O salão parecia ter ficado menor, como se as paredes se fechassem ao redor de Elise enquanto o prisioneiro lhe dirigia aquele olhar enigmático. O silêncio era tão pesado que se podia ouvir a respiração contida de todos ali.— O que você quer dizer com isso? — A voz de Elise soou mais firme do que ela esperava. Seu coração martelava contra o peito, mas seu rosto permanecia inexpressivo.O prisioneiro sorriu, aquele mesmo sorriso lânguido e provocador. Ele parecia se divertir com a situação, como se fosse um mestre de marionetes prestes a revelar os fios que controlavam todos os presentes.— Ah, minha senhora, você realmente acredita que pertence à linhagem que diz carregar? — Ele inclinou a cabeça para o lado, os olhos analisando cada mínima reação dela. — Seus pais… aqueles que te criaram… não eram sangue nobre. Eram meros servos. Sua adoção foi uma jogada de conveniência.Elise sentiu o chão se desfazer sob seus pés. Um calafrio subiu por sua espinha, e por um momento, tudo ao redor d
A sensação de que algo havia mudado era impossível de ignorar. Desde a revelação do prisioneiro, Elise percebia que Lucian e Astor estavam mais cautelosos, mais distantes. Não era algo óbvio, nenhum deles havia falado diretamente sobre isso, mas ela sentia. As conversas pareciam mais curtas, os olhares trocados carregavam um peso silencioso, e quando estavam juntos, o ar entre eles parecia carregado de algo que ela não conseguia definir completamente.Talvez fosse apenas sua própria insegurança, uma consequência natural das verdades reveladas. Ela não era uma nobre de verdade. Nunca fora. Sempre soubera disso, mas agora esse fato não era apenas um segredo guardado em sua mente – era uma peça que poderia ser usada contra ela, uma fraqueza em um jogo onde qualquer deslize poderia ser fatal.Ela não sabia o que os reis realmente pensavam sobre isso. Haviam jurado protegê-la, haviam afirmado que sua posição não mudaria, mas... e se isso fosse apenas estratégia? E se, no fundo, eles também
Desde a chegada de Seraphine, Elise sentia que algo em sua dinâmica com os reis havia mudado. O distanciamento deles, antes sutil, agora parecia mais evidente. Lucian e Astor continuavam cumprindo seus deveres ao seu lado, mas a proximidade que antes compartilhavam parecia mais fria, mais cautelosa. E Seraphine... bem, Seraphine se encaixava entre eles com uma facilidade irritante.Na manhã seguinte ao jantar, Elise encontrou Seraphine nos jardins do castelo, observando as flores com uma expressão serena. Quando seus olhos se cruzaram, a outra mulher sorriu, um sorriso impecável e controlado, do tipo que escondia mais do que revelava.— Majestade, que agradável vê-la tão cedo — saudou Seraphine, sua voz melódica e refinada.Elise manteve sua postura firme, caminhando até ela com a elegância que aprendera a dominar.— Lady Seraphine, vejo que já se acostumou bem ao castelo — respondeu, mantendo seu tom neutro.Seraphine inclinou a cabeça levemente, como se estivesse analisando Elise.—
O silêncio dos corredores do castelo tornava o isolamento de Elise ainda mais evidente. Desde a chegada de Seraphine, as interações com os reis haviam se tornado cada vez mais escassas. Eles continuavam ao seu lado nos compromissos necessários, mas a proximidade que compartilhavam antes parecia se dissipar lentamente. Era impossível ignorar o sentimento de deslocamento que a consumia. Agora, tudo parecia diferente, e não saber o que se passava na mente deles a atormentava.Quando o médico real chegou para avaliá-la, Elise sentiu um alívio momentâneo. Ao menos alguém ainda se preocupava com sua saúde e a do bebê. Durante o exame, ele a analisou com atenção, sua expressão neutra adquirindo um leve franzir de sobrancelha.— Algo está errado? — ela perguntou, sentindo um aperto no peito.O médico hesitou por um instante antes de responder.— Não diria errado, Majestade, mas curioso. Pelo seu tempo de gestação, a evolução do bebê parece um pouco mais avançada do que o esperado. — Ele pauso
