Nós havíamos chegado em Green Lake.— Oh Deus... — Sussurro — Mal posso esperar para comer alguma coisa.Smile e Júlia haviam nos deixado sozinhos para voltarmos, aparentemente ambos tinham mais coisas para fazer, como sempre, não perguntei, nem sei se queria saber para falar bem a verdade. Entro na mansão com Lian ao meu lado, e a primeira coisa que faço é abrir a geladeira da cozinha, quase em desespero e revirar as comidas ali de dentro.Encontro uma torta de chocolate, e minha boca se enche de água, me sirvo de um, dois, três, até quatro pedaços, enquanto Lian pega vários pães do armário e os come com azeite e páprica salpicada por cima. Comemos em silêncio, e oh meu Deus... eu havia me esquecido do quanto essa torta era boa, ao meu lado Lian parecia pensativo, sem dizer uma sequer palavra, logo nós dois estamos satisfeitos, e sozinhos na cozinha.— Ok... — Começo — O que você quer fazer primeiro? Não sei você, mas eu realmente quero tomar um banho, me deitar naquela cama... e dor
Quando acordo sinto algo fofo embaixo de mim. Uma luz paira sobre meu rosto, me sinto quente, mas de uma maneira estranhamente confortável. Quando abro os olhos a primeira coisa que vejo é uma janela, com a luz do sol irradiando todo o quarto.Quarto.Estou em meu quarto.Mas como...?— Lian te trouxe aqui — Diz uma voz — Espero que tenha dormido bem.Olho para o lado. E vejo Claire, que suspira quando me vê.— Oi Emma.Não respondo. Minha cabeça gira, me lembrando lentamente da noite passada, de tudo... — Você... — Digo balbuciando — Cortou o cabelo.Ela sorri de leve e mexe nos fios agora na altura do ombro. — Essa é a primeira coisa que vai me dizer depois de dois dias desaparecida? Havia algo diferente nela, não somente o cabelo, algo mais... interno. Claire não usava nenhum vestido, ou uma de suas roupas escandalosas. Vestia uma peça comum, e havia olheiras embaixo de seus olhos. Dois dias. E ela era quase outra pessoa.Acho que eu também.Algo mudou nesses dois dias.E então,
ATENÇÃO ESSE CAPÍTULO PODE CONTER GATILHOS SOBRE ASSÉDIO, ASSASSINATO E TENTATIVA DE SUICÍDIO.No céu, a lua brilhava. Parecia que tudo brilhava para essa mulher, com uma beleza extraordinária, tudo nela era perfeito, desde os cabelos até as unhas dos pés, seu nome não era Yara, ela sabia, mas foi chamada assim por conta de um folclore sobre uma sereia belíssima. Mas que por trás podia ser traiçoeira. Yara não tinha medo, ninguém sabe ao certo o que aconteceu em seu temido passado, tudo o que sabem é seu pavor quando se referem a sua aparência ou a sua família.Ela não precisava do seu passado.Quanto mais ela se lembrava pior se sentia, e quando digo isso pode ter certeza:Ninguém teve uma infância pior do que essa garota. Ao menos não em Green Lake.Talvez seja por isso que ela é tão reclusa, tão quieta. Bonita o suficiente para deixar as pessoas de joelhos, com uma inteligência incrível, o que faz dela uma garota quase perfeita. Mas é claro, Yara havia seus defeitos, uma garota in
Devo ter sonhado com algo, talvez até mesmo tido algum daqueles pesadelos ruins que sempre tenho, mas se tive, não me lembro. Pisco os olhos levemente enquanto sinto o sol batendo em meu rosto, e a primeira coisa que encontro quando acordo é Lian, ao lado da minha cama, soltando um sorrisinho quando me vê.— Sabia que você ronca? — Que? — Pergunto ainda desnorteada pelo sono, sem conseguir formar as palavras direito — O que você está fazendo aqui?Ele ri.— Fiquei te vendo dormir.Não sei do que ele está falando, mas coisa boa não é, solto uma careta o fazendo sorrir.— Brincadeira — Responde rindo — Eu só precisava falar com você, achei que estava acordada. — Você não pode aparecer no quarto desse jeito! — Falo — E se eu estivesse sei lá, pelada?Ele cora de repente. — Eu... desculpa, não pensei nisso.Isso me faz rir.— Calma — Continuo — Estava só brincando, quer dizer, é claro seria bem ruim se eu estivesse realmente pelada, mas bem... acho que não importa muito, já que eu não
