Ela disse isso não por ciúmes. Durante os dois anos em que Gustavo não voltou ao país nem entrou em contato com ela, Poliana muitas vezes se pegava imaginando se ele não teria formado uma nova família no exterior. Esses pensamentos a atormentavam a ponto de deixá-la profundamente ansiosa, e ela só conseguia encontrar alívio recorrendo a medicamentos.Depois de um ano de tortura emocional, ela começou a se tornar insensível à situação, até a ponto de imaginar que ele pudesse estar com várias outras mulheres sem sentir tanta dor. Mas agora, o que ela não conseguia aceitar era o fato de que a mulher envolvida era justamente Fernanda, a pessoa que a havia atormentado.Bullying era algo que, uma vez experimentado, deixava cicatrizes permanentes na mente e no corpo. As marcas físicas em seu corpo não desapareceram completamente, mesmo após tratamentos estéticos. E as feridas emocionais eram ainda mais profundas; sempre que ela via uma notícia ou vídeo sobre bullying, revivia o terror daqu
Inesperado, ele ainda estava jogando.Poliana se lembrou da vez em que ele a questionou sobre o quanto uma pessoa poderia mudar em quatro anos.Seu coração bateu com força novamente. Ela engoliu a comida, colocou os talheres de lado e fixou o olhar diretamente em Gustavo.De repente, sentiu um impulso.Ela queria lhe fazer uma pergunta. Se a resposta dele fosse igual ao que Bárbara e Marcelo haviam suposto, ela decidiria viver bem com ele.No entanto, enquanto se preparava emocionalmente e organizava suas palavras, o celular de Gustavo vibrou.Os dedos dele hesitaram por um instante, seu semblante ficou rígido e ele assumiu uma expressão extremamente séria.O som do jogo cessou e seus dedos começaram a tocar rapidamente a tela. Era evidente que ele estava respondendo a uma mensagem.As palavras que estavam prestes a sair da boca de Poliana foram engolidas.Ela terminou de comer e olhou novamente para Gustavo, que ainda estava enviando mensagens.Poliana não havia descansado bem antes e
— Tudo bem, vou voltar imediatamente!Ela estava muito preocupada, e após desligar o telefone, não chamou a enfermeira, retirando sozinha a agulha do soro da mão.Uma hora depois, ela bateu à porta da casa da avó.Quem abriu foi o mesmo senhor idoso que estava conversando com a avó na última vez.Antes mesmo que Poliana pudesse entrar, o idoso já falou:— Poli, ligue para uma ambulância e leve sua avó ao hospital! Se eu não tivesse que buscar meu neto na escola, eu mesmo teria chamado!Ela agradeceu rapidamente ao senhor e pegou o celular para fazer a ligação.Depois de organizar tudo, ela correu para o quarto da avó. A idosa estava deitada na cama, com uma expressão de dor no rosto, deixando claro que a queda foi séria.O idoso contou a ela que, depois de escorregar, a avó deslizou por vários degraus. Por sorte, um homem passou e a amparou a tempo, caso contrário, ela poderia ter rolado escada abaixo.O corpo de uma pessoa idosa não suportava quedas; apenas essas escorregadas já machu
O corpo dela também começou a reagir de forma evidente. Suas mãos estavam ainda mais frias do que quando soube que sua avó havia sofrido um acidente, e seu coração parecia ter se transformado em uma pedra dura e gélida, fazendo com que o ar em seu peito ficasse preso na garganta.A confusão e o choque em sua mente eram tão intensos que pareciam afetar seus nervos ópticos, e a visão diante de seus olhos começou a escurecer lentamente.Depois de muito tempo...Quando ela finalmente sentiu que seu coração voltava a bater de maneira regular, as cores começaram a retornar à sua visão. Ela respirou fundo, se deixando cair pesadamente na cama.A tela do celular havia escurecido. Suas mãos tremiam levemente, e ela engoliu em seco, pressionando o botão para iluminar a tela novamente. Foi então que o som surgiu.Ela tirou um print do conteúdo daquela mensagem.Fez uma respiração profunda, salvando a foto em seguida.Rapidamente, ela saiu do aplicativo de mensagens e abriu o WhatsApp. Encontrou a
— Você é Isabela! — Poliana arregalou os olhos, e neles, antes sem vida, finalmente surgiu uma oscilação de emoções.Entre as meninas que a intimidaram naquela época, algumas tinham a mesma idade de Fernanda, enquanto a maioria era um ou dois anos, talvez dois ou três anos, mais nova. Algumas ainda estavam no ensino médio. Isabela era uma dessas garotas que cursavam o último ano do colégio.Mais tarde, quando Fernanda se tornou famosa no mundo do entretenimento, as notícias sobre suas assistentes e empresárias começaram a aparecer com frequência na internet. Foi assim que Poliana descobriu que algumas daquelas meninas que participaram das maldades com ela ainda estavam ao lado de Fernanda.Isabela, com um sorriso nos lábios, continuou a se aproximar.— Poliana, você ainda se lembra de mim?Nesse momento, o funcionário do balcão anunciou que o atendimento estava pronto. Poliana se virou rapidamente para pegar os papéis, e logo deu alguns passos adiante, parando bem em frente a Isabela.
