O Chef estava sentado em uma cadeira com o braço apoiado na maca, creio que tentaram essa posição pra diminuir o sangramento, o braço do Chef estava escorrendo sangue, haviam colocado uma toalha mas não sei se tinha ajudado muito. Entramos na enfermaria e comecei a me preparar para atendê-lo, como eu havia pensado anteriormente, era só ignorar a babaquice dele e tudo ia ficar bem.
- Vamos ver essa ferida.- eu disse com calma indo em direção ao braço dele, decidi agir como se só o braço estivesse ali. Removi a toalha e perguntei como aquilo tinha acontecido. - Quando abri o forno, um refratário explodiu, ainda me protegi com o braço mas o vidro acabou me acertando aqui perto do pulso.- Ele disse se esforçando pra conter a dor. Senti pena dele, devia estar doendo muito aquela ferida. - Você teve sorte de não pegar uma artéria, mas ainda assim aparentemente quando eu remover o vidro, vai sangrar bastante, não precisa se preocupar, logo vou estancar o sangramento, vou anestesiar o local para te ajudar a relaxar e então vou limpar a ferida, remover o vidro e depois suturar, ok?- Tentei explicar da forma mais didática possível. O chef fez que sim com a cabeça mas notei que naquele momento em que ele levantou o olhar para observar o que eu lhe dizia, alguma coisa mudou, decidi ignorar isso também e continuar focada mas mesmo assim notei que ele ficou olhando para mim de um jeito diferente, um tando admirado, um tanto intrigado…no entanto, naquele momento para mim ele era apenas um antebraço a ser costurado. Logo que terminei eu disse: - Aí está, fiz o melhor que pude para que não fique uma cicatriz muito grande ou feia, recomendo que vá ao médico para que ele receite um antibiótico e que cuide muito bem da higiene dessa ferida, se infeccionar vai incomodar bastante. - Obrigado.- Ele soou decepcionado mas parecia não estar entendendo a gravidade. - É sério, Chef, você precisa cuidar do ferimento, esta bem?- Pela primeira vez eu olhei nos olhos dele, mas era com a intenção de intimidá-lo, e eu consegui. - Sim, eu farei isso. Obrigado- o Chef falou sem graça como uma criança que acaba de levar uma bronca. - Tudo bem se eu for agora Lana? Tenho um compromisso, ja deixei tudo ajeitado por aqui. Alguma coisa no Chef estava me incomodando e eu só queria sair dali. - Tudo certo, obrigada pela ajuda, Clara, pode ir que eu fecho aqui. Saí apressada apenas acenando para Lana e o Chef… aquela foi a primeira vez que fiquei próxima dele e não vou esquecer de como no fundo eu ja sabia que ele seria sim um problema, só não queria aceitar. No dia seguinte, eu estava na enfermaria arrumando o armário quando senti um cheiro maravilhoso de chocolate, achei que viesse da cozinha mas então ouvi uma voz vinda da porta da enfermaria. - Com licença?- André disse entrando na Enfermaria. - Pois não?- Eu ainda estava concentrada conferindo a validade dos medicamentos do armário. - Eu queria te agradecer por ontem, te trouxe isso.- Ele colocou o petit gateau na mesa e o cheiro do chocolate ficou ainda mais delicioso e irresistível. - Uau, parece apetitoso.- Me sentei para comer - Agradeço mas não precisava se incomodar, só fiz meu trabalho.- decidi que ia comer de forma nada elegante, justamente para desencorajá-lo de tentar qualquer gracinha. André ficou observando o meu jeito mas ele não pareceu se importar, acho que para um cozinheiro deve ser prazeroso quando alguém praticamente “se atraca” em um de seus pratos então ele nem ligou de eu parecer um monstrinho devorador de bolinho de chocolate. - Fico feliz que tenha gostado e, se não for pedir demais… Eu levantei a cabeça olhando séria para ele esperando o que ia dizer com eu estava pronta para jogar algum objeto em sua cabeça quando ele continuou - você poderia dar sua opinião sincera a respeito dessa sobremesa entrar para nosso menu permanente? Relaxei após essa última partequem sabe ele realmente estava só sendo legal e não tinha vindo tentar me seduzir. Não sei o motivo, mas me senti um pouco frustrada com isso… será que ele não me achava atraente? Espantei o pensamento e respondi. - Bom, é realmente o melhor que ja provei e olha que ja comi o do Eric, sabe que ele tem essa fama de um dos melhores do mundo né. - Eric?- André perguntou confuso. - Sim, o Eric Jacquin, ele era conhecido do meu avô postiço, Samuel Garcia. - Ah, claro- ele pediu licença agradecendo mais uma vez e então seguiu para distribuir o restante dos bolinhos para a equipe. Tomara que ele não continuasse me trazendo coisas gostosas ou então, além de ficar gorda, eu ficaria caidinha por ele… mas o que? Nada a ver né… eu e o Chef Dom Juan… que maluquice dessa minha cabeça. Os dias passaram, aconteceu tanta coisa doida… mas uma delas foi a reforma do porão, eu amei fazer parte, ainda mais quando eu e Lana precisamos apressar tudo para a inauguração junto com um Flashmob que o Grupo do meu irmão faria para divulgar o hotel. Lana, Lucas e Leo estavam na sala de reuniões planejando a tal apresentação, eu bati na porta e pedi licença. - Com licença?- Eu abri a porta devagar.- Eu soube que meu irmão estava aqui, depois pode passar na enfermaria, por gentileza? - Posso, mas quem é você? O que fez com a Clara?- ele disse por causa do jeito polido que eu havia falado, mas eu estava no local de trabalho, não poderia tratar ele como o tratava em casa, não na frente do chefe, né? Só mostrei a língua pra ele e ia sair, mas Lana me convidou para entrar e sentar. - Clara, temos uma missão, o Leo quer usar o salão de baile daqui a um mês, você topa essa missão comigo?- Ela perguntou. - Seremos tipo as “irmãs à obra”? - Eu brinquei. - Exatamente isso… e pensando bem, dava um post legal hein? nós duas com óculos de segurança, uma parafusadeira na mão, cinto de ferramentas… escrito “adivinha o que as garotas estão reformando”. - Por mim, pode fazer, vou adorar, mas eu fico com a parafusadeira.- Falei decidida. - Lana, eu não daria uma parafusadeira na mão dela- Leo implicou comigo de novo.- Você não faz ideia do que ela é capaz. - Nem você Leo Garcia, espera pra ver.- Todos deram risadas e então encerramos nossa reunião, fomos ao saguão e eu fui ajudar Leo a gravar o vídeo de divulgação do evento onde ele falava enquanto andava pelo saguão do hotel: “Hoje eu vim dizer que da próxima vez que formos aparecer por aí, você poderá estar presente, isso mesmo… dessa vez e somente dessa vez, nós iremos divulgar onde e quando O grup0 vai aparecer e, além de quem quiser poder estar presente, ainda vamos premiar dez dos nossos seguidores com uma vista privilegiada, continue seguindo as pistas aqui no nosso canal, e até lá!” Para você entender melhor, meu irmão é um excelente dançarino que tem um Grupo de dança que faz aparições pela cidade, são flshmobs surpresa, eles gravam e postam online, faz o maior sucesso e a ideia de Lana e Lucas era que o Grupo pudesse chamar atenção para o hotel. Leo disse que seria legal se no mesmo dia o salão de baile fosse inaugurado com um baile no estilo antigo como se estivéssemos naquela série de época Bridgerton. Mas para tudo funcionar o salão precisa estar pronto né. Aconteceram alguns imprevistos com Lana, acho que não mencionei antes, mas ela namora com Lucas, que é o gerente e também melhor amigo do meu irmão. Enquanto reformavamos o salão, uma ex namorada maluca do Lucas, que por acaso é uma influencer famosa (claro que nunca ouvi falar ja que estive fora um bom tempo) chamada Nicole apareceu, ela queria chantagear Lana. Eu tinha acabado de voltar para o salão quando vi e gravei a cena da chantagem, mas mesmo assim Lana ficou muito abalada e se afastou por uns dias, tive que assumir o final da reforma para tudo ficar pronto a tempo e foi nesse dia que, com a parafusadeira na mão, esbarrei novamente no André. - Cuidado mocinha, uma jovem de mãos tão delicadas nem deveria estar com um equipamento desses.- André falou me amparando para eu não cair, fiquei levemente abalada mas me recompus antes que ele pudesse notar - E quem te disse que tenho mãos delicadas?- retruquei erguendo a parafusadeira. André levantou o braço mostrando o curativo. - Eu pude constatar.- ele sorriu. - Justo, mas mãos delicadas também podem fazer serviço pesado, e eu sou ótima com furadeiras e parafusadeiras, se quer saber. Agora preciso ir, aliás, vem comigo, vou precisar de uma mãozinha. - eu o puxei para o porão e lhe dei trabalho, eu precisava de todos que pudessem ajudar. Só que o convencido do André achou que eu estava fazendo isso para ficar perto dele, fiquei tão irritada quando ele teve a cara de pau de me perguntar isso, que ele quase levou uma martelada quando eu dispensei sua ajuda. Acho que ele saiu decepcionado mas por favor né, cara convencido.Me arrumei para o baile sem esperança de que algo bom ou diferente acontecesse... na verdade, há muito tempo que eu não esperava nada da vida além de viver um bom dia de cada vez, e isso estava funcionando para mim, eu estava usando um vestido midi floral em tons claros, cabelo preso e uma gargantilha que ganhei da minha mãe, herança da nossa família.Eu cheguei no baile e como sempre, me senti deslocada, eu não sou muito de festas e de ficar no meio de tanta gente mas era um evento do trabalho e com tantas pessoas querendo um convite, eu precisava honrar o que Lana havia me dado. Fiquei quase escondida em um canto mas um dos convidados “mascarados” me chamou para dançar.Eu senti o chão fugir debaixo dos meus pés, parecíamos flutuar enquanto dançavamos sem tirar os olhos um do outro, aqueles olhos estavam me hipnotizando, nunca vou esquecer aquele olhar, seus olhos verdes eram intensos. O cabelo era castanho meio liso. Tentei falar alguma coisa, perguntei seu nome mas ele insistiu em
Após olhar as redes sociais de um por um dos influencers da lista e perceber que nenhum deles era meu príncipe mascarado, saí frustrada em direção ao corredor, eu ia para casa dormir. Acabei esbarrando em alguém que passava apressado, quando fui me desculpar vi que era o Chef André, mas ele falou antes:- Ah oi Clara, me desculpa, eu não te vi, mas… você não deveria estar no baile?- Ele perguntou confuso observando minha roupa.- Não gosto muito desses agitos, só quis marcar presença mesmo, ja estou indo embora. Mas e você, não deveria estar na cozinha?- brinquei com ele ja que estava com a roupa de chef.- Nem me fale, saí por uns minutos da cozinha e ela virou um caos, agora preciso urgente de alguém que me ajude lá, eu não esperava que teríamos tantas pessoas para o jantar ja que o baile esta acontecendo essa noite.- E você esta indo procurar onde? digo, tem algum cozinheiro que você pode chamar?- Na verdade não sei bem, mas não preciso de alguém que cozinhe, só que me ajude mont
- Com licença?- André disse sem graça após dar uma leve batida na porta da enfermaria- Pode entrar.- Lana disse quando notou que eu estava paralisada sem ação.- Oi Lana, você esta bem?- ele pareceu preocupado- Tudo bem sim- Vi Lana escondendo o resultado do teste no bolso do casaco antes que ele visse.- E você, está bem?- Ele perguntou olhando nos meus olhos, eu ainda estava parada de boca aberta como se quisesse dizer alguma coisa mas não conseguia, respirei fundo e embora tivesse começado a tremer eu respondi- Eu… pensei que ja tinha ido, aconteceu alguma coisa- Eu só quis… eu… passei agradecer sua ajuda e dizer boa noite.- Ele estava mesmo gaguejando?Lana saiu de fininho, eu vi que ela estava saindo e queria gritar para ela não me deixar sozinha com ele, mas ela sorriu e saiu.- Ah… de nada.- Eu fiquei sem graça sem saber para onde olhar.Ele se aproximou e colocou a mão no meu ombro devagar como se eu pudesse quebrar com seu toque, o que era quase verdade, eu estava pratic
Deixar o André é a coisa mais difícil que estou fazendo na vida e olha que minha vida estava um lixo quando eu era escrava sexual na Europa, sim, vou te contar tudo sobre isso em outra oportunidade, mas por enquanto... preciso ir até a Lagoa e encontrar com o Roger, o cara que esta com minha nova identidade e as passagens para ir embora do Brasil... de novo.Que droga, estava tudo tão bem, voltei para o Brasil faz mais ou menos seis meses, trabalhei no projeto de uma grande bailarina, reencontrei meu quase irmão Leo Garcia, fiz amigas o que é muito difícil para mim, arrumei um trabalho que gosto e até conheci um Chef de cozinha irritante por quem estou completamente apaixonada...sem esquecer que pela primeira vez vou ser madrinha de um bebê, isso tudo é tão legal... André queria se casar comigo mesmo sabendo pelo que eu passei, mas hoje mais cedo eu dei de cara com um ex-cliente que por acaso também é um dos homens mais importantes no esquema de tráfico de mulheres, ele me reconheceu
Eu não tenho vontade de entrar em detalhes quando falo desse tempo que passei como escrava, você deve entender, não é mesmo? Foi um tempo de abusos, não foi só físico, mas também psicológico, acabou com minha autoestima, acabou com minha vontade de viver, tive que passar por um tratamento psiquiátrico por causa do trauma e continuo fazendo terapia semanalmente para lidar com todas as minhas emoções bagunçadas.Sabe o que eu não entendo? Como um ser humano é capaz de fazer isso com outro, como uma mulher é capaz de fazer isso com outras mulheres, destruindo seus sonhos, pegando algo bonito com que as meninas sonham e transformando em um verdadeiro pesadelo. Mas eu terei minha vingança, essa mulher que me recrutou, essa é meu alvo principal.Foi após a morte do vô Samuel que eu recebi a proposta, eu tinha visto meu “quase irmão” Leo no enterro e me despedido sem saber quando o veria novamente, ja que faria um curso na Europa. Quando terminei o curso um ano depois, essa mulher veio me re
Gostei da Patrícia, mulher forte e decidida, ela com certeza nao era só uma bailarina, assim como Hanna não era só uma secretária na Europa. Mas, o melhor era não tocar no assunto. Fiquei no meu canto que no caso era a enfermaria improvisada em uma sala do teatro, minha primeira paciente foi uma jovem muito talentosa que após dançar na seletiva teve desidratação e pelo que percebi, uma crise de pânico também, mas ela foi atendida pelo médico, na verdade eu só apareci depois para tirar o acesso do soro do braço dela, mal pude acreditar quando vi Leo saindo da enfermaria, nesse dia eu me escondi, não queria falar com ele ainda, precisava me preparar pois ia fingir que simplesmente estive estudando na Europa e agora retornei.Não demorou para que eu tornasse a vê-lo. Foi dias depois que a mesma moça, por quem eu notei que Leo estava perdidamente apaixonado, a Anne, retornou à enfermaria, carregada no colo por Leo que a pôs na maca.- Eu estou bem, obrigada- Anne disse meio tonta ainda, L
tempo passou, Leo e Anne realmente se entenderam, eles formavam uma linda família com seu filho de três anos, Will. Mas essa também é outra história.*Quando a seletiva acabou e os ensaios para o espetáculo iam chegar, Patrícia disse que não precisaria mais da enfermaria. Eu comentei com Leo e Anne que ficaria sem trabaho e eles me indicaram para trabalhar no hotel onde Anne morava. Fui para uma entrevista de trabalho com a Lana, melhor amiga da Anne que também era sub-gerente do hotel.Tivemos uma conversa sobre minha experiência como enfermeira e sobre como seria o trabalho na enfermaria do hotel enquanto Lana observava meu currículo e fazia perguntas, e então Lana disse:- Certo então Clara, está contratada, basta ir até a sala do departamento pessoal com seus documentos, depois de tudo certo, volta aqui que te levo para um tour, já vi que vou poder contar com você para um outro projeto também, ou pelo menos imagino que sim.-Do que se trata? Fiquei curiosa.- Parecia que a Lana já