tempo passou, Leo e Anne realmente se entenderam, eles formavam uma linda família com seu filho de três anos, Will. Mas essa também é outra história.*
Quando a seletiva acabou e os ensaios para o espetáculo iam chegar, Patrícia disse que não precisaria mais da enfermaria. Eu comentei com Leo e Anne que ficaria sem trabaho e eles me indicaram para trabalhar no hotel onde Anne morava. Fui para uma entrevista de trabalho com a Lana, melhor amiga da Anne que também era sub-gerente do hotel. Tivemos uma conversa sobre minha experiência como enfermeira e sobre como seria o trabalho na enfermaria do hotel enquanto Lana observava meu currículo e fazia perguntas, e então Lana disse: - Certo então Clara, está contratada, basta ir até a sala do departamento pessoal com seus documentos, depois de tudo certo, volta aqui que te levo para um tour, já vi que vou poder contar com você para um outro projeto também, ou pelo menos imagino que sim. -Do que se trata? Fiquei curiosa.- Parecia que a Lana já me conhecia, eu também senti muita simpatia por ela, uma mulher que exalava força, que não parecia ter medo de encarar o que fosse preciso. -Nosso porão…pretendemos reformar ele para voltar a ser um salão de festas. - ela me mostrou a foto do antigo salão de baile do hotel. - Você acertou, vou adorar trabalhar nisso com você, meu brinquedo favorito é uma parafusadeira, sabia?- Eu sempre gostei de reformas, deixava minha mãe maluca na casa do vô Samuel. -Eu não imaginava, mas também confesso que sou dessas garotas que ama uma reforma, sei fazer de tudo um pouquinho.- Lana disse. -Sinto que seremos boas amigas.- eu disse animada. -Eu também, Clara.- ela seguiu mexendo nos documentos enquanto eu fui até o RH. Deu tudo certo, então Lana foi me mostrar o hotel parte por parte, inclusive a cozinha onde o Chef ficou me paquerando. Que idiota, mas pelo que vi, ele é um conquistador barato, nada que represente qualquer perigo para mim, já lidei com gente muito pior. Esse tipinho é só ignorar mesmo. Eu estava saindo quando vi Anne esperando o elevador e fui contar para ela, eu estava tão animada, estavamos conversando quando o Chef passou por nós e piscou para mim, aquilo me irritou profundamente. - Ele acha que é a última bolacha do pacote.- eu disse irritada. - É que a maioria das garotas age como se ele fosse mesmo.- Anne respondeu. - Pelo menos para o hotel isso é uma boa, enquanto do Dom Juan da culinária estiver aqui, o hotel vai ter bastante movimento, vai ganhando nome e isso é bom né?- Tentei ver pelo lado bom. - Sim, esse hotel estava precisando de um upgrade. - Anne comentou. - Oi meninas.- Leo disse chegando, dando um beijo na minha cabeça e um selinho em Anne.- Então deu certo, maninha? Está trabalhando aqui? - Sim, e gostei bastante, Lana é muito legal.- Voltei a me animar. Lana veio correndo em nossa direção. -Clara! que bom que ainda esta aqui, houve um acidente na cozinha, precisamos urgente da sua ajuda.- Ela disse me puxando. - Certo, vamos passar na enfermaria pegar a maleta de primeiros socorros então.- Me apressei. - Eu pedi que levassem ele para a enfermaria.- Lana respondeu.O Chef estava sentado em uma cadeira com o braço apoiado na maca, creio que tentaram essa posição pra diminuir o sangramento, o braço do Chef estava escorrendo sangue, haviam colocado uma toalha mas não sei se tinha ajudado muito. Entramos na enfermaria e comecei a me preparar para atendê-lo, como eu havia pensado anteriormente, era só ignorar a babaquice dele e tudo ia ficar bem.- Vamos ver essa ferida.- eu disse com calma indo em direção ao braço dele, decidi agir como se só o braço estivesse ali. Removi a toalha e perguntei como aquilo tinha acontecido.- Quando abri o forno, um refratário explodiu, ainda me protegi com o braço mas o vidro acabou me acertando aqui perto do pulso.- Ele disse se esforçando pra conter a dor.Senti pena dele, devia estar doendo muito aquela ferida.- Você teve sorte de não pegar uma artéria, mas ainda assim aparentemente quando eu remover o vidro, vai sangrar bastante, não precisa se preocupar, logo vou estancar o sangramento, vou anestesiar o local p
Me arrumei para o baile sem esperança de que algo bom ou diferente acontecesse... na verdade, há muito tempo que eu não esperava nada da vida além de viver um bom dia de cada vez, e isso estava funcionando para mim, eu estava usando um vestido midi floral em tons claros, cabelo preso e uma gargantilha que ganhei da minha mãe, herança da nossa família.Eu cheguei no baile e como sempre, me senti deslocada, eu não sou muito de festas e de ficar no meio de tanta gente mas era um evento do trabalho e com tantas pessoas querendo um convite, eu precisava honrar o que Lana havia me dado. Fiquei quase escondida em um canto mas um dos convidados “mascarados” me chamou para dançar.Eu senti o chão fugir debaixo dos meus pés, parecíamos flutuar enquanto dançavamos sem tirar os olhos um do outro, aqueles olhos estavam me hipnotizando, nunca vou esquecer aquele olhar, seus olhos verdes eram intensos. O cabelo era castanho meio liso. Tentei falar alguma coisa, perguntei seu nome mas ele insistiu em
