Detalhes na casa

Maria Júlia

Até as minhas mãos começaram a suar, a curiosidade estava me matando, eu precisava abrir aquela carta. Pela primeira vez tentei trancar a porta do quarto, mas ao encostar percebi que não tinha chave do lado de dentro. Precisei deixar como estava, apenas encostada.

Sentei com certa dificuldade na beira da cama, abri aquele envelope, e comecei a ler...

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“Olá, querida Maria Júlia!“

“Se as coisas tiverem acontecido como eu ouvi dizerem por aí, então nesse momento você deve estar muito surpresa de receber esta carta, pois não deve se lembrar de mim!

Estou muito preocupado com você, e espero realmente que esteja bem!

Por enquanto não vou revelar o meu nome, tanto para a minha segurança, quanto para a sua! Pelo menos até que você alcance o seu verdadeiro objetivo, que é fugir daí...“

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Maria Júlia, nesse instante precisou respirar melhor! “Fugir daqui?” Pensou ela. Para que ela fugiria daquele lugar? Isso não fazia sentido... e a letra da carta, era impressa, seria isso uma mentira, alguém tentando enganar ela? Assim que estava melhor, voltou a ler...

“Se você não lembra, vou te ajudar com algumas coisas que você me contou...

Eu te conheci no dia do seu acidente, e o meu carro foi parar debaixo da água! Você estava com hematomas, mal vestida, despenteada, e descalça! Falou inúmeras vezes que precisava fugir de onde morava, e me implorava para que eu te levasse sem custo a um lugar longe, que depois me enviaria o dinheiro de forma online.

No começo tive receio de te levar, mas acreditei em você, e te deixei entrar. Você pedia repetidamente para que eu corresse, acelerasse o carro o máximo que desse, para um tal de Gavião não te alcançar, e comentou de outros nomes também, como: MP, Morcego, Lombardi! Falou que haviam te sequestrado a quatro anos, e te usavam para prostituição...“

Maria Júlia começou a passar mal! As coisas que ela estava lendo, eram absurdas! De onde este homem tirou tudo aquilo?

A jovem parou de ler por segundos, e depois de estar mais calma, resolveu continuar...

“Você estava sob o domínio deles, por anos, sendo vendida a clientes, como você mesma contou, e repetia muitas vezes que precisava voltar para a sua casa, que a sua família deveria até ter pensado que você havia morrido, e também precisava encontrar o seu namorado, um tal de Miguel!“

Quando Maria Júlia leu esse nome, ela gelou... Miguel, era o nome do seu namorado no sonho, que ela tinha até beijado, e inclusive adorou! Como aquele homem saberia disso se ela não o tivesse contado, e ele também pronunciou “MP”, outra vez esse apelido foi pronunciado, como ele também saberia disso? Era coincidência demais, tudo isso!

Mas, se o que ele falava era verdade, o que o seu marido teria a ver com isso? Ele comentou de Lombardi...

A jovem resolveu continuar...

“Abra os olhos, moça! Tente se lembrar! E se não conseguir, por favor não conte nada sobre isso a quem te mantém aí, essa pessoa deve estar mentindo para você, te enganando, pois, você jamais escolheria voltar para o mesmo inferno, então se cuida, tá? Até você descobrir sobre algo, guarde o nosso segredo, jogue esta carta fora, e logo te mandarei mais informações que eu tiver! Boa sorte, garota!“

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Maria Júlia estava assustada! Ela já percebeu que muitas coisas não batem na história dela, ela já sabe que algo está errado, mas não entende o que o marido teria a ver com tudo isso, pois esses sonhos que ela anda tendo e pesadelos, são reais demais! Ela sabe que todos eles estão lhe dizendo algo, mas eles parecem como peças de um quebra-cabeças que ela precisa montar!

Como se não bastasse isso, agora ela também desconfiava do marido, e precisaria investigar por conta própria.

