NATÁLIA— Não fale comigo. — Resmunguei quando senti seu dedo cutucar meu ombro.Ricardo recusara trazer Ana e, agora, continuava a me irritar cutucando meu ombro sem cessar.Eu estava aterrorizada só de imaginar o que aquele homem estranho poderia fazer com ela se permanecesse ali.— Ele é bom com ela. Juro, jamais a machucaria. — Comentou Ricardo, suspirando, enquanto eu insistia em não me virar, mesmo após o 29ª cutucão.— Eu pensava o mesmo... Mas ele o fez, não foi? Nem sei o que fez para fazê-la gritar daquele jeito. Ela estava sentindo dor... Muita dor. Eu podia senti-la. — Respirei, relembrando como os olhos dela escureceram, tal qual os de Rafael, antes dela parar de se mover.Tinha sido a pior experiência da minha vida. Primeiro, vi minha criança à beira da morte e chorei desesperadamente. Depois, presenciei minha amiga quase sucumbir às mãos de um homem que havia perdido o juízo.— Fechei um acordo com os Originais, Amorzinho. Era o melhor, para todos nós. Eles aprovaram a l
NATÁLIAOlhando para o meu reflexo no espelho, eu suspirei. Usava um fascinante vestido de mikado de seda, de tom âmbar, com um decote geométrico bordado com strass e cristais. O pescoço estava envolto por um imponente laço, assimetricamente cortado nas extremidades na altura dos seios, que abraçava o meu corpo em todas as curvas, restringindo meus movimentos.Quando Ricardo disse que me iniciaria como sua Luna oficial, ele não estava brincando. Percebi isso pela manhã, quando ele preparou tudo em questão de horas e pediu que eu me arrumasse.Ainda sentia vibrações negativas a partir de toda aquela situação, e eu não sabia bem o que sentir. O fato de Ricardo ter convocado todos os híbridos que conhecia para que os Originais aprovassem a lei logo após a cerimônia naquele dia me deixava ainda mais inquieta.O mais perturbador era constatar que Evangélica não era o anjo que eu imaginava. Ela também parou de me visitar nos sonhos, assim como Abraão havia desaparecido. Quase parecia que tud
RICARDO— Alfa Ricardo. Chame todos. — Ordenaram os gêmeos, como se eu estivesse morrendo de vontade de atender aos seus pedidos.O grande número de lobisomens convocados das alcateias estrangeiras observava enquanto eu indicava alguns homens específicos, e eles saíam da multidão, avançando sem hesitar.— Pensei que todos nós tínhamos concordado em fazer isso depois que eu iniciasse a Natália em minha alcateia. — Mencionei, sem me importar com a ordem dos acontecimentos.— Então, todos eles são as pessoas de quem falamos? — Questionaram Cristiano e Catarina, com uma malícia cintilando nos olhos, algo que escondiam de quase todos. Quase.— Sim. — Acenei calmamente com a cabeça.— Então, o negócio é o seguinte… — Os Originais não esperaram por Frederico, que havia desaparecido há algum tempo, sem que eu soubesse para onde.— Encontrem-no. E tragam-no para cá. Ele precisa estar aqui em um momento como este. — Enviei mentalmente uma mensagem ao Bernardo e recebi, em resposta, um breve: — C
RICARDO— Você ainda não vai confessar, Alfa Ricardo? Você sabe que tantas coisas preciosas estão em jogo aqui. Confesse seus crimes e salve a todos nós. — Frederico fala em um tom sugestivo.Não preciso fazer perguntas. Nem sequer preciso duvidar do que está errado. Apenas pelas suas palavras e pela aura arrogante, posso dizer que ele está com Natália e vai usá-la para chegar até mim.Achei que a besteira tivesse acabado com a morte de Abraão, mas… acho que não era só isso. Talvez eu tenha perdido algo.‘Encontre sua Luna. Eles não podem tê-la levado para longe.’ Posso senti-la perto. Eu sei que ela está aqui, mesmo que tenha bloqueado a nossa conexão, talvez como resultado de uma poção que alguém lhe deu.‘Já estou nisso.’ Bernardo rosna, soando irritado, o que é bom.Empurrando para longe a parede de emoções negativas e medos, endireito-me, preparando-me para ganhar tempo até que Bernardo encontre Natália.— Qual é a prova de que ela não está mentindo? Natália tem seu lugar agora. —
