RICARDO— Alfa. — Bernardo tentou agarrar meus ombros e me arrancar de Frederico, cujo rosto agora exibia manchas de sangue, com a mandíbula e o nariz completamente deslocados.Ergui meu punho mais uma vez e o acertei com força no rosto, fazendo com que seus olhos se espatifassem e a carne se rasgasse em pedaços. Agora via claramente os ossos estilhaçados, mas isso pouco adiantava - o alívio era inexistente, bem longe de ser suficiente.— Ricardo. — Natália ofegou de algum lugar atrás de mim e, finalmente, fui voltando aos meus sentidos.Deixando o canalha tombado no chão, limpei as mãos ensanguentadas nos jeans e me virei para encará-la.Ela não está olhando para mim. Seus olhos arregalados permaneciam fixos em Frederico, que agora se encontrava inconsciente. Eu tinha quase certeza de que seu pescoço havia se partido. Contudo, ele não morreria. A menos que eu arrancasse sua cabeça dos ombros e reduzisse seu corpo imundo a cinzas, ele voltaria à vida. A maldita Deusa havia concedido a
NATÁLIA — Informe a todos. Eles não estão autorizados a perambular por essa parte da alcateia esta noite. — Ordenou Ricardo, encarando Bernardo, cujos olhos transbordavam preocupação.— Tem certeza de que é isso que vamos fazer, Alfa? — Questionou Bernardo, demonstrando seu descontentamento com a ideia.— Faça o que estou dizendo. — Sibilou Ricardo, com sua voz carregada de uma raiva gélida que parecia escurecer todo ambiente.Bernardo assentiu silenciosamente e, sem mais delongas, saiu a passo firme da casa de Ricardo, repreendendo Juan enquanto avançava. Ninguém… Ninguém estaria por perto esta noite.Meus olhos se fixaram em Frederico, repousando inconsciente no sofá. Embora suas feridas já tivessem cicatrizado, o sangue ressequido e as roupas rasgadas não escondiam a verdade.Engoli o amargor que se formava na garganta e voltei meu olhar para Ricardo.— Não serei de nenhuma ajuda quando eles chegarem. — Confessei, inquieta com o fato de que Ricardo e Bernardo, sozinhos, talvez não
NATÁLIAA situação escalou de forma vertiginosa quando Frederico soltou um brado de guerra e desferiu o primeiro golpe, capaz de estilhaçar mandíbulas, em Abraão.Meu coração subiu até a garganta ao observá-los, paralisados pelo choque.Um após o outro, Frederico acertava socos em Abraão. O chão sob os pés deles tremia, até que uma estranha massa de metal começou a emergir, como que viva.Eu não conseguia compreender o que se passava. Os blocos metálicos se mexiam, assumindo a forma de adagas afiadas, que de repente dispararam em direção a Frederico.— Abaixem-se! — Ecoou a voz de Ricardo em minha mente.Mas eu estava tão atordoada e confusa que não consegui reagir. Em um instante, todos permaneceram imóveis, inclusive o metal. Inspirei profundamente, com os olhos arregalados, fixos na ameaça cortante que se materializava diante de mim.De repente, as adagas de metal dispararam, simultaneamente, em direção a Frederico, a mim e a todos os presentes na sala. Meu corpo, tomado pelo pânico
NATÁLIA— Abaixe a cabeça. — Os gêmeos se moveram e sibilaram para o intruso, Rafael.Seus olhos eram negros, desprovidos de qualquer branco, como os de ghouls ou vampiros. Ele segurava a cabeça de Abraão entre as mãos, e todos não conseguiram deixar de observá-lo com cautela.Um original não poderia morrer a menos que seu corpo fosse queimado e eliminado. Eu sabia e os gêmeos sabiam que, enquanto ele tivesse a cabeça nas palmas das mãos de Rafael, Abraão poderia sobreviver.— Rafael. — Ricardo o chamou, com um tom sombrio e perigoso.Rafael lançou um olhar para seu amigo antes de desviar o olhar para o fogo, queimando perto de mim. Minha respiração se prendeu na garganta quando ele jogou a cabeça sangrenta diretamente nas chamas. Algo explodiu antes que o fogo consumisse a cabeça de Abraão.Os gêmeos gritaram, avançando para a cabeça, mas não a alcançaram a tempo. O horror se pintou no meu rosto e fez minhas entranhas se torcerem. Nunca havia visto algo tão sinistro assim. O que mais
