CAPÍTULO 1 — AUDREEN GONÇÁLEZ — A DESPEDIDA DE SOLTEIRA.

Estou sentada no jardim, o sol começa a se pôr e a brisa suave balança as folhas das árvores ao nosso redor. Minha melhor amiga, Carmen, está ao meu lado, seus olhos brilhando de preocupação enquanto desabafo sobre o pesadelo que se torna minha vida. O jardim parece um refúgio de paz neste momento. As flores exalam um perfume suave e os pássaros cantam suas melodias vespertinas. Sinto uma conexão profunda com a natureza ao meu redor e, por um instante, todos os meus problemas parecem menores. Respiro fundo, colhendo um pouco de paz que ainda tenho, antes de tudo mudar amanhã e nova vida começar, me despedindo deste lugar, da minha casa.

Nós duas ficamos em silêncio, apreciando a serenidade do entardecer. O mundo continua a girar, mas neste pequeno canto do jardim, tudo está em perfeita harmonia.

— Não posso acreditar que se casará amanhã. Sabíamos que uma hora isso poderia acontecer, mas não tão cedo e tão rápido, Audreen — diz Carmen, segurando minha mão. — Um casamento arranjado com um homem que você mal conhece, e ainda por cima, um velho!

Suspirei, sentindo o peso da situação esmagar meu peito.

Não sabemos se é um velho, mas pelo jeito que ele fala sobre o cara, é o que parece.

— Eu sei, Carmen. Ele acha que está fazendo o melhor para mim, mas não consigo imaginar minha vida ao lado desse tal homem. Não entregarei minha virgindade para esse tal inglês, nem pensar. — Carmen aperta a minha mão com mais força, seu olhar determinado.

— Você não precisa fazer nada contra sua vontade, Audreen. Precisamos encontrar uma maneira de você sair dessa. Talvez possamos falar com sua mãe ou algum parente que possa te ajudar. — Balanço a cabeça, tentando manter a compostura.

— Minha mãe está tão submissa quanto ele. Ela não vai me ajudar. Preciso encontrar uma solução por conta própria. — Não poderei fugir, meu pai é um Capucha. Ele prefere matar a própria filha do que ser um líder mafioso que não consegue colocar ordem em sua própria casa.

Carmen me puxa para um abraço, suas palavras sussurradas em meu ouvido como um bálsamo para minha alma aflita.

— Sinto muito Audreen, fico sonhando com uma vida diferente da nossa, com pais que não tenham o dever de lealdade e honra com a máfia, onde não somos obrigadas a ter nosso casamento arranjado por eles, sem podermos fazer nada.

— Tenho um plano. — digo baixo para a minha melhor amiga — E você irá me ajudar. Não posso fugir desse casamento, mas meu esposo terá uma surpresa na nossa noite de núpcias.

— O que você irá fazer? Audreen… — ela se afasta e me olha desconfiada.

— Meu pai prometeu a ele uma virgem, mas não será isso que ele terá. Não entregarei minha virgindade para um velho asqueroso. — ela me encara em choque — Isso ele não poderá tirar de mim.

— E o que pensa em fazer? — me pergunta.

— Primeiro faremos a minha despedida de solteira. — pisco para ela.

— Mas seu casamento é amanhã a tarde! — exclama.

— Que bom que ainda temos o hoje — me levanto, adentrando a minha casa, com ela vindo ao meu encalço.

Mas isso não é a única coisa na qual eu estive pensando, tenho um plano em mente de como livrar desse casamento. Estive a refletir sobre isso ao longo da semana. Não tem como falhar, mas se acontecer, tenho um plano B. No entanto, ninguém deve saber sobre isso, nem mesmo a minha melhor amiga, todos devem acreditar, e só assim poderei me ver livre desse casamento.

Sempre quis me casar por amor, com alguém da minha escolha e nunca imaginei que a minha despedida de solteira seria assim, tão de última hora e tão carregada de intenções ocultas. Encontro sentada no meu quarto, encarando a mala que ainda nem comecei a fazer, quando Carmem entra, toda animada.

— Audreen, já está na hora! Temos que nos arrumar para a sua despedida! — diz ela, com um brilho nos olhos que só ela consegue ter.

— Você sabe que eu não quero me casar, né? — eu a lembro, suspirando profundamente. Carmem se aproxima e segura as minhas mãos.

— Eu sei, amiga, e é por isso que vamos fazer esta noite inesquecível. Quem sabe você não encontra uma maneira de escapar dessa vida que te espera em Nova York? — É, queria que suas palavras se concretizasse e as coisas fossem tão fáceis assim.

Com esse plano em mente, ligamos para mais algumas amigas e nos encontramos no bar mais badalado da cidade. O bar se encontra cheio, a música alta e as luzes piscando em um ritmo frenético. Olho ao redor, sentindo uma pontada de nostalgia por estar em minha terra natal, México, sabendo que logo estarei partindo para Nova York com um homem que eu mal conheço e que lidera a máfia nova-iorquina. Se fosse em outras circunstâncias até estaria animada em conhecer umas das cidades mais famosas, dos Estados Unidos.