NATÁLIAEu não desmaiei como achei que aconteceria quando meu corpo perdeu toda a energia e me senti tão fraca que se tornou impossível sequer pronunciar uma única palavra ou alcançar Ricardo através do vínculo.Comecei a me afastar, indo para algum canto distante da minha mente. Eu conseguia ver tudo, sentir tudo e pensar em tudo, mas não conseguia agir de fato. Frederico me pegou e me levou para fora, jogando-me no depósito, que ficava próximo à Casa da Alcateia. Eu o vi fazendo tudo isso, e ainda assim, não fui capaz de reagir.Fiquei estirada no chão do depósito, sem controle de nada. Mas eu estava com medo. Temia que a poção fosse forte demais para o bebê e me matava por estar tão fraca justamente quando eu precisava ser forte.Sempre soube o que era sentir-se indefesa, mas nunca me odiei por isso. Naquele momento, enquanto era empurrada para o fundo da minha própria mente e outra entidade fazia meu peito arder com um peso que eu jamais havia sentido, eu me odiei por ser tão vulne
RICARDOAgora eu sei o que Frederico queria me contar. Não tenho dúvidas de que ele deve ter sido o responsável por isso com Natália. Mas depois de ter libertado Evangélica, ela pode tê-lo traído.Tentei me conectar com Natália. Tenho um pressentimento de que ela está em algum lugar no fundo de sua mente. Não sei se ela pode me ouvir ou não, mas eu desejo desesperadamente escutar sua voz.O fogo se espalha em minha direção enquanto observo, chocado e confuso, o corpo da minha companheira sendo controlado por um espírito maligno. O que eu posso fazer para trazê-la de volta? O que Niyara, a bruxa que me criou, já me ensinou sobre isso? Não consigo me lembrar, já que nunca tive interesse em algo assim.Gritos ecoam ao meu redor, mas não posso me virar ou correr para ajudá-los. Sei que estão queimando e que todos têm medo do fogo. Qualquer um forte pode lutar contra a água, madeira em chamas, metal ou ventos violentos, mas enfrentar um fogo que consome, que mata com um único toque... Ningu
NATÁLIA— Por quanto tempo você vai continuar assim? — Uma voz suave perguntou no espaço vazio e iluminado.— Eu morri? — Questionei, suspirando profundamente e sentando-me sobre a grama.O campo ao meu redor estava coberto de flores azuis, amarelas e rosas. Era reconfortante e agradável aos olhos. Pela primeira vez em muito tempo, senti que podia respirar sem que meus pulmões ardessem.— Você queria morrer? — A voz soltou uma risadinha.Sorri, olhando por cima do ombro para a mulher. Ela estava sentada em uma rocha atrás de mim. Eu não sabia quem ela era, nem por que estava falando com ela tão calmamente, mas vê-la era algo confortante para os olhos e para a mente.Seus cabelos prateados e brilhantes caíam em ondas sobre os ombros e as costas, e seus olhos prateados cintilantes me observavam com atenção. O queixo dela repousava na palma da mão, com o cotovelo apoiado no joelho. O vestido branco e solto que ela usava esvoaçava com a brisa suave e reconfortante.— Eu realmente morri? —
NATÁLIA— Uhm… o que está acontecendo? — Sussurro no ouvido de Ricardo.A situação não está boa. Dá para perceber.Ele se afasta, suas mãos deslizando até meus pulsos. — Você está bem?Desviando o olhar de Zero, lanço um rápido olhar para Ricardo e balanço a cabeça para tranquilizá-lo.— Quem é ele? — Gesticulo em direção ao homem ao lado direito de Ricardo.Ele inspira bruscamente e lança um olhar sutil de advertência por cima do ombro. — Ele é… o Rei Vampiro… Gualterio Corentine.O pai de Zero. Ergo a cabeça para observá-lo mais de perto. Ele me encara de volta, seus olhos negros prendendo minha atenção. Não parece ter mais de trinta anos… Mas, novamente, ele é um Vampiro… e, bem, eu nunca encontrei um Vampiro de alta patente em toda a minha vida. Eles são frios e podem arrepiar até a espinha com um único olhar. O mais inquietante é que… não há como saber qual é o poder dele. Ele pode estar lendo minha mente agora, por tudo que sei.Passo a língua pelos lábios e respiro fundo pelo na