Quando Matias completou 15 anos, descobriu que seu pai havia saído de casa e nunca mais voltaria. Sua mãe encontrou um bilhete deixado por ele no escritório e, ao começar a ler, deixou cair o vaso de flores que segurava, levando Lorenzo a correr até ela para descobrir o que havia acontecido. Monalisa não esperava aquela traição de seu marido, pois ele sempre se mostrou um homem comprometido e responsável, embora distante. Matias aproximou-se da mãe, tentando entender o que estava acontecendo, e viu-a desabar no chão, soluçando. Ela repetia a palavra “não!” incessantemente. Lorenzo chorava ao lado dela, enquanto Matias observava tudo sem demonstrar qualquer reação. Ele se questionava por que não conseguia sentir nada, assim como sua mãe e seu irmão. Talvez fosse pela falta de proximidade com seu pai, que vivia praticamente ausente de casa, ou talvez fosse um choque, mas o problema era que Matias não tinha nenhum sentimento para expressar.
Alguns dias depois, descobriram que Marco havia sido morto, mas não sabiam por quem nem o motivo de sua morte. Aquilo intrigou ainda mais Monalisa, que já estava perplexa com a situação. O velório foi realizado em casa e, mesmo com todos consternados pelo ocorrido, Matias permanecia indiferente, sem demonstrar qualquer reação. Enquanto todos choravam e se entristeciam, ele permanecia em um canto da sala, observando todos com um olhar frio e penetrante, o que deixava Monalisa temerosa em relação ao seu filho. Ela o chamou para se aproximar, tentando entender o que estava acontecendo, pois estava ficando cada vez mais preocupada. Matias aproximou-se, mas mesmo ao ver sua mãe em um estado deplorável, não sentia compaixão alguma. Lorenzo, ao lado da mãe o tempo todo, abraçou Matias e chorou em seu ombro. Matias sentia-se totalmente desconfortável com aquela situação. A nostalgia do enterro estava o deixando agoniado.
— Matias, meu filho, o que está acontecendo com você? Por que você está aí parado, sem chorar, sem fazer nada? Estou ficando preocupada com você, meu querido. Será que você não tem coração? Você não vê o que aconteceu com seu pai? Ele é seu pai, Matias! — Monalisa bateu no peito de Matias com as duas mãos, protestando.
— Mamãe, eu não entendo por que a senhora está assim. Papai sempre foi um homem frio e quase nunca estava em casa. Ele nunca se importou conosco, se estávamos bem ou não, se estávamos doentes ou não. Por que agora eu deveria fingir uma dor falsa? A senhora me conhece muito bem e sabe que não sou capaz disso.
— Mas filho, por favor, você tem que estar ao meu lado. Você é meu filho mais velho, é você quem ficará no lugar do seu pai nesta família. Eu preciso do seu apoio neste momento de grande dor que estou sentindo, mas você não está sendo útil. Você está aí parado, quieto em um canto, como sempre fez. Parece que você me ignora, como se eu não existisse para você. — Monalisa lamentou.
— Mamãe, por favor, vamos parar de ser hipócritas. Deixo isso para o meu irmão. A senhora sabe muito bem que ele sempre foi o filho favorito. Que seja ele a ampará-la. Eu estou fora dessas falsidades. Não tenho vontade de ficar aqui fingindo algo que não sou. Estou indo embora. Quando tudo isso acabar, eu volto. Não tenho paciência para ficar aqui.
Matias decidiu sair para tomar um pouco de ar, pois não aguentava mais presenciar o lamento constante que tomava conta de sua casa. Aquilo era uma tortura para ele. No dia seguinte, ocorreu o enterro. Apesar de saber que seu pai havia lhe dado a vida, Matias considerava-o desprezível e nunca se importara verdadeiramente com ele. Por que, então, Matias deveria se importar? Aquilo não fazia sentido para ele. Ele tentou vasculhar suas memórias em busca de algum momento entre ele e seu pai, mas não conseguia lembrar de nada significativo, já que não havia tido demonstrações de afeto por parte dele. No entanto, Matias sabia que, lá, no fundo, de seu coração, ele amava o pai. Quando estava distante, apoiado em um pilar do cemitério, ao perceber que nunca mais veria seu pai novamente, uma única lágrima escorreu por seu rosto, e Matias sorriu. Era a primeira demonstração genuína de sentimento que experimentava em toda a sua vida, algo completamente inédito para ele.
Lorenzo Toscano era o irmão mais novo de Matias. Ele sempre achou a família difícil. O pai estava sempre ausente, e a mãe dele tinha que segurar todas as pontas da casa. Por isso, Lorenzo acredita que ela sempre foi mais dura com seu irmão, que sempre foi uma pessoa reservada. Embora Lorenzo tentasse de todas as formas interagir com ele, Matias sempre arranjava um jeito de se livrar dele. Lorenzo compreendia que Matias gostava de estar sozinho, mas desejava que os dois se tornassem melhores amigos, além dos laços de sangue.