A primeira coisa que Maria Júlia faria, é tentar voltar a encontrar com aquele segurança, pois ele pareceu um tanto suspeito agora. Como ele saberia dessa carta? Ele mesmo a escondeu dentro do livro? E, porque a Aurora também saberia e não quis dizer mais nada? Ela precisaria falar com o rapaz de novo, o tal de Davi, que havia lhe informado que talvez ela quisesse ver ele novamente no outro dia.

Versão Felipe Lombardi

Quando o Felipe Lombardi voltou para casa, encontrou a sua esposa um pouco diferente, ele percebeu que algo tinha mudado nela mas ela como não é boba, tentou não deixar transparecer, pois na certa o marido desconfiaria do segurança, e não a deixaria voltar lá no dia seguinte. Ela precisava muito voltar a falar com o Davi, só ele poderia dar algumas respostas que ela precisava.

— Tem certeza que está tudo bem? — Perguntou ele pela terceira vez, a esposa.

— Eu estou bem! E, que esses remédios me dão sono, e estou com muita sonolência hoje! Acho que vou dormir mais cedo, você se importa? — Perguntou, a mentir, pois queria fugir do toque do marido aquela noite, e por dentro implorava para que ele a deixasse dormir, nem que ela tivesse que ficar por muitas horas quietinha, e de olhos fechados, para que ele acreditasse que ela dormia.

— Tudo bem! Mas amanhã tente tomá-los mais tarde, para não ficar assim! Quero ter inteira, e não quero desculpas! — Falou friamente, e ela pensou que talvez essa frieza toda dele com ela, tenha uma explicação, e ela começou a desconfiar se realmente era casada com ele, e se atreveu a perguntar.

— Felipe? Somos casados no cartório e na igreja?

Felipe a encarou estranho, e franziu a testa. “Porque a esposa viria com essa pergunta agora? Seria estranho”, ele pensou.

— No cartório! Mas não tenho a cópia comigo, se é o que você gostaria de saber, pois se perderam no dia do nosso acidente! — Respondeu sem olhar direito para ela.

— Nós batemos o carro? — Perguntou.

— Sim! E até caiu na água, então ficou tudo destruído! — Ele respondeu, e foi tomar o seu banho, deixando a jovem com tantas perguntas sem respostas...

Se não existia prova do registro de cartório, na cabeça de Maria Júlia se isso tudo fosse realmente verdade existia a possibilidade daquele casamento nem ser verdadeiro. Felipe Lombardi seria realmente o marido dela?

Ela começou a se perguntar isso sem parar, já não conseguia mais confiar no marido, isso se tornou para ela uma tarefa impossível. Esse seu jeito frio e distante, os sonhos e pesadelos que ela tem, o motorista do carro de aplicativo, o funcionário com questões duvidosas, e a semelhança entre ela sonhar com Miguel e o homem repetir o mesmo nome para jovem... eram motivos demais para ela continuar confiando nele!

Ao acordar pela manhã, antes que Felipe Lombardi fosse trabalhar, ela precisava que ele autorizasse a jovem a passar o dia no jardim outra vez, então ela o perguntou:

— Posso passar a tarde no jardim, outra vez? — Felipe a olhou pensativo. — Adorei os pássaros daqui! — Completou.

— Bom... Davi falou que você ficou muito bem, lá! Vou pedir a ele que você fique lá outra vez, e ele cuide de tudo! — Felipe falou, e a jovem se sentiu aliviada.

Depois que o marido saiu, parece que as horas não passavam nunca, Maria Júlia andava de um lado para o ovo do quarto mesmo com a perna dolorida e não conseguia sentar e ficar quieta no lugar. Também reparou que a perna já estava bem melhor não teve dores talvez pelo fato de não as ter forçado na noite anterior.

A Aurora apareceu pelo quarto, mas aquela mulher parecia um túmulo, quanto mais a jovem perguntava menos ela lhe contava das coisas, e isso já estava deixando a moça muito irritada. É uma situação extremamente ruim você não saber nada de si e precisar acreditar e entender o que as pessoas contam sobre você. Até que ponto tudo seria verdade?

