Não podia beber mais, ou acabaria com o cartão de minha amiga Salma. Certamente seria descontado do salário dela depois. Se bem que acho que ela não se importaria se eu provasse um chopp de... Menta.
- Vai ficar bêbada deste jeito. – o barman me entregou o terceiro copo, rindo.
- Acho que não... Parece ser pouco alcoólico. – gritei para ser ouvida, não percebendo que a mesma pessoa me entregou os copos.
Todos os barman’s e bargirl’s vestiam calças pretas, com colete da mesma cor, social e camisas brancas por baixo. A roupa era bordada com o nome do lugar.
- Te dou meia hora e estará dançando sem roupa na pista. – ele garantiu.
Comecei a rir:
- Obrigada pela dica. Vou levar em conta.
- Quando estiver nua na pista? – riu.
Assenti com a cabeça, virando o último copo, que já me tonteou um pouco.
Fui encontrar meu amigo, que seguia dançando sozinho entre a multidão. E não foi difícil encontrar um rapaz magro, não muito alto, com blazer vermelho com xadrez, calça azul brilhante e botinas militares pretas e um lindo chapéu na cabeça. Os longos cabelos cor de mel, trançados, se mexiam conforme ele dançava no ritmo da música.
O abracei por trás. Ele virou-se e começamos a pular, grudados um no outro.
- Isso aqui é simplesmente perfeito, Babi.
- Tanto quanto as bebidas... Eu bebi chopp de chocolate com pimenta... Tem noção?
Ele beijou meus lábios:
- Não tem gosto de chocolate com pimenta.
- Porque o último foi de menta. – comecei a rir. – Sinta. – Beijei-o novamente, deixando-o sentir o gosto na minha língua.
- Está adocicado. – apertou os olhos, fazendo careta.
- Você precisa provar, Ben.
- Lá no bar ou nos seus lábios, Babi? – riu sarcasticamente.
- No bar, seu bobo.
Ele demorou um pouco para voltar. Eu continuei dançando. As músicas eram agradáveis e o ambiente perfeito. Logo Ben voltou e começamos a dançar sensualmente, como fazíamos em casa para nos divertirmos. Em pouco tempo, juntaram algumas pessoas ao nosso redor, curiosos com nossa dança.
Jamais imaginei que nossa coreografia de quem não tinha nada para fazer nos finais de semana à noite fosse fazer tanto sucesso. E quando vi, meu amigo foi surpreendido por um homem de quase dois metros, puro músculos, que o beijou sem pedir licença.
Nossa, ele destruiria meu Ben. Tinha no mínimo quarenta centímetros a mais que ele. E se o seu pau fosse proporcional à altura... Ben estava literalmente fodido.
Em pouco tempo meu amigo desapareceu na multidão. Fumaça artificial tomou conta do lugar e as dançarinas entraram nas caixas transparentes, ovacionadas pelo público enlouquecido. Uma nova música começou. As luzes ficaram em cores diferentes e refletores claríssimos ficaram fixos em cada uma delas, que começaram a dançar conforme o ritmo.
Elas usavam espécies de panos brancos estreitos que cobriam parte de seus corpos, completamente brilhantes em dourado. Como se estivessem cheias de esparadrapos. Aquilo tinha um nome? Se tivesse, certamente era resto de tecido ou algo parecido. Reconheci minha amiga Salma, dançando lindamente na lateral.
Elas dançaram em torno de cinco minutos e o público não parou de gritar e aplaudir nunca. Realmente eram perfeitas, tanto na coreografia quanto na roupa.
De repente, escuridão completa. Sirenes, como se fossem de polícia e as luzes vermelhas piscante fizeram-se presentes. Ficou tudo assim, em torno de cinco minutos.
Então as luzes se acenderam, iluminando completamente o local. E um palco desceu do alto, com três postes de pole dance. Três mulheres simplesmente maravilhosas, com roupas iguais, brilhosas e grudadas ao corpo, tomaram seus lugares e começaram um show que particularmente, nunca vi nada igual.
Enquanto elas seguiam o ritmo da música, dançando linda e sincronizadamente, uma das caixas recebeu um homem, vestindo somente uma calça colada ao corpo, preta, mostrando os músculos enrijecidos enquanto dançava.
A gritaria foi geral. E sinceramente, eu não sabia para onde olhar. O homem era perfeito, mas o show das mulheres não deixava a desejar.
