Capítulo 2

Eu e a Clara já tínhamos conhecido praticamente todos os meninos que estavam ali, eles eram bastante divertidos e engraçados. Eu com certeza irei me dar bem com esse novo trabalho.

Minha irmã ainda continuava a conversar com esse rapaz, os dois pareciam bem risonhos e confortáveis um com o outro.

Já estava praticamente passando do horário do almoço e a minha barriga já estava roncando. Eu não como nada desde de manhã e é provável que meu corpo já esteja catabolizando.

Não queria atrapalhar a conversa da Clara, mas preciso chamá-la pra irmos embora. Vou timidamente até ela, os dois percebem a minha presença e cortam o assunto para voltar a atenção pra mim.

— Ah, essa aqui é a minha irmã Cecília. — ela me puxa e me apresenta ao rapaz — e esse aqui é o Ricardo. — diz por fim olhando pra ele de maneira divertida.

— Prazer. — ele estende a mão e eu o cumprimento rapidamente com um sorriso amarelo no rosto.

— Vamos, Clara. Já estamos passando do horário. — expliquei.

— Temos que ir mesmo? Vamos ficar só mais um pouco, por favor — ela faz aquela cara de cachorro sem dono.

— Se quiser ficar e ir de uber, tudo bem. Eu tenho que ir agora. — fui bem direta para não ser rude.

— Tá bom então, vamos. — ela se dá por vencida e olha pro tal Ricardo.

— Se quiser eu levo vocês até em casa, já acabamos o treino aqui. — ele sugere e percebo a animação da minha irmã.

— Obrigada, mas estamos de carro. Vamos, Clara. — respondi.

— Espera Cecília, você acharia ruim se voltasse sozinha? Gostaria de ir com o Richard. — ela pergunta e eu contenho minha indignação.

Não tenho nada a ver com a vida da minha irmã, ela pode fazer o que bem entender e achar que é o certo. Mas sempre teve somente uma coisa que me deixa meio assim com essas relações amorosas dela, que é a falta de consideração que ela tem.

Ela não sabe distinguir a irmã de um cara que ela conheceu a pouco tempo, pra ela tudo é oito ou oitenta.

— Tudo bem, Tchau. — respondi e me virei indo embora dali.

Eu não estava chateada ou com ciúmes da minha irmã, isso chega até a ser ridículo. Mas senti um certo incômodo por ter sido dispensada assim na cara dura.

Mas tudo bem, a única coisa que estou almejando no momento é um belo prato de lasanha de frango. Sim, lasanha de frango é a minha comida preferida e quando estou com muita fome assim, sempre costumo pedir comida em um lugar lá perto do meu apartamento que faz uma lasanha digna dos deuses.

O trânsito estava uma loucura, demorei trinta minutos pra chegar em casa. Já subi e tratei logo de pedir meu almoço, antes que eu tenha um piripiri de fome.

Enquanto a comida não chega vou aproveitar e tomar um banho, tirar essa roupa que já estava desconfortável e esses sapatos que estavam me matando.

Tomei um banho quente para relaxar meus músculos, lavei meu cabelo e hidratei. Em São Paulo o trânsito é tão grande que dá tempo de tomar um banho demorado e é o tempo da comida chegar.

Quando terminei de vestir a roupa e pentear o cabelo, o interfone toca. Corri para pegar a comida que o entregador tinha deixado na recepção.

Chega a ser um sonho essa lasanha maravilhosa, o queijo derretendo na boca, o frango refogada, simplesmente perfeito. Quando estava nas últimas garfadas a campanhia toca.

Achei estranho porque não estava esperando ninguém e praticamente não tenho amigos para me visitarem assim de surpresa.

Quando abri a porta dei cara com a minha irmã super empolgada e feliz. Ela me abraçou e já foi logo entrando.

— Que felicidade toda é essa? Ganhou na mega sena? — ironizei.

— Quando você mudou a senha da porta? Achei o fim da picada viu. — ela fez cara de chateação.

— O fim da picada foi você ter me trocado por um de seus príncipes que estão mais para sapos. E a senha eu troquei hoje de manhã. — voltei a comer e restante da minha lasanha.

— Deixe de ser ciumenta que eu não te conheci assim, eu só queria passar mais tempo com o Richard. Ele é legal e estou conhecendo bem mais ele. — ela explica empolgada.

— Pois tá bom, cuidado com esses seus lances viu. Já almoçou? — perguntei mesmo sabendo que talvez já tenha almoçado sim.

— Já, o Rios parou em um restaurante perto do CT e almoçamos lá. Comida muito boa, por sinal.

Terminei de comer e aproveitei para lavar a louça suja. Eu tenho um certo toc com limpeza, então sempre tento manter tudo o mais limpo e organizado possível.

— Vai para o hospital hoje? — Clara pergunta ao mesmo tempo que se deita no sofá.

— Sim, entro de seis da noite. — deito no sofá do lado.

— Combinei de sair com o Rios hoje a noite, vamos a um restaurante que sempre tive vontade de conhecer. — ela diz empolgada.

De certa forma eu sempre acabo feliz vendo a felicidade da minha irmã, o cara sendo legal e fazendo o possível para ela viver bem é o que importa pra mim.

— Muito bem, bom encontro para vocês. — disse fazendo cosquinha nos pés dela.

Depois de passarmos praticamente o resto da tarde jogadas no sofá, Clara resolve ir para seu apartamento se arrumar e eu a me preparar para entrar em mais um plantão.

