— Você é Isabela! — Poliana arregalou os olhos, e neles, antes sem vida, finalmente surgiu uma oscilação de emoções.Entre as meninas que a intimidaram naquela época, algumas tinham a mesma idade de Fernanda, enquanto a maioria era um ou dois anos, talvez dois ou três anos, mais nova. Algumas ainda estavam no ensino médio. Isabela era uma dessas garotas que cursavam o último ano do colégio.Mais tarde, quando Fernanda se tornou famosa no mundo do entretenimento, as notícias sobre suas assistentes e empresárias começaram a aparecer com frequência na internet. Foi assim que Poliana descobriu que algumas daquelas meninas que participaram das maldades com ela ainda estavam ao lado de Fernanda.Isabela, com um sorriso nos lábios, continuou a se aproximar.— Poliana, você ainda se lembra de mim?Nesse momento, o funcionário do balcão anunciou que o atendimento estava pronto. Poliana se virou rapidamente para pegar os papéis, e logo deu alguns passos adiante, parando bem em frente a Isabela.
Era exatamente isso que Poliana queria. Aproveitando que toda a atenção de Isabela estava concentrada na mão que lutava para se soltar, Poliana usou a outra mão para dar um tapa poderoso no rosto de Isabela.O som do tapa ecoou pelo saguão, tão nítido e alto.Não apenas as pessoas pararam, mas até os funcionários que estavam sentados junto às janelas ouviram o barulho. Eles se levantaram das cadeiras para dar uma olhada rápida para fora.Mas foi apenas um olhar.Logo, todos voltaram às suas tarefas.Isabela levou a mão ao rosto, olhando ao redor para as pessoas que não demonstravam nenhum interesse em assistir à cena. Ela estava atônita.Os olhos de Poliana estavam sombrios, assustadoramente sombrios, como se carregassem traços de uma intenção assassina. Ela deu mais um passo à frente e agarrou a gola da camisa de Isabela com força.— Você não entende por que ninguém pegou o celular para filmar a gente?Ela estava no guichê de pagamento do setor de emergência.— Isabela, você, que já s
Mesmo que antes o coração de Poliana tivesse sido perfurado por milhares de agulhas, ainda batia com força, sustentando algo que ela não conseguia entender.Mas naquele momento, ela sentiu como se o fundo de sua alma tivesse se transformado em um edifício prestes a desmoronar, e as palavras de Isabela foram o golpe final, fazendo tudo ruir em uma pilha de escombros.Ao mesmo tempo, Poliana percebeu o que estava sustentando todo aquele tempo.Era o carinho extremo que Gustavo tinha por ela no passado.Era o amor que ela sentia por Gustavo ao longo desses anos.Era o carinho com que ele acariciou a palma de sua mão naquela tarde, dizendo que, se ela se comportasse, eles viveriam bem juntos.Era a impossibilidade de deixar para trás os momentos de cumplicidade com Gustavo, mesmo após ter visto o relatório da consulta pré-natal de Fernanda, ainda alimentando a mínima esperança de que, talvez, aquele relatório fosse falso.Talvez, como Marcelo suspeitava, Gustavo tivesse um outro motivo par
A última vez que Poliana falou durante o sono não foi um caso isolado.Desde que adoeceu, dos trezentos e sessenta e cinco dias do ano, em trezentos deles ela sonhava todas as noites. Sempre que seu estado emocional estava muito abalado, bastava adormecer, mesmo durante uma viagem no carro, para começar a sonhar. E se sua mente estivesse muito agitada antes de dormir, era muito provável que falasse enquanto sonhava.Nesses dois anos, embora Gustavo não tivesse voltado, Bárbara ocasionalmente vinha fazer-lhe companhia. Bárbara disse que, das dez vezes em que estiveram juntas, Poliana falou durante o sono em cinco delas. Ela tinha tanto medo de dizer algo inapropriado enquanto sonhava que, nos últimos dois anos, raramente passava a noite na casa de sua avó.Desta vez, carregando tantas emoções, Poliana desmaiou, e cenas diversas se entrelaçaram e colidiram em sua mente. Sonhos reais, exagerados, absurdos... De todos os tipos, passaram incessantemente por sua cabeça.Até que seu corpo pe
