RICARDOA situação virou de cabeça para baixo. Rafael não deveria ter aparecido. No entanto, ele apareceu e me pegou de surpresa.Eu sempre soube que ele enlouqueceria ao ver aqueles Originais, e sempre o mantive longe deles. Aqueles desgraçados executaram a mãe dele, trancaram-no em um caixão e o enterraram vivo, respirando sob a terra por séculos. Brutalmente, amaldiçoaram uma criança e a forçaram a enfrentar horrores que ninguém jamais deveria experimentar.Eu entendia por que ele perdeu o controle e foi atrás deles. Mesmo naquele estado de loucura, ele não chegou a me atacar - só investia contra os Originais, como se estivesse desesperado, sedento para matá-los ali mesmo.No meio de tudo isso, eu estava tão distraído que não percebi o que havia de errado com Natália. Ela estava em dor, sangrando, prestes a perder a única coisa que realmente importava para nós naquele momento: nosso filho.— Ela vai ficar bem, Alfa. — Luciana sussurrou atrás de mim, com a voz cuidadosa.Levei Natáli
RICARDO— Não é engraçado, Alfa Ricardo. — Disse Frederico, suspirando. — Uma guerra total contra os Vampiros sempre foi destrutiva. Para eles. E para nós.Assenti, com um sorriso irônico estampado nos lábios.— Então você teme a guerra contra os vampiros? Por que fez isso com o filho do Rei Vampiro se temia a guerra com ele?Espere. Meu rosto se contorceu, e o sorriso se apagou. Filho do Rei Vampiro… O Vampiro parecia, de certo modo, um tio retorcido, que sequer sabia da minha existência. Então… O que isso significava? Rafael seria meu primo? Um primo de séculos atrás? Boas notícias, por mais estranhas que fossem.Perguntei-me se ele sempre soubera e permanecera ao meu lado por causa disso. Precisava conversar com ele a respeito.— Todos os híbridos deviam ser colocados para dormir. Essa era a lei. Precisávamos agir com justiça e imparcialidade ao enterrá-los, sem distinção entre um e outro. — Responderam cautelosamente os gêmeos.— Justiça? — Exclamei, enquanto minhas sobrancelhas se
ANASeria uma noite?Duas noites?Uma semana?Um mês?Um ano?Eu não conseguia dizer quanto tempo havia se passado. O silêncio ensurdecedor e a dificuldade de respirar faziam minha mente girar em ansiedade e naquele sentimento que raramente experimentava e admitia: o terror.O terror sempre fora o primeiro passo para a derrota - uma derrota excepcionalmente humilhante. Eu odiava perder. Contudo, naquele instante, tudo o que eu fazia era, de certa forma, me entregar à perda. Perdida contra mim mesma, contra a escuridão que me envolvia, contra as memórias horripilantes que se desenrolavam diante dos meus olhos…Jamais pensei que imploraria por algo. Talvez eu o fizesse por Natália ou por Diana, mas jamais por mim - nunca por mim.Havia me fortalecido para nunca mais implorar pela minha vida ou por alívio do meu sofrimento. Mas acabei implorando. Implorei por um longo tempo, enquanto meus pulmões ardiam e eu tentava me mover, sem conseguir.Era como se eu estivesse num túmulo - um túmulo
NATÁLIA— Não fale comigo. — Resmunguei quando senti seu dedo cutucar meu ombro.Ricardo recusara trazer Ana e, agora, continuava a me irritar cutucando meu ombro sem cessar.Eu estava aterrorizada só de imaginar o que aquele homem estranho poderia fazer com ela se permanecesse ali.— Ele é bom com ela. Juro, jamais a machucaria. — Comentou Ricardo, suspirando, enquanto eu insistia em não me virar, mesmo após o 29ª cutucão.— Eu pensava o mesmo... Mas ele o fez, não foi? Nem sei o que fez para fazê-la gritar daquele jeito. Ela estava sentindo dor... Muita dor. Eu podia senti-la. — Respirei, relembrando como os olhos dela escureceram, tal qual os de Rafael, antes dela parar de se mover.Tinha sido a pior experiência da minha vida. Primeiro, vi minha criança à beira da morte e chorei desesperadamente. Depois, presenciei minha amiga quase sucumbir às mãos de um homem que havia perdido o juízo.— Fechei um acordo com os Originais, Amorzinho. Era o melhor, para todos nós. Eles aprovaram a l
