“Flávio”Em vinte minutos a Sabrina entrou radiante na sala de visitas da casa dos pais. Ela parecia já ter bebido um pouco demais, fedia a cigarro e usava um vestido roxo muito curto e uma maquiagem pesada demais.- Olha, o meu maridinho se lembrou de mim. – Ela falou com a voz animada e eu me levantei.- Não sou seu marido! Fui, assim como fui um imbecil que acreditou em você. Você me fez de idiota, Sabrina, mentiu, me enganou, me traiu. Eu só queria saber por quê, por quê você me deu o pior de você quando eu sempre te dei o meu melhor? – Eu realmente sentia um gosto amargo na boca, o gosto da decepção, pois por mais que ela não significasse nada mais para mim, ela fez parte da minha vida.- Do que você está falando, Flávio? Não me diga que é sobre os papéis do divórcio de novo? – Sabrina se sentou de frente pra mim e me encarou ao cruzar as pernas.- Também. Mas eu estou falando dos abortos, Sabrina. Foram quatro, mas eu só quero saber dos três que você fez quando estávamos casados
“Manuela”Felizmente eu consegui recuperar tudo o que eu perdi na faculdade por causa dos dias em que fiquei fora, o semestre já estava terminando e eu estava ansiosa pelas férias, eu estava tão cansada que mal me concentrava nas aulas. E as aulas de hoje pareciam não ter fim! Assim que a última aula terminou eu juntei as minhas coisas e fui em direção à porta, dei de cara com a Lisa e o PH do lado de fora.- Vocês dois não se desgrudam mais? – Coloquei a mão na cintura e estreitei os olhos para eles.- Não fica com ciúmes, gata, você ainda é a minha preferida na faculdade. – O PH passou o braço pelos meus ombros e saímos caminhando.- Quer dizer que fora dela eu não sou mais? – Fingi estar indignada e eles riram.- Fora da faculdade você e a Lisa são as minhas preferidas. – Ele puxou a Lisa pela cintura e deu um beijo no rosto dela no momento em que dois caras do último ano passaram por nós e olharam invejosos para o PH.O PH era muito discreto e não tinha muitos amigos na faculdade,
“Manuela”Eu me despedi do Rick e do PH meio que no automático. Minha cabeça estava em, algum lugar em outra cidade. Entrei no carro, a Lisa me pediu para dirigir, já que ela tinha bebido, e eu precisei fazer um esforço enorme para me concentrar no trânsito, felizmente já era tarde e as ruas estavam vazias.- Agora que estamos em casa e eu não corro o risco de morrer em um acidente porque você estava distraída, me conta, Manu, o que está pegando? – Lisa perguntou assim que entramos no apartamento.- Seu irmão foi ver a ex! – Falei emburrada.- Ih! A ex, foi? – Lisa olhou pra mim como quem não soubesse o que dizer. – O que você acha de colocarmos os pijamas e nos sentarmos aqui na sala pra conversar um pouco?- Por quê você não vem dormir no meu quarto hoje? – Sugeri, pois poderíamos conversar até cair no sono.- Porque eu sei o que você e o meu irmão fazem naquela cama. Hum-hum! De jeito nenhum. É aqui no sofá ou no meu quarto. – Lisa me fez rir.- Está bem, eu vou me trocar e vou par
“Manuela”Eu estava almoçando quando recebi uma mensagem do Flávio dizendo que havia acabado de chegar e iria direto para a delegacia. Respondi apenas com um tudo bem.- Ele poderia pelo menos ter me ligado! – Respirei fundo e desisti de terminar o almoço, eu tinha perdido a fome.Eu estava almoçando sozinha, pois a Lisa e o Rick tiveram uma reunião fora da empresa. Aliás, eu fiquei sozinha a manhã inteira, pois o Rick passou lá em casa e pegou a Lisa para ir para a tal reunião.O resto do dia passou e nem sinal do Flávio. A Lisa ligou para o escritório e disse que o Alessandro mandou que ela e o Rick fossem encontrá-lo na casa dele, pois trabalhariam de lá pelo resto da tarde, ou seja, eu estava completamente sozinha o dia inteiro. Quer dizer, quase sozinha, pois a Margaridinha, funcionária da copa da presidência da empresa, vez ou outra passava pela minha mesa e conversava um pouco comigo. Mais eu tive muito tempo pra criar as caraminholas da minha cabeça.Quando o meu expediente te
