Mesmo que Poliana não o tivesse contatado naquela noite, Edmar sabia que, para garantir que Gustavo descansasse adequadamente enquanto se recuperava, ele deveria tomar a iniciativa de entrar em contato com Poliana em segredo, e depois dizer ao Gustavo que foi ela quem o procurou.— Hmm. — Gustavo respondeu, e então continuou a levantar o prato.Foi então que, para sua surpresa, o próprio prato começou a falar. Era como se estivesse usando um efeito especial de vídeo, e do nada, dois grandes olhos e uma boca apareceram no prato, que agora o encaravam.Um dos pratos disse:— Sua esposa nem vem te ver, e você ainda tem coragem de comer?O outro prato concordou:— Deixe ele comer. Ele pensa que ignorar a Poliana é uma vitória, mas nem percebe que, enquanto isso, a Poliana deve estar se divertindo com o Guilherme. A Poliana nem deve se lembrar dele!Gustavo, irritado, jogou o prato no chão.Edmar se assustou, interrompendo o que estava fazendo e soltando as pernas que tinha cruzado.— O que
Ao dizer essas palavras, Poliana ainda demonstrava um pesar evidente, uma tristeza que transbordava de sua voz. Afinal, ninguém desejava ver uma amizade profunda se transformar em um simples desconhecimento. Mas também havia uma dor aguda e corrosiva em seu peito. Se não fosse pelo acidente de quatro anos atrás, ela e Gustavo teriam se casado como planejado e testemunhado juntos o nascimento de seu filho. Se tivesse encontrado a felicidade, talvez a depressão que foi diagnosticada naquela época tivesse sido curada antes mesmo de aparecer, dissolvida pela alegria de sua vida. Sua mãe, ao vê-la feliz, certamente estaria radiante. Quem sabe, talvez ainda estivesse viva, ajudando ela agora a buscar o filho na escola infantil. Pensar em tudo isso era insuportável. Poliana não conseguiu se conter. Levantou as mãos e apoiou a testa nelas, chorando de forma descontrolada. Cada lágrima que escorria pelo seu rosto era carregada de um arrependimento que não conseguia colocar em palavra
— O Gustavo realmente está te procurando, o que eu digo? Poliana pensou por um momento. — Diz que você também não consegue me encontrar. — Poli, você realmente pretende esconder que está sendo punida pelas regras da família dele? Acho que, se o Gustavo souber disso, talvez desista de querer o divórcio. Na verdade, acho que ele ainda sente algo por você. Se ele não se importasse, por que estaria te procurando? Poliana deu um sorriso amargo. — Deve estar com medo de que eu e o Guilherme tenhamos algo... Afinal, ainda não nos divorciamos. Enquanto as duas conversavam, Marcelo saiu do quarto. Ao vê-lo, Poliana disse: — Tio, estou fazendo uma videochamada com a Babi. Marcelo se aproximou e cumprimentou Bárbara. — Babi, você está viajando? Bárbara, ao ver Marcelo, ficou claramente nervosa por um instante. — Sim. Poli, falamos depois, minha conexão está ruim... Rapidamente, ela encerrou a videochamada. Ela não podia deixar o Marcelo saber onde estava. Afinal, ele c
Com o conforto que Marcelo lhe oferecia, Poliana respirou fundo e finalmente abriu a boca: — Gustavo, eu fiz uma cirurgia, estou com quatro cortes no abdômen. Você realmente acha que, nessa condição, eu poderia ter qualquer coisa com outro homem? Houve uma breve hesitação do outro lado da linha antes de Gustavo explodir: — Eu não pensei isso! Marcelo, percebendo o tom agressivo, imediatamente se irritou e o repreendeu: — Fale com mais calma! Não precisa transformar cada ligação em uma briga! O silêncio de Gustavo pairou por alguns instantes. Poliana, com os olhos brilhando de determinação, continuou: — Gustavo, se não fosse pelo tio, que não quis te esconder isso, eu jamais teria atendido esta ligação. Você vive desconfiando de mim com os seus amigos, e agora eu também estou começando a desconfiar de você com as minhas! — O que você está insinuando? Poliana encarou Marcelo por um momento antes de falar seriamente ao telefone: — Eu nunca mandei a Wanessa te visitar
