A verdade é inescapável: desde o momento em que coloquei os olhos em Isabela, soube que a queria para mim. No entanto, achei que fosse algo passageiro, um desejo fugaz que desapareceria tão rápido quanto surgiu. Acreditei que, se a tivesse, tudo se resolveria, mas também sabia que não poderia tratá-la como mais uma de minhas conquistas. Isabela não era uma mulher qualquer; ela era do tipo que se casa, uma mulher íntegra, profissional e incrivelmente séria.Sempre admirei como ela trabalhava com dedicação e afincava sua atenção em cada detalhe. Tratava-me com respeito e com a distância profissional necessária. Na época, eu estava com Camily. Embora nosso relacionamento fosse mais uma conveniência do que um compromisso real, terminar com ela gerou um grande desconforto para meu pai.Agora, enquanto estou deitado na cama, meus pensamentos estão presos em Isabela. Cada lembrança me domina, revivendo tudo com intensidade.Quando Zein me ligou para dizer que estava saindo com ela, fiquei at
Raed viajou há uma semana, e o palácio parece mais silencioso do que nunca. Os empregados, antes cheios de cochichos, agora estão contidos, até mesmo Tamiris, que sempre foi mais falante, tornou-se cerimoniosa em sua presença. Ainda assim, foi ela quem me contou que Raed estava saindo com uma garota de família respeitada há algum tempo, e que o relacionamento estava caminhando para um noivado.A revelação me deixou perturbada. É muito claro que seu trauma de infância está o levando a assumir meu filho. Mas será que essa decisão superará o amor que ele sente por essa garota? Será que ele está sacrificando algo real por causa de um senso de dever? Essas perguntas ecoam na minha mente sem resposta.Agora, estou escondida atrás de uma pilastra na sala, observando enquanto Camily, a mulher em questão, está lá. Seus olhos negros estão fixos em Tamiris. Meu coração bate descompassado enquanto tento entender tudo.— Raed não está, ele está viajando.— Droga!— Ele está viajando a trabalho.—
No silêncio da noite, vou até a biblioteca e começo a revirar as gavetas, prateleiras. Tudo, procurando meu passaporte. Encontro um maço de notas altas de libras dentro de uma caixa preta. Estremeço. Nunca peguei um centavo de ninguém, mas preciso pensar no meu filho.Respiro fundo e o retiro da caixa. Faço a contagem. A quantia não é pequena. Dá para pagar minha passagem, dá para alugar uma casa modesta, e ainda fazer a compra do mês.Isso é pelos móveis que ele desfez e pelo tempo que trabalhei com o Sheik. Já as roupas, ele me deu. Novas. No dia seguinte, depois que conversamos sobre sua viagem, elas chegaram aos montes: Blusas, saias, Kaftans, vestidos. As servas ficaram meio dia guardando tudo, arrumando no closet. Limpo minha lágrima infeliz por eu ter me metido nessa confusão.Continuo minha inspeção, mas nada do passaporte. Na mesa vejo seu notebook. A curiosidade agita meu coração. Eu o abro. Espero a iniciação e dou de cara com a imagem de fundo de tela: Raed abraçado a gar
—Conversamos? Como conversar com alguém enrijecido no seu conceito de mundo? Que não quer dialogar, apenas mandar e dominar?Raed aperta as mãos.—Por que resolveu fugir? Pensei que estava tudo resolvido entre nós.—Sua namoradinha veio aqui.Raed me estuda e então suaviza sua expressão.—Entendo. Mas, pelo que eu saiba, ela só falou com Hamira.Eu entendi tudo, no mínimo a governanta ligou para ele. —Por isso correu para cá? Preocupado com que ela pudesse fazer?—Não importa o que eu estou fazendo aqui.— Não quero que se sacrifique por mim.—Eu e Camily não temos mais nada.—Pois não parece. Ela ficou chorando, disse que você terminou com ela sem explicações.Raed ofega.—Para te proteger. Por isso eu não disse nada para ela. Fora que a condição do nosso casamento é um tanto diferente.—Raed, deixe-me ir.—Não!Eu me angustio.—Você ainda gosta daquela garota. Como nosso casamento pode sobreviver se iniciando errado?—Você está enganada. Eu me dei conta que não sinto nada por ela.