Lorenzo sentia que Matias o amava, pois já o vira defendê-lo na escola algumas vezes. Apesar de ser impulsivo, Matias agia sem pensar nas consequências, o que deixava Monalisa furiosa. Ela era chamada na escola quase diariamente por causa de Matias. Desde o incidente no banheiro, Monalisa usava Lorenzo como exemplo, dizendo na cara de Matias que ele era o filho perfeito, o único que lhe dava orgulho. Lorenzo considerava essa atitude equivocada, pois percebia que isso apenas afastava Matias ainda mais dele.
Quando Lorenzo tinha 13 anos, recebeu a notícia da morte de seu pai. Enquanto ele e Monalisa sofriam muito, Lorenzo percebeu que Matias não chorou. Lorenzo viu o quanto sua mãe ficou com raiva de Matias, acusando-o de não ter consideração por ninguém. Mesmo assim, Lorenzo acreditava ter visto um breve momento de tristeza nos olhos de Matias. Porém, essa emoção desapareceu rapidamente. Matias sempre foi uma pessoa fria aos olhos de Lorenzo. Durante o enterro de seu pai, quando a terra já estava sendo jogada sobre o caixão, Lorenzo olhou para Matias e viu uma única lágrima escorrer em seu rosto. Esse momento aqueceu o coração de Lorenzo, pois confirmou que, apesar de não demonstrar sentimentos, Matias tinha sim um coração, diferente do que sua mãe dizia.
Nos meses seguintes, Matias se afastou cada vez mais de seu irmão e de todos ao seu redor. Por mais que Lorenzo tentasse se aproximar, era impossível. Matias se tornava cada vez mais recluso, o que deixava Monalisa muito preocupada. Ela temia que isso se transformasse em algo pior, acreditando que Matias era um verdadeiro monstro.
Certo dia, Matias acorda desnorteado com alguém gritando seu nome. Ele abre os olhos assustado e vê Lorenzo à sua frente, segurando uma caixa embrulhada com papel de presente. Ele leva a mão ao peito, tentando controlar a respiração.— O que é isso, cara? Não precisava disso. Você quer me matar do coração? Pensei que estivesse acontecendo algo grave.— Eita! Nem gritei tanto assim. Você esqueceu, seu bobo? É o seu aniversário. Que inveja de você, mano. Me diz aí, como é a sensação de estar de maior? — Lorenzo pergunta, eufórico.Matias esfrega os olhos, tentando se situar. Ele se senta na cama devagar e olha para Lorenzo, que permanece parado à sua frente, sorrindo.— O que foi, Lorenzo? Vai passar o dia inteiro aí me encarando?— Abre! Quero ver se você gostou! — Lorenzo fala, apreensivo.Embora um pouco incomodado, Matias se vê obrigado a abrir a caixa diante de seu irmão. Ao fazê-lo, encontra uma luva de beisebol. Levanta a cabeça e olha para Lorenzo, percebendo o brilho nos seus o
Ele testemunha três homens fortes espancando brutalmente o homem, que está pendurado por uma corda. Utilizam um bastão de beisebol para atingir suas costelas, enquanto ele grita e se contorce de dor, ocasionalmente cuspindo sangue. Matias não compreende o que os homens estão gritando, pois estão falando em outra língua. Seu coração dispara e uma descarga de adrenalina percorre seu corpo. Parece que ele está participando daquela cena. Enquanto continua observando, Matias, sem querer, acaba caindo da caixa em que estava apoiado, fazendo um barulho estrondoso ao bater em algumas placas de metal.— Droga! Sou mesmo azarado. Que merda eu fiz? Agora tenho certeza de que estou metido em uma encrenca do tamanho de um trem. Como vou sair daqui sem que esses caras me vejam?”, ele pensa, enquanto se levanta rapidamente e limpa sua roupa.Matias tenta encontrar uma maneira de sair despercebido, mas percebe dois homens se aproximando rapidamente para verificar o que aconteceu. Apesar de suas tenta
Após conquistar a confiança de seu chefe, ele finalmente descobriu para quem estava trabalhando: Dom Rafael, também conhecido como Zeus no submundo. Rafael é um dos principais líderes da máfia italiana, comandando com mãos de ferro a Napolitana da Camorra, uma das organizações mais poderosas, com filiais em vários países. Observando de perto seu pupilo e vendo sua dedicação total, Rafael passa a tratá-lo como um filho, tornando-se seu favorito. Rafael nunca havia encontrado alguém tão cruel e impiedoso, alguém que não sentia um pingo de remorso pelo que fazia. Matias era completamente objetivo e cumpria todas as ordens sem hesitação. Com sua devoção ao longo de seis meses, Matias já acumulou uma boa quantia em dinheiro. No entanto, ele guarda a maior parte de seus ganhos com Zeus, pois tem planos ambiciosos para o futuro. Trabalhar na máfia exige muito esforço e dedicação, e ele deseja garantir uma vida tranquila e segura para seu irmão.Sabendo que criou inimigos em tão pouco tempo,
