HARRY RADCLIFFE As primeiras luzes do amanhecer começaram a penetrar pelas cortinas, pintando o quarto com tons suaves de cinza e azul-escuro. Eu estava deitado na minha cama, olhando para o teto como se as respostas para todas as minhas perguntas estivessem escritas lá. Mas, é claro, elas não estavam. A minha mente estava turva, os meus pensamentos pareciam confusos e distantes. O porta-retratos partido, que estava sobre o criado-mudo ao lado da cama, atraía a minha atenção em intervalos regulares, como um imã puxando os meus pensamentos para o passado doloroso. A imagem da minha mãe e Íris, agora fragmentada e incompleta, parecia ser um reflexo da minha própria vida. O retrato, agora reduzido a cacos, era um lembrete constante do que eu havia perdido, da tragédia que havia se abatido sobre a minha família por culpa de Herodes. Eu não tinha sido capaz de consertá-lo, e a ideia de substituí-lo parecia quase insultante. Enquanto eu observava os primeiros raios de sol iluminand
RUBY PORTMANEntre lembranças turvas e fragmentadas, a sensação de confusão se ergue novamente dentro de mim. É como se um véu sombrio fosse puxado sobre a memória, trazendo de volta aquela tarde peculiar e inquietante. Vejo-me novamente no escritório, o ar denso de tensão enquanto as palavras do meu chefe ecoam na minha mente.As rugas profundas na testa de Harry não passaram despercebidas naquele dia. Os seus olhos, normalmente fixos nas telas do computador ou nas planilhas de dados, estão perdidos em algum lugar distante. Cumprimento-o com a minha habitual gentileza, mas seu sorriso é pálido e forçado, mal alcançando os seus olhos cansados. Um silêncio estranho paira no ar, como se palavras não ditas ocupassem mais espaço do que aquelas que são compartilhadas.Revivo a cena, os meus pensamentos confusos enquanto relembro cada detalhe. Lembro-me do jeito que a caneta de Harry gira entre os seus dedos, uma tentativa inquieta de encontrar alguma distração naquele momento estranho. A c
RUBY PORTMAN Um tempo depois do almoço, enquanto a minha mesa de trabalho acumulava papéis e o meu coração se agitava com a confusão em relação a Harry, peguei o meu celular e disquei o número de Edward. Ele atendeu após alguns toques, e a sua voz calorosa veio através do telefone. — Oi, querida, como você está? — Sobrevivendo à agitação, como sempre — respondi com um toque de humor na minha voz. — Escuta, eu estava pensando sobre a viagem para visitar os nossos pais. Já está na hora de agendar as passagens. Você está pronto para as datas que discutimos? Houve um breve silêncio do outro lado da linha, e algo na maneira como ele respirou fez-me perceber que algo estava diferente. — Sobre isso, Ruby… — ele começou de maneira hesitante — Eu acho que não vou poder ir dessa vez com você. Fiquei perplexa com a resposta. Edward e eu sempre havíamos feito essa viagem juntos, e a ideia de ele não estar ao meu lado nas festas de final de ano com os nossos pais era desconcertante. — O qu
RUBY PORTMANO dia arrastou-se com uma lentidão dilacerante, deixando-me num estado de angústia que gradualmente se transformou em indiferença. À medida que as horas se estendiam, a raiva que inicialmente borbulhava dentro de mim cedeu espaço a uma apatia desoladora. Durante esses longos dias que se seguiram, percebi que além de mim, ninguém parecia verdadeiramente preocupado com a ausência dele que havia se prolongado além do aceitável.Tentei encontrar justificativas para a minha própria tranquilidade, buscando consolo na premissa de que o motivo era simples: eu sou, afinal de contas, a sua secretária e assistente pessoal. Era parte intrínseca da minha função zelar pelo bem-estar de quem, diretamente, paga o meu salário. Contudo, mesmo com esse argumento que eu mesma construíra, não podia negar que algo estava profundamente errado, mas preferia não admitir para mim mesma o real motivo.É bem melhor assim.A única coisa que posso confessar, é que Harry Radcliffe fez falta.As manhãs
