Desde o início, Guilherme estava em desvantagem, e agora ele não conseguia mais se defender. Quando percebeu que quem o estava espancando era Marcelo, ele não ousou reagir. Apenas repetia, com a voz trêmula:— Eu errei, senhor, por favor, não me bata mais.Mas Marcelo não cessava os golpes. Foi só quando as enfermeiras chegaram correndo que ele finalmente parou.Uma das enfermeiras acendeu a luz, e Marcelo rapidamente foi até Poliana, enquanto Guilherme, caído no chão, provavelmente com vergonha, levantou a mão para cobrir o rosto.Embora Poliana tivesse visto Marcelo lutar por ela, o medo em seu peito não se acalmou imediatamente. Ela ainda estava em choque. Tinha acabado de adormecer tranquilamente, quando, de repente, um homem surgiu para tentar abusar dela. Aquilo era mais aterrorizante do que encontrar um fantasma no meio da noite.As enfermeiras perceberam o medo nos olhos dela e, ao verem a desordem no colarinho de sua blusa, logo entenderam o que havia acontecido. Uma del
Guilherme evitou seu olhar. Na verdade, ele também estava um pouco curioso sobre o motivo de Marcelo estar ali, mas não ousou perguntar. Se levantou e, com um ar desanimado, saiu.Quando Marcelo voltou ao quarto, a enfermeira já havia saído. Poliana ainda estava apavorada, com as mãos firmemente agarradas ao cobertor, e seus olhos fechados tremiam levemente pelas longas pestanas.— Poli.Ele disse, com uma voz suave. Poliana, porém, ainda se assustou e deu um pequeno sobressalto.Ao abrir os olhos, ela moveu os lábios, mas sua voz estava fraca.— Ele foi embora?— Hum.Marcelo se aproximou dela e notou que, apesar do curativo sobre o dorso de sua mão esquerda, o sangue ainda vazava por baixo do band-aid. Um sentimento de dor por Poliana aumentou dentro dele.A jovem mulher não havia feito nada de errado, mas, por ter sido alvo de um homem, suas dificuldades não paravam de crescer. Seus ferimentos aumentavam cada vez mais.Ele não sabia o que poderia dizer a ela, afinal, ele também era
Logo, uma ideia lhe ocorreu.Se Poliana pudesse ser sua secretária, ficaria o tempo todo ao seu lado durante o trabalho, e, depois do expediente, ele poderia dizer que a Vic queria brincar com ela e pedir para que ficasse em sua casa.Esse pensamento surgiu de repente, mas logo se viu preso em um dilema.Era uma solução que ele realmente gostava.Mas, ao mesmo tempo, era a opção mais inadequada.Se ele fizesse de Poliana sua secretária e a deixasse morar em sua casa, o que os outros pensariam? Nem sequer considerando a opinião alheia, ele já ajudou Poliana muitas vezes, e até mesmo Sérgio achava que ele estava ajudando Poliana por causa da amizade entre eles. Porém, se ele sugerisse que Poliana fosse sua secretária, Sérgio certamente começaria a desconfiar dele.E, se essa ideia não fosse viável, o que mais poderia fazer? Enquanto estava imerso nesses pensamentos, Poliana quebrou o silêncio, interrompendo sua linha de raciocínio.— Tio, como o senhor chegou tão rápido?Antes, Poliana
O que Wanessa dizia nas palavras dela era claro: ela queria que ela se divorciasse. E, mais ainda, nas entrelinhas, Poliana conseguia perceber o quanto Wanessa não acreditava em Gustavo. Mas, mesmo assim, com aquela foto, Wanessa parecia tão alegre diante de Gustavo. Era uma contradição... uma divisão desconcertante. O incômodo não parava de crescer dentro dela. Que sensação isso lembrava? Talvez como alguém que, ao voltar a uma casa em que não mora há muito tempo, encontra o lugar bem limpo e a decoração luxuosa, mas mesmo assim, algo em sua mente lhe diz que está desconfortável, que o ambiente está... Errado. Poliana olhou mais uma vez para a hora da mensagem, que havia sido enviada há pouco mais de uma hora. Não, isso não estava certo. Realmente não fazia sentido. Wanessa tinha encontrado Gustavo há pouco mais de uma hora. Isso significava que, no máximo, há pouco mais de uma hora, Wanessa já sabia onde Gustavo estava internado. Como ela soube? Gustavo lhe co
