Naqueles breves momentos anteriores, uma foto, uma conversa entre Marcelo e ela, e as lembranças que reviveu, provocaram uma mudança profunda no coração de Poliana em relação a Wanessa. A expressão de Wanessa estava como sempre, mas ao ver Marcelo, ela demonstrou uma leve surpresa. — Presidente Matos? Marcelo a cumprimentou com um leve aceno de cabeça, de maneira elegante e serena. Após alguns segundos de reação, Poliana finalmente revelou, em seu rosto, a expressão amigável de sempre que costumava dedicar a Wanessa. — Wane, como você está aqui de novo? Wanessa lançou um olhar rápido para Marcelo, enquanto se aproximava de Poliana e dizia: — Eu percebi que a Vic não vai ficar com você hoje à noite, e você está sozinha no quarto. E se acontecer alguma emergência? Então, resolvi vir. Ao terminar de falar, ela se sentou ao lado de Poliana. Wanessa usava novamente um casaco de comprimento médio, e ao se sentar, movimentou a saia, fazendo um leve vento passar. Instantane
Mas agora, ela podia afirmar com certeza que Wanessa estava mentindo, e mentia de forma extremamente habilidosa. As palavras de Wanessa, aquelas que ela disse, eram todas verdadeiras. Um amigo estava com problemas de saúde e foi ao médico, o que se referia ao Gustavo. E foi ao bar com alguns amigos, o que claramente era sobre Guilherme. Afinal, Gustavo e Guilherme, no mês passado, ainda tinham uma boa relação. E esse tipo de mentira era uma reconfiguração de algo real, uma reordenação dos fatos que os fazia parecer confusos e distorcidos, conduzindo os outros ao erro. Aqueles que eram bons nesse tipo de mentira não mostravam nenhum sinal de insegurança ou de culpa, pois se autossugeriam que o que estavam dizendo era a mais pura verdade. — Você é incrível. — Poliana respondeu. — Eu também gostaria que você viesse, queria conversar com você. Você nem imagina como meu dia está péssimo. Ao ouvir isso, os olhos de Wanessa brilharam ligeiramente, e ela logo demonstrou um semblante preo
— Wane, minha mãe e meu filho faleceram. Agora, eu realmente estou muito curiosa... Será que existe vida após a morte? Se existir, seria bom, assim meu filho poderia me contar quem foi que impediu o seu nascimento.Na calada da noite, Poliana disse isso com uma voz calma, quase como se estivesse conversando sobre algo trivial, seu rosto levemente sorridente, mas com uma aura de loucura encantadora que causava certa pressão no ambiente. Wanessa, visivelmente tensa, encolheu os ombros. Poliana não conseguia distinguir se era por culpa, ou se ela realmente estava com medo das palavras que acabava de ouvir.Poliana inclinou a cabeça para o lado, com um olhar inquisitivo.— Wane, você tem medo? Se tiver, pode ir para o hotel dormir, eu fico aqui sozinha.Wanessa parou por um instante, sua expressão desconcertada, os fios de cabelo levemente desordenados pela tensão, e suas sobrancelhas se uniram em uma linha reta.— Esses sonhos são comuns quando o corpo está fraco. Quando você sair do hos
Que momento mais delicado.Se Marcelo não estivesse ali naquela noite, aqueles dez ou vinte minutos seriam mais que suficientes para Guilherme tirar suas roupas e se aproximar dela de forma íntima.Wanessa certamente estava ali para flagrá-los.E, ao lembrar da foto que Edmar havia enviado, ela conseguiu sorrir para Gustavo; era evidente que os dois haviam conversado muito bem.Se Wanessa tivesse tirado uma foto de Poliana com Guilherme e enviado para Gustavo...Isso confirmaria que ela estava tendo um contato íntimo com outro homem. Mesmo que não fosse algo que ela tivesse desejado, ainda assim seria considerado uma traição ao casamento.Nesse caso, mesmo que ela não quisesse se divorciar, se o Gustavo entrasse com um pedido de divórcio, ele teria as provas de seu adultério, as fotos, e o processo seria imediato.Por causa disso, ela não conseguia dormir.Tinha medo de adormecer e que Wanessa chamasse Guilherme de volta enquanto ela estivesse inconsciente.Mas também não podia pedir p
