Entrei na recepção do prédio todo em vidro e mármore, com um piso que refletia mais que a imagem do espelho do meu apartamento. Tinha uma pequena fila, no balcão de informações. Fui até lá e percebi que todos estavam ali pela seleção.Quando chegou a minha vez, falei:- Vim pela vaga na área de Marketing.- As vagas, no caso. – A atendente sorriu. – Sétimo andar. – Me deu um crachá. – Lá é a área de Marketing da empresa.Um andar para marketing? “As vagas”? Deus, bem que o Senhor poderia reservar ao menos uma para esta pobre pessoa aqui.Tinha seis elevadores, um ao lado do outro. E sim, todos funcionavam, óbvio.Assim que o elevador chegou no térreo e abriu a porta, lembrei que havia esquecido meus documentos. Claro que não poderia fazer nada sem os documentos.Já tinha iniciado a maré de azar. Fui praticamente correndo até em casa e peguei a carteira com documentos. Ben continuava morto no sofá e Salma já estava no quarto, provavelmente dormindo.Quando desci estava suada, então não
Fiquei parada, sem saber o que dizer ou fazer, enquanto a secretária fechava a porta atrás de mim. Olhei para trás, amedrontada de ficar ali sozinha com ele.Mas lá estava novamente eu e Heitor Casanova, frente a frente.- Sente-se, por favor. – Curvou a boca num meio sorrido, de forma debochada, como de todas as vezes que o encontrei.Demorei um pouco para fazer o que ele pediu. Percebi que ele olhava meu currículo atentamente no computador, sem dizer nada, me deixando ainda mais nervosa.Heitor Casanova em nada me agradava enquanto pessoa e na mesma hora eu já soube que estava fora da vaga. Mas não podia negar o quanto ele era bonito e atraente. Sentia o cheiro de perfume caro de onde eu estava.Ele vestia terno e gravata e os cabelos estavam bem arrumados. Exalava masculinidade pelos poros. E meu coração começou a bater mais forte. Eu o temia e não sabia nem o motivo. As pernas, eu já nem sentia mais. Pareciam gelatina de tão moles. E se não bastasse, meu pé começou a bater no chão
Maserati... Ah, Maserati!Fui andando devagar até o estacionamento do Deus da porra toda, tarado, patife, desclassificado.- Oi... – falei para o segurança que estava próximo dali atento a tudo.- Pois não. Posso ajudá-la?- Pode sim. Tem um tal de... Acho que é Anon o nome dele. Conhece alguém com este nome?- Sim. – Ele me olhou atentamente, ficando ereto quando mencionei o nome do segurança de Casanova.- Ele pediu para avisar que precisa que você suba imediatamente até o 21º andar. Parece que algumas garotas nuas invadiram a sala do senhor Casanova.- Meu Deus! – ele saiu correndo.- Oi, Maserati. Agora somos eu e você. E sei que seu dono pode pouco se importar com qualquer coisa... Menos com você. Deve ser o nenenzinho dele... Assim como seria o meu, caso eu fosse sua dona. Então, me perdoe pelo que vou fazer. Não é nada pessoal, juro.Peguei a chave do apartamento e comecei na porta traseira, riscando com força, tirando a tinta, até chegar no final da porta dianteira. Quando aca
Me colocaram sentada numa cadeira, vigiada por um policial, enquanto o delegado atendia outras pessoas que estavam na minha frente. Percebi claramente que o meu “crime” era o mais leve ali.Enquanto eu aguardava na fila dos delinquentes, batia meu tênis insistentemente no chão, ansiosa, até que vi Ben e Daniel entrando.Ben quase atropelou o policial e veio até mim, correndo. Levantei e nos abraçamos.- O que houve, meu amor? O que fizeram com você?- Ben, o desgraçado do Casanova me acusou injustamente. – Menti.- De que?- Eu... Não sei.- Babi, me diga que você não se meteu com o CEO da Babilônia, por favor. – Ben olhou nos meus olhos.- Ele não é só CEO da Babilônia. É CEO da North B. também. – Daniel explicou.Ben me encarou:- Você é só uma pedrinha no sapato dele... Sabe disto, não é mesmo?Assenti, assustada e me dando em conta do que eu tinha feito e o quanto poderia complicar ainda mais a minha vida, que já era mais que difícil.Antes de eu me arrepender por completo, o Dele
