— Sua mãe me mostrou a carta, perguntou se era possível achar o dono pela escrita ou se teria outra forma melhor para descobrir seu paradeiro. — O garoto continua. — Mas, ela também me deu uma folha com alguns depósitos anuais. Todo ano, um dia antes do que você foi abandonada, alguém fazia um depósito na conta do orfanato. Só isso não me ajudaria, poderia descobrir o nome, mas como saber se era ele? Só perguntando, o que era difícil, já que ele mora em outro estado, distante daqui. — Faz uma pausa, só para mexer no tablet. — Pouco antes de sua mãe ir ao hospital, ela me procurou e disse que seu tempo estava acabando, mas que eu deveria prometer encontrar seus pais e de alguma forma, colocar você em contato com eles, pois mesmo que você dissesse estar feliz, ainda tinha um vazio e só poderia se encontrar, quando fechasse esse tópico de sua vida.— Foi tudo armação? A visita para mapear a casa, a câmera falhando e todo o resto? Eu podia ter sido presa, Downie. Tem noção disso? — Estou,
— Eles me odeiam! — Grito, fazendo com que ambos parem e me olhem assustados. — Eles vão se divorciar e estão me culpando, eu não sabia o motivo, mas agora entendi. O pai da Silvia contou pra ela e ela pro Grandão, agora eles sabem e estão me tratando pior do que uma pessoa desprezível. — Volto a chorar, não sei como ainda tenho lágrimas para isso. — Eles acham que eu sabia, estão achando que armei tudo e convivi todo esse tempo sabendo da verdade. Fazendo todos de trouxa. Eles me desprezam e isso está me machucando.— Eu não sabia que ...— Você não sabia. Como poderia? — Questiono. — Estava tão ocupado em me lançar na cova dos leões que mal se importou com os meus sentimentos e o dos outros. Só pensou em você e em como manteria a promessa. — Começo a cutucar o peito dele com meu dedo indicador. — Por que está me contando? Por quê, Downie? Sua consciência pesou? — Estou quase empurrando o garoto sobre a cama, me jogando em cima e apertando seu pescoço magro.— Eu... — Sam fala, chama
-Isaac Jhonson.Coloco Pietro sentado na cama, o menino que está com a boca inchada e cortada, agora não parece o mesmo que chorava incessantemente quando cheguei à escola. Fiquei levemente desesperado quando vi o estado de sua boca, mas ao passar no consultório do pediatra dele, viu que não foi nada grave. Logo estará melhor, isso me confortou.— Só apronta, campeão. Acho que isso foi armação para ganhar um milkshake. — Brinco, afagando seu cabelo.O garoto usa cuidadosamente o canudo, para não sentir dor. Antes eu era contra chocolate na dieta deles, algo que raramente fazia parte. Hoje eu compro besteira para que comam ou bebam. Não sei se essa influência da Cassandra é algo bom ou ruim, sei que não é muito saudável.Meu celular começa a tocar, busco nos bolsos da calça, mas não encontro, achando no bolso do sobretudo. Fico confuso quando o nome da minha futura esposa aparece na tela, as vezes esqueço daquele celular velho que tem. Será que aconteceu algo?— Alô? — Atendo a chamada
A cena que vejo me faz engolir seco, já encontrei a garota em diversas situações pesadas, mas essa deve ser a que mais aparenta sofrimento. Seu corpo está encolhido no chão do canto do quarto, os braços no chão e a cabeça apoiada neles. Seus olhos encontram os meus, eles estão tão vermelhos e passando uma dor indecifrável. Ela não se mexe, apenas eu que avanço em sua direção.— O que aconteceu? — Me ajoelho ao seu lado, tocando delicadamente seu rosto molhado. — Vai acabar ficando doente. — Ela ainda continua quieta, apenas fecha os olhos e derrama mais lágrimas. — Alguém te machucou? — Procuro por algum sinal de machucado, lembrando do policial que tive de bater para ficar longe da garota. — Pelo amor de Deus, Cassandra. Está me assustando! — Começo a ficar em pânico.— Des-culpa! — Sua voz está fraca demais, demonstrando o quanto chorou.— Não, não. Eu só estou preocupado. — Seguro em seu braço, levantando seu corpo do chão e pegando em meus braços, levando até a cama. — Quer me diz