NATÁLIAOlhando para o meu reflexo no espelho, eu suspirei. Usava um fascinante vestido de mikado de seda, de tom âmbar, com um decote geométrico bordado com strass e cristais. O pescoço estava envolto por um imponente laço, assimetricamente cortado nas extremidades na altura dos seios, que abraçava o meu corpo em todas as curvas, restringindo meus movimentos.Quando Ricardo disse que me iniciaria como sua Luna oficial, ele não estava brincando. Percebi isso pela manhã, quando ele preparou tudo em questão de horas e pediu que eu me arrumasse.Ainda sentia vibrações negativas a partir de toda aquela situação, e eu não sabia bem o que sentir. O fato de Ricardo ter convocado todos os híbridos que conhecia para que os Originais aprovassem a lei logo após a cerimônia naquele dia me deixava ainda mais inquieta.O mais perturbador era constatar que Evangélica não era o anjo que eu imaginava. Ela também parou de me visitar nos sonhos, assim como Abraão havia desaparecido. Quase parecia que tud
RICARDO— Alfa Ricardo. Chame todos. — Ordenaram os gêmeos, como se eu estivesse morrendo de vontade de atender aos seus pedidos.O grande número de lobisomens convocados das alcateias estrangeiras observava enquanto eu indicava alguns homens específicos, e eles saíam da multidão, avançando sem hesitar.— Pensei que todos nós tínhamos concordado em fazer isso depois que eu iniciasse a Natália em minha alcateia. — Mencionei, sem me importar com a ordem dos acontecimentos.— Então, todos eles são as pessoas de quem falamos? — Questionaram Cristiano e Catarina, com uma malícia cintilando nos olhos, algo que escondiam de quase todos. Quase.— Sim. — Acenei calmamente com a cabeça.— Então, o negócio é o seguinte… — Os Originais não esperaram por Frederico, que havia desaparecido há algum tempo, sem que eu soubesse para onde.— Encontrem-no. E tragam-no para cá. Ele precisa estar aqui em um momento como este. — Enviei mentalmente uma mensagem ao Bernardo e recebi, em resposta, um breve: — C
RICARDO— Você ainda não vai confessar, Alfa Ricardo? Você sabe que tantas coisas preciosas estão em jogo aqui. Confesse seus crimes e salve a todos nós. — Frederico fala em um tom sugestivo.Não preciso fazer perguntas. Nem sequer preciso duvidar do que está errado. Apenas pelas suas palavras e pela aura arrogante, posso dizer que ele está com Natália e vai usá-la para chegar até mim.Achei que a besteira tivesse acabado com a morte de Abraão, mas… acho que não era só isso. Talvez eu tenha perdido algo.‘Encontre sua Luna. Eles não podem tê-la levado para longe.’ Posso senti-la perto. Eu sei que ela está aqui, mesmo que tenha bloqueado a nossa conexão, talvez como resultado de uma poção que alguém lhe deu.‘Já estou nisso.’ Bernardo rosna, soando irritado, o que é bom.Empurrando para longe a parede de emoções negativas e medos, endireito-me, preparando-me para ganhar tempo até que Bernardo encontre Natália.— Qual é a prova de que ela não está mentindo? Natália tem seu lugar agora. —
NATÁLIAEu não desmaiei como achei que aconteceria quando meu corpo perdeu toda a energia e me senti tão fraca que se tornou impossível sequer pronunciar uma única palavra ou alcançar Ricardo através do vínculo.Comecei a me afastar, indo para algum canto distante da minha mente. Eu conseguia ver tudo, sentir tudo e pensar em tudo, mas não conseguia agir de fato. Frederico me pegou e me levou para fora, jogando-me no depósito, que ficava próximo à Casa da Alcateia. Eu o vi fazendo tudo isso, e ainda assim, não fui capaz de reagir.Fiquei estirada no chão do depósito, sem controle de nada. Mas eu estava com medo. Temia que a poção fosse forte demais para o bebê e me matava por estar tão fraca justamente quando eu precisava ser forte.Sempre soube o que era sentir-se indefesa, mas nunca me odiei por isso. Naquele momento, enquanto era empurrada para o fundo da minha própria mente e outra entidade fazia meu peito arder com um peso que eu jamais havia sentido, eu me odiei por ser tão vulne