Capítulo 4

Minha irmã e eu passamos praticamente o resto da tarde toda jogadas no sofá, e só lá para as seis da noite é que a Clara resolve ir para seu apartamento se arrumar e eu a me preparar para entrar em mais um plantão.

Já tinha preparado minha bolsa, meu jaleco e os meus prontuários. Troquei de roupa e saí para ir pro hospital, antes que eu pegasse um trânsito pior do que aquele a tarde. Já chego no hospital com aquele pico de sempre, várias pessoas na sala de espera, crianças e adultos gemendo de dores e se queixando do atendimento.

Fui direto para a sala dos médicos deixar minhas coisas e trocar de roupa. Pensei que seria um plantão mais tranquilo, mas pelo visto será bem agitado. Sempre quando chego no hospital e troco de roupa checo os prontuários dos pacientes que já estão internados. É importante para eu saber como está cada um e anotar as novas observações.

Fiz minha primeira ronda do plantão, alguns pacientes melhoraram o quadro clínica já outros nem tanto. Quando estava andando pelo corredor recebi um alerta de emergência, a ambulância estava trazendo alguém em estado grave. Corri para a sala de emergência para já estar preparada quando o paciente chegar.

Vi os socorristas entrando com duas macas, eram um casal de senhores. Pude ver que a senhora estava consciente, somente com algumas escoriações pelos braços. Cheguei perto do homem e ele não era nem muito idoso e nem jovem, então chequei seus batimentos e verifiquei a sua pupila.

— Senhor? Consegue me ouvir? — perguntei olhando em seus olhos, ele não respondeu, estava inconsciente.

Quando levantei sua blusa para verificar como estava seu abdômen o monitor cardíaco disparou, ele estava tendo uma parada cardíorrespiratória. Imediatamente subi na maca e comecei a massagem cardíaca. Pedi aos enfermeiros que trouxessem o carrinho com o desfibrilador e mandei que carregassem.

Desci da maca e dei o primeiro choque de 50 joules, e nada. Voltei com a massagem cardíaca e pedi que carregassem em 100 joules. Desci e fiz o mesmo processo mais uma vez e nada dele retornar. Ouvi gritos ao redor e quando parei para ver quem era pude notar que se tratava da mulher que chegou junto com esse paciente. Ela gritava pedindo para salvarem o marido dela e tentava vir até ele, porém, era impedida pelas enfermeiras e por um rapaz que estava a segurando.

Depois de fazer esse processo durante vinte minutos consegui trazê-lo de volta, desci da maca e respirei aliviada. Fiz tudo o que deveria ser feito nesse momento e deixei que as enfermeiras cuidassem do resto.

Infelizmente chega muitos casos assim na emergência, pessoas vítimas de acidentes de trânsito, justamente pelo caos que essa cidade é. Tudo estava mais tranquilo agora, já tinha feito todos os procedimentos e atendido várias pessoas, estava exausta.

Passou tão rápido a hora que já era quase o horário de eu ir embora. Fui aproveitar para me trocar e pegar minhas coisas. Hoje começa meu primeiro dia oficialmente no clube de futebol, estou curiosa com esse novo desafio. Inclusive fiquei feliz em saber que o hospital é bem perto do CT, pelo menos já me pouparia um bom tempo, sem precisar encarar quase quarenta minutos de trânsito.

Quando cheguei ao clube e me indicaram onde seria minha possível sala, eu estava com medo de me perder dentro desse lugar enorme. Mas achei, estava bem movimentado em volta.

— Olha só quem chegou, como vai Dra Cecília? — o meu grande amigo de faculdade e também fisioterapeuta me cumprimentou quando me viu chegar.

— Bom dia! Que bom revê-lo, Gabriel. Estou ótima, e você? — cumprimentei dando um pequeno abraço.

— Fico muito feliz em revê-la, que bom que foi contratada pelo clube. — sorri pra ele.

— Inclusive, obrigada pela indicação. Soube que você rasgou elogios sobre a minha pessoa. — falei em um tom brincalhão e ele soltou uma gargalhada.

— Ah falei só um pouquinho, não foi esse absurdo todo que falaram não — ele explicou e riu.

Nossa amizade sempre foi assim, repleta de brincadeiras e risadas. Eu sempre me diverti muito com ele e apesar de não termos aquela amizade de andar junto todo o tempo, sempre que nos vemos é assim, passe o tempo que passar.

— Entendeu tudo de como funciona? — ele me perguntou depois de ter me explicado detalhes do que eu iria fazer hoje.

— Entendi sim, muito obrigada. — agradeci com um sorriso.

— Lá vem alguns dos meninos, comece a chamar pela ordem da relação que te passei, ok? — balancei a cabeça positivamente.

O Gabriel foi para o seu posto enquanto que eu chamei o primeiro jogador para a minha sala.

— Pode sentar. — falei olhando para os papéis em minha mesa.

Já tinha atendido uns cinco jogadores, eles são bem tranquilos e engraçados. E uma coisa que não dá pra negar é que nesse time a maioria dos jogadores são realmente muito bonitos.

Pedi para a assistente que fica lá fora chamar o próximo, eu estava fazendo uma confusão só com todos os papéis, não sabia quem seria o próximo.Ouvi a a porta abrir e pedi que o jogador se sentasse enquanto eu me situava em meio a minha bagunça.

— Éee...Rafael Lima?! — perguntei quando li em um dos papéis.

— Ricardo Rios. — o jogador respondeu sorrindo.

Levantei a cabeça para ver de quem se tratava e vi que era o tal peguete da Clara. Ele me olhava de um jeito risonho, talvez por conta da minha confusão de misturar tudo e todos. Em segundos meu corpo estava cheio de vergonha, mas ainda sim tinha que encontrar coragem para continuar ali.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo