CLARA ASSUNÇÃO
Era quase assustadora frieza de Daniel Alencar.
A maneira como mudava a expressão, o tom de voz e até a personalidade em um estalar de dedos me fazia tremer algumas vezes. Comecei a notar logo após a festa que selou de vez essa merda de acordo em que me meti e a coisa parecia ir piorando de forma exponencial.
Ao chegarmos de viagem ele simplesmente me ignorou por quase três dias, não pediu desculpas, se quer tocou no assunto sobre ter me tratado como uma p**a. Dediquei meu tempo as aulas de preparação social e a minha própria faculdade. Dei uma boa olhada em minha frequência e teria que conversar com alguns professores para tentar fazê-los abonar as faltas por consideração, pois em duas matérias já estava reprovada. Na segunda feira conversei com a coordenação do curso e pedi para que avaliassem meu caso com gentileza, mas, mesmo me desejando felicidades por meu noivado fabuloso, disseram que o máximo que poderia ser feito era apresentar um ter
CLARA ASSUNÇÃO Ao ver toda minha produção, meu noivo fictício não se deu ao trabalho de tecer se quer um elogio, quebrou o silêncio pesado apenas para reforçar que deveria me comportar adequadamente quando os convidados começassem a chegar. E é óbvio que me comportei, já faziam quase duas semanas que ensaiava exaustivamente para um momento como aquele. Finalmente entendi o porquê de todos os melindres que dona Norma fazia questão de explicar, a maioria de nossos convidados tinha mais de 40 anos, dois dos casais pareciam estar muito além dos sessenta para falar a verdade. Lembrava de ter trocado uma palavra ou outra com alguns deles durante as apresentações na recepção de noivado e aproveitei para puxar os muitos assuntos que me foram sugeridos durante as aulas de preparação. Perguntava a quanto tempo eram casados, se tinham filhos, suas idades, o que faziam... quando esse tralalá terminava passava a perguntar o que tinham achado da festa, como conheceram Dani
CLARA ASSUNÇÃO Combinei com Camila de vir passar o fim de semana comigo, também já tinha convidado tia Gorete para passar alguns dias na capital e minha madrinha avisaria assim que conseguisse uma boa folga. Naquela noite ouvi as fofoquinhas maldosas com o meu nomeno banheiro da faculdade. Algumas garotas entraram falando sobre o homem mal encarado do lado de fora e disseram que era “o segurança da nojenta bancada por macho", uma delas falou como eu parecia ainda mais metida depois que fiquei noiva do milionário e a outra respondeu que eu sempre agi como se fosse melhor que elas. Esperei que saíssem do banheiro para abrir a porta do privativo. Sentia náusea pela forma podre que se referiram a mim, não estava triste, só muito p**a comigo mesma por não ter saído de onde estava dito que eram duas invejosas. Na sexta feira estava ansiosa para concluir de uma vez as tarefas para poderfofocar com Camila sobre o que faríamos quando viesse para ma
CLARA ASSUNÇÃO Não demorou para descermos no subsolo de um edifício no bairro da Mooca. Fizemos o caminho até o elevador em silêncio, entramos e o babaca digitou alguns números no interfone. Momentos depois dizia para alguém do outro lado da linha "libera aí corno". Então desligou e cravou os olhos dourados em mim: _ A partir desse momento nada mais importa, é hora do show e preciso que minha noiva apaixonada os faça acreditar que me ama. Vai conseguir fazer o seu trabalho? _ afastou alguns fios de cabelo do meu rosto e balancei a cabeça afirmativamente encarando o chão. _ Não estou convencido... Encarei seus olhos castanhos com ódio e não conseguia pensar em nada racional ou confiante para lhe dizer, no fundo eu só queria manda-lo ir tomar no cu, mas fiquei na ponta dos pés e o beijei.Seus lábios corresponderam de imediato e logo suas mãos pressionavam meus quadris me empurrando para uma das laterais do elevador, levou uma delas para meu pescoç
