HARRY RADCLIFFEAcordo com o som das vozes lá em baixo, um eco irritante que atravessa o meu sono como uma faca afiada. Eu já sei quem são, é claro. A família Radcliffe.Revirei os olhos enquanto verificava o despertador ao lado da cama. Seis da manhã. A hora em que a maioria das pessoas ainda está sonhando com mundos melhores. Mas para mim, é apenas o início de mais um dia de luta contra os fantasmas que insistem em me assombrar.Todos os dias são os mesmos. Pesadelos que me arrastam para os abismos do meu passado, onde o medo e a angústia reinam soberanos. A equipa terapêutica diagnosticaram-me com estresse pós-traumático, o que já não foi uma surpresa emocionante para mim.Como se um rótulo pudesse encapsular o terror que se desenrola dentro de mim todas as malditas noites.A minha psicóloga e o meu psiquiatra até tentam. Prescrevem uma coleção de comprimidos que prometem alívio, mas que, no final das contas, são tão eficazes quanto açúcar em água quente. Noites mal dormidas se tor
HARRY RADCLIFFEOs portões do condomínio de luxo abriram-se, cedendo espaço para que o meu carro avançasse lentamente. A neve, que antes não havia se atrevido a marcar presença, agora é implacável como sempre, e caía com uma determinação obstinada, obrigando-me a limpar constantemente os para-brisas para manter a minha visão desobstruída. Ao meu lado, Steffan parecia tenso, a sua inquietação palpitando no ar, mas durante todo o trajeto, nenhum de nós ousou romper o silêncio carregado que pairava dentro do veículo.Antes de sair de casa, tive a oportunidade rápida de trocar de roupa, disfarçando qualquer indício da nossa verdadeira intenção. Quando a minha família perguntou para onde estávamos indo, foi Steffan quem improvisou uma desculpa tola, mencionando uma ida rápida ao supermercado para comprar itens para o almoço, mesmo sabendo que a minha despensa estava sempre bem abastecida.Estacionei o meu carro atrás do veículo do meu pai, notando a presença de outro carro além do esperado
RUBY PORTMAN— Você poderia, pelo amor de Deus, endireitar as benditas decorações, Ruby? — A minha mãe estava bem ao meu lado quando falou, o seu forte sotaque italiano combinando perfeitamente com a postura de mamãe zangada, um pano de louça no ombro direito, puro clichê. — Está sequer me ouvindo, ragazza?— Estou ouvindo, sim, mãe. — Respirei fundo enquanto pousava a taça de vinho vazia sobre a mesa de centro. Levantei-me lentamente, observando a sua feição se irritar cada vez mais. — Estava apenas apreciando a minha bebida. Credo, é assim que você trata a sua filha depois de quase um ano sem vê-la? — Provoquei com o sorriso mais bonito que tinha.— Oh, querida, sabe que eu estava morrendo de saudades e sofrendo principalmente com a sua ausência, mas tudo isso passou há uma hora. — Ela respondeu fazendo uma careta. — Endireitar as decorações, Srta. Portman. Espero que isso não esteja assim quando eu voltar, não quero que os meus convidados encontrem a decoração incompleta e desarrum
RUBY PORTMANA sala de jantar, depois de uma hora, estava repleta de vozes e risadas, o calor do aquecedor misturando-se com o aroma delicioso do jantar que havíamos acabado de consumir.A conversa fluía naturalmente, as histórias de anos passados e as atualizações sobre as nossas vidas enchendo o espaço entre nós. Luca e o meu pai estavam debatendo sobre a última colheita de uvas, enquanto Isabella e a minha mãe discutiam animadamente sobre novas receitas para o próximo Natal. Eu estava meio alheia a todas as conversas, ainda saboreando o último gole do vinho tinto que o meu pai trouxera.E então, de repente, senti o meu bolso vibrar. Peguei o celular discretamente e vi uma notificação de ninguém mais, ninguém menos que Harry Radcliffe.O meu coração deu um salto, uma pequena mistura de ansiedade e excitação tomando conta de todo o meu corpo. Harry não costumava enviar mensagens sem motivo; devia ser algo importante. Engoli o restante do vinho na minha taça rapidamente, tentando pare
