NATÁLIA— Você realmente se livrou da sua irmã, Bernardo? — Eu perguntei, olhando para a parede de vidro.— Ela não vai mais interferir. — Ele suspirou, repetindo a mesma merda pela terceira vez.Eu não sabia por que não estava à vontade mesmo depois de descobrir isso. Eu sonhei com algo novamente e não me sentia bem com isso.— Você pode... Fazer algo por mim? — Eu sussurrei, encarando-o.Bernardo se enrijeceu, seus olhos fixos em mim. Ele estava tenso quando eu mandei Jake buscá-lo, mas agora parecia melhor, mais composto e menos agitado, porque sabia que não precisava me dar explicações ou desculpas sobre o que fez. Não importava para mim.— Eu terei que fazer. — Ele deu de ombros.Meus olhos caíram, meu coração pulando um batimento cruel. — Mate a bruxa.— O quê? — Ele franziu a testa.— Envie alguém e se livre de Gertrude. — Eu me endireitei.— Mas Alfa…— Ela sabe demais. — Eu o interrompi. — Mate-a antes que o conselho chegue. Você pode perguntar ao Ricardo se quiser.
NATÁLIA— Ah! Então vocês dois sabiam que eram companheiros e não contaram a ninguém sobre isso? — Os gêmeos riram em uníssono.Nós acabamos de chegar à casa oficial da nossa alcateia e, como Jake havia informado a Ricardo, os quatro originais muito familiares já estavam nos esperando no salão principal.Ver seus rostos jovens fez meu interior se contorcer de nervosismo. Meu olhar se deteve em Frederico. Seus lábios estavam moldados em um dos sorrisos vitoriosos mais horríveis que eu já havia encontrado na vida. Era o sorriso que dizia ao oponente que ele havia perdido sem nem mesmo lutar.— Suspeitamos disso. — Os gêmeos quebraram o pesado silêncio e se acomodaram no sofá, deixando Frederico e Abraão em pé perto da janela.— O que trouxe vocês aqui no meio da noite? — Ricardo questionou, permanecendo tão calmo quanto alguém como ele poderia estar naquele momento.O sorriso de Frederico nunca vacilou enquanto ele dirigia seu olhar para mim. Eu respirei, devagar, profundamente, e
NATÁLIA— Você planejou tudo. — Frederico sibilou, sentado em frente a mim na casa de Ricardo.— Claro que sim. — Ricardo zombou.Eu me reclinei, inclinando a cabeça e lançando um olhar de lado para Ricardo. Ele estava satisfeito porque os originais caíram na isca e se deixaram enganar por seu pequeno truque.Agora, toda a alcateia foi testemunha do que eu disse, como eu me transformei e como esses originais não podiam negar minha reivindicação.Se eles negassem minha reivindicação agora, estariam indo contra a vontade da Deusa da Lua, e toda aquela besteira sobre sempre seguir a vontade da Deusa acabaria provando ser falsa.E se qualquer um deles tentasse me matar ou a Ricardo abertamente, acabariam em uma situação hilária onde ninguém os apoiaria. Os originais nunca se voltam contra os seus, a decisão da Deusa da Lua, e nunca tentam machucar outro original. Essas eram as regras operacionais que todos eles deveriam seguir.— Você realmente pode conversar com... — Abraão hesitou
NATÁLIA— Agora só precisamos garantir que não haja nenhuma evidência, nenhuma testemunha, nada que possam usar…Andando ansiosamente em nosso quarto, ofeguei quando bati no corpo de Ricardo. Ele me segurou, firme, com as mãos envolvendo meus braços para me estabilizar.— Calma. O estresse não faz bem para a sua saúde. — Ele sussurrou.Levantei o rosto, encarando-o com olhos que transbordam insatisfação.— Como espera que eu me acalme agora? Você realmente achou necessário chamar a atenção para si e me colocar no conselho?Ricardo me lançou um sorriso hesitante, de lábios apertados.— Era a melhor maneira.— Você se usou como isca. — Balancei a cabeça, dando um passo para trás.As mãos de Ricardo soltaram meus braços, permitindo que eu recuasse até sentir minhas costas doloridas pressionadas contra a parede.— Não se preocupe, amorzinho. Não há ninguém para testemunhar contra mim. Eles não têm como provar que sou um híbrido. Assim que você entrar no conselho, o julgamento será apenas u