CLARA ASSUNÇÃO Quando entrei no apartamento da Mooca pensei que me sentiria desconfortável entre aqueles jovens mimados, achei que seriam todos arrogantes e me atacariam com seus egos enormes. Mas as pessoas que conheci, apesar de terem egos consideráveis, não foram desagradáveis em nenhum momento. Os observava enquanto conversavam descontraídos, os caras eram bem bonitinhos, todos entre 25 e trinta anos, já as garotas pareciam tão jovens quanto eu e também usavam roupas bem provocantes realçando seus corpos perfeitos. Os assuntos eram os mais variados, entre vídeo games, pornografia e cotações da bolsa de valores, descobri que as garotas eram modelos e também tentavam a vida como digitais influencers, até me deram dicas sobre como fazer propagandas sem parecer forçada. Já era quase uma da manhã quando a coisa começou a ficar estranha... Um pouco depois de chegarmos, circulou pela sala um copo com uma bebida azul que as pessoas tomavam e iam passando
CLARA ASSUNÇÃO Passavam de duas quando voltamos a nos aproximar dos rapazes que interromperam o assunto bruscamente: _ Acabou a bebida. _ Mariana reclamou fazendo cara de triste em direção a Lucas que imediatamente levantou. _ Aqui a bebida nunca termina! Vamos providenciar novas doses para essas moças. _ afirmou esfregando as mãos. _ Estou bem Lucas, mas qualquer coisa eu aviso, obrigada. _ recusei e a menina ruiva acompanhou o moreno de cabelos desalinhados de volta à cozinha do apartamento de luxo. Acompanhei com os olhos enquanto se afastavam torcendo para Marina conseguir dar uns pegas no amigo do meu noivo de mentira, pois a moça confidenciou que estava bem afim. Daniel despertou minha atenção ao me intimidar com sua pergunta: _ Então não é do tipo se deixa controlar coelhinha? _ Não!... Quer dizer... Sim! _ me enrolei toda com sua pergunta confusa e devo ter parecido ridícula pois ele começou a rir. Então
CLARA ASSUNÇÃO Ao chegar na garagem o motorista já aguardava fora da Land Rover blindada. No caminho de volta à mansão tentava assimilar tudo que havia acontecido naquela noite.Conheci pessoas legais, tudo correu bem, cheguei a me divertir de verdade... então por que me sentia triste? Não... aquilo não era tristeza. Era decepção, frustração, raiva... sei lá! Tinha a ver com o fato dele ter alguma razão quando disse todo convencido que eu estava me apaixonando. Mas eu estava? Tirando o fato do cara ser gostoso, a maior parte do tempo queria manda-lo tomar no cu por ser um idiota pretensioso. Eu não podia ser tão estupida! Não podia... E naquela noite fui dormir pensando em como faria para me proteger dos meus próprios sentimentos. Faziam só duas semanas e já estava caidinha pelo cara, até sobre suas ofertas financeiras andava pensando, afinal estava oferecendo dinheiro pra caralho! Mas sempre fui muit
CLARA ASSUNÇÃO Estávamos na sala de cinema tentando descobrir como fazer ohome theaterfuncionar. A sala era relativamente pequena em comparação a todas as outras, mas era um ambiente muito confortável, com um sofá tão largo quanto uma cama que preenchia toda a parede oposta ao grande telão. Já estávamos de pijamas e quase desistindo de aproveitar o tal cinema particular, quando Daniel surgiu na porta fazendo Camila pular de susto: _ Foi daqui que pediram um noivo? Forcei o sorriso apaixonado e caminhei até ele: _ Foi sim, mas como você demorou acho que vou m****r devolve-lo para a fábrica. _ me estiquei para beijar seu rosto e senti o cheiro forte de álcool. Suas pupilas estavam imensas e a cara de cínico que fazia era quase ofensiva, orava internamente para que Camila não notasse nada quando finalmente os apresentei: _ Cami esse é o famoso Daniel Alencar, e Dani, essa é a Camila. Não tão famosa assim, mas
CLARA ASSUNÇÃO A tal “Jacuzzi” ficava a alguns metros de distância do bar onde estávamos, longe o bastante para não ouvirem qualquer conversa, mas perto o suficiente para observarem o que estava acontecendo. Quando chegamos na beirada, ele arrancou a camiseta e começou a abrir as calças sem nenhum pudor, tirou os sapatos e ordenou muito bravo: _ Tire a roupa. _ me abracei em minha cintura e recusei com a cabeça _ Maria Clara, eu não estou pedindo... _ ameaçou. _ Está frio, não quero entrar. _ recusei insegura. _ A água vai estar quente em um minuto. _ avisou apertando os botões que faziam a banheira funcionar. _ Mas não estou usando roupa de banho... _ resmunguei baixo. _ Melhor ainda. _ terminou de tirar a calça e ficou lá, usando apenas a box preta. Observei quando afundou na água borbulhante e emergiu jogando os cabelos para trás com uma das mãos: _ Vamos, entre de uma vez. Quer que suspeitem de alguma coisa?