Emprego na seletiva

Gostei da Patrícia, mulher forte e decidida, ela com certeza nao era só uma bailarina, assim como Hanna não era só uma secretária na Europa. Mas, o melhor era não tocar no assunto. Fiquei no meu canto que no caso era a enfermaria improvisada em uma sala do teatro, minha primeira paciente foi uma jovem muito talentosa que após dançar na seletiva teve desidratação e pelo que percebi, uma crise de pânico também, mas ela foi atendida pelo médico, na verdade eu só apareci depois para tirar o acesso do soro do braço dela, mal pude acreditar quando vi Leo saindo da enfermaria, nesse dia eu me escondi, não queria falar com ele ainda, precisava me preparar pois ia fingir que simplesmente estive estudando na Europa e agora retornei.

Não demorou para que eu tornasse a vê-lo. Foi dias depois que a mesma moça, por quem eu notei que Leo estava perdidamente apaixonado, a Anne, retornou à enfermaria, carregada no colo por Leo que a pôs na maca.

- Eu estou bem, obrigada- Anne disse meio tonta ainda, Leo estava tão nervoso.

Para aliviar aquele clima, voltei minha atenção à Anne:

- Moça, você esta querendo a estrelinha de quem mais visitou a enfermaria na seletiva?- E sem olhar para Leo eu pedi – O senhor pode aguardar ali fora, aliás, por gentileza, pegue um pouco de água para ela, tá?

- Sim, eu... estou indo- Leo nem conseguia nem falar direito

- Namorados as vezes atrapalham, deixa eu ver aqui esse machucado- Eu sabia que eles não estavam juntos, mas como tinha visto o jeito que Leo a olhava, não custava incentivar.- Quer me contar o que houve?- Perguntei à Anne.

- Fui atacada por um dos participantes do concurso, me defendi e ele me deu um tapa.- Ela falou chateada.

- Que covarde, ele fugiu?- Eu perguntei já finalizando o pequeno curativo.

- Não, pegaram ele, ouvi dizer que fui a segunda.

- Ah sim, ontem uma moça desistiu da seleção misteriosamente...prontinho.

Eu sabia como Anne estava se sentindo, se pudesse lhe daria um abraço, eu estava ali pensando quando Leo voltou:

- Oi, está se sentindo melhor? Aqui sua água.- Leo estava tremendo, tadinho, fiquei em silêncio e de costas para eles arrumando as coisas.

- Eu estou bem, obrigada Leo, você ... conhecia aquele cara?

- De vista, quem me avisou que ele era encrenca foi minha parceira, quando viu que vocês estavam indo na direção errada ela achou melhor irmos atrás.

- Agradeça a ela então.

Patrícia entrou na enfermaria com dois seguranças enormes, continuei no meu canto só ouvindo a conversa.

- Anne, sinto muito, o Iago já foi preso, mas a bailarina que o levou também pediu para sair da seletiva, na verdade parece que ela era policial disfarçada e já estava de olho há algum tempo para prender esse criminoso. Ah, Leo, você está aqui...então, era sua parceira né?

O processo de seleção de bailarinos da Patrícia tinha várias fases e essa, era de duplas, parece que o destino estava ajudando Leo, tanto ele como Patrícia estavam sem parceiros para a seletiva agora.

- Sim, mas... Anne também esta sem parceiro então, se for tudo bem para você, e para Anne, claro… podemos participar juntos dessa fase.- Leo disse para Patrícia.

- Bom, não vejo problemas- Patrícia olhou para Anne- Tudo bem para você Anne?

- Sim, tudo bem então.- Anne disse ainda parecendo distraída, afinal havia sofrido um trauma- Obrigada.

- Certo, agora vou garantir que aquele homem pague por cada vez que desrespeitou uma mulher na vida dele. Com licença.- Patrícia saiu com aquela autoridade. Fiquei tão admirada com ela, assim como admiro a Hanna que acabei pensando em voz alta

- Falou uma verdadeira Magli. Ela é mesmo uma rainha.

- Também acho- Anne respondeu terminando sua água- Mas não acho que ela seja Magli no “mal sentido”, ela fez aspas com a mão se referindo aos negócios ilícitos de Dom Luiz e Hector Magli.

- Eu tenho certeza que não é.- Eu respondi.- Agora vão vocês dois, e não quero mais ver vocês por aqui, hein?

Eu havia decidido não falar nada, mas aí Leo me agradeceu dando a clássica piscadinha dele.

- Obrigada pelos cuidados. Até mais.

- Nem vem com charminho, sai da minha enfermaria Leo Garcia.- Eu brinquei.

- Ué, você sabe quem sou?- E então ele me olhou de verdade pela primeira vez, meu cabelo estava preso e ele nunca tinha me visto e uniforme então não posso culpá-lo por nçao me reconhecer.

- E você não sabe quem eu sou né?- Eu ri- Claro que não se lembra... sou a Clara.

- Não é mesmo!- Leo falou indignado e me olhou direito- Não é possível, Clarinha?- ele me abraçou e rodou no ar- não acredito.

- Vai, seu mané... estão perdendo tempo de ensaio.

- Ai gente, eu fiquei curiosa agora...- Anne falou olhando a cena já que estava na cara que nos conhecíamos há muito tempo.

- Não precisa ficar com ciúme dele- eu ressaltei para Anne- Somos como irmãos, fomos criados na mesma casa.

- Ciúme? Não... é que...- Anne ficou sem graça, acho que ela ainda não sabia que estava se apaixonando pelo Leo, ela parecia tão doce e inocente.

- Clara é afilhada do meu avô, ele praticamente a adotou quando era criança.- Leo explicou.

- Ah sim, legal.- Anne disse sem graça.

- Vão logo, e vê se não magoa essa garota, eu gostei dela, até que enfim arrumou uma namorada decente.- Eu aproveitei mais uma vez para mexer com os dois, era divertido.

- Ela não...- Leo ia dizer que não eram namorados mas decidiu não falar nada- pode deixar Clarinha.

Eles foram para o ensaio e eu sentei na cadeira da enfermaria tremendo de nervoso, era real, eu havia voltado para minha vida e isso incluía meu irmão e uma possível cunhada que era um amor de pessoa.

Terminei meu trabalho e fui feliz para casa… alguns dias depois eu descobri que Leo era pai do filho de Anne, mas eles não haviam feito aquela criança, foi surreal saber que o vô Samuel tinha roubado o semem do Leo e mandado inseminar a Anne (mas isso é outra história e se você quiser saber em detalhes, precisa ler “a virgem é mãe do meu filho”)

- Mas então você tem um filho com a Anne, mas ela nem é sua namorada?

-Isso- Leo disse

- Mas você queria que fosse …

- É bem complicado, ela quer distância de mim. - Leo falou chateado, mas não deu tempo de eu explicar que não era nada disso pois Anne vinha vindo, fui correndo na direção dela feliz pela novidade

-Preciso conhecer meu sobrinho.- eu disse feliz.

-Vamos combinar um dia, podemos tomar um sorvete juntos depois do ensaio um dia desses.- Anne falou sem graça.

-Eu vou amar- Eu disse me despedindo e indo para a enfermaria, sabia que era só uma questão de tempo para aqueles dois ficarem juntos, estava na cara a forma que eles se olhavam.

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