ANA Algo estava acontecendo.Zero não fazia mais parte da Alcateia. Ele havia saído na noite anterior, enquanto eu dormia profundamente.Ao acordar naquela manhã, deparei-me com sua ausência e com os marionetes do conselho invadindo o local. Vasculharam cada canto da casa sem a menor consideração pela autoridade do Alfa, e nenhum membro daquela maldita Alcateia sequer contestou. Pelo jeito, o desprezo por Zero era unânime. Não que isso me afetasse diretamente, mas até na crueldade deveriam existir limites.— Onde está o Alfa? — Perguntou o velho, um dos lobisomens que atuava sob os originais para manter a ordem do conselho na comunidade, pela quarta vez.— Não sei. — Dei de ombros, oferecendo a mesma resposta que soava vazia.Por algum motivo, ele não acreditou em mim. Em pouco tempo, eu me encontrava amarrada a uma cadeira nas profundezas das masmorras, prestes a ser torturada para que a resposta indefinida finalmente se revelasse.Agora deve entender por que estou tão ressentida co
RICARDO— Então conquistaram o território da Alcateia da Floresta do Norte? — Suspirei, desviando o olhar para Ana, que me encarava com uma fúria inexplicável.— Claro. O Alfa não estava presente para impedi-los, e por isso eles assumiram o controle de tudo. — Sibilou ela, respondendo em lugar de Bernardo.— Procure tratamento na enfermaria. — A dispensei, de forma imperativa.Seus olhos, antes semicerrados, assumiram novamente o formato delicado de amêndoas enquanto ela inspirava profundamente. Gotas de sangue deslizavam por seus dedos, e as marcas das queimaduras em seus pulsos e tornozelos eram evidentes, mas nada parecia afetá-la de verdade.— Avise-me se precisar de algo. — Declarou ela, antes de se retirar, deixando-me sozinho com Bernardo no escritório.Logo que a porta se fechou, virei-me para Bernardo.— Por que você foi até aquele lugar?— A Luna me pediu para buscá-la. — Respondeu ele, como se aquilo fosse um fato.— Eu, inclusive, te mandei chamar a maldita Rhianna para cá.
RICARDO— Alfa. — Bernardo tentou agarrar meus ombros e me arrancar de Frederico, cujo rosto agora exibia manchas de sangue, com a mandíbula e o nariz completamente deslocados.Ergui meu punho mais uma vez e o acertei com força no rosto, fazendo com que seus olhos se espatifassem e a carne se rasgasse em pedaços. Agora via claramente os ossos estilhaçados, mas isso pouco adiantava - o alívio era inexistente, bem longe de ser suficiente.— Ricardo. — Natália ofegou de algum lugar atrás de mim e, finalmente, fui voltando aos meus sentidos.Deixando o canalha tombado no chão, limpei as mãos ensanguentadas nos jeans e me virei para encará-la.Ela não está olhando para mim. Seus olhos arregalados permaneciam fixos em Frederico, que agora se encontrava inconsciente. Eu tinha quase certeza de que seu pescoço havia se partido. Contudo, ele não morreria. A menos que eu arrancasse sua cabeça dos ombros e reduzisse seu corpo imundo a cinzas, ele voltaria à vida. A maldita Deusa havia concedido a
NATÁLIA — Informe a todos. Eles não estão autorizados a perambular por essa parte da alcateia esta noite. — Ordenou Ricardo, encarando Bernardo, cujos olhos transbordavam preocupação.— Tem certeza de que é isso que vamos fazer, Alfa? — Questionou Bernardo, demonstrando seu descontentamento com a ideia.— Faça o que estou dizendo. — Sibilou Ricardo, com sua voz carregada de uma raiva gélida que parecia escurecer todo ambiente.Bernardo assentiu silenciosamente e, sem mais delongas, saiu a passo firme da casa de Ricardo, repreendendo Jake enquanto avançava. Ninguém… Ninguém estaria por perto esta noite.Meus olhos se fixaram em Frederico, repousando inconsciente no sofá. Embora suas feridas já tivessem cicatrizado, o sangue ressequido e as roupas rasgadas não escondiam a verdade.Engoli o amargor que se formava na garganta e voltei meu olhar para Ricardo.— Não serei de nenhuma ajuda quando eles chegarem. — Confessei, inquieta com o fato de que Ricardo e Bernardo, sozinhos, talvez não