Pietro
Há uma coisa sobre mim que nunca foi um segredo: eu sempre consegui o que eu queria.
Desde criança, fosse pela insistência ou pelo charme — normalmente os dois —, as coisas acabavam dando certo para mim. Não importava se era o último pedaço de bolo, a atenção de alguém ou, mais recentemente, desde meus 18 anos, uma mulher, e Donna McNight era um desses exemplos.
Mas Irina Luzhin era um caso à parte.
Não que eu estivesse preocupado. Pelo menos, não de verdade. No fundo, eu acreditava que era só uma questão de tempo até ela perceber que, entre todas as opções que o mundo tinha para oferecer, estar casada comigo não era tão ruim assim.
Afinal, eu era um homem e tanto. Mas naquela manhã, depois de Irina ter me evitado durante nosso primeiro dia no hotel e após mais uma noite silenciosa onde nossos quartos separados simbolizavam o abismo entre nós, um que ela não parecia nem mesmo um pouco interessada em desfazer, decidi que estava na hora de mudar minha estratégia.
Se Irina queria agir como se eu fosse invisível, eu ia tornar as coisas difíceis pra ela. Eu ia obrigá-la a me notar.
Minha primeira ideia foi simples: um jantar.
Um bom restaurante, comida excelente, talvez um vinho caro. Se havia algo que eu sabia fazer, era impressionar.
Bati na porta do quarto dela, o som ecoando pelo corredor. Ela abriu depois de alguns segundos, com a expressão mais entediada que já vi.
— O que foi, Pietro?
— Que tal um jantar? Só nós dois. Um lugar bonito, boa comida. Talvez um pouco de civilidade entre marido e mulher.
Ela arqueou uma sobrancelha, me estudando como se eu fosse algum tipo de experimento científico.
— Não, obrigada.
A porta começou a se fechar, mas coloquei o pé no caminho antes que ela pudesse me ignorar completamente.
— Irina, espera. Você nem sabe onde eu ia sugerir.
— Não importa. Não estou interessada.
Ela empurrou a porta de novo, desta vez com mais força.
Eu recuei, derrotado. Mas só por enquanto.
***
Mais tarde, quando a encontrei no lobby do hotel, tentei novamente.
— Irina, eu sei que você disse que não queria jantar, mas pensei em um lugar incrível. Sério. Tenho certeza de que você iria adorar.
Ela nem sequer olhou para mim.
— Ainda é não, Pietro.
Eu respirei fundo, tentando manter a paciência.
— Certo. Mas posso saber por quê?
Dessa vez, ela me encarou.
— Por que eu deveria aceitar?
— Por que somos casados? Por que um jantar não vai te matar? Por que, sei lá, seria educado da sua parte?
Ela riu. Não uma risada verdadeira, mas uma risada curta e seca, cheia de sarcasmo.
— Você é inacreditável, sabia?
— Isso quer dizer que você mudou de ideia? — perguntei, um sorriso forçado no rosto.
— Não. Quer dizer que você é insuportável.
Ela se virou e saiu, me deixando ali no meio do lobby, enquanto um casal de turistas me olhava como se eu fosse algum tipo de atração exótica. E se eu tivesse comigo um daqueles narizes estranhos de palhaço, eu certamente me tornaria um, afinal, eu estava sendo feito de palhaço pela minha esposa.
Quando voltei para o quarto, minha frustração era quase palpável.
Eu precisava mudar isso. Não podíamos continuar assim. Casados, mas vivendo como estranhos — ou pior, como inimigos.
Deitado na cama, comecei a pensar em como resolver isso. Ela podia ser diferente das mulheres que conheci antes, mas, no final, todas tinham algo em comum: sabiam reconhecer um bom partido quando viam um.
E eu era um bom partido. Certo? Então... qual era a porra do problema da minha esposa?
Pensei em tudo o que sabia sobre Irina. Ela era determinada, inteligente e, claramente, tinha uma aversão a mim que ia além do racional. Talvez fosse porque eu não tinha tentado entender as coisas do ponto de vista dela. Talvez eu tivesse errado mais do que gostava de admitir.
Ou talvez ela fosse só teimosa.
Mas, independentemente do motivo, eu precisava de um plano.
Foi então que tive uma ideia. Uma ideia que tinha funcionado muitas vezes com Thomas quando éramos mais novos.
Se você quer dobrar alguém, às vezes precisa da ajuda de uma força maior.
Então, eu peguei meu telefone e procurei o número de Ivan Luzhin.
A ligação foi breve, mas suficiente para causar um impacto.
— Senhor Luzhin, é Pietro. Eu queria pedir um conselho...
Houve uma pausa do outro lado da linha, e eu quase pude sentir a surpresa dele.
— Conselho? Sobre o quê?
— Sobre a Irina. Estamos na lua de mel, e eu queria levá-la para jantar, mas parece que nenhum restaurante é bom o suficiente. O senhor conhece algum lugar que ela goste? Algo que eu possa sugerir? Estou realmente… tentando fazer isso funcionar, senhor Luzhin.
Ele ficou em silêncio por um momento, o som da respiração pesada vindo pelo telefone.
— Irina pode ser difícil, Pietro. Mas, se você realmente quer agradá-la, talvez devesse pensar menos em onde levá-la e mais em como tratá-la.
— Eu estou tentando...
