Mariposas cintilavam. Meus olhos estavam em todos os lugares. Conseguia ver os vagalumes, iluminando todo o lugar. Havia um rio também, de águas limpas, além de árvores tão belas e tão verdes que pareciam ter saído de uma paleta de cores.Apesar de estar de noite conseguia ver tudo com clareza. Cada cor, cada brilho. — Eii! Você! Me viro e vejo um garotinho de cabelos loiros, parece ser apenas um pouco mais novo do que eu, ele usa uma gravatinha e um terno. — Olá — Eu digo — Quem é você?— Não precisamos de nomes aqui — Ele responde — Não significam nada. Então pode me chamar como quiser.Eu não sabia exatamente como dar o nome a uma pessoa. Nunca tinha conhecido uma que não tinha um. Era estranho a sensação de estar perdida, mas ao mesmo tempo tão... acolhida? Como se pertencesse a aquele lugar, o que não fazia sentido algum considerando que eu nem sequer sabia que lugar era aquele.— Aonde estou? — Pergunto enfim. — Esse mundo não tem um nome, pode chamá-lo como quiser.Faço uma
Eu estava sonhando, estava flutuando sobre um mundo perfeito. Andando sobre pessoas que não existiam mais, existiam, nunca foram pessoas para morrer. Uma música fraca com uma melodia suave tocava sobre o jardim repleto de vaga-lumes que iluminavam todo o local junto das estrelas, o perfume das rosas incendiava todo o lugar, um cheiro tão puro e tão maravilhoso que me fazia querer sorrir e sorrir. Nunca fui de dançar, mas naquela noite eu rodopiava sobre a grama, sem medo ou vergonha que me vissem, sem preocupações, em nenhum momento eu pensei: Tenho coisas mais importantes para fazer, eu apenas dancei e usei um vestido belíssimo preto coberto por pontinhos brancos que me lembravam a própria noite. Assim como dançar, nunca gostei muito de vestidos. Nunca me dei ao luxo de experimentar tantas coisas.Mas naquela noite eu experimentei e adorei. Naquela noite eu dancei como se a noite fosse minha. Não me importei com o que as pessoas pensariam de mim, não liguei para mais nada.Apenas
Meus olhos encaravam todo o sangue que havia em minha mão. E eu observava, observava as minhas mãos tremerem. — Por quê? — Eu perguntei — Por que você me fez fazer isso? Os olhos verdes de Mary me encaravam, mas não havia expressão alguma, como se ela não passasse de uma casca. Não senti sua voz sequer vacilar quando ela disse: — Porque ele era malvado.A minha frente havia um homem. Ou agora... um corpo.— Eu... eu acho que ele não queria me machucar — Eu digo olhando para ele, usava um terno. — Ele queria te tirar daqui — Ela responde — Ele queria tirar você da sua casa. Olho em volta da galeria aonde moramos, a bela galeria de arte abandonada, aonde vivem as melhores pinturas, aonde vivem meus melhores sonhos. Minha casa, meu único lar.— Mas... ele... ele não iria me tirar... por que não deixou que eu dissesse a ele que não queria ir?— Porque ele não iria te escutar! — Ela b**e o pé —Não entende irmã? Ele iria te levar embora, iria separar nós duas, iria te levar para um or
A imagem de Sofia morrendo não saia da minha cabeça. Nos últimos dias a imagem dela presa a aquela máquina horrenda se repetia na minha cabeça, de novo e de novo. De novo e de novo.Era terrível. Eu estava tão perto... tão perto de sair daquele lugar infernal. Mas os pesadelos só aumentavam, todas as noites lá estava ela, os olhos cheios de culpa e raiva que olhavam para mim, ela estava com ódio de mim, e por alguma razão eu sinto que ela tinha todos os motivos do mundo para estar.Talvez eu me sinta culpada, eu roubei a melhor amiga e o namorado dela. Eu curei as feridas que ela deixou. Sinto como se eu tivesse a substituído, como se eu tivesse roubado sua vida, não é horrível? Pensar que você morreu, mas alguém foi lá e roubou tudo que você amava, que fez da sua melhor amiga a nova melhor amiga dela, que fez todos que gostavam de você gostarem dela, que seu namorado não vai mais dormir pensando em você e sim nela. Pensar que ela amenizou a dor da sua morte, porque foi como se tiv