RUBY PORTMAN A tensão no carro era quase insuportável. Harry estava concentrado na estrada, seu rosto impassível como sempre, e o silêncio durante a viagem era quase palpável, pesando sobre nós como um fardo. Cada quilômetro parecia esticar a distância entre nós, e eu me perguntava se aquele silêncio iria quebrar a qualquer momento, liberando as emoções que ambos estávamos claramente segurando. O trajeto até a minha casa passou em um piscar de olhos, e quando paramos em frente ao prédio, hesitei antes de me mover. Os meus dedos brincavam nervosamente com a alça da bolsa no colo enquanto eu tentava encontrar as palavras certas para quebrar o gelo que se formara entre nós. — Obrigada pela carona — murmurei finalmente, abrindo a porta do carro. Ele assentiu e olhou para mim por um momento, como se estivesse prestes a dizer algo, então simplesmente balançou a cabeça e voltou a olhar para a frente. O seu comportamento deixou-me intrigada e inquieta, como se houvesse algo não dito entr
RUBY PORTMANO som suave de alguém batendo à minha porta interrompeu o meu devaneio matinal. Ergui preguiçosamente os meus olhos, onde estava confortavelmente acomodado com um livro na mesa, verificando algumas informações da empresa. Agradeci silenciosamente à pessoa que teve a brilhante ideia de instalar uma porta transparente na minha sala, o que me permitia verificar quem estava do outro lado sem a necessidade de me levantar.Do outro lado da porta, pude ver Nicklaus, ostentando um sorriso amigável. Nas suas mãos, ele segurava a minha tão esperada encomenda. Não hesitei em fazer um gesto convidativo, indicando que ele podia entrar.— Buongiorno, Srta. Portman. — Ele me cumprimentou com uma voz calorosa, colocando com cuidado sobre a mesa de centro o meu café Mocha e uma deliciosa caixa de muffins de chocolate que eu havia encomendado na Starbucks. O aroma maravilhoso que emanava da caixa fez o meu estômago roncar de apetite, embora felizmente não alto o suficiente para que Nicklau
RUBY PORTMAN — Senhor, aqui estão todos os relatórios, incluindo o contrato que foi considerado com eles no ano passado. — Anunciei enquanto me aproximava de sua mesa e, em seguida, sentei-me na cadeira à sua frente. Observei-o calmamente enquanto ele saboreava lentamente o café fumegante na sua chávena, que eu havia entregado alguns minutos atrás. — Os negociantes já chegaram? — Perguntei, quebrando o breve silêncio. Ele levantou o olhar para me encarar com seriedade. — Sim, Srta. Portman, eles já chegaram. — Respondeu concisamente antes de voltar a sua atenção para o computador à sua frente. Resignei-me ao silêncio, colocando os documentos físicos com cuidado na sua mesa. Estava prestes a levantar-me e sair do seu escritório quando os seus olhos se fixaram em mim novamente. — Sente-se, Srta. Portman. Quem lhe deu permissão para se levantar? — Perguntou com uma autoridade que me fez conter o ímpeto de lançar-lhe um olhar furioso ou proferir palavras pouco educadas. — A reunião e
RUBY PORTMANSexta-feira finalmente havia chegado, e para minha surpresa, meu querido chefe presenteou-me com meio-dia de folga, apenas exigindo a minha presença em sua penthouse por volta das três da tarde para organizar o jantar importante. Esse gesto surpreendente proporcionou-me a oportunidade de desfrutar de uma manhã mais tranquila e relaxante. Decidi começar o dia acordando um pouco mais tarde do que o habitual, permitindo-me uma indulgência rara: um café da manhã preguiçoso.Enquanto saboreava o meu café, observava a luz do sol se infiltrar pelas cortinas da janela, criando padrões dourados no chão da cozinha.A serenidade matinal era um contraste refrescante em relação à agitação incessante de Nova Iorque, que se desdobrava bem diante da minha janela. Esse momento de tranquilidade fez-me refletir sobre questões que há muito tempo estavam na minha mente, incluindo a possibilidade de mudar de apartamento.Há anos, morar perto do coração de Nova Iorque parecia um sonho realizado