HARRY RADCLIFFEEnquanto comíamos em silêncio, minha mente continuava a girar. A ideia de terminar com ela passou pela minha cabeça mais uma vez, mas dessa vez, não consegui nem considerar seriamente.— Você está pensando em alguma coisa. — Disse ela, quebrando o silêncio enquanto colocava mais café na xícara dela. — Dá para ver nos seus olhos.Olhei para ela, sentindo o peso da decisão que eu estava tentando tomar. Ela merecia saber o que estava acontecendo, mas ao mesmo tempo, sabia que isso a colocaria em perigo. Eu não podia fazer isso. Não a ela.— Estou pensando em nós. — Admiti, a voz saindo mais suave do que eu pretendia. — Pensando em como... você mudou minha vida. — Essas palavras eram verdadeiras, mas não eram tudo.Ela me olhou, surpresa, mas um sorriso suave apareceu no rosto dela.Eu continuei a observá-la, sentindo a luta interna crescer dentro de mim. Por um lado, queria protegê-la de tudo, manter todos os perigos longe dela. Por outro lado, sabia que, ao mantê-la próx
STEFFAN RADCLIFFEAcabo de assinar o último dos documentos que selam o contrato com a distribuidora. Um acordo de vinte anos, garantindo metade dos lucros das vendas. No papel, tudo parece perfeito, mas por dentro, a sensação de desconforto não me deixa em paz. O peso da responsabilidade está aqui, mas não é só isso. Há algo mais profundo, uma inquietação que me corrói lentamente. Eu deveria estar contente, satisfeito até, mas ultimamente, tudo tem virado de pernas para o ar, e o medo que sinto é uma sombra constante, algo que não consigo afastar.Tudo começou com o túmulo de Anne, minha mãe. A invasão foi um golpe duro. Ver o lugar onde ela descansa profanado mexeu comigo de um jeito que eu não esperava. Eu tento ser forte, mas a verdade é que aquilo me abalou profundamente. Não disse nada a ninguém, é claro. De que adiantaria? Sempre fui o irmão despreocupado, o engraçado, o que mantém o humor mesmo nas piores situações. Eu precisava ser, afinal Harry já carregava culpa e desespero
STEFFAN RADCLIFFESinto o gosto metálico do meu próprio sangue se espalhar pela boca, um sabor amargo e inconfundível que me enche de um terror visceral. O cheiro cítrico de mofo se mistura ao sangue, me causando náuseas. Tento mover meu corpo, mas a dor em minha cabeça é lancinante, e a escuridão ao meu redor parece devorar qualquer resquício de esperança. O entorpecimento que me dominava começa a se dissipar, substituído por um desespero crescente. Tento lembrar como cheguei aqui, mas minha mente está em frangalhos, cheia de flashbacks desconexos que se sobrepõem, deixando-me à beira do pânico.O carro... o ataque... minhas irmãs... Mackie e Luna! Um medo paralisante me atinge como uma onda, afogando qualquer outra sensação. Onde elas estão? Elas estavam comigo, no carro, quando...De repente, ouço uma voz. Uma voz que corta a escuridão ao meu redor como uma lâmina afiada, irritantemente alta e grave, fazendo meus ouvidos estalarem em dor.— O mais novo rapaz da família Radcliffe, é
STEFFAN RADCLIFFEEu não tenho certeza se passa-se dias ou semanas e nem se Luna está bem ou mal, apenas a certeza de Mackeline deve estar apodrecendo em algum lugar desse local e que eu e a Luna teremos o mesmo destino se é que ela ainda estiver viva.Os dias se arrastam como sombras, cada segundo esticando-se em uma tortura interminável. Perdi a noção do tempo – se são dias ou semanas, não sei mais dizer. Tudo o que sei é que estou preso neste inferno, sem água, sem comida, e com o gosto amargo da derrota impregnado na minha boca seca. Meu corpo agora é apenas um amontoado de carne e ossos cobertos de feridas que não param de infeccionar. Cada respiração é um esforço, cada movimento, um sofrimento.A escuridão ao meu redor se tornou minha única companhia, uma presença opressora e constante. No início, eu gritei, supliquei por ajuda, mas minhas súplicas se perderam na vastidão desse lugar morto, sem resposta, sem eco. Com o tempo, aceitei o silêncio como minha sentença.Lembro-me da
