Lucian sentia o peso da noite como uma corrente apertada ao redor de seu peito. O salão principal estava vazio agora, mas a tensão que ficara para trás ainda impregnava o ar. O Conselho havia sido dispersado, mas o julgamento pairava como um espectro sobre cada um deles. Astor havia se retirado em silêncio, e Lucian sabia que, apesar de sua postura fria, o outro rei estava tão abalado quanto ele.Ele não conseguia se afastar. Seus pés o levavam quase de forma involuntária pelos corredores silenciosos, onde apenas os guardas e alguns criados permaneciam. O destino de seus passos era inevitável: os aposentos de Elise. Mesmo sem entender totalmente por quê, ele precisava vê-la. Precisava ver com os próprios olhos que ela ainda estava ali.Quando chegou à porta do quarto, encontrou a curandeira e o médico real saindo, suas expressões carregadas de preocupação. O olhar da mulher encontrou o dele e, sem hesitar, ela falou:— Sua presença e a de Astor são essenciais agora. A ligação enfraque
O sol nascente tingia o céu de tons alaranjados e rosados quando Elise abriu os olhos. O silêncio do quarto foi o primeiro detalhe que notou, seguido pela ausência do calor ao seu lado. Lucian não estava mais ali. Ela moveu a mão sobre os lençóis, sentindo a frieza do espaço vazio onde ele estivera.Um suspiro escapou de seus lábios, carregado de exaustão e incerteza.Os últimos acontecimentos ainda pesavam em sua mente. Fugir fora um impulso tolo ou um grito de desespero? Cada decisão que havia tomado parecia se voltar contra ela. O medo de perder os bebês lhe atormentava mais do que qualquer outro pensamento.Lutara tanto contra essa gravidez, contra a ideia de se tornar um peão no jogo dos reis, mas agora... Agora que os tinha dentro de si, a ideia de perdê-los era um terror que a dilacerava por dentro.Sentia-se fraca, o corpo fragilizado pela instabilidade da ligação que deveria ser sua fonte de força. A curandeira junto ao médico real haviam lhe dito que os bebês eram afetados po
Mais um dia tinha se passado e ela ainda estava presa ao seus aposentos, desde que voltou. O quarto estava envolto em sombras tênues quando Elise abriu os olhos. A primeira coisa que notou foi o silêncio. Não era apenas a tranquilidade natural da madrugada, mas um tipo de quietude opressiva, um vácuo que parecia ressoar dentro dela.Seu corpo, outrora uma prisão de dor e exaustão, agora parecia estranhamente leve. Era uma sensação sutil, como se algo houvesse mudado sem que ela percebesse exatamente o quê.Virou-se no leito, os lençóis frios onde antes estivera a presença quente de Lucian, apenas um dia atrás. Seu coração apertou-se. Ele não estava ali, e ele não tinha voltado. Seu corpo ainda lembrava do toque dele, da presença firme ao seu lado, do calor que ele emanava enquanto dormia. Mas agora, tudo o que restava era o espaço vazio ao seu lado.Elise passou as mãos pelo ventre, a leve protuberância sob a fina camisola. Então, sentiu. Um movimento. Pequeno, delicado, mas inconfund
O corredor estava silencioso quando Elise deixou o quarto. A luz bruxuleante das tochas projetava sombras nas paredes, criando um jogo de formas distorcidas enquanto ela caminhava. O peso do que ouvira de Seraphine ainda pressionava seu peito, mas algo dentro dela estava mudando. Ela não queria ser mais um fantasma dentro de sua própria vida. Se havia um jogo sendo jogado dentro da corte, estava na hora de entender as regras.Quando alcançou a porta do gabinete, hesitou por um instante. Há semanas, Lucian e Astor pareciam sempre ocupados, envolvidos em decisões e segredos que nunca chegavam a ela. Não seria mais essa rainha silenciosa e passiva.Abriu a porta sem anunciar-se.Lucian e Astor estavam em pé ao redor de uma mesa cheia de mapas e documentos, suas expressões sérias. Vários conselheiros estavam presentes, mas o silêncio tomou conta do ambiente assim que ela entrou. Todos desviaram o olhar ou baixaram a cabeça, como se sua presença não fosse esperada ali.— Elise? — Astor foi
