RUBY PORTMANTudo bem, se for refletir minuciosamente, prestando atenção na sequência de acontecimentos daquela madrugada, não fui eu que cedi, não, claro que não. O homem aparentemente centrado demais, correto de mais, arrogante de mais, é que me prensou contra a parede e bem…, fez o que fez.Os meus fios de cabelo, antes perfeitamente alinhados, agora estão completamente selvagens, tão emaranhados que era fácil deduzir o que fiz durante a noite, isso ou eu dormia ridiculamente mal. A minha boca, antes tingida em escarlate, agora é uma bagunça de cores e durante aquele pequeno período, contei baixinho, esperando os segundos para que a minha humilhação acabasse.— Merda — choraminguei virando a cabeça para o travesseiro, esperando que ele tivesse o poder de abafar por completo o ruído de frustração que escapou da minha garganta.— Eu não vou te comer. Quando eu for fazer isso, você estará sóbria que é para recordar muito bem de como eu fodi a sua boceta até me implorar por descanso
HARRY RADCLIFFEO meu irmão, Steffan, entrou na cozinha com aquele sorriso travesso que ele sempre tinha quando estava prestes a me provocar. E Ruby, o motivo do flerte anterior, saiu rapidamente da sala, com uma desculpa esfarrapada, que se fosse em outra ocasião, deixaria um clima ainda mais tenso.Ela sempre parecia saber quando a atmosfera estava prestes a se tornar desconfortável entre nós, o que, nesse momento, era exatamente o caso, e eu particularmente odiava quando ela fugia de mim.— Ora, ora, ora, o meu querido irmão mais velho está quase deixando a baba cair — Steffan comentou assim que Ruby partiu apressada da cozinha. — Picada por um bicho? Essa foi até agora a melhor desculpa que eu já ouvi para esconder um chupão. — Virei o rosto apenas para o fuzilar.— E se você tratasse de calar a boca? — perguntei, me preparando para sair também, e irritante como a maior parte da nossa família, Steffan continuou me seguindo.— Olha só quem temos aqui! —, ele exclamou, apontando par
HARRY RADCLIFFE A minha mente estava envolta em negócios e números quando o meu telefone tocou estridentemente. Eu estava concentrado naquilo que parecia ser uma montanha de papéis interminável, avaliando relatórios, planejando estratégias e mantendo a máquina da minha empresa impecável, pelo menos. Havia marcado a viagem de retorno para Nova Iorque para segunda-feira, já que Melissa insistira que eu jantasse com ela antes de retornar. O som insistente do toque cortou através da minha concentração, trazendo-me de volta à realidade. — Harry Radcliffe — murmurei, um reflexo da minha impaciência sempre presente. No entanto, quando ouvi a voz chorosa de Mackeline do outro lado da linha, a minha expressão neutra cedeu lugar a uma ruga de preocupação na testa. A voz no outro lado da linha cortou o meu foco, interrompendo a série de e-mails que eu estava revendo. Era Mackeline, minha irmã mais nova, com uma urgência inegável na sua voz. Eu senti um arrepio percorrer a minha espinha enqua
HARRY RADCLIFFEDois anos haviam se passado desde aquele dia terrível que mudou a minha vida para sempre. Eu estava de volta à casa antiga, o lugar que costumava ser cheio de risos, calor e amor. Agora, era apenas uma casca vazia de memórias felizes, assombrada pelas sombras do passado.Fiquei parado do lado de fora, olhando para a fachada envelhecida e desbotada da casa. O meu estômago revirou, e eu podia sentir um enjoo subindo na minha garganta. Era difícil encarar o que tinha acontecido aqui, difícil imaginar a violência que havia acontecido nas mesmas paredes que um dia abrigaram a minha família. As fitas amarelas da polícia ainda estavam visíveis em alguns pontos da casa, lembrando a todos que algo terrível havia acontecido ali.Respirei fundo e dei um passo hesitante em direção à entrada. A sensação de tristeza e ansiedade pesava sobre mim como uma âncora.A porta rangeu quando a empurrei, ecoando o som que ainda estava presente na minha memória. A casa estava fria e silenciosa