Era exatamente isso que Poliana queria. Aproveitando que toda a atenção de Isabela estava concentrada na mão que lutava para se soltar, Poliana usou a outra mão para dar um tapa poderoso no rosto de Isabela.O som do tapa ecoou pelo saguão, tão nítido e alto.Não apenas as pessoas pararam, mas até os funcionários que estavam sentados junto às janelas ouviram o barulho. Eles se levantaram das cadeiras para dar uma olhada rápida para fora.Mas foi apenas um olhar.Logo, todos voltaram às suas tarefas.Isabela levou a mão ao rosto, olhando ao redor para as pessoas que não demonstravam nenhum interesse em assistir à cena. Ela estava atônita.Os olhos de Poliana estavam sombrios, assustadoramente sombrios, como se carregassem traços de uma intenção assassina. Ela deu mais um passo à frente e agarrou a gola da camisa de Isabela com força.— Você não entende por que ninguém pegou o celular para filmar a gente?Ela estava no guichê de pagamento do setor de emergência.— Isabela, você, que já s
Mesmo que antes o coração de Poliana tivesse sido perfurado por milhares de agulhas, ainda batia com força, sustentando algo que ela não conseguia entender.Mas naquele momento, ela sentiu como se o fundo de sua alma tivesse se transformado em um edifício prestes a desmoronar, e as palavras de Isabela foram o golpe final, fazendo tudo ruir em uma pilha de escombros.Ao mesmo tempo, Poliana percebeu o que estava sustentando todo aquele tempo.Era o carinho extremo que Gustavo tinha por ela no passado.Era o amor que ela sentia por Gustavo ao longo desses anos.Era o carinho com que ele acariciou a palma de sua mão naquela tarde, dizendo que, se ela se comportasse, eles viveriam bem juntos.Era a impossibilidade de deixar para trás os momentos de cumplicidade com Gustavo, mesmo após ter visto o relatório da consulta pré-natal de Fernanda, ainda alimentando a mínima esperança de que, talvez, aquele relatório fosse falso.Talvez, como Marcelo suspeitava, Gustavo tivesse um outro motivo par
A última vez que Poliana falou durante o sono não foi um caso isolado.Desde que adoeceu, dos trezentos e sessenta e cinco dias do ano, em trezentos deles ela sonhava todas as noites. Sempre que seu estado emocional estava muito abalado, bastava adormecer, mesmo durante uma viagem no carro, para começar a sonhar. E se sua mente estivesse muito agitada antes de dormir, era muito provável que falasse enquanto sonhava.Nesses dois anos, embora Gustavo não tivesse voltado, Bárbara ocasionalmente vinha fazer-lhe companhia. Bárbara disse que, das dez vezes em que estiveram juntas, Poliana falou durante o sono em cinco delas. Ela tinha tanto medo de dizer algo inapropriado enquanto sonhava que, nos últimos dois anos, raramente passava a noite na casa de sua avó.Desta vez, carregando tantas emoções, Poliana desmaiou, e cenas diversas se entrelaçaram e colidiram em sua mente. Sonhos reais, exagerados, absurdos... De todos os tipos, passaram incessantemente por sua cabeça.Até que seu corpo pe