Com o silêncio do quarto, ela começou a prestar atenção em pequenos barulhos que ela ouvia, pareciam vozes femininas, Maria Júlia tinha impressão de que algumas estavam chorando e outras ela não saberia dizer o que eram, ela também ouviu vozes masculinas, essas um pouco mais altas, mas não entendeu o que isso significava, apenas que o barulho vinha daqueles alojamentos que ela tinha visto do lado externo. Maria Júlia pensou que talvez devesse dar uma espiada lá depois, quando ela fosse para o Jardim seria uma grande oportunidade, mas primeiramente priorizaria a sua conversa com o Davi que ela tanto esperava.

Logo depois que Maria Júlia almoçou logo pediu para Aurora que a levasse ao Jardim. Ela estava ansiosa precisava encontrar o segurança. Ao olhar para o Jardim o avistou na mesma árvore de ontem, ele parecia um quadro com o cotovelo encostado no tronco, roupas sofisticadas e provavelmente caras e era um homem muito bonito, ela não sabia por quê, mas sentia algo de bom nele. Elas foram se aproximando até o banco em que ela havia se sentado antes e ao se sentar, a Aurora se retirou de lá.

— Pelo visto conseguiu permissão para sair! — Falou o Davi.

— Sim! Preciso que me explique sobre o conteúdo daquela carta! Você deve saber muito bem, do que se trata! — Ela falou com um olhar ameaçador sobre o homem.

— Eu não li! O que deseja saber? Eu apenas fui bacana e cumpri com o que falei com o homem que a entregou! — Respondeu.

— Não se faça de bobo, pois você não parece nada bobo! — Falou irritada.

— Eu conversei um pouquinho com aquele homem, sim! E parece que amanhã lhe trará uma nova carta, se eu confirmasse que você a leu, e acreditou no conteúdo dela! — Falou tranquilamente, e se virou de costas. — Você ainda não se lembra de nada do seu passado?

— Lembrar, não! Mas tenho tido sonhos e pesadelos, e eles parecem muito reais! E tem algumas situações neles... eu sinto que o meu marido mente para mim! Sinto que tenho família, e... Miguel! — Na mesma hora, o jovem virou novamente para a moça, e a olhou firme.

— Miguel? Quem seria ele? — Perguntou.

— Bom... eu não sei bem! Mas, nos meus sonhos, ele me beija numa sorveteira! E no último, o meu marido também estava lá, e nos olhava! Mas, não poderia ser verdade, pois ele disse que me tirou de um orfanato, e... como eu estaria numa sorveteria! — Falou ela, confusa.

— Você nunca esteve num orfanato! — Davi deixou as palavras pularem da sua boca sem querer, e queria lhe dar um soco por isso, havia deixado a raiva transparecer, e isso não era nada bom, ele precisava manter o plano.

— Como pode ter tanta certeza? A quanto tempo me conhece? — Perguntou agora se levantando.

— Eu não posso te contar! Preciso que você se lembre! Mas, faça um esforço! Pois orfanato você nunca esteve, e se lembre que se precisar de ajuda, pode me chamar! Se não me encontrar aqui, peça ajuda a Aurora, em último caso, ela te ajudará! — Ele falou, mas as dúvidas da jovem eram muitas, e ele não estava ajudando, e ainda estava deixando tudo mais confuso para ela.

— Desse jeito, fica complicado! Pelo menos pode me dizer se estava aqui no dia do acidente? Sabe se Felipe estava comigo, se se machucou com a queda? — Tentou ela novamente, fazer perguntas.

— Olha! Eu não estava, cheguei depois... infelizmente! Mas... posso te garantir, que Felipe nunca sofreu um acidente! Você estava sozinha no carro, e quem estava com você, era o motorista de aplicativo! — Ele falou, se corroendo de vontade de contar tudo de uma vez para a moça, mas ele não podia! Ela precisava se lembrar, pois correria o risco de ela não acreditar nele, e contar tudo a Felipe Lombardi, e então a jovem correria riscos.

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