ANA JORGE— Que droga? — Gemi, deslizando para dentro do quarto pela porta aberta.Minhas pernas ainda estavam meio bambas depois do encontro com Zero na cozinha. Perdi a cabeça por um momento e me rendi como uma cadela desesperada, algo do qual eu certamente não me arrependeria. Se eu me arrependesse, isso significaria que ele venceu. Bem, eu não deixava ninguém vencer.Suspirei, indo direto para o banheiro e me despindo para tomar banho.Minhas bochechas ainda estavam quentes. O toque dele ainda pairava na minha pele, com o prazer vibrando ao fundo da minha mente.Ao ligar o chuveiro, fiquei sobre a água corrente, revivendo o momento intenso na minha cabeça. Minhas mãos trabalhavam sozinhas, pegando as coisas e me ajudando a tomar banho, enquanto minha mente permanecia completamente ausente.Que tipo de reação tinha sido aquela? Tipo… estamos quites assim, ou o quê? Ele fez isso para me pagar pelo sangue? Eu nunca tinha pedido para que ele me pagasse. Eu só estava ajudando.Droga de
RICARDO SANTOS— Eu fiz o que você pediu. Enviei ela para a cidade e pedi ao Jacob que ficasse com ela… — Bernardo Carvalho parou, sem saber como dizer em voz alta.Continuei encarando a superfície da minha mesa, sem levantar o olhar ou prestar muita atenção à expressão de pena que ele se recusava a esconder dos olhos.— Eu não sabia que ela faria isso de novo. Eu pensei que…— Você pensou que encobriria tão bem que eu nunca descobriria. — Suspirei, esfregando a concha da minha orelha esquerda me sentindo cansado.— Sinto muito. Eu… Eu não sei o que dizer. Realmente achei que tudo ficaria bem e que ninguém precisaria se machucar. — Ele falou num tom desanimado.— Não quero ouvir desculpas. — Levantei a cabeça, dirigindo-lhe um olhar vazio.— Alfa, eu…— Cale-se, Bernardo Carvalho. Não ultrapasse os limites de novo. — Declarei, permanecendo calmo, mas meus olhos piscaram em cinza enquanto meu lobo pairava à beira de sair.— Certo. Temos problemas maiores para resolver. O conselho está a
NATÁLIA SILVA— Você realmente se livrou da sua irmã, Bernardo Carvalho? — Perguntei, encarando a parede de vidro.— Ela não vai mais interferir. — Ele suspirou, repetindo a mesma coisa pela terceira vez.Eu não sabia porquê ainda não conseguia ficar tranquila, mesmo depois de saber daquilo. Sonhei com algo de novo e não me sentia bem com isso.— Você pode… fazer algo por mim? — Sussurrei, virando para ele.Bernardo Carvalho se enrijeceu, os olhos fixos em mim. Ele estava tenso quando mandei Jake o chamar para me ver, mas parecia melhor naquele momento, mais composto e menos agitado, porque sabia que não precisava me dar explicações ou desculpas sobre o que tinha feito. Isso não importava para mim.— Vou ter que fazer. — Ele deu de ombros.Meus olhos baixaram-se, e meu coração deu uma batida cruel. — Mate a bruxa.— O quê? — Ele franziu a testa.— Envie alguém para se livrar de Gertrude — Endireitei-me.— Mas, Alfa…—— Ela sabe demais. — Interrompi. — Mate ela antes que o conselho cheg
NATÁLIA SILVA— Uhh! Então vocês dois sabiam que eram companheiros e não contaram para ninguém? — Os gêmeos zombaram em uníssono.Nós acabamos de chegar à casa oficial da matilha e, como Jake havia informado a Ricardo Santos, os quatro originais, tão familiares, já estavam nos esperando no salão principal.Ver os rostos jovens deles fez meu estômago se revirar de nervosismo. Meu olhar se demorou em Frederico Miguel. Os lábios dele estavam curvados em um dos sorrisos vitoriosos mais horríveis que eu já tinha visto. Era o sorriso que dizia ao oponente que ele já tinha perdido sem nem ao menos lutar.— Nós suspeitávamos disso. — Os gêmeos quebraram o silêncio pesado e se acomodaram no sofá, deixando Frederico Miguel e Abraão Miguel perto da janela.— O que trouxe vocês aqui no meio da noite? — Ricardo Santos perguntou, permanecendo o mais calmo que alguém como ele poderia estar naquele momento.O sorriso de Frederico Miguel nunca vacilou enquanto ele direcionava o olhar para mim. Respirei
