HARRY RADCLIFFEO telefone vibrou na mesa ao meu lado enquanto eu revisava alguns contratos. Olhei para a tela e vi uma mensagem de Ruby. Nada incomum, exceto pelo conteúdo. Ela havia mandado uma foto de um buquê de flores mortas com um cartão assustadoramente enigmático. As palavras estavam gravadas na minha mente no instante em que li: "Por isso eu te sacudirei como o vento sacode as folhas secas, e tu verás o que é ser esquecido." E, logo abaixo, o meu nome, como se eu é quem tivesse enviado.Senti o estômago revirar. Algo sombrio se espalhou pelo meu peito, e antes que pudesse sequer processar totalmente a situação, o pânico tomou conta de mim. Não era comum para mim, mas a ideia de que alguém pudesse estar ameaçando Ruby me fez perder o controle por um breve instante.Levantei-me da cadeira com tanta força que ela quase caiu para trás. Peguei a chave do carro e o telefone, saindo do meu apartamento às pressas. Quando estava no elevador, já apertando o botão para descer, mandei u
HARRY RADCLIFFEEstava no meu escritório em casa, a mente funcionando a mil enquanto coordenava os preparativos para algo que Ruby não sabia nada a respeito. A situação tinha se tornado insustentável, e não podia mais arriscar. Eu estava decidido a tirar a minha família — incluindo Ruby — dos Estados Unidos, pelo menos por um tempo. Só eu e Herodes permaneceríamos aqui, para lidar com tudo o que estava acontecendo. Ela, é claro, não sabia de nada disso ainda, e eu pretendia manter assim até que tudo estivesse pronto.Estava no telefone, falando rapidamente com um dos meus contatos, organizando a compra de uma casa na Irlanda para minha família. Um lugar remoto, seguro, onde eles poderiam se esconder até que eu resolvesse essa confusão. Também estava organizando a compra de uma propriedade na Itália, um refúgio seguro para Ruby e também ao lado dos seus pais. Sabia que ela resistiria à ideia de se esconder, mas não estava disposto a negociar. Ela iria, quer quisesse ou não.— Quero qu
HARRY RADCLIFFEQuando abri os olhos, fui imediatamente tomado por uma sensação de pânico. O quarto estava silencioso, mas algo estava errado. Ruby não estava ao meu lado. A cama ao meu lado estava fria, o espaço onde ela deveria estar vazio. Meu coração começou a bater mais rápido, e me sentei rapidamente, varrendo o quarto com o olhar, na esperança de vê-la em algum canto.Mas ela não estava lá.O pânico aumentou, uma onda fria se espalhando pelo meu corpo. Será que ela havia saído? Será que tinha visto algo? Eu sabia que, em algum momento, o cansaço me venceria, e com ele, os terrores noturnos que venho escondendo dela. Não podia deixar que ela visse isso. Não podia deixar que ela soubesse quão frágil eu realmente era quando o controle escapava por entre meus dedos.Desci da cama com um movimento rápido, nem me preocupando em calçar os chinelos. Meu único pensamento era encontrá-la, me certificar de que estava bem. E, secretamente, esperava que ela não tivesse visto nada, que não
HARRY RADCLIFFEEnquanto comíamos em silêncio, minha mente continuava a girar. A ideia de terminar com ela passou pela minha cabeça mais uma vez, mas dessa vez, não consegui nem considerar seriamente.— Você está pensando em alguma coisa. — Disse ela, quebrando o silêncio enquanto colocava mais café na xícara dela. — Dá para ver nos seus olhos.Olhei para ela, sentindo o peso da decisão que eu estava tentando tomar. Ela merecia saber o que estava acontecendo, mas ao mesmo tempo, sabia que isso a colocaria em perigo. Eu não podia fazer isso. Não a ela.— Estou pensando em nós. — Admiti, a voz saindo mais suave do que eu pretendia. — Pensando em como... você mudou minha vida. — Essas palavras eram verdadeiras, mas não eram tudo.Ela me olhou, surpresa, mas um sorriso suave apareceu no rosto dela.Eu continuei a observá-la, sentindo a luta interna crescer dentro de mim. Por um lado, queria protegê-la de tudo, manter todos os perigos longe dela. Por outro lado, sabia que, ao mantê-la próx