— Vamos brindar à liberdade! — grita Carmem, levantando seu copo de tequila. Todas nós nos juntamos a ela, brindando e rindo, mas, no fundo, meu coração está pesado.

“Eu preciso colocar o meu plano em prática”, penso, enquanto sinto o sabor forte da bebida descer pela minha garganta. Avisto o meu alvo do outro lado do bar, com os seus amigos, sorrindo, vou me aproximando deles.

— Olá, rapazes! — me faço presente ao chegar até eles. Meu alvo se vira para mim, ele é ainda mais lindo de perto. Com os meus olhos focados apenas nele, seus amigos saem de perto, nos deixando sozinhos. — Não vai me oferecer uma bebida? Ele sorri, um sorriso que parece iluminar todo o ambiente ao redor.

— Claro, o que você gostaria de beber? — ele pergunta, sua voz suave e convidativa.

— Uma cerveja está bom para mim — respondo, tentando manter a calma enquanto meu coração b**e acelerado no peito.

Ele faz um sinal para o barman e logo duas cervejas geladas aparecem à nossa frente. Pegamos nossas bebidas e nos dirigimos a um canto mais tranquilo do bar.

— Então, estava se divertindo? — ele pergunta, seus olhos brilhando de curiosidade. Fico feliz que ele não tenha feito igual aos outros ao perguntar meu nome. Não preciso que ele saiba o meu nome e descobra que sou a princesinha da máfia mexicana. E isso evita dele me dizer o seu nome, não precisamos saber os nomes um do outro para que ele me leve para cama, sabendo que essa noite será a única noite que nos veremos.

— Ainda não — respondo com um sorriso. —, mas espero que o cavaleiro possa me ajudar nisso. — pisco para e ele e ele me dá outro do seu sorriso charmoso e consigo ver a covinha em suas bochechas.

Conversamos por alguns minutos, antes de me convidar para dançar, na qual eu aceito rindo. A batida da música é lenta e dançamos com nossos corpos colados um no outro, sua mão grande e com aperto firme em minha cintura. Balançamos ao ritmo da música nos deixando nos levar. Sinto seus lábios tocarem a curva do meu pescoço, espalhando arrepios pela minha pele, fecho os meus olhos e deixo me levar pelo momento. A melodia nos envolve como um manto invisível, e cada nota parece sincronizar com as batidas dos nossos corações. A pista de dança se torna um universo paralelo onde só existimos nós dois, flutuando em um mar de sensações. Seus braços me envolvem com firmeza e carinho, e eu posso sentir a segurança e a ternura em cada toque.

A música muda suavemente para uma balada lenta, e nossos movimentos se tornam mais suaves e íntimos. As luzes ao nosso redor parecem cintilar em um ritmo próprio, criando um ambiente mágico. Sou virada para ficar de frente para ele e abro os olhos por um instante, mas não é mais o cara que chamei para dançar comigo. Ele tem os cabelos castanhos claros, usa ternos caros e bem alinhados. A pele é branca como a neve. Seus olhos são pequenos e azuis-acinzentados. Vejo o brilho nos seus olhos, refletindo a intensidade do momento que compartilhamos. A barba é curta e bem aparada. Ele é ainda mais lindo do que o cara interior.

Cada segundo parece eternizar-se enquanto dançamos juntos, desenhando uma coreografia única e irrepetível. A conexão entre nós é palpável, quase como se nossos corpos e almas conversassem em uma linguagem secreta, compreendida apenas por nós dois. O mundo exterior desaparece, e tudo o que importa é essa dança, esse momento, e a promessa de uma noite inesquecível e agitada, em uma cama em meios aos lençóis bagunçados.

Sinto o calor de suas mãos na minha cintura, e a forma como ele me guia com tanta suavidade me faz esquecer de tudo ao redor. A música parece ter sido feita só para nós, cada nota ressoando em nossos corações, tornando cada passo mais significativo.

Ele se inclina ligeiramente e sussurra algo no meu ouvido, mas suas palavras são abafadas pela melodia e pelo meu próprio batimento cardíaco acelerado. No entanto, não preciso ouvir para entender; o brilho em seus olhos e o sorriso suave em seus lábios dizem tudo.

A noite avança, e a música muda novamente, mas continuamos dançando, como se estivéssemos em nosso próprio mundo, onde o tempo não existe. O salão ao nosso redor se enche de outras pessoas, mas nenhuma delas parece importar. Estamos apenas nós dois, perdidos em um momento de pura magia e conexão.

Quando a última nota da música finalmente ecoa, ele me puxa para mais perto, nossos rostos a centímetros de distância. Sinto sua respiração quente contra minha pele, e por um instante, o mundo inteiro parece prender a respiração. E então, ele me beija, e tudo ao nosso redor se dissolve em uma explosão de sensações, cores e emoções. É um beijo que promete muito mais do que palavras jamais poderiam, mas precisarei dele, apenas por essa noite. Por essa noite o deixarei tomar de mim tudo o que ele quiser. Está noite serei dele.

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