— Por que não volta para o seu país sua merdinha?Ela abriu a boca, mas não conseguiu responder, um terceiro ovo foi jogado em seu cabelo, ela se encolheu, não havia muito para aonde fugir, abraçou seu próprio corpo.— Vai lá, responde para nós, é verdade que você come morcegos no jantar? Uuuh deve ser infecciosa.Outro ovo foi jogado em sua cabeça, as risadas ecoaram mais alto, ela disse para si mesma que logo perderia a graça, que se esperasse parariam.— Ouviu? — Sussurrou um perto de seu ouvido — Você é infecciosa, volta para o seu país sua asiática de merda.Logo eles iriam embora, disse para si mesma, estava tudo bem. Logo estaria em casa, poderia ouvir suas músicas e jogar os jogos de sempre.Logo tudo ficaria bem.Tudo ficaria bem.Tudo ficaria bem. — O que vocês pensam que estão fazendo? Uma voz ecoou do outro lado, ela se encolheu mais, com medo que fosse outra pessoa com mais ovos para serem jogados, mas quando abriu os olhos percebeu que todos a sua volta ficaram incomod
— Você parece cansada. — É difícil dormir no meio da floresta — Respondo.Sakura balança levemente a cabeça.— É, mas você parece realmente péssima.Faço uma careta.— Você também não está exatamente uma miss universo. Agora andávamos sobre uma área muito menos aconchegante, as árvores se amontoavam entre nós, tudo parecia cada vez mais e mais apertado, e a cada momento eu sentia que algo iria cair em minha cabeça. Fazem dias desde que achamos Sakura e provavelmente mais de uma semana desde que saí de Green Lake. Ninguém parecia bem, estávamos exaustas, sem conseguir dormir direito, se matando pelos restos de comida e água.As coisas só iam ladeira abaixo.O que fazia com que o humor de todas estivesse péssimo, embora surpreendentemente Sakura não estivesse tão ácida como costumava ser em Green Lake, ela parecia mais nervosa, como quem soubesse que se desse qualquer passo em falso Karen a largaria na floresta e a deixaria por conta própria. Apesar de não dizer nada eu sabia que ela
Seus sonhos estavam cheios de tormento e medo. Ele não sabia se acordaria vivo no outro dia. Não sabia se conseguiria sequer se levantar. Eles esqueciam de o alimentar, até mesmo as crianças passavam fome e choravam nos cantos de suas celas. Seus sonhos estavam cheios de sangue e morte, a cada dia que se passava ele via sua família, via eles morrendo um por um, via tudo desaparecendo e ficando mais distante... cada vez mais distante....Eles estavam sendo cada vez mais esquecidos. Deixados ali apenas para serem usados como barganha.Ninguém se importava com eles.Apenas queriam Emma e Channel.Com um pequeno suspiro ele olhou de longe Claire, deitada em sua cela em meio a aquele chão imundo, longe dele, afastada de todos. Apesar de esquecerem de alimentar os moradores, apesar de ele estar morrendo de fome e sede ele sabia que tanto ele quanto Claire eram os mais privilegiados, sabia que eram mais cuidados do que os outros.Os doutores sabiam. Eles sabiam tudo.Sabiam sobre ele e Emm
Havia uma garotinha.Havia uma garotinha, e ela era linda, os cabelos tinham cor de brasa, ruivos de um vermelho incessante. Os olhos eram verdes, havia puxado os olhos da avó. Ela era realmente linda.Passo as mãos pelos pequenos cachos em seu cabelo, ela parece feliz.A observo brincar com uma boneca. Observo ela servir chá para seus brinquedos, cantar e depois ir dormir em sua cama.Eu a observo.E então ela acorda, seus olhos percorrem todo o local até pararem em mim, como se fosse um pedido, ela me chama:— Eu sei que você está aí — Ela diz — Venha brincar comigo.E então estou dentro do quarto dela, não sei como o reconheço, mas assim que coloco os pés no local eu sei.— Filha...Mas então o rosto dela muda.Não há mais o cabelo cor de brasas, não há mais bonecas, não há mais olhos verdes como um jardim encantado.Tudo se torna um borrão, um borrão vermelho e negro ao mesmo tempo.Até que tudo se desapareça por completo e só sobre sangue.Estava sonhando acordada, e eu sabia di