Poliana soltou uma respiração ligeiramente trêmula e concordou com um suspiro: — Hmm. Marcelo foi até a outra cama e se sentou, conectando o carregador. — A natureza humana é muito complexa. Pensar demais sobre isso, cansa. Que tal mudarmos de assunto e vermos algo mais leve? Poliana olhou para ele por um instante e sorriu levemente. — Tá bom. No entanto, quando pegou o celular, ela não conseguia se concentrar em nada. Sua mente estava completamente tomada pelas imagens de quatro anos atrás. A fatídica manhã daquele dia. Do momento em que acordou até a chegada repentina de Gustavo, não havia se passado nem meia hora. Naquela manhã, nem mesmo o horário de retorno do Gustavo, após sua viagem de negócios, havia sido respeitado. Ele havia voltado antes. Na época, Poliana pensou que fosse apenas uma coincidência. Naquele momento, ela já começava a sofrer com dores abdominais intensas, dores que afetavam profundamente o raciocínio de uma pessoa. Além disso, Gustavo tamb
Ela imediatamente retrucou:— A Wanessa é minha amiga, ela e o Gustavo mal se consideram amigos, mas você gosta de mim!Adílson não disse mais nenhuma palavra....Poliana, ao relembrar esse momento, abriu os olhos, fixando-os no vazio do teto, respirando rapidamente, alternando a respiração em intervalos curtos.Naquele ano, no quinto dia após sua cirurgia e internação, foi Wanessa quem finalmente a visitou.Primeiro, ela lhe contou, com um semblante melancólico, que seu pai estava providenciando para sua mãe um novo cemitério, um mais digno, e que ela seria enviada para estudar no exterior, para viver com o pai em uma cidade vizinha. Isso significava que elas provavelmente não se veriam com frequência dali em diante.Depois, Wanessa lhe disse que soube, por rumores, que Gustavo estava em um clube, bebendo.Foi também por Wanessa ter lhe contado onde ele estava, que Poliana, sem se importar com sua recuperação ainda instável, correu atrás de Gustavo, o que fez com que sua saúde pioras
Embora o som de sua respiração fosse baixo, o silêncio da enfermaria era absoluto, e Marcelo a ouviu. Mal se deitou, ele se sentou novamente: — Poli, você não está se sentindo bem? — Não. — Poliana se virou, e olhou novamente para aquele homem que sabia tanto. — Tio, eu estava pensando sobre o caso daquela internauta, e me coloquei no lugar dela... Será que realmente existe alguém que trairia um amigo de mais de vinte anos? Marcelo manteve a expressão serena. — Não só existe, mas é algo bem comum. Eu também já passei por isso. Na penumbra, Poliana pôde ver seus olhos se arregalando. — Sério? — Sim. — Marcelo respondeu. — Quando fundei a Materis Tecnologias, iniciei com um time de amigos da faculdade, um deles era um grande amigo do ensino médio. Mesmo que não tivéssemos estudado juntos na faculdade, todos fazíamos engenharia de software. Quando comecei o meu projeto, o convidei para se juntar. Depois de conseguirmos um pouco de sucesso, uma empresa de tecnologia quis co
Naqueles breves momentos anteriores, uma foto, uma conversa entre Marcelo e ela, e as lembranças que reviveu, provocaram uma mudança profunda no coração de Poliana em relação a Wanessa. A expressão de Wanessa estava como sempre, mas ao ver Marcelo, ela demonstrou uma leve surpresa. — Presidente Matos? Marcelo a cumprimentou com um leve aceno de cabeça, de maneira elegante e serena. Após alguns segundos de reação, Poliana finalmente revelou, em seu rosto, a expressão amigável de sempre que costumava dedicar a Wanessa. — Wane, como você está aqui de novo? Wanessa lançou um olhar rápido para Marcelo, enquanto se aproximava de Poliana e dizia: — Eu percebi que a Vic não vai ficar com você hoje à noite, e você está sozinha no quarto. E se acontecer alguma emergência? Então, resolvi vir. Ao terminar de falar, ela se sentou ao lado de Poliana. Wanessa usava novamente um casaco de comprimento médio, e ao se sentar, movimentou a saia, fazendo um leve vento passar. Instantane