Houve um breve silêncio do outro lado antes de uma voz feminina dizer com hesitação:— É... Camily... precisamos conversar.Merda!—Acabou Camily.—Raed, como acabou? Até pouco tempo falávamos de nos casarmos. É isso que não entendo.Fungo.—Não entende? Seu pai estava me pressionando, isso sim. Você sabe disso, eu apenas estava aceitando o fato que nosso namoro estava delongando muito e sei que isso é contra nossos costumes.—Então é isso, você não me ama mais?Allah! Eu nunca disse a Camily que a amava. Creio que pelo fato de eu estar com ela, fez com que ela enxergasse assim.—A verdade? Estávamos nos conhecendo, eu nunca expressei esse sentimento. Você sabe disso, nunca te iludi. Mas meus sentimentos não evoluíram a ponto de eu querer me casar, você sabe disso. —Você conheceu alguém, é isso?Praguejo entre dentes. Preciso falar com ela. Meu casamento será falado na mídia. Não posso mais adiar isso.—Vamos fazer o seguinte. Marcar um encontro. Não quero ir a sua casa. Podemos nos
Eu ofego.— Pai, eu vou me casar com ela.Silêncio.Do outro lado da linha, ouço um xingamento abafado antes que meu pai interrompa a ligação sem sequer se despedir. Ele não precisava dizer nada; o peso da sua desaprovação já estava claro como o dia. Respiro fundo, tentando dissipar o aperto no peito, e ergo os olhos para Burak, que está me aguardando com sua expressão calma e inquisitiva.Ao meu redor, o burburinho do restaurante parece distante, como se houvesse uma barreira invisível me isolando do resto do mundo. As vozes misturam-se em um som indistinto, mas nada disso importa. Tudo o que consigo pensar é no peso da história que estou prestes a compartilhar, uma história que até agora guardei apenas para mim.Olho para Burak e, reunindo coragem, começo:— Tudo começou há quatro meses...Minha mente me transporta para aquele dia. O primeiro dia de trabalho de Isabela. Um almoço beneficente organizado pelo meu pai, repleto de figuras importantes. E lá estava ela, ao lado dele, dese
Ela me lançou um olhar arisco, controlado, como se suas palavras estivessem guardadas atrás de um escudo. Não respondeu nada. Apenas acenou de leve, desviou o olhar na direção do meu pai e, com um pedido de licença educado, afastou-se. Fiquei parado por um momento, observando enquanto ela se juntava a ele. Meu pai a aguardava com a postura de sempre — rígida, superior.A segunda vez que a vi foi em uma reunião sobre biotecnologia, onde eu e meu pai participamos juntos. Isabela estava lá, novamente como intérprete. Lembro-me de cada detalhe daquele dia, principalmente do quanto me distrai ao observá-la.Enquanto ela traduzia termos técnicos com sua voz calma e precisa, não consegui evitar. Meus olhos insistiam em deslizar até sua boca, admirando a forma como ela articulava cada palavra. Seus gestos, ainda que sutis, revelavam dedicação e esforço. Quando ela arqueava as sobrancelhas em dúvida e lançava um olhar em minha direção para buscar confirmação, sentia algo indescritível crescer
Depois que soube de sua gravidez, fui tomado por uma avalanche de emoções: amargura, angústia, frustração, tristeza e uma dor quase física que não dava trégua. Mas, em meio a tudo isso, uma coisa era certa no meu coração: eu lutaria pelos direitos de Isabela. Estava pronto para enfrentar meu irmão, Zein, e exigir que ele assumisse sua responsabilidade. Sabia que isso significaria uma briga de proporções épicas, pois ele teria meu pai como aliado em qualquer decisão que tomasse.Já conseguia prever o desenrolar dos eventos: Zein, com o apoio de meu pai, aceitaria assumir a criança, mas tudo não passaria de uma farsa. Eles convenceriam Isabela a viajar para nosso país com a promessa de casamento, apenas para meu pai encontrar uma forma de afastá-lo e confiná-la no palácio até o nascimento do bebê.Nesse mesmo dia, angustiado e decidido, esperei meu pai no hotel. Antes que Zein chegasse, contei-lhe sobre a conversa que tive com Isabela. Relatei a gravidez, o modo como meu irmão a enganou