A do meio me chamou a atenção. Além de parecer saber mais do que as outras e mostrar ser absolutamente habilidosa no que fazia, ela tinha muita segurança. Era alta, magra e tinha longos cabelos loiros, que pareciam artificiais, amarrados num rabo de cavalo no topo da cabeça.
Logo a música acabou e elas se foram, deixando o público completamente enlouquecido. Um tempo depois e as outras garotas voltaram para suas caixas transparentes, inclusive minha amiga Salma.
Era tudo muito rápido e excitante. Mas minha cabeça logo começou a girar e minha bexiga pedia para ser esvaziada imediatamente.
Saí dali, com as luzes em excesso ofuscando meus olhos. Tinha tanta gente... Todo mundo batia em mim, sem querer. Vi a placa luminosa indicando os sanitários ao longe e cambaleei um pouco.
Parei, incerta se conseguiria chegar até lá. Bem que o barman me disse que eu ficaria completamente bêbada.
Olhei para frente e vi uma placa: “PRIVADA – PROIBIDO A ENTRADA”. Será que era um sonho? Ou estava tão bêbada que estava vendo coisas. Uma privada exclusiva para quem tivesse aquele cartãozinho mágico? Era perfeito aquele lugar. Até fazer xixi em paz a elite podia.
Acontece que assim que a porta se abriu e fechou automaticamente, eu percebi que não era um banheiro. Era a porra de uma escadaria estreita e que não tinha fim.
Tentei abrir a porta, que estava trancada. Por que não tinha como passar o cartão pelo lado de dentro? Onde estava a caixinha onde se botava o cartão mágico?
Subi rapidamente as escadas. Se não encontrasse um vaso sanitário eu faria xixi na roupa.
Por que uma placa dizendo “privada” não tinha privada? Que loucura. Sequer a música dava para escutar dali... Como se fosse à prova de som.
O final da escada deu num corredor em forma de T. E eu poderia escolher qualquer lado para ir, porque ambos eram absolutamente iguais. Fui pela direita. Porque de esquerda bastava eu e minha vida.
Ao final, mais um corredor. Aquilo era a porra de um labirinto? Não tinha uma alma viva para me ajudar.
E se eu ficasse perdida ali? Não era só uma boate? Porque tantos corredores e portas com cartões?
Ouvi alguns sons e segui até lá. Parei imediatamente quando vi um homem escorado na parede, com as calças abaixadas, enquanto uma mulher, de joelhos, o chupava enlouquecidamente... E era... A loira do meio do pole dance. Estava até com a mesma roupa. Que porra!
Os sons eram os gemidos dele. Ela estava quase nua e ele de olhos fechados. Tentei sair sem ser notada... Mas não consegui.
- Que porra você está fazendo aqui? – ele perguntou, incapaz de recolher seu pau para dentro da calça quando ela afastou a boca, levantando.
Fiquei olhando para a mulher, completamente desnorteada. E o pau dele ereto... Porra, porra, mil vezes porra!
- Desculpe... Eu... – tentei justificar o injustificável.
- Responda minha pergunta. – ele foi enfático e rude.
O homem tinha os olhos verdes e dos cabelos bem arrumados. A barba era bem-feita. Cabelos escuros, com a pele clara. Tão alto que talvez fosse uns trinta centímetros mais que eu.
- Poderia... Guardar... Seu... – apontei para o pênis.
Ele rapidamente puxou a calça, desnorteado.
- Responda agora. Perdeu a língua? – a loira perguntou.
- Eu só entrei no lugar errado. – Justifiquei.
- Você trabalha aqui? – ele perguntou.
- Não... Não trabalha. Então... Tem um cartão como? – ela me olhou.
- Eu... Não tenho um cartão. – escondi a mão para trás, apertando com força o cartão de Salma.
Se alguém descobrisse o que fez, eu sabia que ela teria problemas. E se minha melhor amiga perdesse o emprego pela minha tontice eu nunca me perdoaria. Mal conseguia arrumar emprego para mim, imagine ajudar ela a achar um.
- Que parte você não ouviu? Quero saber por que está aqui. Não leu na porta PRIVADO? Por acaso é analfabeta?
- Eu li... Privada... Seu... Desclassificado babaca. Não sou analfabeta... Eu só queria ir ao banheiro...
