CLARA ASSUNÇÃO
Levamos quase uma hora para atravessar a cidade até o aeroporto de Guarulhos, pelo caminho nos mantivemos distraídos em nossos celulares e quase não conversamos. Quando paramos no portão de carga, Daniel me pediu para lhe entregar meus documentos e tirei a carteira da bolsa de mão. Mas antes de lhe entregar a identidade, armei minha melhor cara de desconfiança e revelei minhas dúvidas sombrias de um modo divertido:
_ Primeiro você me tira de casa no meio da noite em um furgão suspeito, então me traz disfarçada até o aeroporto e agora quer que lhe entregue meus documentos antes de me levar para algum destino desconhecido... Tô começando a achar que isto é um sequestro! Olha senhor Alencar, se sua intenção for vender meus órgãos no mercado negro, tenho que avisar que são péssimos! Só comi porcarias a vida toda, deve estar tudo estragado aqui por dentro.
A expressão séria de Daniel se rasgou em uma gargalhada divertida:
_ Não estou te sequ
CLARA ASSUNÇÃO Ainda era noite e ao redor tudo estava escuro, parecíamos ter descido em algum deserto no meio de lugar nenhum. Após apresentar a documentação para os fiscais na pista, nos dirigiram a uma picape que nos levou por uma estrada escura até uma pequena vila iluminada por postes com luzes amareladas. Um pouco mais adiante, entramos no que parecia ser uma pousada e o carro parou em frente a recepção decorada em tons de azul e branco. Fizemos o check-in e a moça da recepção nos parabenizou por nosso noivado recente e garantiu que havia preparado seu melhor quarto nupcial para nos receber. Fiz o teatrinho da noiva apaixonada abraçando Daniel pela cintura enquanto a agradecia pela atenção, mas meu estômago revirou quando me dei conta que estávamos ali para "curtir um final de semana romântico". Um funcionário da pousada nos ajudou a levar a bagagem por uma trilha escura até uma pequena casa com paredes brancas e grandes janelas de madeira. Seguimos de m
CLARA ASSUNÇÃO Permanecemos em silêncio por alguns segundos observando os tons de azul despontarem no horizonte antes dele perguntar: _ Pronta para o seu batismo? Por que ainda está de roupas? _ então juntou as mãos esfregando uma na outra. Dei uns passos para longe da água e justifiquei: _ É que ainda não tenho roupa de banho. Daniel me olhou desconcertado: _ Está me dizendo que naquela mala enorme não tem nenhum biquíni? Confirmei com a cabeça: _ Não imaginava que me levaria para a praia em pleno inverno senhor Alencar. _ retruquei atrevida. Ele riu e balançou a cabeça em negativa: _ Então ao menos tire esse short, aproveite que a orla ainda está vazia. Desmanchei o sorriso e dei mais alguns passos para longe: _ Não mesmo.... Acho melhor esperar até as lojas abrirem mais tarde. _ recusei decidida. O sorriso perfeito do empresário se escancarou: _ Desculpe senhorita, mas
CLARA ASSUNÇÃO Percorremos um pequeno trecho por uma rodovia simples e abastecemos o jipe no único posto de combustível da ilha. Logo entramos em outra vila onde haviam algumas das principais construções de Noronha: Uma igrejinha construída no estilo barroco; um posto policial; a sede turística; uma clínica médica; algumas lojas, bares e pequenos restaurantes. As estradas em maioria eram de pedra ou de chão batido e muita vegetação cercava as construções por toda parte. O lugar parecia mais com que eu esperaria de uma comunidade rural do que do centro de um dos arquipélagos mais famosos do mundo. Descemos do veículo em frente a uma pequena lojinha com todo tipo de coisa, fomos recebidos por uma mulher com longos cabelos negros que parecia ter origens indígenas e nos atendeu com muita simpatia. Disse a ela que precisava de roupas de banho e algumas peças confortáveis, então a atendente começou a mostrar tudo que tinha no meu tamanho. Daniel parecia desinteress
CLARA ASSUNÇÃO Logo o garçom voltou trazendo as bebidas, Daniel sugeriu um coquetel que chegou em um copo decorado com frutas. Era docinho, não parecia forte e achei delicioso, então continuamos a conversa mudando o rumo do assunto para nossas infâncias completamente opostas. Enquanto eu mal tive uma caixa de brinquedos, ele tinha quarto só para eles e até um parquinho com todo o tipo de coisas divertidas no jardim. Eu ia para os rios e açudes para fugir do calor, ele sempre teve piscina em casa e passava o verão no litoral ou viajando pelo mundo. A cada experiência trocada o abismo entre nós ficava ainda mais evidente, mesmo assim nos divertimos tirando sarro da sorte de nossos destinos: _ Certo, agora que já sei que deu trabalho para dona Helena, me fale sobre os seus namoradinhos. Quantos anos tinha quando começou a namorar? _ Ah, eu nunca namorei. _ deixei escapar sem querer e remendei a mentira na sequência _ mas fiquei com alguns meninos na dura