Os dois olharam em direção à porta.Bárbara entrou carregando uma sacola. Sua amiga, sempre elegante e bem-arrumada, estava surpreendentemente diferente naquele dia: sem maquiagem, vestindo um conjunto esportivo cinza-claro e usando um boné, com o cabelo evidentemente sem cuidados.Poliana, intrigada com o visual desleixado de Bárbara, mal teve tempo de pensar antes que Bárbara se dirigisse a ela:— Se soubesse, teria demorado mais meia hora para comprar. Assim, você também poderia tomar uma.Ela se aproximou e tirou uma bebida da sacola, entregando ela a Vic, enquanto pegava outra para si.Foi então que Poliana perguntou:— Bárbara, você também está aqui?Bárbara deu um gole na bebida, ocupando a boca, e Marcelo respondeu por ela:— Ontem, logo depois que cheguei, a Babi ligou para você, e eu atendi. Ontem à noite, foi a Babi quem ficou aqui cuidando de você.Poliana mordeu os lábios, olhando para Bárbara com os olhos úmidos.Como não se emocionar?Bárbara sorriu, se sentando ao lado
Nesse momento, Marcelo e Bárbara olharam para ela novamente, mas o olhar deles havia mudado. Estava cheio de uma profunda compaixão e pena que não conseguia se dissipar.Ninguém perguntou a Poliana como ela desmaiou no dia anterior, mas talvez eles já tivessem adivinhado. Contudo, Poliana não gostava que os outros a olhassem daquela forma. Ela soltou uma leve risada:— Tio Marcelo, Bárbara, por que vocês estão me olhando assim?Bárbara suspirou e, de sua bolsa, pegou o celular de Poliana, entregando ele a ela. No entanto, o celular estava desligado.Bárbara disse:— O Gustavo te ligou ontem às oito horas. Eu não atendi, e quando ele parou de ligar, eu desliguei o seu celular. Ontem à tarde, depois que você me mandou aquela mensagem no WhatsApp, você não deu mais notícias. Fiquei preocupada, então decidi te ligar. Mas quem atendeu foi o Presidente Matos, por isso vim ao hospital. E agora, o que você está pensando?Essas palavras trouxeram à tona as lembranças da noite anterior para Poli
Antes, Vic ainda chamava Gustavo de "Gugu", o que mostrava que, no fundo, ela ainda nutria uma pequena esperança de que Gustavo não fosse capaz de cometer tais atos.No entanto, agora ela apertava os punhos em silêncio, profundamente decepcionado com Gustavo.Poliana mantinha os lábios firmemente cerrados, o olhar perdido e vazio, fixo em algum ponto à frente. Parecia que, naquela parede fria e branca, ela conseguia ver a si mesma de oito anos atrás, desesperada e impotente, caída no chão, encarando rostos distorcidos pela excitação da violência.Como Poliana não parecia disposta a falar, Vic olhou para Bárbara em busca de orientação. Bárbara, por sua vez, pegou a mão de Vic e a levou para fora do quarto.Quando ficaram sozinhos, apenas Marcelo e Poliana no quarto, o homem ao lado da cama sentiu seu pomo-de-adão mexer.Poliana, embora ainda mais abatida do que antes, continuava a ser uma mulher extremamente bela. Seus olhos, que costumavam brilhar com tanta intensidade, agora estavam
— Mas, se há algo que essa situação pode realmente afetar, é a imagem e a reputação do Gugu. Quem estaria disposto a gastar tanto dinheiro para prejudicar a imagem dele? Qual seria o propósito por trás disso? — Marcelo refletiu em voz alta.Os olhos de Poliana vacilaram por um momento. Ela não conseguia pensar em ninguém que tivesse essa motivação... Pelo menos, não naquele instante.Enquanto isso, no luxuoso quarto de hospital de Fernanda, no Hospital Privado K, Gustavo estava sentado no sofá. Com as pernas afastadas, o corpo ligeiramente inclinado para a frente e a cabeça baixa, ele emanava uma aura gélida e intimidante, tão fria quanto gelo.Na mão esquerda, ele segurava o celular, tentando ligar para o número que Marcelo havia lhe enviado. Com a mão direita, pressionava com força um cigarro pela metade no cinzeiro. O cinzeiro já estava cheio de pontas de cigarro.Fernanda, com os olhos vermelhos de tanto chorar, estava ajoelhada do outro lado da mesa, parecendo extremamente submiss