O castelo parecia mais frio naquela manhã. O vento que entrava pelas janelas abertas carregava um peso invisível, um prenúncio do que estava por vir. Elise despertou cedo, o corpo ainda fraco, mas a mente inquieta. Depois da última noite, não havia mais espaço para hesitação.Ela saiu do quarto com passos cuidadosos. Os corredores estavam vazios, mas os poucos empregados que encontrava mantinham a cabeça baixa, desviando o olhar. Eles sabiam. Todos sabiam. O silêncio não era mais apenas uma ausência de som, mas um aviso.Atravessou os corredores até os jardins internos, onde encontrou Seraphine. A mulher estava de pé ao lado de uma fonte, as mãos enluvadas descansando sobre a pedra fria. Seus olhos se voltaram lentamente para Elise, avaliando-a com um sorriso enigmático.— Não achei que teria coragem de sair do seu quarto tão cedo — disse ela, com a voz suave, mas carregada de veneno.Elise não se deixou intimidar.— E eu não achei que você tivesse o hábito de subestimar as pessoas. A
Astor recostou-se na poltrona de seu gabinete, girando lentamente o anel no dedo. O cómodo estava silencioso, salvo pelo crepitar da lareira e pelo tilintar do vinho quando ele girou a taça distraidamente. O gosto amargo da bebida não o satisfazia como antes. Nada o satisfazia ultimamente.O jogo havia mudado. E, dessa vez, ele não estava certo de que gostava da nova direção.Elise.Ela o desafiara, encarara-o sem medo e, pior, impusera sua presença como uma verdadeira rainha. Ele deveria estar irritado, mas tudo o que sentia era um incômodo curioso, um interesse que beirava a admiração. Havia visto muitos se dobrarem sob a pressão da corte. Elise deveria ter quebrado há muito tempo.Mas ela não quebrou.Lucian, por outro lado, estava visivelmente abalado. Havia um traço de exaustão em seus olhos, uma vulnerabilidade que Astor raramente via no irmão. Era quase divertido, se não fosse tão preocupante. Lucian sempre tentava carregar o peso do mundo nas costas. Isso poderia destruí-lo an
Astor atravessou os corredores do castelo com passos medidos, as mãos cruzadas atrás das costas, a expressão impenetrável. O encontro com Lucian e Seraphine havia lhe dado muito em que pensar. A corte se agitava como um ninho de serpentes, e Elise era o epicentro de tudo.Se já não bastasse ser rainha, agora ela carregava dentro de si as vidas que decidiriam o futuro do reino.Ele parou diante da porta dos aposentos da rainha e, sem cerimônia, entrou. Elise estava sentada à beira da lareira, os olhos fixos nas chamas trémulas, mas ele não perdeu os pequenos sinais de cansaço que marcavam seu rosto. A pele ligeiramente pálida, os lábios pressionados num silêncio calculado.Ela sabia que ele viria.— De quantas visitas inesperadas terei de suportar essa noite? — Ela ergueu os olhos, o cansaço evidente, mas sua voz não fraquejou.Astor sorriu de lado e caminhou até a mesa, servindo-se de vinho sem pedir permissão. Ele girou o líquido escuro na taça antes de responder.— Quem sabe? Se for
O castelo nunca parecia silencioso. Mesmo em meio à noite, entre sussurros de criados e a vigília constante dos guardas, Elise sentia o peso do trono pressionando sobre seus ombros. Sentada diante da lareira em seus aposentos, seus dedos deslizavam distraídos sobre o ventre, onde crescia o futuro do reino.As palavras de Astor ainda ecoavam em sua mente. "Proteger você e os bebês." Uma promessa ou uma advertência? Conhecia bem o rei. Astor não era um homem que se movia sem propósito. Por que agora, de repente, demonstrava uma preocupação tão direta? Sempre soubera que os filhos que carregava seriam um ponto central de disputas, mas a forma como ele olhara para ela naquela noite sugeria algo mais profundo. Algo que talvez nem ele estivesse disposto a admitir.Uma batida leve na porta interrompeu seus pensamentos.— Entre — disse, sem desviar o olhar das chamas.Seraphine surgiu, sua presença sempre discreta, mas carregada de uma intensidade contida. A dama de companhia observou Elise p