— Estou sim, só queria cuidar dessa bagunça e da polícia que já deve estar vindo para cá. Você sabe que eles não podem, de maneira alguma, chegar até aqui, senão vão acabar ligando as pontas. E nós não podemos deixar pontas soltas de jeito nenhum. Eu sabia que não poderia de jeito nenhum continuar fingindo que tenho uma vida normal, que isso não daria certo. Uma hora ou outra viria alguém atrás de mim, e essa hora chegou. Agora, infelizmente, temos que arcar com as consequências e ver o que podemos fazer o mais rápido possível.— Não se preocupe! Pode deixar que limpo tudo para você. Não se preocupe com a polícia. Alguns estão em minha folha de pagamento e tenho certeza de que posso afastá-los daí o mais rápido possível. Enquanto minha equipe faz uma limpeza meticulosa, deixando tudo como era antes, você não precisa se preocupar. Tenho a melhor equipe de limpeza de toda a costa. Então, pode ficar tranquilo com isso. Mas agora estou preocupado com outra coisa: e a sua família?— Devem
— Não se preocupem! Já cuidei de tudo. Podem sair daí, não tem mais perigo nenhum. Então, podem ficar tranquilos. Vamos, temos que sair daqui o mais rápido possível, pois a polícia daqui a pouco chega e não podemos estar aqui quando isso acontecer.Monalisa levanta totalmente trêmula, dá um tapa na mão de Matias e olha para ele com grande repulsa, passando por ele e se esquivando para nem mesmo tocá-lo.— Foi você! — Monalisa acusa Matias, apontando o dedo em sua direção. — Isso tudo foi culpa sua, não foi? Tenho certeza de que você se meteu com gente errada. Eu sabia que você iria me dar esse desgosto. Com certeza, as pessoas com quem você anda não são boas. Tenho certeza disso. Você é uma grande decepção em minha vida, garoto. Não sei por que você nasceu, se é assim desse jeito. — Monalisa diz irritada.Lorenzo segura Monalisa, que tenta ir em direção a Matias com a mão levantada para bater nele. Lorenzo tenta de todo jeito fazer com que sua mãe não faça isso, e Matias continua para
Então, mais uma vez, vendo que sua mãe é totalmente dura com o seu irmão, Lorenzo se intromete na conversa e pede para que seu irmão espere na parte debaixo da casa, enquanto ele irá falar com a sua mãe. Sabe que, na realidade, Matias de modo algum conseguirá convencê-la a sair dali para ir a nenhum lugar com ele, pois Monalisa, a cada dia que se passa, pega mais raiva de Matias, dizendo que ele foi um grande erro em sua vida. Vincenzo não quer que seu irmão seja humilhado de maneira nenhuma por sua mãe e, para evitar isso, prefere que Matias desça para ir arrumando as coisas, enquanto ele convence a sua mãe de fazer a coisa certa.Matias desce as escadas e se senta no sofá. O sangue já está esfriando e ele está começando a sentir um pouco de dor enquanto olha para o seu ferimento, levantando um pouco a blusa. Ele vê o sangue saindo cada vez mais. Não está tão contínuo como estava antes, mas ainda sai uma grande quantidade. Ele pega uma camisa que conseguiu pegar no quarto e pressiona
— Mas Eliz... — Ao tentar falar, ele é interrompido mais uma vez.— Mas nada! Sua mãe e seu irmão estão bem! Tente descansar para se recuperar logo. Que coisa, você sempre é teimoso assim ou foi só agora, depois que entrou para a máfia? Pelo amor de Deus, você tem que entender que já cuidamos de tudo para você. Então, você não precisa se mexer para fazer nada. É só esperar um pouco que logo saberemos de tudo. Pelo trabalho que você está me dando, até eu vou querer me vingar desse desgraçado. Só pelo fato de ele ter te colocado aqui nas minhas mãos e estar me aperreando tanto com você. — Eliz vai injetando um líquido no acesso de Matias.Ele escuta ela falar e aos poucos a visão dele vai escurecendo novamente e logo ele não vê mais nada e adormece. Lis respira aliviada, pois sabe muito bem que nada seguraria Matias ali naquela cama. Com certeza, ele daria um jeito de levantar e sair à procura das pessoas que o colocaram naquela situação. No pouco tempo em que ele entrou para a máfia, j
— Que saco, Eliz! Você sabe muito bem que eu teria arrancado dele. Só não tive tempo suficiente para isso. Se eu soubesse que você ia me manter aqui preso desse jeito, eu nem teria vindo. Teria logo interrogado ele para poder obter as respostas que eu queria. Mas fiquei com tanto medo de que viessem mais deles atrás da minha mãe e do meu irmão, que estava correndo perigo. Resolvi vir para cá. Agora acho que foi um erro. Talvez eu tivesse obtido as respostas.— Eu não tenho dúvida, bonitão! Mas você tem que entender que foi a melhor escolha que você fez vir para cá. Sua família agora está segura, e você também está. Se tivesse ficado lá e continuasse perdendo essa grande quantidade de sangue que você chegou aqui perdendo, pode ter certeza de que não seria só ele no saco preto. Você também estaria nele. Então, não adiantaria de nada você ter as respostas e não poder usá-las.Matias se senta enquanto pensa que com certeza, com os métodos que ele havia desenvolvido durante esses meses, te