Astor observava a luz pálida do amanhecer filtrando-se pelas janelas do salão estratégico. O peso das últimas semanas parecia ter se acumulado em seus ombros, e o silêncio entre os presentes na reunião refletia o turbilhão de pensamentos que o consumia. O afastamento entre ele, Lucian e Elise era algo que lhe incomodava, mas era um preço que achava necessário pagar — ou ao menos, assim tentava convencer a si mesmo.Desde que aquele prisioneiro trouxera revelações sobre o passado de Elise, a pressão sobre a coroa havia se tornado insustentável. O conselho, já relutante em aceitá-la como rainha, agora encontrava justificativas para minar sua posição. E então, havia Seraphine. Sua chegada ao palácio não havia sido mera coincidência ou um capricho da nobreza. Era uma peça cuidadosamente colocada no tabuleiro para agradar os insatisfeitos e, de certo modo, acalmar as dúvidas internas que o próprio conselho levantava.Lucian e ele não haviam se distanciado de Elise por escolha, mas sim por
Astor caminhava pelos corredores do palácio ao lado de Lucian, ambos imersos nas decisões estratégicas que estavam tomando sob orientação dos estrategistas reais. A pressão do conselho continuava a aumentar, e eles precisavam ser cuidadosos em cada movimento. Mesmo com os decretos e as manobras políticas que haviam iniciado, a situação permanecia delicada.E, como se não bastasse a tensão política, havia Seraphine. A jovem lady não perdia uma oportunidade de se fazer presente, sempre insinuando sua posição ao lado dos reis, como se já fosse uma peça consolidada no jogo. Era sutil, mas clara o suficiente para ser incômoda.Em uma das reuniões que antecederam um encontro do conselho, Seraphine se aproximou com um sorriso afável, a postura impecável de uma dama que sabia exatamente como jogar com as palavras.— Majestades, pensei que poderíamos discutir alguns detalhes sobre os preparativos do festival de inverno. Como sabem, minha família sempre teve um papel central nessa festividade.
Elise caminhava de um lado para o outro em seus aposentos, sentindo a ansiedade se avolumar a cada minuto que passava. O tempo estava se esgotando. Ela sabia que, se quisesse escapar, precisava agir rápido. Nos últimos dias, os olhares sobre ela haviam se tornado ainda mais vigilantes, e o peso das conspirações ao seu redor era sufocante. O conselho queria controlá-la, Seraphine queria substituí-la e, embora soubesse que Astor e Lucian estavam lutando para protegê-la, ela não podia confiar inteiramente no que planejavam.A ideia de fugir parecia insana, mas era a única opção. Para ela e para seu filho – filhos, na verdade, embora ainda não tivesse confirmado essa suspeita. O instinto lhe dizia que algo estava diferente desta vez. Mas não havia tempo para se preocupar com isso agora. A prioridade era encontrar uma saída segura do palácio.Naquele dia, enquanto passeava discretamente pelos corredores, Elise avistou um grupo de guardas da coroa conversando. Um deles, no entanto, chamou s
A escuridão da noite envolvia os corredores do castelo como um manto silencioso, mas para Elise e Viktor, cada sombra parecia um inimigo à espreita. A fuga estava em andamento, e o tempo era um luxo que não podiam se dar. Elise manteve o passo firme ao lado de Viktor, que caminhava à frente, atento a cada som, cada movimento suspeito. O plano era simples, mas arriscado: atravessar o pátio central do castelo, seguir pelos jardins laterais e alcançar um dos portões secundários. Além daquele ponto, um cavalo já os aguardava, pronto para levá-los para longe.Os passos dos guardas ressoavam nas paredes de pedra, fazendo Elise prender a respiração a cada vez que uma patrulha passava. Viktor, conhecedor das rondas, movia-se com precaução, guiando-a pelos caminhos menos vigiados.— Falta pouco — ele murmurou, mantendo o tom baixo. — Assim que cruzarmos aquele arco, estaremos no jardim. Depois, tudo depende da nossa rapidez.Elise assentiu, apertando os punhos. Sua mente fervilhava com as ince