HARRY RADCLIFFE As primeiras luzes do amanhecer começaram a penetrar pelas cortinas, pintando o quarto com tons suaves de cinza e azul-escuro. Eu estava deitado na minha cama, olhando para o teto como se as respostas para todas as minhas perguntas estivessem escritas lá. Mas, é claro, elas não estavam. A minha mente estava turva, os meus pensamentos pareciam confusos e distantes. O porta-retratos partido, que estava sobre o criado-mudo ao lado da cama, atraía a minha atenção em intervalos regulares, como um imã puxando os meus pensamentos para o passado doloroso. A imagem da minha mãe e Íris, agora fragmentada e incompleta, parecia ser um reflexo da minha própria vida. O retrato, agora reduzido a cacos, era um lembrete constante do que eu havia perdido, da tragédia que havia se abatido sobre a minha família por culpa de Herodes. Eu não tinha sido capaz de consertá-lo, e a ideia de substituí-lo parecia quase insultante. Enquanto eu observava os primeiros raios de sol iluminand
RUBY PORTMANEntre lembranças turvas e fragmentadas, a sensação de confusão se ergue novamente dentro de mim. É como se um véu sombrio fosse puxado sobre a memória, trazendo de volta aquela tarde peculiar e inquietante. Vejo-me novamente no escritório, o ar denso de tensão enquanto as palavras do meu chefe ecoam na minha mente.As rugas profundas na testa de Harry não passaram despercebidas naquele dia. Os seus olhos, normalmente fixos nas telas do computador ou nas planilhas de dados, estão perdidos em algum lugar distante. Cumprimento-o com a minha habitual gentileza, mas seu sorriso é pálido e forçado, mal alcançando os seus olhos cansados. Um silêncio estranho paira no ar, como se palavras não ditas ocupassem mais espaço do que aquelas que são compartilhadas.Revivo a cena, os meus pensamentos confusos enquanto relembro cada detalhe. Lembro-me do jeito que a caneta de Harry gira entre os seus dedos, uma tentativa inquieta de encontrar alguma distração naquele momento estranho. A c
RUBY PORTMAN Um tempo depois do almoço, enquanto a minha mesa de trabalho acumulava papéis e o meu coração se agitava com a confusão em relação a Harry, peguei o meu celular e disquei o número de Edward. Ele atendeu após alguns toques, e a sua voz calorosa veio através do telefone. — Oi, querida, como você está? — Sobrevivendo à agitação, como sempre — respondi com um toque de humor na minha voz. — Escuta, eu estava pensando sobre a viagem para visitar os nossos pais. Já está na hora de agendar as passagens. Você está pronto para as datas que discutimos? Houve um breve silêncio do outro lado da linha, e algo na maneira como ele respirou fez-me perceber que algo estava diferente. — Sobre isso, Ruby… — ele começou de maneira hesitante — Eu acho que não vou poder ir dessa vez com você. Fiquei perplexa com a resposta. Edward e eu sempre havíamos feito essa viagem juntos, e a ideia de ele não estar ao meu lado nas festas de final de ano com os nossos pais era desconcertante. — O qu
RUBY PORTMANO dia arrastou-se com uma lentidão dilacerante, deixando-me num estado de angústia que gradualmente se transformou em indiferença. À medida que as horas se estendiam, a raiva que inicialmente borbulhava dentro de mim cedeu espaço a uma apatia desoladora. Durante esses longos dias que se seguiram, percebi que além de mim, ninguém parecia verdadeiramente preocupado com a ausência dele que havia se prolongado além do aceitável.Tentei encontrar justificativas para a minha própria tranquilidade, buscando consolo na premissa de que o motivo era simples: eu sou, afinal de contas, a sua secretária e assistente pessoal. Era parte intrínseca da minha função zelar pelo bem-estar de quem, diretamente, paga o meu salário. Contudo, mesmo com esse argumento que eu mesma construíra, não podia negar que algo estava profundamente errado, mas preferia não admitir para mim mesma o real motivo.É bem melhor assim.A única coisa que posso confessar, é que Harry Radcliffe fez falta.As manhãs