Capítulo 1

Eu acho que estava achando pouco meus plantões no hospital quando aceitei ser chefe da equipe médica da SEP. Eu sempre entro de seis horas da noite e saio às seis horas da manhã, e amo essa rotina cansativa, não sou do tipo de pessoa que gosta de ficar parada por muito tempo.

Recebi a indicação de um amigo fisioterapeuta da equipe médica do clube, ele foi meu colega de faculdade, apesar de não termos feito o mesmo curso, nos víamos bastante no campus da faculdade. E como até hoje temos contato, ele acabou me indicando como clínica geral e eu resolvi encarar essa oportunidade.

Sou clínica geral e cirurgiã geral, e como meu plantão de doze horas geralmente é na parte da noite da para conciliar com os dias que estarei no CT, até porque os horários divergem um do outro.

Hoje tive uma cirurgia que durou cerca de seis horas e meia, estou super cansada, mas mesmo assim feliz que a cirurgia foi um sucesso.

Já estava quase chegando em casa e graças a Deus consegui um apartamento ao lado do da minha irmã, por ela ser mais nova que eu estava sempre saindo e trazendo rapazes diferentes para dormir em casa. Eu só não achava mais ruim porque muitos vezes quando eu estava chegando em casa o cara já estava saindo. E por essas e outras resolvi mudar para outro apartamento e de preferência ao lado do dela para dar mais privacidade mas ao mesmo tempo para não ficar tão longe.

Sempre fomos nós duas desde que os nossos pais morreram, nossa mãe morreu de acidente de carro quando a Clara ainda era novinha, então ela mal tem lembranças da nossa mãe. Já nosso pai morreu de infarto há cinco anos atrás, mas até hoje sentimos muita falta dele e de sua companhia.

De lá pra cá nós somos a companhia uma da outra, e apesar de sermos irmãs do mesmo pai e da mesma mãe, somos totalmente diferentes uma da outra. A Clara é mais extrovertida, alegre, ama sair para esses lugares onde tem várias pessoas e ama fotografar tudo e todos. Enquanto que eu sou mais contida, racional e totalmente dedicada ao trabalho, não gosto desses lugares que ela gosta de ir, as vezes ela praticamente me arrasta junto com ela, mas sempre volto reclamando muito nos ouvidos dela, no fim ela acaba se arrependendo.

Quando chego em casa dou de cara com ela deitada no meu sofá, com fones de ouvido e uma roupa mais largada. As vezes nem parece que mudei de apartamento, ela vive mais aqui do que no próprio apartamento dela.

— Ei folgada, tu não tem casa não? — perguntei ao mesmo tempo que tirava os fones do ouvido dela.

— Finalmente chegou, vou te acompanhar até o CT do Palmeiras hoje. — ela disse animada.

— Como assim me acompanhar? Pra que? — perguntei estranhando, aposto que essa menina tá aprontando alguma coisa.

— Não confia na sua irmãzinha do coração? — ela pergunta com uma expressão de cachorro sem dono.

— Você não dá ponto sem nó, Ana Clara. — respondi meio desconfiada.

— Tá bom então, vou falar a verdade. Eu vou ser a nova fotógrafa oficial do clube! — revelou dando pulos de alegria.

Eu estava realmente muito feliz por ela, umas das grandes paixões que ela tem na vida é a fotografia. Desde pequena ela fotografava as coisas com uma nini câmera que o papai comprou para ela, desde então ela foi crescendo e se aperfeiçoando. Hoje é uma das melhores fotógrafas do mercado.

— Parabéns, meu amor. — falei dando um abraço nela.

— Agora vamos correr e nos trocar, não quero chegar atrasada justo no primeiro dia. — ela disse e se apressou indo até a porta.

Tínhamos que estar lá as nove horas e no relógio já marcava oito, tive que correr para tomar um banho rápido e vestir uma roupa confortável. Vi que eu estava com olheiras enormes, então tive que esconder com maquiagem, nada muito pesado, só para esconder minhas noites de sono mal dormidas e minha falta de sol no rosto.

Peguei um de meus jalecos limpos e guardei dentro da bolsa, não sabia se iria começar a trabalhar oficialmente hoje, mas caso fosse já estaria preparada. Peguei as chaves do carro em cima da mesa e saí trancando a porta. Minha irmã já estava pronta me esperando ao lado do elevador.

— Aí Cecília, porque não colocou uma roupa mais bonita? — ela fez uma cara de brava e eu fiquei sem entender.

— Qual o problema com a minha roupa, Ana Clara? — ela me olhou como se fosse óbvia a resposta.

— Você está engomadinha demais. Eu sei que vocês médicos usam qualquer roupa por debaixo do jaleco, mas bem que você poderia ter colocado uma roupa com uma cor mais vibrante, mais viva. — ela explica de uma maneira engraçada que não pude segurar a risada.

— Quem sabe de uma outra vez. Agora vamos porque o trânsito deve estar daquele jeito e não podemos nos atrasar. — encerrei a conversa e entramos no elevador.

Nós somos tão diferentes que até no estilo de se vestir temos gostos divergentes. Mas eu não estava com uma roupa feia e sem cor, eu vesti uma blusa social branca e uma calça preta. Preto e branco nunca falham e eu me sinto bem com as minhas roupas.

Depois disso, seguimos rumo ao CT sem sabermos o que nos esperava lá.

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