28 O VOO

CLARA ASSUNÇÃO

Levamos quase uma hora para atravessar a cidade até o aeroporto de Guarulhos, pelo caminho nos mantivemos distraídos em nossos celulares e quase não conversamos. Quando paramos no portão de carga, Daniel me pediu para lhe entregar meus documentos e tirei a carteira da bolsa de mão. Mas antes de lhe entregar a identidade, armei minha melhor cara de desconfiança e revelei minhas dúvidas sombrias de um modo divertido:

_ Primeiro você me tira de casa no meio da noite em um furgão suspeito, então me traz disfarçada até o aeroporto e agora quer que lhe entregue meus documentos antes de me levar para algum destino desconhecido... Tô começando a achar que isto é um sequestro! Olha senhor Alencar, se sua intenção for vender meus órgãos no mercado negro, tenho que avisar que são péssimos! Só comi porcarias a vida toda, deve estar tudo estragado aqui por dentro.

A expressão séria de Daniel se rasgou em uma gargalhada divertida:

_ Não estou te sequ

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