- Você me chamou de “desclassificado babaca”? Quem pensa que é? – ele veio na minha direção, furioso e eu fui andando para trás, amedrontada.Quando ele chegou próximo, coloquei os braços na frente do rosto, temendo que ele fosse me bater.Um longo silêncio pairou entre nós. Fui retirando meus braços, vagarosamente, sentindo os olhos dele sobre mim.- Eu... Não vou bater em você. – ele falou aturdido.- Eu... Não achei que fosse... – menti.- Chame os seguranças e mande retirá-la daqui imediatamente. E exija que a joguem para o lado de fora da boate. Certamente uma paparazzi disfarçada. – falou a mulher.- Papa... Papa... – a palavra não saía. A bebedeira me impedia de raciocinar muito bem. – Sou só uma frequentadora desta porra... Foi um acidente... Entrei no lugar errado.- E quem me garante que você não vai espalhar aos quatro cantos do mundo o que viu aqui? – ele disse com os olhos frios.Ele usava uma camisa branca, aberta uns dois botões. Tinha marca de batom na gola e no peito
- Alegria.- Que diferente. De onde sua mãe tirou?- De um filme.- Achei que fosse de origem viking. Ou um tipo de deus... Algo assim.Ele não falou nada. Descemos uma escadaria e ele abriu uma porta corta-fogo, onde tive a visão da rua, do lado de fora da boate.Suspirei:- Foi tão difícil entrar aqui... E tão rápido para sair. Eu sou uma desastrada azarada, esta é a verdade. Fui cair justo no lugar onde Heitor Casanova e sua esposa estavam.- Adeus, senhora Bongiove. – ele disse, fechando a porta.- É Novaes... – falei para mim mesma, já que ele não estava mais ali.Sentei no cordão da calçada. Precisava colocar meus pensamentos em ordem. Salma estava trabalhando e eu não queria estragar a foda de Ben, sabendo que ele não fazia sexo há um tempinho também.Peguei meu telefone e mandei uma mensagem no grupo que tínhamos em comum:“Amores, eu fiquei um pouco bêbada e vou chamar um motorista de aplicativo e dormir na casa da minha avó. Tenham uma noite maravilhosa.”Chamei o motorista
- Olá, Ana... Quanto tempo!Senti o abraço apertado dela e retribuí. Eu gostava tanto de Ana. E senti sua falta ao longo destes dois anos.- Entre... Por favor.Ela se afastou e entrei, ficando de pé.- Sempre sinta-se em casa aqui, Bárbara. Sabe o quanto eu a estimo.- Obrigada. – falei sentando.- Vou fazer um café para nós.- Não precisa... Eu já vou. Estou só de passagem. Tenho um compromisso logo em seguida. – Menti.- Por favor... Me deixei lhe oferecer um café.Assenti, sabendo que aquilo poderia ser importante para ela.Ana foi para a cozinha. Certamente os meninos não estavam em casa, pois tinha muito silêncio naquela casa enorme.Olhei as fotos penduradas na parede e porta-retratos na estante. Tudo tinha a imagem de Jardel... E algumas de nós dois juntos. Eu ainda estava dentro da casa dela, como recordação.Vi meu sorriso estampado e nossos beijos em diferentes ângulos para fotos e fiquei me perguntando se eu fui feliz naqueles momentos, ao lado dele. Porque eu lembrava do
- Bárbara, eu quero que você seja muito feliz.- Eu vou ser. – falei esperançosa e positivamente.- Por que eu acho que nunca mais nos veremos novamente? – ela indagou.Sim, não nos veríamos novamente. Porque eu não a procuraria. Aquilo era mesmo uma despedida... De tudo que me fazia lembrar Jardel.- Fique bem, Ana. Amo você.- Manterei você para sempre nas minhas orações, Bárbara. E mais uma vez, obrigada.Acenei e saí, fechando o portão, que certamente eu nunca mais reabriria novamente. Era o fim de um ciclo de quase dez anos.Respirei fundo, até sentir meus pulmões cheios e a respiração voltando ao normal. Eu não queria mais rever Jardel... Nem em fotos. As minhas eu já havia queimado tudo e apagado do celular o que restou.E foi assim que coloquei uma pedra em cima do meu relacionamento de oito anos com Jardel, meu primeiro e único amor e ao mesmo tempo o homem que acabou comigo, que me partiu em mil pedaços e que eu imaginava que jamais seria capaz de juntá-los novamente, porque