“Manuela”Me afastei um pouco, dando espaço para que ela falasse com a filha, e me sentei na cadeira no canto do consultório. Ela fez uma ligação que não foi atendida, fez a segunda e não foi atendida, seus olhos estavam marejados e tristes, então ela fez a terceira ligação.- Oi, querido! Sim, me desculpe, mas eu precisava vir. Não é por isso que liguei. Eu fui atropelada por uma bicicleta... não, estou bem, mas uma moça muito linda me ajudou e insistiu que eu viesse ao hospital, pois eu estava tonta. Sim, de novo. Não, eu estou bem, o médico sugeriu que pode ser uma labirintite. Mas vou fazer alguns exames e o médico pediu para avisar a um familiar. Não, eles não me atenderam, mas meu anjo da guarda está aqui e disse que não vai me deixar sozinha. – Ela sorriu pra mim com gratidão. – Você pode vir? Claro, eu espero você me ligar. No hospital do Molina. Sim eu digo a ela. Outro. – Ela desligou o telefone e suspirou. – Meus filhos não me atenderam, falei com o meu esposo, mas ele está
“Flávio”Eu mandei uma mensagem para a minha baixinha assim que cheguei em Porto Paraíso, mas ela me respondeu de forma lacônica, deveria estar muito chateada comigo, pois geralmente suas mensagens eram muito carinhosas. Eu precisava ligar pra ela, mas já tinha uma mensagem do Bonfim me avisando que a delegacia estava lotada hoje, com muito trabalho, e ele estava se enrolando. Eu havia combinado com ele logo cedo que chegaria até o horário do almoço e ele disse que não tinha pressa, caso a coisa apertasse ele me avisaria, e foi o que fez.Deixei para ligar para a baixinha depois que visse a situação na delegacia e fui direto para lá. Realmente estava caótico! Entre diligências, relatórios e flagrantes, a tarde passou voando. Por volta das cinco da tarde tive um tempinho e tentei falar com a baixinha, mas a ligação caiu direto na caixa postal. Achei estranho, ela era muito atenta ao celular e depois de tudo o que ela passou, o fato de que ela não atendia ao celular me deixou preocupado
“Manuela”A medida que o Flávio caminhava em minha direção eu fui ficando mais nervosa, eu sabia que ele estava nervoso e preocupado, mas ele entrou naquele hospital parecendo um touro bravo, parou em minha frente com as mãos no quadril e estreitou os olhos para mim.Eu não sei se foi o nervosismo ou o que foi que me deu, mas eu tive uma vontade incontrolável de rir e, uma vez que havia começado a rir, não conseguia parar. Eu ri até perder o fôlego e ficar com dor na barriga. O Rick começou a me abanar com a mão, pois eu fiquei sem fôlego, como se isso resolvesse, e a Lisandra estava com a mão na boca tentando disfarçar sua própria vontade de rir. Quanto ao Flávio, ele me olhava como se eu estivesse maluca.Depois de me controlar um pouco, enquanto enxugava as lágrimas de tanto rir do meu rosto com uma mão, com a outra estiquei o meu celular para o Flávio, que o pegou, examinou e bufou.- Sem bateria, baixinha? Sério? Tem idéia do quanto eu fiquei preocupado? – Ele me repreendeu.- Nã
“Flávio”Mas o que estava acontecendo? De repente a minha mãe estava tratando a Manu como se fosse a própria filha. Eu estava achando tudo muito estranho. Não dava para acreditar que de uma hora pra outra, sem motivo ou razão aparente, estava tudo bem, não depois do estardalhaço que eles fizeram. Eles me atormentaram por meses, me fizeram ficar indo e vindo de Campanário por meses, se agarraram com unhas e dentes a tentar me convencer a voltar com a Sabrina, meu pai chegou ao absurdo de procurar a Rita, tudo isso para agora simplesmente minha mãe agir como se nada tivesse acontecido. Não dava para acreditar.Quando as enfermeiras apareceram com uma cadeira de rodas para levar a minha mãe para outro andar eu ainda estava muito surpreso com toda a situação. Foi somente quando a minha mãe se sentou na cadeira que percebi as escoriações nos joelhos e nos braços dela e o seu vestido sujo e rasgado. Ela realmente havia sido atropelada, pois minha mãe jamais estaria desalinhada em público se