- Você está fo... – Ben olhou para o delegado. – Ferrada, Babi.- Vou mesmo ficar presa? – perguntei ao delegado.- Acho que precisa de um advogado, senhorita Novaes. Algum de vocês dois por acaso é ou pelo menos conhece um? – olhou para Ben e Daniel.- Sou... Crítico de moda. – Ben explicou.- E eu barman e motorista de aplicativo. – Daniel abaixou a cabeça. - Ela precisa de um advogado, porra! – o delegado levantou. – Sinceramente, senhorita Novaes, eu já teria liberado a senhorita, com o que tenho de coisas pra resolver aqui. – Ele passou a mão na cabeça, visivelmente cansado. – Mas os Casanova acabariam com a minha raça. O telefone na mesa dele tocou. Atendeu imediatamente. Ficou um tempo respondendo em monossílabos e desligou. - Bem, temos boas notícias. A advogada ligou e disse que o senhor Casanova aceita as joias e retirará a queixa.Não... Tudo menos isso. Ele disse que não era um homem ruim. E eu tive a capacidade de acreditar. - Ok... – falei sentindo meu coração se par
Estava pichado na fachada do prédio “LOUCA DESCLASSIFICADA”. E claro que aquilo era obra dele: Heitor Casanova.- Olhem o que este desgraçado fez! – fiquei puta, aturdida, sem raciocinar direito.- Não acho que tenha sido exatamente ele. Certamente pagou alguém para fazer. – Ben virou a cabeça de lado, acompanhando a escrita.- A parte boa é... Que ninguém sabe que é para você. – Salma falou, estreitando os olhos, pensativa.- Se eu o visse neste instante, daria tanto na cara dele... Até não suportar mais de cansaço nas mãos. – Cheguei a imaginar a cena na minha cabeça.- Teria que subir num banquinho, cherry. – Ben falou seriamente.- Ben, seu idiota desclassificado.- Se eu fosse você não usava mais esta palavra. Está ficando perigoso, Babi. – Ele reagiu.Peguei meu celular e tirei uma foto da fachada com o escrito.- O que vai fazer com isso? – Salma perguntou.- Levar para o Delegado e mostrar o que Heitor Casanova fez. Vou exigir que ele me pague pelos danos morais e...- Não vai
Quando percebi os olhos dele nos meus, perguntei, um pouco encabulada, tentando me justificar:- Estava tentando identificar a cor dos seus olhos.- Oficialmente verdes. – Sorriu gentilmente. – Embora algumas pessoas achem que são azuis.- Eu achei que eram azuis. – Bati a mão na perna, sabendo que tinha errado.- Azuis são os seus. – Observou.- Iguais os da minha mãe... E da minha avó. – Fiz questão de falar, orgulhosa.- Senhor, já faz meia hora... – o homem que o acompanhava falou. – Não está cansado? Quer que eu relembre que o senhor está aqui?- Não precisa. – Ele levantou a mão, confirmando que estava bem.A cadeira de rodas dele era enorme e tinha vários botões. Certamente de última geração.- Não sei qual é o seu horário, mas pode passar na minha frente se quiser. Não tenho nada para fazer mesmo... Sou uma desempregada. – Sorri da minha condição.- Estou aguardando o resultado de alguns exames. Não tenho pressa também.- Eu... Bem... Nunca vi um homem ir ao Ginecologista. Eu
- Oi.- Oi. – Ela me falou, sem olhar na minha cara, continuando o que estava a fazer.- O que eu faço se encontrei algo no elevador?- Se não for dinheiro, leve para a seção de “achados e perdidos”, no segundo andar. – Ela seguiu no computador, sem demonstrar interesse no que eu dizia. - E se for dinheiro? – perguntei por curiosidade.Ela me encarou então, com cara de poucos amigos:- Daí deixe aqui comigo.Enruguei a testa. Que descarada! Certo que se era dinheiro, pegaria para ela.- Encontrou algo? – ela questionou, agora interessada.- Sim... – peguei uma moeda que não valia quase nada e entreguei para ela.Ela pegou a moeda, olhou, rolou-a sobre a mão e disse:- Pode ficar para você. – Sorriu debochadamente.Não é uma moeda, sua idiota. Achei uma carteira do senhor Allan C. Mas você não é confiável. Eu mesma vou devolver, de um jeito ou de outro. Ele era um senhor tão gentil. Certamente estava preocupado, afinal, todos os seus cartões estavam ali. Quem não ficaria? Ainda mais c