Christian Müller –O carro deslizou pela rua deserta até que cheguei ao endereço. Assim que estacionei, ergui os olhos para o prédio sombrio à minha frente. Era um dos apartamentos que os pais de Andressa haviam comprado quando tentavam forçar um noivado entre nós. Mas a obra nunca havia sido finalizada.Saí do carro sem hesitar, subindo os degraus de dois em dois. A porta principal estava aberta, o que só piorava o aperto no meu peito.O cheiro de mofo e poeira me atingiu assim que entrei. As paredes tinham marcas de infiltração, o chão estava tomado por vidros quebrados e sujeira.Meus olhos varreram o ambiente.No sofá, algumas revistas de gravidez estavam empilhadas, desgastadas pelo tempo. Ao lado, brinquedos espalhados pelo chão — carrinhos, bonecos, um chocalho.Minha atenção parou em um quadro.Andei até ele, pegando-o com as mãos.Era uma foto de um casal segurando um bebê. Mas algo estava errado.Havia recortes de revistas colados sobre os rostos. No lugar do homem, estava m
Laura Stevens –Assim que Christian gritou para eu fosse, senti meu coração congelar, mas eu o obedeci.Assim que vi o pequeno corpo embrulhado como uma trouxa, pendurado no lençol, comecei a chorar e puxar com força.—Nathan! A mamãe está aqui! – Falei entre lágrimas, o puxando com força.Assim que consegui agarrar o monte, meus olhos se abriram mais que o normal. – Eu fui enganada.E de repente, um disparo fez meu coração parar por um longo segundo.BANG!Meu corpo inteiro congelou e naquele instante, tudo pareceu estar e câmera lenta.Me virei para olhar e confesso que, meu cérebro demorou para capturar a imagem.—NÃAAAAAO! – Gritei sentindo a dor vir da alma.Me levantei correndo até ele. Christian estava caindo lentamente ao chão, com o braço curvando no abdômen. – Aquela foi a primeira vez que eu o vi mortal, assim como eu.Minha visAo ficou turva e o desespero tampou a minha garganta. Eu não consegui ouvir a minha voz.Me joguei até e o abracei forte, sentindo seu corpo pesad
Laura Stevens –A claridade invadiu minha visão pouco a pouco, me trazendo de volta à realidade.Meu corpo estava pesado, minha cabeça latejava e meu peito parecia esmagado por uma angústia que me consumia.Eu pisquei algumas vezes, tentando focar minha visão na silhueta ao meu lado.Amanda estava sentada, com a expressão tensa, mas quando percebeu que eu havia acordado, se levantou rapidamente, segurando minha mão com firmeza.— Você está bem? — Sua voz soou como um sussurro preocupado.Tentei me sentar, mas um enjoo repentino tomou conta de mim. Minha cabeça parecia girar.— O que aconteceu? — minha voz saiu rouca. — Christian… onde está Christian?Amanda respirou fundo, e sua hesitação fez meu coração gelar.— Ele ainda está em cirurgia. O tiro quase foi fatal…Minha garganta se fechou, e um nó se formar em meu peito.Ele estava lutando para sobreviver; tudo isso era culpa minha.Minha mente girava, atordoada. Eu queria me levantar, queria correr até a sala de cirurgia, queria vê-l
Laura Stevens –A feição daquele médico me deixou em choque por um instante. Por um mísero segundo eu cheguei a pensar que havia perdido tudo, até que a porta se abriu e enfermeiros passaram por ela, empurrando-a apressadamente.Era ele.Christian estava ali, mas parecia tão… frágil.Seu rosto estava pálido, os lábios secos e levemente entreabertos, e o peito subia e descia devagar, como se cada respiração fosse um esforço.Fios e tubos saíam dele, ligados a monitores que apitavam em um ritmo constante, mas nada me dava a certeza de que ele estava realmente ali comigo.—Vamos levá-lo para o quarto. Ele ainda está muito comprometido. Perdeu muito sangue, e seu corpo chegou a um limite de exaustão profunda.Minha garganta se fechou, e um nó se formou no meu estômago.— O que isso quer dizer? — Minha voz saiu em um fio.O médico parou e me encarou diretamente.— Temos quarenta e oito horas para observar sua reação. Esse é o período mais crítico. Durante esse período, peço que se organize