Após olhar as redes sociais de um por um dos influencers da lista e perceber que nenhum deles era meu príncipe mascarado, saí frustrada em direção ao corredor, eu ia para casa dormir. Acabei esbarrando em alguém que passava apressado, quando fui me desculpar vi que era o Chef André, mas ele falou antes:- Ah oi Clara, me desculpa, eu não te vi, mas… você não deveria estar no baile?- Ele perguntou confuso observando minha roupa.- Não gosto muito desses agitos, só quis marcar presença mesmo, ja estou indo embora. Mas e você, não deveria estar na cozinha?- brinquei com ele ja que estava com a roupa de chef.- Nem me fale, saí por uns minutos da cozinha e ela virou um caos, agora preciso urgente de alguém que me ajude lá, eu não esperava que teríamos tantas pessoas para o jantar ja que o baile esta acontecendo essa noite.- E você esta indo procurar onde? digo, tem algum cozinheiro que você pode chamar?- Na verdade não sei bem, mas não preciso de alguém que cozinhe, só que me ajude mont
- Com licença?- André disse sem graça após dar uma leve batida na porta da enfermaria- Pode entrar.- Lana disse quando notou que eu estava paralisada sem ação.- Oi Lana, você esta bem?- ele pareceu preocupado- Tudo bem sim- Vi Lana escondendo o resultado do teste no bolso do casaco antes que ele visse.- E você, está bem?- Ele perguntou olhando nos meus olhos, eu ainda estava parada de boca aberta como se quisesse dizer alguma coisa mas não conseguia, respirei fundo e embora tivesse começado a tremer eu respondi- Eu… pensei que ja tinha ido, aconteceu alguma coisa- Eu só quis… eu… passei agradecer sua ajuda e dizer boa noite.- Ele estava mesmo gaguejando?Lana saiu de fininho, eu vi que ela estava saindo e queria gritar para ela não me deixar sozinha com ele, mas ela sorriu e saiu.- Ah… de nada.- Eu fiquei sem graça sem saber para onde olhar.Ele se aproximou e colocou a mão no meu ombro devagar como se eu pudesse quebrar com seu toque, o que era quase verdade, eu estava pratic
Deixar o André é a coisa mais difícil que estou fazendo na vida e olha que minha vida estava um lixo quando eu era escrava sexual na Europa, sim, vou te contar tudo sobre isso em outra oportunidade, mas por enquanto... preciso ir até a Lagoa e encontrar com o Roger, o cara que esta com minha nova identidade e as passagens para ir embora do Brasil... de novo.Que droga, estava tudo tão bem, voltei para o Brasil faz mais ou menos seis meses, trabalhei no projeto de uma grande bailarina, reencontrei meu quase irmão Leo Garcia, fiz amigas o que é muito difícil para mim, arrumei um trabalho que gosto e até conheci um Chef de cozinha irritante por quem estou completamente apaixonada...sem esquecer que pela primeira vez vou ser madrinha de um bebê, isso tudo é tão legal... André queria se casar comigo mesmo sabendo pelo que eu passei, mas hoje mais cedo eu dei de cara com um ex-cliente que por acaso também é um dos homens mais importantes no esquema de tráfico de mulheres, ele me reconheceu
Eu não tenho vontade de entrar em detalhes quando falo desse tempo que passei como escrava, você deve entender, não é mesmo? Foi um tempo de abusos, não foi só físico, mas também psicológico, acabou com minha autoestima, acabou com minha vontade de viver, tive que passar por um tratamento psiquiátrico por causa do trauma e continuo fazendo terapia semanalmente para lidar com todas as minhas emoções bagunçadas.Sabe o que eu não entendo? Como um ser humano é capaz de fazer isso com outro, como uma mulher é capaz de fazer isso com outras mulheres, destruindo seus sonhos, pegando algo bonito com que as meninas sonham e transformando em um verdadeiro pesadelo. Mas eu terei minha vingança, essa mulher que me recrutou, essa é meu alvo principal.Foi após a morte do vô Samuel que eu recebi a proposta, eu tinha visto meu “quase irmão” Leo no enterro e me despedido sem saber quando o veria novamente, ja que faria um curso na Europa. Quando terminei o curso um ano depois, essa mulher veio me re
Gostei da Patrícia, mulher forte e decidida, ela com certeza nao era só uma bailarina, assim como Hanna não era só uma secretária na Europa. Mas, o melhor era não tocar no assunto. Fiquei no meu canto que no caso era a enfermaria improvisada em uma sala do teatro, minha primeira paciente foi uma jovem muito talentosa que após dançar na seletiva teve desidratação e pelo que percebi, uma crise de pânico também, mas ela foi atendida pelo médico, na verdade eu só apareci depois para tirar o acesso do soro do braço dela, mal pude acreditar quando vi Leo saindo da enfermaria, nesse dia eu me escondi, não queria falar com ele ainda, precisava me preparar pois ia fingir que simplesmente estive estudando na Europa e agora retornei.Não demorou para que eu tornasse a vê-lo. Foi dias depois que a mesma moça, por quem eu notei que Leo estava perdidamente apaixonado, a Anne, retornou à enfermaria, carregada no colo por Leo que a pôs na maca.- Eu estou bem, obrigada- Anne disse meio tonta ainda, L