RICARDOA situação virou de cabeça para baixo. Rafael não deveria ter aparecido. No entanto, ele apareceu e me pegou de surpresa.Eu sempre soube que ele enlouqueceria ao ver aqueles Originais, e sempre o mantive longe deles. Aqueles desgraçados executaram a mãe dele, trancaram-no em um caixão e o enterraram vivo, respirando sob a terra por séculos. Brutalmente, amaldiçoaram uma criança e a forçaram a enfrentar horrores que ninguém jamais deveria experimentar.Eu entendia por que ele perdeu o controle e foi atrás deles. Mesmo naquele estado de loucura, ele não chegou a me atacar - só investia contra os Originais, como se estivesse desesperado, sedento para matá-los ali mesmo.No meio de tudo isso, eu estava tão distraído que não percebi o que havia de errado com Natália. Ela estava em dor, sangrando, prestes a perder a única coisa que realmente importava para nós naquele momento: nosso filho.— Ela vai ficar bem, Alfa. — Luciana sussurrou atrás de mim, com a voz cuidadosa.Levei Natáli
RICARDO— Não é engraçado, Alfa Ricardo. — Disse Frederico, suspirando. — Uma guerra total contra os Vampiros sempre foi destrutiva. Para eles. E para nós.Assenti, com um sorriso irônico estampado nos lábios.— Então você teme a guerra contra os vampiros? Por que fez isso com o filho do Rei Vampiro se temia a guerra com ele?Espere. Meu rosto se contorceu, e o sorriso se apagou. Filho do Rei Vampiro… O Vampiro parecia, de certo modo, um tio retorcido, que sequer sabia da minha existência. Então… O que isso significava? Rafael seria meu primo? Um primo de séculos atrás? Boas notícias, por mais estranhas que fossem.Perguntei-me se ele sempre soubera e permanecera ao meu lado por causa disso. Precisava conversar com ele a respeito.— Todos os híbridos deviam ser colocados para dormir. Essa era a lei. Precisávamos agir com justiça e imparcialidade ao enterrá-los, sem distinção entre um e outro. — Responderam cautelosamente os gêmeos.— Justiça? — Exclamei, enquanto minhas sobrancelhas se
ANASeria uma noite?Duas noites?Uma semana?Um mês?Um ano?Eu não conseguia dizer quanto tempo havia se passado. O silêncio ensurdecedor e a dificuldade de respirar faziam minha mente girar em ansiedade e naquele sentimento que raramente experimentava e admitia: o terror.O terror sempre fora o primeiro passo para a derrota - uma derrota excepcionalmente humilhante. Eu odiava perder. Contudo, naquele instante, tudo o que eu fazia era, de certa forma, me entregar à perda. Perdida contra mim mesma, contra a escuridão que me envolvia, contra as memórias horripilantes que se desenrolavam diante dos meus olhos…Jamais pensei que imploraria por algo. Talvez eu o fizesse por Natália ou por Diana, mas jamais por mim - nunca por mim.Havia me fortalecido para nunca mais implorar pela minha vida ou por alívio do meu sofrimento. Mas acabei implorando. Implorei por um longo tempo, enquanto meus pulmões ardiam e eu tentava me mover, sem conseguir.Era como se eu estivesse num túmulo - um túmulo
NATÁLIA— Não fale comigo. — Resmunguei quando senti seu dedo cutucar meu ombro.Ricardo recusara trazer Ana e, agora, continuava a me irritar cutucando meu ombro sem cessar.Eu estava aterrorizada só de imaginar o que aquele homem estranho poderia fazer com ela se permanecesse ali.— Ele é bom com ela. Juro, jamais a machucaria. — Comentou Ricardo, suspirando, enquanto eu insistia em não me virar, mesmo após o 29ª cutucão.— Eu pensava o mesmo... Mas ele o fez, não foi? Nem sei o que fez para fazê-la gritar daquele jeito. Ela estava sentindo dor... Muita dor. Eu podia senti-la. — Respirei, relembrando como os olhos dela escureceram, tal qual os de Rafael, antes dela parar de se mover.Tinha sido a pior experiência da minha vida. Primeiro, vi minha criança à beira da morte e chorei desesperadamente. Depois, presenciei minha amiga quase sucumbir às mãos de um homem que havia perdido o juízo.— Fechei um acordo com os Originais, Amorzinho. Era o melhor, para todos nós. Eles aprovaram a l