Ele apenas balançou a cabeça, com os olhos marejados como os meus. Dei um beijo em seu rosto e ele me soltou, permitindo que eu fosse atrás de Travis para que o fizesse ir até a sala, faltava só dez minutos para que Bruce fosse para o altar para esperar sua noiva. Não foi preciso uma busca incessante, Travis estava junto aos outros padrinhos e madrinhas, aguardando próximo às portas enormes de madeira que logo seriam abertas para entrarmos depois do noivo. Ao me avistar tentando uma aproximação em meio às moças sorridentes que usavam vestidos parecidos com o meu, e conversa desenfreada vindo de todas as bocas, ele deixou de falar com Beverly para se aproximar de mim, com um vinco na testa ao ver minha cara de quem não sabia como pedir aquilo. — Aconteceu alguma coisa? Por um momento tive a impressão de que todos se voltaram para nós, talvez curiosos para saber como os noivos estavam, ou apenas para cuidar da minha vida, eu ainda era a mulher que deu fim a três noivados e depois
"O grande dia" Louise se posicionou, seu sorriso enorme a deixava ainda mais radiante. Ela olhou por cima do ombro e viu quando uma mulher empurrou a outra, como em uma verdadeira disputa pelo buquê, tudo na brincadeira, é claro. Eu não podia estar lá pois já havia me casado, foi o que aleguei, lógico.Houve um alvoroço com a contagem regressiva, que foi repetida quatro vezes antes de enfim ela decidir jogar o buquê de vez, a questão é que ela não sabia que o combinado foi que todas corressem quando as flores fossem lançadas, corressem para longe, em uma fuga de casamento, o que fez com que todos rissem, até o momento seguinte, óbvio, quando depois de Louise fazer uma cara de decepção, Roger surgir com um outro punhado de flores, se ajoelhando em frente a Beverly e a pedindo em casamento. Nem preciso dizer que foi choro pra lá e pra cá, Louise feliz pela amiga, Beverly brava por não saber de nada, depois feliz por ter sido pedida, e enfim, era uma festa de casamento, com todos fel
→11 anos antes.A noite de halloween era levada muito a sério na cidade em que nasci. Uma semana antes, todas as casas de Vancocker já estavam bem decoradas e a quitanda se preparava para a distribuição de abóboras. O clima sombrio era perfeito, as casas de travessuras tinham seus ingressos esgotados em pouco tempo, e as lojas de fantasias deveriam estar bem preparadas porque todos os moradores, dos pequenos aos mais velhos, queriam uma bela fantasia. E a da vez foi escolhida.Eu seria a noiva cadáver.O vestido em tons de azul era macabro com tantos rasgos e traços de algo que se assemelhava a sangue envelhecido e terra. A maquiagem ficou por conta de Arian, que mesmo distante, cumpriu a promessa de me deixar linda na medida do possível. Fiquei praticamente irreconhecível. E amei isso.Travis disse que iria se atrasar por ter que trabalhar até mais tarde, então íamos nos encontrar escondidos só depois de curtir a noite com nossos amigos, e infelizmente eu teria que estar longe,
— Você veio — falou assim que chegou perto de mim. — O que é isso, Capitão? O nosso casamento? — A voz saiu boba e melosa. Merda, eu não estou acreditando. — Se você disser que quer isso, sim. É o nosso casamento. Hoje vai ser o dia que você se tornará pra sempre minha... Aceita, Queen? Se eu aceito? Nos últimos dias tudo o que eu pensava era em quando eu e Travis pudéssemos assumir o que tínhamos e ser quem queríamos ser. Foda-se tudo. Eu o amava pra caralho. Nada, nem ninguém ia mudar isso, e eu tinha certeza absoluta que se tivesse que escolher alguém para amar até o resto da minha vida, e passar todos os meu próximos dias, eu o escolheria. Sempre. Ninguém jamais tomaria o lugar dele em mim. — É lógico que aceito. Se eu tiver que me casar com alguém, esse alguém será só você. Sempre e sempre. Ele riu. Eu ri. Parecia idiotice, dois adolescentes se casando no halloween, com convidados que eu mal sabia quem eram e com um padre que tinha o pescoço dilacerado e uma faca
