— Eu sei que não é a mesma coisa. — Começo a me explicar. — Mas eu cansei, Isabella. Cansei de todo mundo querendo comparar, como se eu não tivesse o direito de sofrer. Cansei de fingir que não estava sentindo nada só pra não interferir no seu sofrimento.
— Eu… não sabia — ela diz, sem força.
— Não sabia, mas desde que voltou pra minha vida já jogou isso na minha cara algumas vezes, como se eu estivesse em dívida com você, como se eu não pudesse reclamar de nada porque você perdeu tudo. Até quando você vai usar isso?
— Você tá certo, isso não é uma competição. Mas precisa entender que talvez tenha sofrido a minha
Acordei várias vezes no meio da noite. Na primeira, achei que fosse infartar com a mudança de cenário, levou um tempo até entender que eu estava no quarto de Dante. Ele não estava ali e o silêncio me perturbou. Talvez mais do que sua presença teria me perturbado.Entre os cochilos inquietos e a insônia, pensei muito, em tudo. E odiei que, quanto mais eu pensava, mais Dante parecia ter razão.Meu pai nunca conseguiu explicar ou provar nenhuma fraude naquela fusão. E odiei cada segundo em que tentei me convencer de que talvez ele não tivesse mesmo o que provar. Ele não é esse tipo de homem, mas também nunca foi o tipo que desiste da vida e da família. Se Dante estiver certo, pode ser que a depressão tenha começado antes, e no desespero de recuperar
— Eu juro que to tentando não ser tão reativa — Bella diz, limpando casualmente a mesa que ela já limpou outras sete vezes ao longo do dia. — Mas não tem a menor condição de você trabalhar o dia inteiro aqui, Dante.— A internet é um pouco lenta, mas tá dando certo por enquanto — digo sem tirar os olhos da tela do meu notebook.— Não por isso, você entendeu o que eu quis dizer. Eu prometo que vou ser mais… — Bella demora até encontrar a palavra certa. — Fácil. Vou deixar você cuidar de mim, mas não como se fosse uma babá.Finalmente, ergo os olhos para encará-la. Seus braços estão firmes ao redor de um cardápio, em uma das m&at
Tento não mostrar meu nervosismo, e preciso admitir que Dante está fazendo um ótimo trabalho em tornar o momento mais acolhedor, mas a situação não deixa de ser assustadora.Ele tira a pizza do forno com um sorriso orgulhoso.— Não queimou dessa vezMordo um sorriso com uma pontada de arrependimento, lembrando da noite que vim para seu apartamento ouvir sua proposta absurda.Bem, de que adiantou eu lutar tanto contra se nesse exato momento estamos planejando nosso noivado?— Você tem certeza de que está pronta para lidar com meu avô? — Dante pergunta enquanto separa uma fatia generosa para mim.— Não diria pronta, mas acho que se fosse esperar por isso a gente não casaria, então m
Todo dia eu agradeço a covardia de Bella.Percebo sempre que ela hesita quando estou me preparando para dormir, e fico aliviado quando ela não me convida para deitar no quarto com ela. Sei que não vou aguentar muito tempo nesse ritmo e eventualmente vamos precisar fazer isso. Mas, no momento, eu sei que não tenho forças para recusar o convite. E se não tenho forças nem para dizer não, quem dirá dormir a noite toda ao lado dela.É melhor assim, até a gente se habituar à presença um do outro.Ela me convenceu a ir trabalhar sozinha e dessa vez aceitei porque colocar alguma distância entre nós é exatamente o que preciso.Além disso, a ideia de adiantar o cas
Da primeira vez que vim aqui o lugar parecia mais aconchegante. Agora me sinto um pouco claustrofóbica, presa em um labirinto de corredores e portas— Seu pai ainda está muito instável, Isabella. — O enfermeiro responsável pelo acompanhamento do meu pai, Daniel, explica enquanto me conduz pelo caminho. — Ele pode ter momentos de lucidez, mas qualquer coisa que gere estresse ou ansiedade pode desencadear uma crise.— Você diria que não é um bom momento pra tirar ele da clínica, pelo menos por uma noite?— Depende, se for para alguma atividade relaxante em ambiente controlado, poderia ser benéfico.Solto um gemido contigo de frustração. Se tem algo que posso garantir s
O controle vibra nas minhas mãos quando tomo um gol, mas minha atenção não está mais na tela. O som da chave girando na fechadura me faz pausar a partida e, antes mesmo de Bella entrar, já sei que tem algo errado.Acho que algumas coisas nunca mudam, por mais que a gente mude. Toda a intimidade que desenvolvemos anos atrás não pode ser simplesmente apagada ou modificada. Parte dela ainda pulsa e guia meus instintos.Ela fecha a porta devagar, parece nem perceber que estou ali. Noto seus ombros tensos, a respiração pesada e espero ela virar só para confirmar que seu rosto está vermelho e inchado.Largo o controle na mesa e atravesso a sala em poucos passos.— Ei, Bella?
Dante perambula pelo quarto, ajustando o ar condicionado e os travesseiros. Meu corpo inteiro parece pinicar porque não quero que ele saia daqui. Ou mais especificamente, não quero ficar sozinha agora e ele é a única pessoa que pode me fazer companhia.— Você… — tento dizer, mas minha voz falha e tenho que pigarrear. — Vai voltar pra sala, pra jogar?Ele me encara sem entender onde quero chegar.— Vou deixar o volume baixinho, prometo.— Será que posso dormir na sala hoje? Depois que sair do banho…— Não — ele diz sem hesitar. Firme.As palmas das minhas mãos suam e meu e
Mordo o lábio inferior com mais força, me controlando muito para não gemer o nome de Bella.Deitar ao seu lado, depois de tanto tempo, acabou despertando algumas memórias que eu preferia que ficassem enterradas. Especialmente quando estou tanto tempo sem transar. Claro que esse era o propósito desse plano para agradar meu avô, mas agora começo a sentir os efeitos na pele.Não é justo desejá-la assim, ainda mais depois do que acabou de acontecer, ela estava chorando até um tempo atrás. Mas ela ainda tem aquele jeitinho dengoso e olhos de cachorrinho que caiu da mudança, do jeito que sempre usou pra me manipular.Porra, como era bom ser manipulado assim.Quantas vezes ela dormiu no so