HARRY RADCLIFFEO enorme espelho reflete perfeitamente minha aparência cansada, minha consternação explícita. Há algo cruel na precisão com que ele captura cada detalhe — os sulcos de cansaço sob meus olhos, o leve tremor nas mãos. Endireito a gravata preta que acompanha o terno e o sobretudo da mesma cor, tentando, de algum modo, fazer com que a aparência de normalidade retorne, mas é um esforço em vão. Sento-me novamente e tomo um gole do meu chá de camomila, tentando encontrar um vestígio de calma naquele líquido quente e aromático. É um ritual que me acalma, mas hoje, o chá tem gosto de vazio, de uma rotina que não traz mais consolo.Nunca perguntei ao Herodes o porquê daquele homem tentar caçar toda a família Radcliffe, e quando perguntei, ele nunca conseguiu me responder. Herodes sempre foi um homem de poucas palavras, mas agora, olhando para trás, percebo que havia algo mais, uma hesitação que nunca entendi completamente. Eu já havia perdido demais, e continuo perdendo. Mackel
RUBY PORTMAN Com um olhar atentivo voltado para o relógio de pulso, pude discernir restarem apenas alguns minutos antes do horário marcado para minha tão aguardada entrevista. Essa constatação serviu como um impulso interno que me levou a aumentar o ritmo da minha caminhada. No entanto, o meu desejo de apressar-me foi um tanto limitado pelo calçado que eu havia escolhido para aquele dia, um elegante scarpin que não se mostrava tão cooperativo quanto eu gostaria no quesito conforto. O edifício para o qual eu me dirigia é verdadeiramente extraordinário na sua arquitetura. Um majestoso arranha-céu compõe-se quase inteiramente de vidro, apresentando uma fachada envidraçada tanto na sua parte frontal imponente quanto na traseira. O ápice dessa estrutura exibe uma imensa placa prateada, onde se destaca a inscrição em letras garrafais: "Radcliffe's". Tal insígnia reluzente é um testemunho visual do prestígio que a sede daquela renomada empresa de cosméticos e agência de modelos estadunidens
RUBY PORTMAN Uma brisa gélida percorre o interior do meu quarto, tocando o meu rosto com um beijo gelado que pinta as minhas bochechas com um tom exageradamente vermelho. No silêncio matinal, os ecos sutis de movimentos ecoam, relembrando-me de que Sophia, minha colega de apartamento, também está começando o dia cedo. Os sons de panelas dançando pelo chão e o aroma inebriante de café fresco emanando da cozinha dão vida ao espaço. A incerteza paira no ar, questionando se a nossa coleção de louças recém-adquirida conseguirá sobreviver incólume até o final do ano. É engraçado como os objetos mais triviais podem se tornar fonte de inquietação quando compartilhados com uma amiga um tanto… desajeitada. Ajeitando-me, penteio os cabelos e os reúno em um rabo de cavalo elegante, escolha que complementa harmoniosamente a minha indumentária matutina. Confesso, precisei dar um “jeitinho” no meu guarda-roupa nos últimos tempos, considerando o redirecionamento das minhas atividades profissionais
RUBY PORTMAN O ambiente tornou-se eletricamente tenso, cada centímetro quadrado do escritório parecia vibrar com a energia carregada entre nós. O homem, cujos olhos penetrantes cortavam como facas afiadas, estudava-me meticulosamente. ~ Os nossos olhares colidiam, mas as intenções por trás de cada vislumbre eram distintas. — Quem és tu? — A sua voz, profunda e sedosa, preencheu o ar como uma melodia grave, ecoando pelas paredes do espaço fechado. Cada sílaba era uma nota arrastada, causando arrepios intensos que dançavam ao longo da minha espinha. A incerteza sobre a origem desses arrepios só aumentava a atmosfera já carregada. Um segundo arrepio, mais intenso, percorreu o meu corpo, deixando-me arrebatada pela corrente fria do ar condicionado ou pela presença imponente do homem diante de mim. Os meus sentidos estavam alertas, capturando cada pequeno detalhe da sala, como se estivesse prestes a desvendar um mistério. Num esforço para recuperar a compostura, percebi com um choque r