Laura Stevens – Dois dias depoisO quarto de hospital estava em silêncio, quebrado apenas pelo bip dos monitores. A luz suave entrava pela janela, iluminando as feições serenas de Christian. – Ele estava corado e respirava com firmeza, mas ainda não havia acordado.Eu estava ali, sentada ao lado da cama, entrelaçando firmemente a minha mão com a dele. Eu não havia dormido direito nesses dois dias, me recusando a sair dali por um segundo sequer.Mark garantiu que Nathan seria encontrado. Eu acreditava nele, mas cada minuto sem notícias era uma tortura.Eu estava sentindo meu corpo pesado, cansado. Eu já nem sabia mais distinguir o que era sonho e realidade por causa da exaustão e finalmente acabei cedendo ao sono.Não sei por quanto tempo exatamente eu dormi, quando de repente, senti alguém tocar meus ombros.Minha mente demorou um instante para processar, mas quando ergui a cabeça, me deparei com um rosto familiar.— Dom… — Minha voz saiu rouca e embargada.O alívio me atingiu com for
Laura Stevens –Eu me aproximei dele, sentindo meu coração martelar dentro do peito.As palavras de Christian ecoavam em minha mente, cada sílaba carregada de um tom rouco e exausto, mas inegavelmente possessivo. Ele estava ali, acordado, me olhando daquele jeito intenso, como se eu fosse a única coisa que importava para ele.Mal sabia ele que, era ele quem era o meu tudo.Me sentei na beira da cama, deslizando suavemente os meus dedos pela pele do seu rosto, enquanto o olhava com atenção.— Eu achei que fosse te perder... — Sussurrei, sentindo minha voz embargar.Os olhos dele se suavizaram por um instante, e sua mão trêmula encontrou a minha.— Nunca mais diga isso. Eu nunca vou te deixar. — Sua voz era baixa, mas carregada de determinação.Ele apertou minha mão com força, como se quisesse me provar que estava ali, vivo e não ia a lugar nenhum.Engoli em seco, sentindo o alívio misturado com a avalanche de emoções dos últimos dias.— Você está aqui... — soltei um riso fraco, sem per
Cristian Müller –O cheiro sutil dos cabelos de Laura me envolvia enquanto eu afagava seus fios, mantendo-a nos meus braços.Eu precisava desse toque, dessa proximidade. Ela era o meu ponto de equilíbrio, a única coisa que me impedia de sucumbir à exaustão que ainda pesava sobre meu corpo.O barulho da porta se abrindo me tirou do momento. Levantei o olhar e vi Dominic entrar, acompanhado pelo médico.O doutor se aproximou, me analisando com olhos clínicos antes de perguntar:— Como está se sentindo, senhor Müller?Me endireitei levemente na cama, respirando fundo antes de responder:— Estou bem. Posso ir embora?O médico soltou um suspiro, balançando a cabeça em negação.— Sem chances. Você perdeu muito sangue e seu abdômen foi costurado. São no mínimo, quinze dias de repouso conosco.Meus olhos se estreitaram, minha paciência começando a se esgotar. Antes que eu pudesse rebater, outra voz se fez presente no quarto:— Não se preocupe, doutor. Ele vai respeitar os dias de descanso.Mi
Laura Müller - Eu voltava para o quarto de Christian quando algo me chamou a atenção no corredor.Uma enfermeira passou apressada, com os saltos tilintando contra o piso de porcelanato branco. Algo nela não parecia certo. A postura tensa, o olhar esquivo… Como se estivesse fugindo de alguma coisa.Franzi o cenho, parando no meio do caminho. Ela saiu da sala de medicação. Em seguida, outra enfermeira apareceu, empurrando uma bandeja de metal com medicamentos organizados em seringas e frascos.Segui seus passos sem hesitar, minha intuição gritando dentro de mim.Ela entrou no quarto de Christian sem sequer bater na porta. E assim que eu atravessei a entrada, a vi preste a aplicar algo na veia de Christian.— NÃO! — Gritei correndo até lá.Em um impulso, alcancei a bandeja e a derrubei no chão. Todos no quarto me olharam surpresos e então eu a ameacei.— Você não vai aplicar nada nele! — cuspi as palavras, apontando para a enfermeira.Mark deu um passo à frente, mantendo os olhos afiado