ANA Algo estava acontecendo.Rafael não fazia mais parte da Alcateia. Ele havia saído na noite anterior, enquanto eu dormia profundamente.Ao acordar naquela manhã, deparei-me com sua ausência e com os marionetes do conselho invadindo o local. Vasculharam cada canto da casa sem a menor consideração pela autoridade do Alfa, e nenhum membro daquela maldita Alcateia sequer contestou. Pelo jeito, o desprezo por Rafael era unânime. Não que isso me afetasse diretamente, mas até na crueldade deveriam existir limites.— Onde está o Alfa? — Perguntou o velho, um dos lobisomens que atuava sob os originais para manter a ordem do conselho na comunidade, pela quarta vez.— Não sei. — Dei de ombros, oferecendo a mesma resposta que soava vazia.Por algum motivo, ele não acreditou em mim. Em pouco tempo, eu me encontrava amarrada a uma cadeira nas profundezas das masmorras, prestes a ser torturada para que a resposta indefinida finalmente se revelasse.Agora deve entender por que estou tão ressentid
RICARDO— Então conquistaram o território da Alcateia da Floresta do Norte? — Suspirei, desviando o olhar para Ana, que me encarava com uma fúria inexplicável.— Claro. O Alfa não estava presente para impedi-los, e por isso eles assumiram o controle de tudo. — Sibilou ela, respondendo em lugar de Bernardo.— Procure tratamento na enfermaria. — A dispensei, de forma imperativa.Seus olhos, antes semicerrados, assumiram novamente o formato delicado de amêndoas enquanto ela inspirava profundamente. Gotas de sangue deslizavam por seus dedos, e as marcas das queimaduras em seus pulsos e tornozelos eram evidentes, mas nada parecia afetá-la de verdade.— Avise-me se precisar de algo. — Declarou ela, antes de se retirar, deixando-me sozinho com Bernardo no escritório.Logo que a porta se fechou, virei-me para Bernardo.— Por que você foi até aquele lugar?— A Luna me pediu para buscá-la. — Respondeu ele, como se aquilo fosse um fato.— Eu, inclusive, te mandei chamar a maldita Renata para cá.
RICARDO— Alfa. — Bernardo tentou agarrar meus ombros e me arrancar de Frederico, cujo rosto agora exibia manchas de sangue, com a mandíbula e o nariz completamente deslocados.Ergui meu punho mais uma vez e o acertei com força no rosto, fazendo com que seus olhos se espatifassem e a carne se rasgasse em pedaços. Agora via claramente os ossos estilhaçados, mas isso pouco adiantava - o alívio era inexistente, bem longe de ser suficiente.— Ricardo. — Natália ofegou de algum lugar atrás de mim e, finalmente, fui voltando aos meus sentidos.Deixando o canalha tombado no chão, limpei as mãos ensanguentadas nos jeans e me virei para encará-la.Ela não está olhando para mim. Seus olhos arregalados permaneciam fixos em Frederico, que agora se encontrava inconsciente. Eu tinha quase certeza de que seu pescoço havia se partido. Contudo, ele não morreria. A menos que eu arrancasse sua cabeça dos ombros e reduzisse seu corpo imundo a cinzas, ele voltaria à vida. A maldita Deusa havia concedido a
NATÁLIA — Informe a todos. Eles não estão autorizados a perambular por essa parte da alcateia esta noite. — Ordenou Ricardo, encarando Bernardo, cujos olhos transbordavam preocupação.— Tem certeza de que é isso que vamos fazer, Alfa? — Questionou Bernardo, demonstrando seu descontentamento com a ideia.— Faça o que estou dizendo. — Sibilou Ricardo, com sua voz carregada de uma raiva gélida que parecia escurecer todo ambiente.Bernardo assentiu silenciosamente e, sem mais delongas, saiu a passo firme da casa de Ricardo, repreendendo Juan enquanto avançava. Ninguém… Ninguém estaria por perto esta noite.Meus olhos se fixaram em Frederico, repousando inconsciente no sofá. Embora suas feridas já tivessem cicatrizado, o sangue ressequido e as roupas rasgadas não escondiam a verdade.Engoli o amargor que se formava na garganta e voltei meu olhar para Ricardo.— Não serei de nenhuma ajuda quando eles chegarem. — Confessei, inquieta com o fato de que Ricardo e Bernardo, sozinhos, talvez não
