Ela me olha, mas permanece em silêncio. Reparo em seu semblante, está bem magra, com olheiras profundas e sua aparência não é das melhores. Parece ter envelhecido cinco anos em menos de duas semanas.— Posso entrar? — Pergunta quando vê que não falarei nada. — Serei rápida.— Claro, claro. — Abro passagem para ela. — Pode sentar. — Indico o sofá maior, pois o pequeno está praticamente todo ocupado pelo meu novo amigo de pelúcia.Os meninos vão amar esse urso. Não me casei ainda, e muito menos me tornei mãe oficial deles, mas parece que já me sinto uma mãe, qualquer coisa que ganho ou até quando saio, sempre penso neles primeiro. Que eles iriam adorar, ou que vão adorar quando ver. Apesar de tudo, não acho uma situação incômoda, até gosto. Não é diferente do cuidado e proteção que adquiri por eles quando era babá.— Quer um suco? Água? Chá? Café? — Estou nervosa, isso é nítido.— Não, quero apenas conversar. — Diz se sentando no sofá grande, e mesmo querendo fugir para preparar algo, f
Levo o cachorro pro quarto, deixo a porta fechada e vou até a cozinha. Coloco um pote com água para ele, e levo ao quarto. Volto para a cozinha e pego um copo com água, para dar a Silvia quando conseguir se acalmar por completo.— Sinto muito. — Silvia agora está abraçando com força Grandão, que parece mais aliviado do que minutos atrás. — Não queria mentir. — Fico mais tranquila por ela voltar a falar certamente, mesmo que ainda tenha um pouco de dificuldade pelo som que produz ao puxar o ar. — Quis te poupar do sofrimento que eu carregava.— Calma, está tudo bem agora. — O homem diz afagando suas costas. — Só respira.Me sento no sofá, ainda segurando o copo e esperando que a cena à minha frente se normalize. Mais alguns minutos são necessários para que Silvia consiga se recompor, e beber a água que peguei. Agora, estamos nós três sentados e olhando para a mulher, com medo de ter outra crise. Ela respira fundo, passa a mão na linha abaixo dos olhos e nos encara novamente.— Me perdo
-Quinze dias depois.Tudo está se ajeitando, e estou tão feliz que mal posso expressar em palavras. Grandão ainda não voltou de viagem, então, a conversa que teria com Silvia foi adiada, mas creio que vão se resolver quando ele voltar. Mesmo longe, ele está cumprindo com sua palavra de me presentear durante todos os dias, como se fosse meu aniversário. Isaac está sendo o intermediário dele, e estou adorando o homem tendo que me dar feliz aniversário sempre. No dia em que, supostamente, eu faria oito anos, foi quando Isaac mais me perturbou. Disse que finalmente estava fazendo a idade que condizia com meu jeito de ser. Grandão pediu para que me entregasse um patins, felizmente era o número que eu calçava e não menor. Aparentemente, uma pessoa de oito anos pode calçar trinta e quatro, fiquei chocada com isso. O ruim é que o patins era totalmente rosa com a Barbie estampada, e Isaac fez questão de me levar a uma pista para treinar. Acho que mesmo sendo um dos dias mais felizes que tive,
Tento não me desesperar, isso não me ajudaria em nada, só me meteria em maus lençóis. Preciso ficar calma e arrumar um jeito de sair, pois se isso não acontecer. Tenho certeza que Mattos vai conseguir me dominar e conseguir o que sempre quis, mas, enquanto eu puder, evitarei ao máximo.O cômodo está totalmente vazio, não tem nada além do colchão que antes estava. Mordo os lábios, enquanto tento pensar em um meio de fugir, mas acabo gemendo de dor. Aquele idiota abriu um corte em meu lábio. Toco o local e faço careta, minha vontade é de matá-lo. Como ele pôde fazer isso comigo? Pensei que apesar de tudo, gostava de mim.Tomara que Isaac estranhe minha demora e vá me procurar, só ele é inteligente o bastante para me encontrar. Bom, ele está bem ocupado agora lidando com Genevieve, talvez nem lembre de mim.Ando pelo local, chego próximo a janela e tento abrir, mas está trancada com cadeados. Ela é de alumínio, tem a parte que abre e fecha para cima e para baixo, do mesmo material, nessa