— A partir do momento que Cassandra aceitou meu pedido de casamento, isso me tornou parte da vida dela. Então, sim. Eu tenho a ver com isso. — O homem parece chocado. — E não venha querer se fazer de coitado para cima de mim, seja homem e assuma seus problemas. As pessoas vivem sendo enganadas, Robert. Não é algo exclusivo seu. — Começo a me exaltar mais ainda. — Quer falar de ser enganado? Vamos lá. Descobri que meu filho de três anos não carrega o mesmo sangue que eu, fui enganado por um bom tempo e mesmo assim, não passei a amá-lo menos, o amor apenas intensificou. Outra, minha ex-namorada me traiu sabe-se lá quantas vezes. Você, por acaso, me viu dando chilique por aí? Então, infelizmente, Bob, eu sei o que é ser enganado e se bobear, sei até mais que você. Procure outra desculpa, pois essa não está colando.— Isaac... — Não deixo que o homem fale.— Está vendo minha camisa molhada? Sabe o que é isso? São lágrimas. Lágrimas que aquela garota derramou até dormir em meu peito, sabe p
-Cassandra Hall.Olho pela janela, firmando o trinco para não abrir devido a chuva forte que caí com raiva lá fora. É surpreendente a maneira que chove sempre que Isaac vai vir aqui, da outra vez foi a mesma coisa. A diferença é que agora ele veio antes da chuva chegar, não ficou ensopado e propenso a uma gripe. Em pensar o tanto de coisa que mudou de lá para cá, é chocante.Me viro, encarando Isaac deitado, com os olhos fechados e fingindo dormir, o homem quer fugir do diálogo que virá. Não posso deixar passar batido sua briga com Grandão, menos ainda as coisas que acabou revelando meio a raiva. — Porta aberta. — Acabo rindo quando escuto a voz de Grandão, bem alta e querendo impedir algo. Ele ainda estava aqui quando a chuva forte começou, ou seja, não deu para ir embora. Isaac, após a confusão, foi para o sofá de maneira dramática e parecia realmente cansado quando nós nos aproximamos. Depois da tensão ir embora, sentamos e conversamos, e tudo pareceu se encaixar. Foi bom. Confes
Três dias depois.Estou prestes a secar minha mão em um pano quando escuto alguém tocar a campainha. Olho para um lado e para outro, desisto do pano e seco na roupa mesmo enquanto ando até a porta. Ao abrir, não me surpreendo com quem é, me surpreendo com o que segura.— Para que isso? — Fico alarmada.— Feliz quatro anos de idade. — Acabo rindo quando Grandão diz, estendendo o urso gigante para mim.— Ele é maior que eu.— O que não é muito difícil, certo?— Sem graça. — Bato em seu peito, e logo dou passagem para que entre.Assim que acordei no dia seguinte à confusão, Isaac já tinha saído para uma reunião de emergência. E depois disso, mesmo ele vindo dormir aqui quase todos os dias, ainda está fugindo da conversa sobre Pietro. Estou dando espaço, pois não quero pressioná-lo, mas creio que conversar sobre isso vai deixar ele bem mais leve.Grandão também já tinha ido, mas não demorou muito. Ele voltou logo em seguida com um copão de café e uma caixinha dos melhores doces da cafeter
Ela me olha, mas permanece em silêncio. Reparo em seu semblante, está bem magra, com olheiras profundas e sua aparência não é das melhores. Parece ter envelhecido cinco anos em menos de duas semanas.— Posso entrar? — Pergunta quando vê que não falarei nada. — Serei rápida.— Claro, claro. — Abro passagem para ela. — Pode sentar. — Indico o sofá maior, pois o pequeno está praticamente todo ocupado pelo meu novo amigo de pelúcia.Os meninos vão amar esse urso. Não me casei ainda, e muito menos me tornei mãe oficial deles, mas parece que já me sinto uma mãe, qualquer coisa que ganho ou até quando saio, sempre penso neles primeiro. Que eles iriam adorar, ou que vão adorar quando ver. Apesar de tudo, não acho uma situação incômoda, até gosto. Não é diferente do cuidado e proteção que adquiri por eles quando era babá.— Quer um suco? Água? Chá? Café? — Estou nervosa, isso é nítido.— Não, quero apenas conversar. — Diz se sentando no sofá grande, e mesmo querendo fugir para preparar algo, f