— Eu, eu... — Wanessa estava tão assustada que sua respiração estava ofegante. — Poli, acho que você está realmente muito doente. Acho melhor eu ir embora agora e amanhã trago um psicólogo para te ajudar, tudo bem? Poliana enxugou as lágrimas com um gesto rápido. — Está bem, eu também quero conversar com um médico... — Hm! Alguns minutos depois, o único som que preenchia o quarto era a música de fundo arrepiante do filme de terror na televisão. Poliana havia apagado todas as lágrimas do rosto. Seu semblante, que antes estava cheio de tristeza e frustração, se transformou rapidamente em uma expressão fria e vazia. No entanto, não havia nem um pouco de prazer por ter conseguido afastar Wanessa. Não era algo que a deixasse feliz, mas sim triste. Ela sabia que poderia facilmente fazer Wanessa ir embora porque, após todos esses anos, ela a conhecia como ninguém mais. O que Wanessa dizia ou fazia poderia ser difícil de julgar, se era genuíno ou não, mas as coisas das quais Wa
Marcelo concordou com a cabeça.— Essa ideia está certa. Vamos sair hoje à noite mesmo....Às duas da manhã, Poliana havia concluído todos os trâmites da transferência para o novo hospital. Enquanto isso, no maior centro de diversão de Bellafoz, o mesmo lugar onde Guilherme havia organizado a festa para Gustavo, o Nolem, a noite seguia. No mesmo camarote de antes, Guilherme estava completamente embriagado, deitado no sofá, com Wanessa sentada ao seu lado.— Sr. Guilherme, você foi ver a Poli hoje à noite? Guilherme nem ao menos olhou para ela.— Vai embora. Considere isso como se eu tivesse cometido uma grande idiotice.— Não, Guilherme, a Poli tem uma personalidade muito fraca... — Não é isso. — Guilherme se virou no sofá. — Não é isso, Wanessa. Eu só pensei na Poliana porque eu gosto dela, mas se você olhar sob o seu ponto de vista, o que aconteceu entre nós dois foi, para ela, uma traição dentro do casamento. Você não tem medo de que sua amiga seja odiada por todo mundo?— Ser
E esse estilo de pintura, ele já havia visto antes.Enquanto se perdia em pensamentos, Poliana o percebeu.— Tio, você chegou agora? — Ela olhou para ele com um sorriso suave no rosto, parecendo bastante contente. Seu belo rosto iluminado contrastava um pouco com a pintura que estava fazendo.— Acabei de chegar, vi que você estava tão concentrada na pintura que não quis interromper. — Enquanto falava, Marcelo pegou o celular. — Poli, eu achei que sua pintura está incrível, posso tirar uma foto para mostrar para a Vic?— Claro! Marcelo fotografou a obra dela e, em seguida, disse:— Continue pintando, vou cuidar de umas coisas.Ele então foi para o quarto, fechando a porta com cuidado. Pegou o celular e fez alguns toques na tela antes de fazer uma ligação.— Igor, acabei de te enviar uma foto de uma pintura, dá uma olhada e me diz se ela tem a mesma sensação daquela que a menina com depressão da turma da Vic fez.— Ok, vou ver.Marcelo se sentou e esperou pacientemente. Após cerca de de
A primeira vez que ele conheceu Poliana não foi no dia em que ela e Gustavo se casaram, após o registro do casamento e a festa. Foi no dia da cirurgia de transplante de coração de Sérgio. ...Aquele foi um dia que decidia a vida ou a morte de Sérgio. Se o transplante fosse bem-sucedido, ele sobreviveria; se não, ele partiria para sempre. Muitas pessoas estavam presentes, todas figuras de destaque em suas respectivas áreas. Cada uma delas vestia trajes formais negros, com semblantes sérios e uma calma impressionante. Mesmo quando perceberam que Gustavo, o único filho de Sérgio, não estava lá para apoiar o pai na hora mais crítica, ninguém ousou comentar.Quando a cirurgia começou, o corredor ficou imensamente silencioso, como se o próprio ar tivesse se comprimido. Somente depois de mais de uma hora, uma enfermeira saiu da sala de operação e se aproximou de Vânia, dizendo que o procedimento estava indo bem. Foi então que, de repente, um choro audível quebrou o silêncio mortal. Ele