HARRY RADCLIFFEDurante muitos anos eu sempre refleti, com muita culpa, se o fato de eu sempre recusar em ir à igreja aos Domingos com a minha mãe, quando eu era pequeno e a nossa família ainda era minimamente decente, resultou em todas as catástrofes que agora penduram na minha vida, na minha família.Eu já pensei muita coisa, e por isso, nunca soube definir muito bem se eu acredito ou não em Deus, mas com certeza sei que estou pagando por alguma coisa que fiz, seja quando eu era criança ou talvez em vidas passadas.Olhando agora para as pessoas que se acomodam na minha casa, todos muito felizes, rindo, se divertindo, e eu distante como se caso eu me aproximasse pudesse estragar absolutamente tudo, chego a conclusão que sim, a melhor coisa que sempre fiz foi me afastar, manter-me recluso na minha própria insignificância. — Acho tão adorável quando a Sade obriga você a usar essa toca de Papai Noel. — Mackie comentou assim que se aproximou de mim, tocando ligeiramente no pompom que fic
HARRY RADCLIFFEHerodes olhava para o horizonte, parecendo medir a suas palavras antes de falar. Eu aproveitava o momento para observar Steffan, que estava visivelmente desconfortável. Ele nunca fora bom em esconder as suas emoções, ao contrário de mim. Finalmente, Herodes quebrou o silêncio.— A investigação está avançando. Temos novas informações, mas elas não são boas — ele disse, a sua voz carregada de uma gravidade que eu não ouvia há muito tempo. — Há implicações sérias para todos nós. Precisamos decidir como lidaremos com isso, e rápido. Lorena está no topo dessa pirâmide. Ela coordena tudo, desde a escolha das flores até o envio final. A Floricultura A, a fachada, faz parecer que é uma operação legítima, mas é apenas um disfarce. Floricultura B, por outro lado, é uma empresa real, inconsciente do que está acontecendo. Elas fornecem as flores para a Floricultura A, que então envia para o destinatário final, usando serviços de entrega anônimos.— Mas qual é o ponto disso tudo, a
RUBY PORTMANEu me encarava no espelho, observando cada detalhe do meu visual e admirando o belo trabalho. Vestia um longo vestido branco que caía elegantemente até o chão, complementado por meias de vidro escuras e um par de scarpins pretos que me davam uma sensação de poder. Meu cabelo ondulado caía suavemente sobre meus ombros, e a maquiagem brilhante destacava os meus olhos e lábios. Era uma combinação perfeita para a noite, e eu estava empolgada, pois finalmente havia chegado a melhor época do ano, pelo menos para mim: o Ano Novo.Enquanto me analisava, uma mistura de ansiedade e alegria me preenchia. A sensação de renovação e esperança que o Ano Novo trazia sempre me encantava. Peguei o meu celular e comecei a tirar várias fotos, experimentando diferentes ângulos e expressões. Queria capturar aquele momento de pura excitação e compartilhar com meus amigos nas redes sociais. Cada clique era uma pequena celebração do que estava por vir, um novo começo, novas oportunidades.Lá em
RUBY PORTMANEu e Sienna trocamos olhares cúmplices, decidindo que o melhor seria encontrar um lugar mais tranquilo para conversarmos. A sacada aquecida parecia perfeita para isso. Pegamos os nossos casacos, protegendo-nos contra o frio de inverno, e seguimos para o refúgio acolhedor. A sacada estava decorada com luzes suaves, criando uma atmosfera bem aconchegante, já que do outro lado a neve caia de forma esplendorosa, então sentamos em cadeiras confortáveis com o calor do aquecedor nos envolvendo.— Então, Ruby, como estão as coisas? — Sienna perguntou, se acomodando e olhando para mim com curiosidade.Suspirei, sentindo a tranquilidade do momento. — Bem, muita coisa mudou desde a última vez que nos vimos — comecei, sorrindo. — Estou trabalhando agora numa multinacional. Foi um alívio encontrar algo depois de tanto tempo desempregada.— Isso é ótimo! — Sienna exclamou, genuinamente feliz por mim. — Lembro como você estava preocupada com essa situação. — Assenti. — Sim, estava bas