longe só observando. Caminhando lentamente pelo meio da galera atrás dele, vejo quando ele entrega um dos copos a loirinha. — Filho da puta! Falo em voz alta. Caminho agora mais apressado e no momento que ela vai colocar o copo na boca eu esbarro nela, fazendo toda sua bebida cair. — Eiiii... Ela me olha brava. — Foi mal! Digo encarando o Zé Mané, que me olha de cara feia. — Olha por onde anda! Ela diz ríspida. — Já disse que foi mal, não precisa ser estúpida. Provoco ela. — Que? Ela agora está indignada e morro de vontade de rir das caretas que ela faz. — Você derruba minha bebida, me suja e eu que sou a estúpida? Seu olhar está semi ser
— Tem certeza que os seguranças do seu pai não vão te seguir? Pérola me pergunta aflita, roendo as unhas. — JP vai com a gente, então eles não vão nos seguir. Digo tentando acalmar Pérola. Eu e Pérola nos conhecemos no ensino fundamental, estudávamos na mesma escola particular e desde então não desgrudamos mais, o pai dela e o meu se conheciam. Eu moro com meus pais no complexo da maré e ela mora no complexo de Israel, mas ela sempre está aqui e eu sempre lá. Eu tenho um irmão chamado João Paulo, o famoso JP. Famoso por que as meninas da comunidade não saem do meu portão e quase se matam por ele. Ele é uns anos mais velho que eu e daqui uns dias entra na maior idade, sorte dele, queria eu já ter meus 18 anos. JP é super meu amigo e o motivo do meu pai deixar eu sair para as festas a noite sem segurança, mas se JP não vai, eu também não vou, pelo menos não sem seguranças. Eu odiava sair com seguranças, eles ficavam em cima, observavam tudo e não me deixavam a vontade. Uma vez
Cinco da manhã e eu já estou de pé me preparando para a corrida que vai ter. Eu amava assistir e já tinha tudo organizado, quando fizesse 18 anos e tirasse minha habilitação, participaria do moto cross. Pérola tinha acabado de chegar e não ia comigo, JP deixou ela aqui e sumiu, então não tem jeito, vou ter que ir com Théo. — Amiga, senta aqui... A cara da Pérola não é nada boa. — O que aconteceu? Pergunto preocupada. — Bêh me parou na festa... — Ahhh... Grito e ela tapa minha boca. — Para de gritar louca, vai acordar sua mãe... Não é nada disso que você está pensando. — Droga! Reclamo. — Então é o que? — Sabe o garoto que derrubou sua bebida? Ela começa. — Sei... O sem educação idiota! O que tem ele? — Ele viu Noah colocando algo em sua bebida... Fico um tempo em silêncio assimilando o que ela disse. — Não acredito! Digo perplexa. — Ele não tinha o porque mentir... Abre seu olho com Noah. — Que filho da puta! Bem que minha mãe diz: “ Não dá mole com sua bebida, não
— Já voltou? Minha mãe entra na sala com várias roupas dobradas nas mãos. — Voltei! Suspiro irritada e sentando no sofá. — Quer conversar? Ela estreita o olhar pra mim. Minha mãe era a melhor mãe do mundo, nunca exigia uma conversa, sempre me deixava a vontade para falar no meu tempo. — É que um garoto idiota me livrou de uma enrascada ontem e hoje, mas no final foi um imbecil! Digo irritada. — Dá pra ser mais detalhista? Minha mãe não estava entendendo nada. — Lembra do Noah? Ela assente. — Então, parece que ele ia colocar algo na minha bebida e um amigo do Bernardo viu e meio que derrubou minha bebida de propósito... Hoje eu fui tirar satisfação com Noah e a senhora acredita que se não fosse o garoto de ontem de novo ele teria me batido? Minha mãe arregala os olhos assustada. — Nunca gostei desse tal de Noah... Se seu pai souber... — Não conta pra ele mãe, por favor! Eu não queria meu pai envolvido em confusão. — Não vou contar, mas você sabe que uma hora ele vai sa
Me olho no espelho e fico assim por alguns segundos, respiro fundo e ligo para Théo. — Tá aonde? Pergunto de primeira. — No estacionamento, por que? — Tô indo embora! — Ok! Te espero na saída C do shopping. Me olho pela última vez no espelho e quando estou saindo do banheiro sinto meu corpo ser puxado para dentro de uma porta que tem no corredor dos banheiros, acho que é acesso de funcionários. Me preparo para gritar quando ele tampa minha boca. — Quem você pensa que é para me tacar refrigerante na frente de todos? Seu olhar é de raiva. — E quem você pensa que é para dizer aquelas coisas pra mim? Digo depois de morder a mão dele, o fazendo destampar minha boca com um gemido — Aiiiiii, filha da.... Ele para antes de completar a frase. — Sou o cara que te salvou de ser estuprada e agredida! Ele responde sacudindo a mão de dor. — E eu sou a menina que se sentiu ofendida pelo que você disse! Estamos quites agora! Digo tentando sair daquela área.