Capítulo 3

Ontem eu tive um jantar com a Clarinha, na verdade foi meio que um encontro. Levei ela em um dos meus restaurantes preferidos e que por coincidência é um dos que ela queria muito conhecer.

Foi um jantar ótimo e ao lado de uma companhia bacana, ela é leve e alegre, sempre me faz ri e nunca deixa o assunto morrer. Ela é uma mulher muito bonita e usa umas roupas que deixam o corpo dela extremamente sexy.

Depois do jantar ficamos um bom tempo olhando a vista e conversando. Nós falamos sobre praticamente tudo, ela contou da paixão dela pela fotografia e o quanto admira a irmã dela.

Eu confesso que admiro as duas por serem o que são hoje e serem uma a companhia da outra, porque deve ser bem difícil perder os pais tão cedo assim.

Depois que saímos do restaurante levei ela até em casa, ela meio que insistiu para eu subir junto, mas apesar de querer muito eu não podia, tinha que acordar cedo hoje para fazer minha corrida de manhã e vir para o CT passar pela equipe médica.

Quando cheguei já tinha vários caras lá esperando, cumprimentei os meus chegados e sentei pra esperar.

— Conta aí como foi lá, Ríos — o Joaquim falou se referindo ao jantar com a Clara.

— Ah, foi bacana! Ela é uma mulher muito gente boa e o negócio está fluindo. — os caras me empurraram e fizeram aquele famoso "hummm".

— E só ficou nessa de jantar mesmo? — o Veiga pergunta maliciosamente.

— Lógico que foi! Eu tinha que acordar cedo hoje, cara. — respondi indignado.

— Deixe ele, o bom moço — Felipe tirou onda.

— Até você, garoto Felipe? — perguntei e eles caíram na gargalhada.

Nesse momento a moça me chamou para entrar na sala.

Quando entrei vi que era a Cecília irmã da Clarinha, ela nem me olhou e já mandou que eu sentasse.

Ela estava meio perdida naquele tanto de papel, percebi o desespero dela. Do nada ela pegou uma das folhas e me chamou de Raphael Veiga, segurei a risada e corrigi ela.

Foi nesse momento que finalmente ela olhou pra mim se desculpando e eu conti a risada. Aquilo estava engraçado mas dei uma segurada porque era o primeiro dia dela ali.

Ela fez algumas perguntas e fiquei um pouco envergonhado de falar do meu problema para digerir algumas comidas. Ela mandou que eu deitasse na maca para me examinar e quando terminou eu notei que ela estava me olhando de maneira engraçada.

— Tá tudo bem, Dra? — perguntei e finalmente ela saiu do transe.

— Está sim. Pode voltar pra cá. — ele falou se virando e indo sentar de volta na mesa dela.

— Eu vou ter que tomar alguma medicação? — perguntei e ela não respondeu, só pegou uns papéis e ficou anotando em silêncio.

Fiquei reparando o quanto ela é diferente da irmã, é mais contida e não ri com facilidade igual a Clara.

— Aqui está! Encaminhe essas receitas ao Dr Gabriel e diga que está tudo explicado aí. — ela estendeu a mão me entregando os papéis sem me olhar.

— Eu tenho alguma coisa demais? — perguntei receoso.

— Não, só vai ter que fazer fisioterapia para fortalecer mais ainda o músculo da panturilha, porque é o enfraquecimento que causa a fadiga muscular... — explicou — e para a digestão eu passei sugestões iniciais que eu espero que resolvam, se não resolver eu irei passar a medicação. — concluiu.

Eu fiquei incomodado pelo jeito que ela estava, parecia estar desconfortável comigo ali.

— Tá tudo bem, Cecília? — perguntei preocupado.

— Está sim. Se não tiver mais nada para relatar, pode sair e pedir a moça para chamar o próximo. — eu fiquei mais surpreso ainda, ela conseguiu ser extremamente seca.

— Ah okay, obrigado. — peguei os papéis e saí da sala.

Até agora estou tentando assimilar e entender o porquê da mudança repentina de comportamento, talvez ela seja bipolar, vai saber. Eu afastei esses pensamentos da cabeça, até porque não é da minha conta.

— E aí, mano — o Felipe que ainda estava lá esperando falou.

— E aí, ainda falta muitos? O treino vai começar que horas? — perguntei aos meninos que estavam ali.

— Não vai ter treino hoje, vamos passar só pelos profissionais médicos hoje. — Rafael responde.

— Olá, como vocês estão? Mais tarde teremos fisioterapia em. — o Gabriel que é nosso fisioterapeuta chega entre nós nos cumprimentando.

— Ou seja, uma leve sessão de tortura — o Felipe fala com uma cara sofrida e todos gargalham.

— Não é bem assim, garoto. Relaxe que vai ser bom bom. — o Gabis fala tranquilizando o garoto Endrick.

— Ah Gabis, tá aqui os papéis que a Doutora pediu que eu lhe entregasse. — estendi os papéis na direção dele.

— Ah muito bem. — pegou os papéis verificando todos — e como vocês se saíram lá com ela? — perguntou curioso.