Sob uma tensão extrema, Poliana queria desligar o telefone, mas Marcelo segurou sua mão, impedindo ela de agir por impulso. Logo, ouviram Gustavo dizer: — Quando você chegou? No quarto de Gustavo, Wanessa entrou, piscando seus grandes olhos. — Acabei de chegar. Quando me aproximei da porta, ouvi você falando com a Poli. Você estava mesmo ligando para a Poli? Gustavo respondeu: — Eu coloquei no viva-voz. Os olhos de Wanessa se arregalaram ainda mais enquanto ela caminhava diretamente até ele. — Poli, por que você sumiu de repente? Fiquei tão preocupada! Achei que o Gustavo saberia de algo e vim até aqui para perguntar. Poliana não respondeu. Instintivamente, voltou seu olhar de dependência para Marcelo. Marcelo pegou seu tablet e sua caneta, abriu um novo quadro no software de desenho que ela ainda tinha aberto, e escreveu rapidamente uma palavra: [Encerre]. Poliana entendeu na hora. Marcelo estava sugerindo que ela encerrasse tudo com Wanessa de uma vez por toda
Ela era como um riacho morno e acolhedor. Naqueles quatro anos, mesmo enfrentando dificuldades ao seu lado enquanto trabalhavam fora, cada sorriso e cada palavra dela traziam uma nova e revigorante brisa de primavera ao mundo interior dele. Uma pessoa como ela temia profundamente que falassem mal dela sem motivo. Por isso, jamais dizia algo desagradável para alguém, a menos que a outra pessoa ultrapassasse seus limites. Muito tempo depois, Wanessa olhou para Gustavo, e lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. — Poli, o que você quer dizer com isso? Está me expulsando? Poliana respondeu friamente: — Você pode interpretar assim. Se acha que fui longe demais, espero que, pelo menos, considere nossos vinte e dois anos de amizade para me perdoar. Afinal, só cometi esse erro uma vez. E no passado, você me disse muitas coisas cruéis. Mesmo assim, porque te considerava minha amiga, escolhi te perdoar. De repente, Wanessa começou a chorar de forma tão lastimável na frente de Gu
Wanessa jamais imaginou que, no meio da conversa entre Gustavo e Poliana, ele também fosse tão direto ao traçar uma linha tão clara entre eles. Seus olhos se arregalaram, e algo dentro dela pareceu se estilhaçar de forma abrupta. As lágrimas caíam de forma incontrolável, mas, naquele momento, sua expressão de dor parecia ainda mais genuína do que antes. — Gustavo... Ela queria dizer que foi ela quem chamou a ambulância que o salvou. Mas se conteve a tempo. Como ela ousaria mencionar isso? Poliana não sabia desse detalhe. E se ela revelasse, e Poliana expusesse a verdade? Isso equivaleria a admitir para Gustavo que seus sentimentos por ele iam além do que deveria. Gustavo, observando o rosto entristecido de Wanessa, fechou os olhos com uma frieza crescente. Não havia sequer um traço de remorso em sua expressão; na verdade, ele se virou diretamente para Edmar e ordenou: — Leve-a embora. Edmar imediatamente se levantou e se posicionou diante de Wanessa. — Srta. Wanessa
Poliana sentiu como se sua alma tivesse sido profundamente abalada quando Gustavo abaixou a cabeça. Quando finalmente voltou a si, seu coração estava completamente desordenado. Há quanto tempo não ouvia aquilo? Quatro anos. Quatro anos sem escutar Gustavo dizer que sentia sua falta daquela forma. Lágrimas se acumularam em seus olhos, girando na beira das pálpebras, hesitantes em cair. Ela olhou novamente para Marcelo. Havia algo em seu olhar que era ao mesmo tempo complexo e profundamente comovente. Era evidente que Poliana queria ver Gustavo, mas estava presa em suas próprias preocupações, incapaz de aceitar com facilidade. Ela estava afundada em uma dor que parecia inescapável. Marcelo, ao observá-la, sentiu seus próprios olhos se encherem de emoção. Metade do que sentia era uma pungente compaixão. Ele parecia compreender ainda mais claramente o peso que Poliana carregava, o peso que a levou à depressão. Sua mente era ocupada demais, sempre tentando considerar tudo com pe