Jazz.Era a primeira vez que eu parava para me atentar às melodias instrumentais de jazz.Do lado de fora do prédio ainda havia movimento. As crianças já deveriam estar em suas casas, e os adultos ou quase isso, ainda curtiam a noite.— Desde quando você gosta desse tipo de música? — perguntei ainda focada em remover a maquiagem do rosto de Travis, a minha já tinha saído.— Eu tinha que herdar alguma coisa da minha mãe, então escolhi o jazz, que não é sacrifício algum... Me acalma.Os dedos do garoto ainda estavam grudados em minha cintura enquanto minhas pernas rodeavam a sua. A segunda parte da noite foi planejada por ele também, e para isso fomos a um dos apartamentos de seu pai que estava para alugar. Travis deu um jeito de limpar e jogar um colchão em um dos cômodos, roubou as chaves e então pronto. Juntos, sem interrupção.— Assim como eu te acalmo? — Sorri e beijei a ponta de seu nariz.— É. Quase parecido com o jeito como você me acalma.Era meloso dizer, mas eu estava derr
Se soubesse o quão enganada eu estava…Às vezes pensamos que temos todo o controle da vida em nossas mãos, até nos depararmos com a verdade. Não podemos controlar nada, por mais que tentamos.— Isso é… Isso… — Bruce balbuciou, atordoado.Não esperava ouvir muito mais, talvez só umas risadas, dizendo o quão boba eu era por não conseguir me casar com homem nenhum, só porque dentro de mim havia a certeza de que eu já tinha me casado, e meu marido era o único homem que eu amava daquela forma intensa. Era isso, eu ainda amava Travis, o amava muito. Minhas promessas ainda tamborilavam dentro da minha cabeça, todas as vezes em que eu pensava nele, ou quando ouvia falar sobre casamento, ou quando ouvia jazz, ou até mesmo quando eu apenas respirava.— Não podia me casar com nenhum deles. Eu já sou casada, me casei com quem eu amo verdadeiramente. Eu pertenço a alguém, sou unida em matrimônio sim, e esse alguém é o Travis. Nunca vou mudar isso. É idiota, é bobo, pode parecer uma brincadeira,
A garoa agora não era tão densa, apenas um pequeno resquício da chuva forte que desabou. Meus pés descalços tocavam a grama encharcada e a barra do vestido se arrastava, ficando igualmente molhada e suja. Fechei os olhos e inspirei o ar fresco como não fazia há muitos anos. Ao ter novamente a visão do parque, voltei a caminhar tranquila, evitando ao máximo pensar em todas as coisas que me afastaram daquela cidade. Não tinha mais para onde eu ir, apesar de odiar a possibilidade de estar em Vancocker, não tinha um lugar sequer no mundo que me traria a paz e as lembranças que eu precisava, exceto estar nos braços de Travis. Mas isso me doía, me dilacerava em níveis absurdos. Estar com ele agora ia me fazer quebrar, eu ia desmoronar e ia querer que o tempo congelasse para sempre. Não soube dizer se o que molhava meu rosto eram pingos de chuva ou lágrimas caindo. Já havia me acostumado tanto com os dois. Ao chegar na árvore onde eu e Travis conversamos de verdade pela primei
— Eu não acho que existam chances. — Não? Então não sabe como está enganada… Se ela não estivesse casada, com um filho, com um bom marido, pode acreditar, eu ia lutar por nós até o meu último fôlego de vida. Mas ela está feliz, com uma vida perfeita, e eu não posso destruir isso. Então eu te pergunto, o que você destruiria se lutasse por quem ama? Você ia arruinar alguém, Terena? Porque eu acho que os únicos arruinados serão vocês dois se não darem um jeito de ficarem juntos. O Travis te ama de um jeito que até eu me surpreendo. Não é possível que continuem sendo dois idiotas, negando um ao outro. Nesse momento eu já não tinha mais o que dizer, não tinha palavras boas o suficiente para debater, e nesse momento também, Travis se aproximou de nós, com passos rápidos e uma cara nada boa. — Você só pode estar brincando — resmungou, não irritado, mas decepcionado. Lancer se levantou e me lançou uma piscadela, antes de sair e dar um tapinha nas costas do irmão. Travis logo se ajoelhou