— Eu gostei, ela é bem inteligente e explica tudo direitinho pra gente. — o Veiga respondeu e os outros concordaram.

— Que bom que gostaram dela, ela tem esse jeito de seria mas ela é muito gente boa, e uma excelente profissional. — o Gabis falou sorrindo.

Eu não ia ser inconveniente de falar como ela foi comigo, mas eu achei no mínimo estranho ter sido somente comigo esse jeito dela.

Mas concordo com eles quanto o profissionalismo dela, da pra ver claramente que é uma pessoa dedicada e que gosta do trabalho que faz.

O resto do dia foi todo de fisioterapia com o Gabis, ele meio que tortura a gente, mas jo final saímos de lá zerados.

— Pronto, os que já terminaram aqui comigo estão liberados. — quem já tinha acabado deu graças a Deus e o Gabis riu.

— Valeu, Gabis. Até a outra sessão de tortura — o Felipe levantou com suas coisas e acenou saindo.

Eu também já estava de saída, antes que surgisse mais alguma coisa pra eu fazer, já estava cansado o suficiente.

— Valeu, Gabis. — acenei e fui saindo.

Fui ao vestuário tomar banho e vestir uma roupa limpa. Eu estava cansado, mas pelo menos minha dor na panturilha tinha aliviado.

Peguei minhas coisas e fui tirar o carro no estacionamento. Como ainda era seis e meia da noite ainda tinha vários carros estacionados.

Quando entrei e fui saindo com o carro vi uma pessoa parada na entreda do CT, ela uma mulher, percebi ela estatura baixa, mas não distingui quem seria.

Quando me aproximei com o carro baixei o vidro e vi que se tratava da Cecília.

— Não veio de carro hoje? — perguntei quando ela olhou pra mim.

— Vim sim, mas não está querendo ligar.

— Entra aí, te dou uma carona. — falei destravando a porta do passageiro.

— Não, já chamei um uber. Obrigada — ela disse seria e se virou pra frente.

Lembrei do que o Gabis disse dela mais cedo, que ela se mostra durona mas que na verdade não é.

— Entra aí, o uber vai demorar. Você sabe muito bem como é o trânsito de São Paulo. — expliquei e ela continuou firme.

Eu desci do carro e arrudiei até onde ela estava, abri a porta do passageiro e apontei com a cabeça pra dentro.

— O uber já está chegando, você não entendeu?— eu não respondi nada, só mantive a mesma postura.

E então ela baixou a guarda e resolveu entrar, nunca imaginei que ela fosse tão cabeça dura assim.

— Você é teimosa assim porque puxou ao seu pai ou à sua mãe? — quebrei o silêncio que estava dentro do carro.

— Ao meu pai. — ela respondeu mantendo o olhar para frente.

O silêncio voltou a paira novamente entre nós.

— Você mora no mesmo prédio que a Clarinha? — quebrei o silêncio novamente.

— Sim, sabe onde é né?

— Sei sim. — respondi — vocês moram juntas?

— Eu acredito que a Clara já tenha lhe falado praticamente tudo da vida dela e da minha, então já deve saber que não moramos juntas. — ok, ela conseguiu ser bem ríspida dessa vez.

Eu não respondi e nem falei mais nada, não dá para trocar ideia com ela, na estava constatado.

— Desculpa, eu só estou estressada com o carro que me deixou na mão. — dessa vez ela mesma quebrou o gelo.

Confesso que me surpreendi com o pedido de desculpas, mas achei legal da parte dela.

— Tudo bem. E carros são assim mesmo, quando menos esperamos eles não funcionam. — tentei confortar um pouco.

— Má sorte, meu Deus! Ninguém merece. — ela se reclamou frustrada.

— Se quiser te indico um mecânico bom para id dar uma olhada nele — sugeri.

— Agradeço.

Paramos no trânsito, como era horário de pico o congestionamento estava terrível. No carro ainda estava o silêncio, estava até constrangido por isso.

— Vocês saíram ontem? Ela disse que sairia contigo e estava bem animada. — ela puxou assunto.

— Ah sim, fomos jantar em um restaurante bem comentado aqui. — respondi. — aconteceu algo na hora que você estava me atendendo hoje? — perguntei o que eu estava querendo perguntar desde o início.

Ela me olhou e foi a primeira vez desde que entrou no carro.

— Não, porque a pergunta? — ela tinha uma expressão curiosa.

— Eu percebi que você mudou de humor de repente, aí quis perguntar. — expliquei.

— Eu não sou bipolar tá, antes que você pense isso. — ela disse e eu ri da sua forma de falar.

— Eu pensei justamente isso, mas não é da minha conta, fique tranquila — eu disse achando graça.

— Não sou não, que palhaçada com minha cara. — ele se emburrou e eu ri ainda mais alto.

— Você tem a síndrome do patati patata é? Dá certo com a Clara então — ela disse.

Eu continuei a olhar pra ela, ela se mantinha com os braços cruzados olhando pra frente. Ela parecia alguém diferente, não sei dizer o que ela tinha, não conseguia decifrar. Mas estou bem curioso quanto a isso.

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