MELISSA
Limpa e fresca é como me sinto neste momento e é só no que quero pensar por alguns minutos. Finalmente pude tomar um banho decente em meu banheiro, deixar a água fazer seu caminho por todo o meu corpo, livre de agulhas, soro e curativos. Sento-me na cama, acomodando-me em meus travesseiros cheirosos. A toalha ainda enrolada na cabeça. Nossa, como é bom estar em casa, já estava esquecendo essa sensação pacífica que o lar me traz. Afinal, foi preciso mais de uma noite em observação, já que minha pressão ficou completamente fora de controle.
Passei por uma nova bateria de exames. Ainda que eu tivesse deixado aquele mesmo hospital naquele mesmo dia, a médica queria ter uma noção imediata do meu quadro geral. Ao constatar minha fr&aac
RICKUm mês inteiro de tentativas frustradas. Sinto Melissa mais distante a cada minuto. Não consigo dormir ou comer, acabo sempre trocando as refeições por um copo de vodka, Uísque ou café, larguei as obras da academia de mão, só apareço em casa para um banho corrido e logo saio novamente. Respiro apenas pensando em vê-la e tocá-la.Minha mãe só falta tentar me algemar no pé da cama, mas seus gritos entram por um ouvido e saem pelo outro, não me abalam nem por um segundo. Procuro não cruzar com meu pai, sem nenhuma paciência para seu sermão ridículo.A pior parte é não ter certeza de onde ela está. Sei que ela foi para casa assim que saiu do hospital, ma
MELISSAEle afasta seus olhos oceânicos dos meus e uma energia que eu nem sabia que estava presente se desfaz. Solto o ar pela boca e começo a me recuperar do susto. Ele caminha até uma mesa no canto do quarto, seu corpo esguio se curva e ele começa a revirar dentro da pequena gaveta. Tira um bloquinho de dentro e arranca uma folha. Ele volta a me olhar, com as sobrancelhas arqueadas.- Tem uma caneta? – Ele me pergunta.- Hã? Ah, acho que sim. – Alcanço minha bolsa e começo a vasculhar dentro dela. Ele anda de volta até mim. Acho a caneta e entrego a ele.- Obrigado.Ele se senta junto à mesa e começa a escrever alguma coisa, um bilhete, eu ach
RICK Depois de ver com meus próprios olhos que Melissa havia deixado sua casa para trás e ido embora como uma fugitiva, eu fiquei sem chão. Minha mão latejava com os cortes abertos pelo soco no espelho, mas mesmo assim eu apertava o volante e dirigia em alta velocidade pelas ruas alagadas. Minha cabeça trabalhava a mil por hora, imaginando para onde ela poderia ter ido. Era certo de que não estaria na casa da Lívia e nem do Anthony. Ela sabe que seriam os primeiros locais onde a iria procurar. Será que foi passar um tempo em um hotel? Ou em outra cidade? Que eu saiba, ela não tem parentes em outros lugares. Varro minha mente em busca de uma pista, de qualquer informação sobre onde ela possa ter ido, mas a única coisa que se destaca nas minhas memórias é a tal faculdade de Paris em que ela queria est
“A arte existe para que a realidade não nos destrua” (Friedrich Nietzsche) MELISSA Acordei no meio de um campo muito verde, o sol brilhava forte e me cegou por alguns instantes. Quando meus olhos se acostumaram com a luz intensa pude ver a imensidão da campina, não havia nada ao redor, nem uma casa sequer, um poste ou uma árvore, nada que pudesse me proteger dos abrasadores raios que incidiam sobre minha pele. Sentia minhas bochechas queimarem e o calor começou a tomar conta de todo o meu corpo. Senti-me fraca, como se minha energia estivesse sendo sugada. Não avistava nada e nem ninguém em quilômetros, não tinha nada a que eu pudesse recorrer. Não saber como havia parado naquele lugar me incomodava ainda mais que o calor ou a solidão, simplesmente me sentei em meio à grama e abracei meus joelhos, escondendo minha cabeça entre eles. Tentei recordar como cheguei até a
MELISSA O quarto está imerso em breu, mas levantando-me da cama consigo enxergar a enorme janela coberta pela persiana e alguns tímidos raios de sol se precipitando dentre as minúsculas frestas. Alcanço a janela mal conseguindo respirar. Meu coração saltando no peito. Com as mãos trêmulas, consigo abrir a persiana, só o bastante para o sol de início de verão banhar o espaço à sua frente. Enfim reconheço o lugar, apesar de achar que estava perdida em algum iglu no Alasca devido ao frio congelante, estou no quarto de Rick. Estou a salvo em seu apartamento em frente à praia de Copacabana. Ele começa a se mexer na cama e a cobrir os olhos, o sol parece estar o incomodando. É atordoante observá-lo dormir, sempre tão agitado e inquieto em seu sono. Volto-me para a janela e deixo que o ar fresco da manhã exerça seu efeito calmante sobre mim, porém, hoje nem a brisa do mar que entra pelo quarto faz meu coração suavizar. Fico bem na ponta dos
MELISSAO sol começa a se levantar naquele imenso céu azul, prometendo fazer um dia quente, típico domingo de praia lotada. Eu simplesmente paro no calçadão e preencho meus pulmões com ar fresco, inspirando e expirando profundamente algumas vezes até sentir o tremor do meu corpo ser controlado. Eu consigo sentir o olhar dele sobre mim lá de cima, da janela.Caminho até a areia e sento, fitando o horizonte à procura de uma resposta para o turbilhão de perguntas que tenho em minha cabeça. O que o sonho quis dizer? Por que meu subconsciente está querendo me assustar? Por que isso está me incomodando tanto? Estou ficando louca? Como o Rick consegue ser tão insensível?De tudo que está girando em minha mente, a última pergunta é a única para qual eu tenho a resposta. Porque o Rick é prático
MELISSAApós me empanturrar de torta de limão, meu doce favorito no mundo, retorno para o meu quarto a fim de finalmente dar atenção à revisão da minha monografia. Realmente já está tudo pronto, “ok, Rick, você tem razão, era só uma desculpa esfarrapada para fugir do seu apartamento, vamos lhe dar um pouco de crédito”, porém eu não me canso de tentar melhorá-la, eu não posso cometer o mínimo erro sequer. Eu tenho que fazer uma apresentação perfeita e garantir nota máxima. Afinal, meu desempenho acadêmico é decisivo para que eu seja aprovada no intercâmbio.O meu grande sonho é conseguir essa bolsa para fazer o mestrado na França, Beaux-Arts de Paris, uma das escolas de artes mais conceituadas do mundo e onde grandes artistas estudaram. O programa é incr&ia
RICKApós ela desligar o telefone e nem me deixar explicar o meu lado, eu me senti mal, como se estivesse realmente adoecendo. Eu podia senti-la escapando pelos meus dedos e não sabia o que fazer para me manter preso a ela. Era como ter a vida se esvaindo de mim. Eu preciso dela como preciso do ar para respirar e ela estava fugindo de mim como se eu pudesse fazer mal a ela. Eu nunca seria capaz de machucá-la.Eu admito que meu comportamento não tem sido dos melhores, eu posso ser um pouco possessivo demais e impaciente, e descontrolado, e impulsivo, e explosivo, mas eu não consigo ser diferente. O sentimento que tenho por ela é tão forte que pressiona meu peito e me sufoca. Imaginar perdê-la é demais pra mim.Eu ando pela casa à procura de algo para preencher as horas que eu terei pela frente. Sozinho. Eu tinha pensado em ficarmos o dia todo juntos. Poderíamos i