- Acha que ele tem uma amante? E pode ser a loira do meio do pole dance? – questionei, agora mais curiosa ainda.- Cindy? – ele balançou a cabeça. – Bem, Heitor Casanova é noivo. E a probabilidade de você encontrar a noiva dele na Babilônia é quase zero. Mas dentre todos os casos dele, Cindy é o mais sério.- Os casos? Bem, eu já tinha ouvido falar sobre a síndrome de gostoso cafajeste dele. Mas a tal Cindy me tratou como se fosse a real dona de tudo, acredite.- Eu não sei como você chegou ao senhor Casanova... Sinceramente, isso é muito difícil. Mas Cindy age mesmo como se fosse dona de tudo. Ela sabe o apreço que o chefe tem por ela.- E a noiva?- Bem, eu não sei nada sobre ela. O Google pode lhe dizer algo.- Cindy é a dançarina do meio do pole dance, certo?- Ela mesma. Mas não nos falamos muito. Ela é tratada quase como uma celebridade por todos. E não se mistura com os funcionários da Babilônia, mesmo sendo uma. Como eu disse, ela é a boneca do dono da porra toda. Eu só sou o
- Saiu mais cedo. Disse que tinha umas coisas para resolver. Depois iria para o trabalho.- Eu vou tomar um banho... E dormir. Estou virada num trapo humano... – falei, indo diretamente para o banheiro.Era seis horas da manhã quando meu telefone tocou na segunda-feira.- Alô... – falei, com voz de dormida ainda, não reconhecendo o número.- Olá, Babi.- Quem está falando? – sentei na cama.- O amor da sua vida... Só que você ainda não sabe disto.- Ben? – perguntei, aturdida.- Então já tem alguém ocupando meu lugar? Avise Ben que vou matá-lo.- Quem está falando, porra? Vou na polícia e mandar rastrear no número. Você será preso por ameaça e...- Babi, sou eu, Daniel.Fiquei pensativa um pouco, tentando botar os pensamentos em ordem àquela hora da manhã.- Você... Não dorme... Não vive?- Sou quase um vampiro. – Ele riu. – Acabei de sair da Babilônia... Acho que deve ser meu quinto turno.- Então fale o que o faz me ligar esta hora, senhor trabalhador...- Eu tenho um amigo que trab
O Restaurante que Daniel me indicou ficava na área mais nobre da capital. Um lugar sem muito movimento corriqueiro, completamente afastado da parte comercial. Só havia mais um restaurante naquela região, do mesmo estilo.Coloquei um vestido tomara que caia, sóbrio, num cinza mesclado escuro, não muito justo nem muito solto. Por cima, um blazer preto, com sapatos scarpin da mesma cor. Eu parecia uma mulher séria e confiável. Aliás, eu não parecia... Era uma mulher séria e confiável. Exceto pelo fato de estar com um tomara que caia, que ninguém saberia, já que o casaco deixava tudo completamente em harmonia no look de procurar emprego.Na entrada principal do restaurante, tinha dois manobristas, que recebiam os carros e levavam para não sei aonde, já que não havia nenhum estacionado nas redondezas. Certamente havia um estacionamento privativo para os clientes.O local não era muito grande, mas tinha enormes janelas de vidro e uma iluminação fraca do lado de dentro. Parecia não ter muita
Ouvi o som da porta se abrindo e olhei pelo espelho quem chegava. E esperava qualquer coisa, menos um homem... Ou melhor, menos “aquele homem”.Nossos olhos se encontraram na imagem do espelho. Senti um frio na barriga e fiquei imóvel. Ele também pareceu surpreso, pois ficou um tempo sem dizer nada, apenas me observando.- Eu... Acho que o senhor está no banheiro errado. – falei educadamente.Ele era Heitor Casanova. Via dezenas ou centenas de pessoas por dia. Claro que não lembraria de mim. Ainda assim, meu coração batia tão forte que eu conseguia escutá-lo fora do meu peito. Será que eu o temia, mesmo não estando no território dele? Por que ele me deixou tão nervosa?- Quem não sabe ler é você, pelo que me lembro. – os olhos verde-claro continuaram dos meus.- Como pode olhar ao seu redor, este banheiro é feminino, senhor.- Quem, em são consciência, tatua “Bon Jovi” na cervical? – olhou atentamente o símbolo que eu tatuei há muitos anos. - Me diga que foi uma bebedeira na adolescên