NATÁLIAA situação escalou de forma vertiginosa quando Frederico soltou um brado de guerra e desferiu o primeiro golpe, capaz de estilhaçar mandíbulas, em Abraão.Meu coração subiu até a garganta ao observá-los, paralisados pelo choque.Um após o outro, Frederico acertava socos em Abraão. O chão sob os pés deles tremia, até que uma estranha massa de metal começou a emergir, como que viva.Eu não conseguia compreender o que se passava. Os blocos metálicos se mexiam, assumindo a forma de adagas afiadas, que de repente dispararam em direção a Frederico.— Abaixem-se! — Ecoou a voz de Ricardo em minha mente.Mas eu estava tão atordoada e confusa que não consegui reagir. Em um instante, todos permaneceram imóveis, inclusive o metal. Inspirei profundamente, com os olhos arregalados, fixos na ameaça cortante que se materializava diante de mim.De repente, as adagas de metal dispararam, simultaneamente, em direção a Frederico, a mim e a todos os presentes na sala. Meu corpo, tomado pelo pânico
NATÁLIA— Abaixe a cabeça. — Os gêmeos se moveram e sibilaram para o intruso, Rafael.Seus olhos eram negros, desprovidos de qualquer branco, como os de ghouls ou vampiros. Ele segurava a cabeça de Abraão entre as mãos, e todos não conseguiram deixar de observá-lo com cautela.Um original não poderia morrer a menos que seu corpo fosse queimado e eliminado. Eu sabia e os gêmeos sabiam que, enquanto ele tivesse a cabeça nas palmas das mãos de Rafael, Abraão poderia sobreviver.— Rafael. — Ricardo o chamou, com um tom sombrio e perigoso.Rafael lançou um olhar para seu amigo antes de desviar o olhar para o fogo, queimando perto de mim. Minha respiração se prendeu na garganta quando ele jogou a cabeça sangrenta diretamente nas chamas. Algo explodiu antes que o fogo consumisse a cabeça de Abraão.Os gêmeos gritaram, avançando para a cabeça, mas não a alcançaram a tempo. O horror se pintou no meu rosto e fez minhas entranhas se torcerem. Nunca havia visto algo tão sinistro assim. O que mais
RICARDOA situação virou de cabeça para baixo. Rafael não deveria ter aparecido. No entanto, ele apareceu e me pegou de surpresa.Eu sempre soube que ele enlouqueceria ao ver aqueles Originais, e sempre o mantive longe deles. Aqueles desgraçados executaram a mãe dele, trancaram-no em um caixão e o enterraram vivo, respirando sob a terra por séculos. Brutalmente, amaldiçoaram uma criança e a forçaram a enfrentar horrores que ninguém jamais deveria experimentar.Eu entendia por que ele perdeu o controle e foi atrás deles. Mesmo naquele estado de loucura, ele não chegou a me atacar - só investia contra os Originais, como se estivesse desesperado, sedento para matá-los ali mesmo.No meio de tudo isso, eu estava tão distraído que não percebi o que havia de errado com Natália. Ela estava em dor, sangrando, prestes a perder a única coisa que realmente importava para nós naquele momento: nosso filho.— Ela vai ficar bem, Alfa. — Luciana sussurrou atrás de mim, com a voz cuidadosa.Levei Natáli
RICARDO— Não é engraçado, Alfa Ricardo. — Disse Frederico, suspirando. — Uma guerra total contra os Vampiros sempre foi destrutiva. Para eles. E para nós.Assenti, com um sorriso irônico estampado nos lábios.— Então você teme a guerra contra os vampiros? Por que fez isso com o filho do Rei Vampiro se temia a guerra com ele?Espere. Meu rosto se contorceu, e o sorriso se apagou. Filho do Rei Vampiro… O Vampiro parecia, de certo modo, um tio retorcido, que sequer sabia da minha existência. Então… O que isso significava? Rafael seria meu primo? Um primo de séculos atrás? Boas notícias, por mais estranhas que fossem.Perguntei-me se ele sempre soubera e permanecera ao meu lado por causa disso. Precisava conversar com ele a respeito.— Todos os híbridos deviam ser colocados para dormir. Essa era a lei. Precisávamos agir com justiça e imparcialidade ao enterrá-los, sem distinção entre um e outro. — Responderam cautelosamente os gêmeos.— Justiça? — Exclamei, enquanto minhas sobrancelhas se