CLARA ASSUNÇÃO Descemos do carro na recepção e caminhamos pela trilha até o bangalô enquanto eu falava sobre como estar em Fernando de Noronha era foda pra caralho para mim: _ Nunquinhaaa na vida tive um dia tão legal, talvez só daquela vez que minha mãe me levou no parque quando eu tinha 11 anos e andei na montanha russa. Aquele dia também foi incriiivel... sabe, eu sinto muita falta dela, todo dia mesmo... e as vezes... Aiiii... _ tropecei na areia fofa e antes mesmo de me equilibrar já estava no colo de Daniel. _ Você é fortão mesmo... é muito alto aqui em cima... mas eu gosssto quando você me pega no colo... Só que as vezes você é tãaao almofadinha que dá vontade de te bateeer... E continuei falando todo o tipo de asneira até entrarmos pela porta do quarto e Daniel me levar direto para o banheiro. Me sentou na tampa da privada e ligou a ducha, voltou a me colocar de pé e quando puxou o laço da saída de praia que estava usando finalmente percebi que algo m
CLARA ASSUNÇÃO Era madrugada quando abri os olhos em um estalo provocado pela ânsia de vômito involuntária, pulei da cama e corri para a privada em desespero. Puxei a descarga depois de por tudo pra fora e caminhei para a pia segurando a cabeça com as duas mãos, lavei o rosto e apertei os olhos sentindo meu cérebro latejar junto com as batidas de meu coração. Me olhei no espelho e a bagunça em meus cabelos era uma festa. Dormir com eles molhados nunca foi uma boa ideia, mas estava enjoada e com dor demais para me importar com minha aparência naquele momento. A camiseta preta, larga e muito comprida, me fez lembrar do que havia acontecido antes de apagar e a ressaca moral chegou com tudo. Sai do banheiro ainda tonta, Daniel não estava na cama e caminhei em direção ao frigobar na sala ao lado, peguei água para aplacar a secura que estava sentindo na alma e me sentei no sofá apoiando a cabeça no encosto. Fiquei minutos tentando não me mover enquanto apre
CLARA ASSUNÇÃO Tentei afasta-lo com delicadeza, mas não surtiu efeito algum, então pedi que parasse em meio ao beijo: _ Não... Estamos indo longe demais. Eu não quero... _ Somos adultos Clara. Estamos morrendo de tesão, qual o problema? _ e voltou a beijar meu pescoço. _ O problema é que não fui contratada para isso. _ empurrei com força dessa vez e ele se afastou apoiando as mãos uma de cada lado do meu corpo: _ Quer que te pague por isso? _ perguntou sério e fiquei completamente envergonhada. _ Lógico que não! Só não quero fazer isso com você. _ respondi o afastando de vez e levantando dos lençóis. _ Aaah, não seja hipócrita Maria Clara! A um minuto estava gemendo em meu ouvido, sei que está excitada e quer tanto quanto eu. Olhei para ele muito brava: _ Talvez eu tenha me deixado levar por essa coisa de fingir que estamos juntos, mas foi você que veio pra cima de mim com esse... com essa coisa dura aí. _ gesti
DANIEL ALENCAR Meu pai detestou Maria Clara mesmo antes de descobrir seu nome. O problema inicial de minha "noiva" foi sua completa falta de status mas, após o jantar em "família", o Barão passou a crer que Clara era vulgar, pretensiosa e sem classe. Não acreditou em nada do que a garota disse sobre não estar interessada em nosso dinheiro e afirmou que achava mesmo que em algum momento me trairia com o zelador. Além de ter voltado a compara-la com uma secretaria pelas roupas que usava e nisso até eu concordava em alguns momentos. Não esperava uma reação diferente em relação a opinião prepotente de meu pai. No entanto, toda sua preocupação em relação ao possível matrimônio comprovou que havia acreditado em cada palavra sobre nosso relacionamento de mentira e bastou para me deixar satisfeito. Os dias seguintes correram normalmente e na sexta pela manhã achei que poderia ser divertido, e até apropriado, levar minha noiva para um passeio romântico. Mas não poderi