NATÁLIA SILVA— Você planejou tudo. — Frederico Miguel sibilou, sentado em frente a mim na casa de Ricardo Santos.— Claro que planejei. — Ricardo Santos zombou.Eu me reclinei, inclinando a cabeça e lançando um olhar de lado para Ricardo Santos. Ele estava satisfeito porque os originais caíram na isca e acreditaram em seu truque.Assim, toda a matilha foi testemunha do que eu disse, como me transformei, e como aqueles originais não podiam negar minha reivindicação.Se eles negassem minha reivindicação, estariam indo contra a vontade da Deusa Lua, e todo aquele blá-blá-blá sobre sempre seguir a vontade da Deusa seria provado errado.E se qualquer um deles tentasse abertamente me matar ou a Ricardo Santos, eles acabariam numa situação hilária, onde ninguém jamais os apoiaria. Os originais nunca viravam contra a própria espécie, a decisão da Deusa Lua, e nunca tentariam machucar um outro original. Essas eram as regras operacionais que todos eles tinham que seguir.— Você realmente conseg
NATÁLIA— Agora só precisamos garantir que não haja nenhuma evidência, nenhuma testemunha, nada que possam usar…Andando ansiosamente em nosso quarto, ofeguei quando bati no corpo de Ricardo. Ele me segurou, firme, com as mãos envolvendo meus braços para me estabilizar.— Calma. O estresse não faz bem para a sua saúde. — Ele sussurrou.Levantei o rosto, encarando-o com olhos que transbordam insatisfação.— Como espera que eu me acalme agora? Você realmente achou necessário chamar a atenção para si e me colocar no conselho?Ricardo me lançou um sorriso hesitante, de lábios apertados.— Era a melhor maneira.— Você se usou como isca. — Balancei a cabeça, dando um passo para trás.As mãos de Ricardo soltaram meus braços, permitindo que eu recuasse até sentir minhas costas doloridas pressionadas contra a parede.— Não se preocupe, amorzinho. Não há ninguém para testemunhar contra mim. Eles não têm como provar que sou um híbrido. Assim que você entrar no conselho, o julgamento será apenas u
ANA Algo estava acontecendo.Rafael não fazia mais parte da Alcateia. Ele havia saído na noite anterior, enquanto eu dormia profundamente.Ao acordar naquela manhã, deparei-me com sua ausência e com os marionetes do conselho invadindo o local. Vasculharam cada canto da casa sem a menor consideração pela autoridade do Alfa, e nenhum membro daquela maldita Alcateia sequer contestou. Pelo jeito, o desprezo por Rafael era unânime. Não que isso me afetasse diretamente, mas até na crueldade deveriam existir limites.— Onde está o Alfa? — Perguntou o velho, um dos lobisomens que atuava sob os originais para manter a ordem do conselho na comunidade, pela quarta vez.— Não sei. — Dei de ombros, oferecendo a mesma resposta que soava vazia.Por algum motivo, ele não acreditou em mim. Em pouco tempo, eu me encontrava amarrada a uma cadeira nas profundezas das masmorras, prestes a ser torturada para que a resposta indefinida finalmente se revelasse.Agora deve entender por que estou tão ressentid
RICARDO— Então conquistaram o território da Alcateia da Floresta do Norte? — Suspirei, desviando o olhar para Ana, que me encarava com uma fúria inexplicável.— Claro. O Alfa não estava presente para impedi-los, e por isso eles assumiram o controle de tudo. — Sibilou ela, respondendo em lugar de Bernardo.— Procure tratamento na enfermaria. — A dispensei, de forma imperativa.Seus olhos, antes semicerrados, assumiram novamente o formato delicado de amêndoas enquanto ela inspirava profundamente. Gotas de sangue deslizavam por seus dedos, e as marcas das queimaduras em seus pulsos e tornozelos eram evidentes, mas nada parecia afetá-la de verdade.— Avise-me se precisar de algo. — Declarou ela, antes de se retirar, deixando-me sozinho com Bernardo no escritório.Logo que a porta se fechou, virei-me para Bernardo.— Por que você foi até aquele lugar?— A Luna me pediu para buscá-la. — Respondeu ele, como se aquilo fosse um fato.— Eu, inclusive, te mandei chamar a maldita Renata para cá.