Já tinha preparado minha bolsa, meu jaleco e os meus prontuários. Troquei de roupa e saí para ir pro hospital, antes que eu pegasse um trânsito pior do que aquele a tarde.

Já chego no hospital com aquele pico de sempre, várias pessoas na sala de espera. Crianças e adultos gemendo de dores e se queixando do atendimento.

Fui direto para a sala dos médicos deixar minhas coisas e trocar de roupa. Pensei que seria um plantão mais tranquilo, mas pelo visto será bem agitado.

Sempre quando chego no hospital e troco de roupa, checo os prontuários dos pacientes que já estão internados. É importante para eu saber como está cada um e anotar as novas observações.

Fiz minha primeira ronda do plantão, alguns pacientes melhoraram o quadro clínica e outros nem tanto.

Quando estava andando pelo corredor recebi um alerta de emergência, a ambulância estava trazendo alguém em estado grave. Corri para a sala de emergência para já estar preparada quando o paciente chegar.

Vi os socorristas entrando com duas macas, eram um casal de senhores. Pude ver que a senhora estava consciente, somente com algumas escoriações pelos braços.

Cheguei perto do homem e ele não era nem velho e nem novo. Chequei seus batimentos e verifiquei a sua pupila.

— Senhor? Consegue me ouvir? — perguntei olhando em seus olhos, ele não respondeu, estava inconsciente.

Quando levantei sua blusa para verificar como estava seu abdômen o monitor cardíaco disparou, ele estava tendo uma parada cardíorrespiratória.

Imediatamente subi na maca e comecei a massagem cardíaca. Pedi aos enfermeiros que trouxessem o carrinho com o desfibrilador e mandei que carregassem.

Desci da maca e dei o primeiro choque de 50 joules, e nada. Voltei com a massagem cardíaca e pedi que carregassem em 100 joules. Desci e fiz o mesmo processo mais uma vez e nada dele retornar.

Ouvi gritos ao redor e quando parei pra ver quem era pude notar que se tratava da mulher que chegou junto com esse paciente. Ela gritava pedindo para salvarem o marido dela e tentava vir até ele, porém, era impedida pelas enfermeiras.

Depois de fazer esse processo durante vinte minutos consegui trazê-lo de volta, desci da maca e respirei aliviada.Fiz tudo o que deveria ser feito nesse momento e depois deixei que as enfermeiras cuidassem do resto.

Infelizmente chega muitos casos assim na emergência, pessoas vítimas de acidentes de trânsito, justamente pelo caos que essa cidade é.

Tudo estava mais tranquilo agora, ja tinha feito todos os procedimentos e atendido várias pessoas, estava exausta. Passou tão rápido a hora que já era quase o horário de eu ir embora. Fui aproveitar para me trocar e pegar minhas coisas.

Hoje começa meu primeiro dia oficialmente no CT, estou curiosa com esse novo desafio. Fiquei feliz em saber que o hospital é bem perto do CT, pelo menos já me pouparia um bom tempo, sem precisar encarar quase quarenta minutos de trânsito.

Eu cheguei no clube e me indicaram onde seria minha possível sala, eu estava com medo de me perder dentro desse lugar enorme. Mas achei, estava bem movimentado em volta.

— Olha só quem chegou, como vai Dra Cecília? — o meu grande amigo de faculdade e também fisioterapeuta me cumprimentou quando me viu chegar.

— Bom dia! Que bom revê-lo, Gabriel. Estou ótima, e você? — cumprimentei dando um pequeno abraço.

— Fico muito feliz em revê-la, que bom que foi contratada pela Sociedade Esportiva. — sorri pra ele.

— Inclusive, obrigada pela indicação. Soube que você rasgou elogios sobre a minha pessoa. — falei em um tom brincalhão e ele soltou uma gargalhada.

— Ah falei só um pouquinho, não foi esse absurdo todo que falaram não — ele explicou e riu, eu achei graça junto com ele.

Nossa amizade sempre foi assim, repleta de brincadeiras e risadas. Eu sempre me diverti muito com ele e apesar de não termos aquela amizade de andar junto todo o tempo, sempre que nos vemos é assim, passe o tempo que passar.

— Entendeu tudo de como funciona? — ele me perguntou depois de ter me explicado detalhes do que eu iria fazer hoje.

— Entendi sim, muito obrigada. — agradeci com um sorriso.

— Lá vem alguns dos meninos, comece a chamar pela ordem da relação que te passei, ok? — balancei a cabeça positivamente.

O Gabriel foi para o seu posto enquanto que eu chamei o primeiro jogador para a minha sala.

— Pode sentar. — falei olhando para os papéis em minha mesa.

Já tinha atendido uns cinco jogadores, eles são bem tranquilos e engraçados. E uma coisa que não dá pra negar é que nesse time a maioria dos jogadores são realmente muito bonitos.

Pedi para a assistente que fica lá fora chamar o próximo, eu estava fazendo uma confusão só com todos os papéis, não sabia quem seria o próximo.

Ouvi a a porta abrir e pedi que o jogador se sentasse enquanto eu me situava na minha bagunça.

— Éee...Raphael? — perguntei quando li em um dos papeis, pensando eu que seria a mesma pessoa.

— Ricardo Ríos. — o jogador respondeu sorrindo.

Levantei a cabeça para ver de quem se tratava e vi que era o tal peguete da Clara. Ele me olhava de um jeito risonho, talvez por conta da minha confusão de misturar tudo e todos. O fitei por alguns minutos e finalmente lembrei de onde o conhecia, uma coincidência e tanto.

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