As crianças cantavam e cantavam.Canções de amor e de fantasia. Canções de alegria e de monotonia.Até que o chão passou a ficar mais quente e mais quente.E elas cantavam e cantavam.Até virarem terror e gritos.As crianças viraram poeira.E do lado de fora.Uma garotinha sorria.Enquanto via seu antigo orfanato queimar e queimar.Queimar e queimar.Queimar e queimar.— Emma... Emma... Emma por favor acorde.Estou deitada na minha cama quando Claire balança meu corpo para frente e para trás desesperada. E a primeira coisa que eu vejo são as lágrimas dela caindo em cima de mim.— Claire... — Digo meio desorientada pelo sono ainda — O que...Eu nunca terminei aquela frase.Porque nesse instante ouvi os gritos aterrorizantes de todos ali.E pior ainda.Senti o calor imenso e a fumaça invadindo minha pele.Claire não precisou dizer nada, nem mesmo uma palavra, para que eu entendesse o que estava acontecendo. E antes mesmo que ela pudesse se recompor eu agarrei sua mão e comecei a correr
Mariposas cintilavam. Meus olhos estavam em todos os lugares. Conseguia ver os vagalumes, iluminando todo o lugar. Havia um rio também, de águas limpas, além de árvores tão belas e tão verdes que pareciam ter saído de uma paleta de cores.Apesar de estar de noite conseguia ver tudo com clareza. Cada cor, cada brilho. — Eii! Você! Me viro e vejo um garotinho de cabelos loiros, parece ser apenas um pouco mais novo do que eu, ele usa uma gravatinha e um terno. — Olá — Eu digo — Quem é você?— Não precisamos de nomes aqui — Ele responde — Não significam nada. Então pode me chamar como quiser.Eu não sabia exatamente como dar o nome a uma pessoa. Nunca tinha conhecido uma que não tinha um. Era estranho a sensação de estar perdida, mas ao mesmo tempo tão... acolhida? Como se pertencesse a aquele lugar, o que não fazia sentido algum considerando que eu nem sequer sabia que lugar era aquele.— Aonde estou? — Pergunto enfim. — Esse mundo não tem um nome, pode chamá-lo como quiser.Faço uma
Eu estava sonhando, estava flutuando sobre um mundo perfeito. Andando sobre pessoas que não existiam mais, existiam, nunca foram pessoas para morrer. Uma música fraca com uma melodia suave tocava sobre o jardim repleto de vaga-lumes que iluminavam todo o local junto das estrelas, o perfume das rosas incendiava todo o lugar, um cheiro tão puro e tão maravilhoso que me fazia querer sorrir e sorrir. Nunca fui de dançar, mas naquela noite eu rodopiava sobre a grama, sem medo ou vergonha que me vissem, sem preocupações, em nenhum momento eu pensei: Tenho coisas mais importantes para fazer, eu apenas dancei e usei um vestido belíssimo preto coberto por pontinhos brancos que me lembravam a própria noite. Assim como dançar, nunca gostei muito de vestidos. Nunca me dei ao luxo de experimentar tantas coisas.Mas naquela noite eu experimentei e adorei. Naquela noite eu dancei como se a noite fosse minha. Não me importei com o que as pessoas pensariam de mim, não liguei para mais nada.Apenas
Meus olhos encaravam todo o sangue que havia em minha mão. E eu observava, observava as minhas mãos tremerem. — Por quê? — Eu perguntei — Por que você me fez fazer isso? Os olhos verdes de Mary me encaravam, mas não havia expressão alguma, como se ela não passasse de uma casca. Não senti sua voz sequer vacilar quando ela disse: — Porque ele era malvado.A minha frente havia um homem. Ou agora... um corpo.— Eu... eu acho que ele não queria me machucar — Eu digo olhando para ele, usava um terno. — Ele queria te tirar daqui — Ela responde — Ele queria tirar você da sua casa. Olho em volta da galeria aonde moramos, a bela galeria de arte abandonada, aonde vivem as melhores pinturas, aonde vivem meus melhores sonhos. Minha casa, meu único lar.— Mas... ele... ele não iria me tirar... por que não deixou que eu dissesse a ele que não queria ir?— Porque ele não iria te escutar! — Ela b**e o pé —Não entende irmã? Ele iria te levar embora, iria separar nós duas, iria te levar para um or