STEFFAN RADCLIFFEAcabo de assinar o último dos documentos que selam o contrato com a distribuidora. Um acordo de vinte anos, garantindo metade dos lucros das vendas. No papel, tudo parece perfeito, mas por dentro, a sensação de desconforto não me deixa em paz. O peso da responsabilidade está aqui, mas não é só isso. Há algo mais profundo, uma inquietação que me corrói lentamente. Eu deveria estar contente, satisfeito até, mas ultimamente, tudo tem virado de pernas para o ar, e o medo que sinto é uma sombra constante, algo que não consigo afastar.Tudo começou com o túmulo de Anne, minha mãe. A invasão foi um golpe duro. Ver o lugar onde ela descansa profanado mexeu comigo de um jeito que eu não esperava. Eu tento ser forte, mas a verdade é que aquilo me abalou profundamente. Não disse nada a ninguém, é claro. De que adiantaria? Sempre fui o irmão despreocupado, o engraçado, o que mantém o humor mesmo nas piores situações. Eu precisava ser, afinal Harry já carregava culpa e desespero
STEFFAN RADCLIFFESinto o gosto metálico do meu próprio sangue se espalhar pela boca, um sabor amargo e inconfundível que me enche de um terror visceral. O cheiro cítrico de mofo se mistura ao sangue, me causando náuseas. Tento mover meu corpo, mas a dor em minha cabeça é lancinante, e a escuridão ao meu redor parece devorar qualquer resquício de esperança. O entorpecimento que me dominava começa a se dissipar, substituído por um desespero crescente. Tento lembrar como cheguei aqui, mas minha mente está em frangalhos, cheia de flashbacks desconexos que se sobrepõem, deixando-me à beira do pânico.O carro... o ataque... minhas irmãs... Mackie e Luna! Um medo paralisante me atinge como uma onda, afogando qualquer outra sensação. Onde elas estão? Elas estavam comigo, no carro, quando...De repente, ouço uma voz. Uma voz que corta a escuridão ao meu redor como uma lâmina afiada, irritantemente alta e grave, fazendo meus ouvidos estalarem em dor.— O mais novo rapaz da família Radcliffe, é
STEFFAN RADCLIFFEEu não tenho certeza se passa-se dias ou semanas e nem se Luna está bem ou mal, apenas a certeza de Mackeline deve estar apodrecendo em algum lugar desse local e que eu e a Luna teremos o mesmo destino se é que ela ainda estiver viva.Os dias se arrastam como sombras, cada segundo esticando-se em uma tortura interminável. Perdi a noção do tempo – se são dias ou semanas, não sei mais dizer. Tudo o que sei é que estou preso neste inferno, sem água, sem comida, e com o gosto amargo da derrota impregnado na minha boca seca. Meu corpo agora é apenas um amontoado de carne e ossos cobertos de feridas que não param de infeccionar. Cada respiração é um esforço, cada movimento, um sofrimento.A escuridão ao meu redor se tornou minha única companhia, uma presença opressora e constante. No início, eu gritei, supliquei por ajuda, mas minhas súplicas se perderam na vastidão desse lugar morto, sem resposta, sem eco. Com o tempo, aceitei o silêncio como minha sentença.Lembro-me da
HARRY RADCLIFFEO enorme espelho reflete perfeitamente minha aparência cansada, minha consternação explícita. Há algo cruel na precisão com que ele captura cada detalhe — os sulcos de cansaço sob meus olhos, o leve tremor nas mãos. Endireito a gravata preta que acompanha o terno e o sobretudo da mesma cor, tentando, de algum modo, fazer com que a aparência de normalidade retorne, mas é um esforço em vão. Sento-me novamente e tomo um gole do meu chá de camomila, tentando encontrar um vestígio de calma naquele líquido quente e aromático. É um ritual que me acalma, mas hoje, o chá tem gosto de vazio, de uma rotina que não traz mais consolo.Nunca perguntei ao Herodes o porquê daquele homem tentar caçar toda a família Radcliffe, e quando perguntei, ele nunca conseguiu me responder. Herodes sempre foi um homem de poucas palavras, mas agora, olhando para trás, percebo que havia algo mais, uma hesitação que nunca entendi completamente. Eu já havia perdido demais, e continuo perdendo. Mackel