-Isaac Jhonson. Desligo o telefone e olho em direção a porta. Não estou tão preocupado com o que Genevieve quer comigo, estou mais preocupado em saber o motivo que levou Cassandra a ir falar com o ex, não faz sentido nenhum. O que será que ele quer? Não gosto dele, mesmo sem conhecê-lo, vi uma vez quando estava indo para a casa dela e sua expressão fechada me fez odiá-lo sem nem conversar. Todo o meu conflito de pensamentos desaparece no momento em que Genevieve entra em meu escritório segurando um bebê conforto. Ok, isso sim não faz sentido nenhum. — Não tem como esse bebê ser meu. — É a primeira coisa que falo. Como irei explicar para Cassandra que acabou de aparecer um bebê em nossas vidas. — Isaac, precisamos conversar. — Seu tom de voz me assusta. — Tem cinco meses que nos separamos, não tem co… — Paro de falar ao fazer as contas mentalmente. Infelizmente, tem sim. Aponto para a cadeira, para que se sente. Tento olhar o bebê, mas está tudo fechado. Me sento para esperar pel
-Cassandra Hall.Ainda estou correndo de olhos fechados para acertar ao homem, mas, tudo acontece rápido demais e devido ao grito que ouço, abro os olhos rapidamente.— Isaac, cuidado. — Arregalo os olhos quando o homem se vira após o grito de Grandão.Estou tão rápido que não consigo parar, e só tem duas opções, ou bato nele ou caio no chão para findar meu ataque. Decido a segunda opção, e desvio dele, indo em direção a parede. Solto a barra de ferro e fecho os olhos, para não ver minha queda desastrosa.Mas isso não acontece, apenas sinto duas mãos agarrando com força minha cintura e me puxando para seu corpo. Solto o ar aliviada. E já viro logo abraçando a pessoa.— Você veio. — Choramingo sentindo o cheiro de Isaac acalmar todo o meu corpo trêmulo.— Claro que vim, mas parece que você já estava se virando bem sozinha. — Acabo sorrindo com sua fala. — Quase que saio daqui com um galo enorme na cabeça. — Me afasto e olho para ele, acabo olhando pro lado assim que ouço a sirene da po
Tivemos de ir até a delegacia prestar queixa, logo após tive de ir ao hospital para fazer alguns exames para anexar ao caso. Por sorte, a única coisa que machuquei foi o rosto e a mão, nada de tão grave. Agora, estamos chegando à casa de Isaac e me sinto mais calma. Antes estava uma pilha de nervos, quando vi Mattos acordado só piorou, tive de tomar calmante para ficar mais tranquila. Ainda sinto seu efeito sobre mim, me trazendo uma paz absurda. Sei que estou dopada, mas prefiro assim.— Como assim um bebê? De carne e osso? — Pergunto ainda tentando assimilar sua fala. Ele assente. — E é sua filha?— Ela disse que sim, mas não tive tempo de dialogar mais. — Encolhe os ombros. — Só tinha você na minha cabeça e onde você estava, por sorte tinha um investigador atrás dele e me informou a tempo. Se eu tivesse chegado um pouco mais tarde…— Eu teria matado ele. — Minha fala escorrega por meus lábios sem nem um remorso.— Exatamente, e por isso me sinto grato por chegar antes. Não sei se s
-Quatro anos depois.Estou exausta, e não sei o motivo. Dormi tanto essa noite, acordei tarde e ainda assim, estou cansada. Andrew está em uma colônia de férias, Pietro está viajando com os avós, só a pequena Hope que está conosco e ela é tão quietinha, não é arteira como os irmãos. O melhor de tudo, é que ela me acompanha em meus dias de preguiça.— Mamãe, quero dormir mais. — A pequena resmunga manhosa e joga a perna para cima de mim. Ela está com quatro anos, mas vive fugindo para nosso quarto pela noite. Somos agarradas até, mas quando Isaac chega, parece que eu não existo.— Tudo bem, dorme mais um pouco. — Beijo seu rosto e me sento, ela vira de lado enquanto assente.Fico de pé, mas sinto o mundo girar e preciso me segurar na cabeceira da cama para não cair. Faço careta e espero um pouco antes de tentar andar novamente. Não preciso nem esperar a visão ficar boa, pois logo uma quentura sobe pelo meu pescoço e preciso correr pro banheiro.Vomito tudo o que ainda não comi, por aco