— Tente mais. Irina não é uma mulher qualquer. E você não é exatamente o genro que eu teria escolhido. Se quer ganhar a confiança dela, vai precisar trabalhar para isso.
Ele disse e então desligou antes que eu pudesse responder.
A conversa com Ivan não foi exatamente útil, mas serviu para reforçar uma coisa: eu precisava mudar de abordagem.
Talvez o problema fosse que eu estava tentando impressionar Irina do jeito errado. Um restaurante chique ou um jantar caro não iam fazer diferença. O que ela queria — mesmo que nunca admitisse — era algo genuíno.
Algo que mostrasse que eu estava disposto a conhecê-la de verdade.
Eu não tinha certeza de como fazer isso, mas sabia que não podia desistir.
Irina era minha esposa. E, mais do que isso, ela era um desafio que eu estava determinado a vencer. Porque, no fundo, por mais que ela me irritasse, eu não conseguia parar de pensar nela. No sorriso raro que ela escondia. Na inteligência por trás de cada comentário sarcástico. No jeito que ela parecia controlar a sala inteira sem nem precisar dizer uma palavra.
Eu não ia deixar esse casamento fracassar.
E, mesmo que ela não soubesse ainda, Irina Luzhin ia perceber que estar comigo não era tão ruim quanto ela pensava. Eu só precisava de tempo. E, claro, de um plano melhor. Afinal, eu nunca tinha tido que me esforçar tanto para impressionar uma mulher.
PrólogoPietroA véspera do meu casamento começou exatamente como você esperaria: com meu irmão mais velho, Thomas, me chamando de idiota e se divertindo com o rumo que as coisas vinham tomando desde que eu — palavras dele — “decidi foder com o nome da família e o destino resolveu me ensinar uma lição”.— Agora sim eu me sinto vivo. Você está completamente ferrado, irmãozinho. Tipo, de um jeito que nem um plano de fuga bem bolado resolve, e essa é a melhor parte. Você não vai mais conseguir fugir da responsabilidade.Ele estava jogado na poltrona do meu quarto, com uma taça de vinho na mão e um sorriso malicioso no rosto. Eu, por outro lado, estava no sofá, encarando meu reflexo em um copo de uísque pela metade.— Eu não tô ferrado — retruquei, tentando soar confiante.— Ah, não? Você dormiu com a filha do chefe da Bratva, e agora vai se casar com ela. Donna não quer nem olhar na sua cara, mesmo depois daquelas desculpas mequetrefes que você tentou dar a ela, e, sinceramente? Bella nã
PietroO dia do meu casamento realmente chegou.Eu sabia que chegaria, claro. Mas saber e sentir são coisas bem diferentes. E agora, de pé diante do espelho, com o terno impecável e o cabelo arrumado, tudo o que eu conseguia pensar era: como diabos eu vim parar aqui?A resposta? Má decisão após má decisão.Não é como se eu tivesse acordado um dia e pensado: "Ah, sabe o que seria uma boa ideia? Me envolver com a Bratva, brigar com meu irmão, tentar arruinar o casamento de outra mulher, e, no meio disso tudo, acabar casando com a única filha e princesinha da casa Luzhin. Irina Luzhin."Foi mais uma sequência de caos. E, como sempre, eu fui o epicentro.— Tá pronto, noivo? — A voz de Thomas me tira dos pensamentos.Eu sabia que ele estava ali, porque o nosso pai me mataria se viesse no lugar dele. Na real, nosso pai nem queria olhar na minha cara desde o ocorrido com Donna. Eu sabia que ele ficaria furioso, mas não esperava... que ele me desse um gelo como esse.Mamãe estava conversando
IrinaEu sabia que tinha cometido um erro naquela noite. Um erro enorme.Não sou o tipo de pessoa que age sem pensar, mas, naquela maldita festa, algo em Pietro Kuhn me fez baixar a guarda. Talvez fosse o jeito que ele ria, como se o mundo inteiro fosse uma piada que só ele entendia. Ou talvez fosse o fato de que ele parecia tão fora de lugar entre todos aqueles homens sérios, cheios de segredos e intenções sombrias.Ele era diferente naquela noite. Ou, pelo menos, parecia ser.O Pietro Kuhn que me seduziu era charmoso, espirituoso e surpreendentemente persuasivo. Ele tinha aquela energia que fazia você querer ficar por perto, só para ver o que ele diria a seguir. Mas o Pietro que vi na manhã seguinte era outra pessoa.E é isso que ainda me irrita. Era tudo parte de um maldito jogo.Quando acordei ao lado dele, foi como se o feitiço tivesse se quebrado. Não era mais o homem que me fez rir enquanto dançávamos ao som de uma música que nenhum dos dois gostava. Não era mais o homem que se
PietroSe eu pudesse descrever minha lua de mel em uma palavra, seria: desastre.Talvez eu estivesse sendo dramático, mas, francamente, não parecia. Desde o momento em que o jatinho pousou, Irina estava empenhada em me tratar como se eu fosse invisível, irrelevante.No hotel, a primeira surpresa veio na recepção.— Dois quartos, por favor. — Eu a ouvi dizer a primeira frase desde o aeroporto e ela me pegou de surpresa para dizer o mínimo.— Dois? — perguntei, confuso.Irina se virou para mim, com aquele olhar que conseguia ser mais gelado do que uma nevasca.— Sim, dois. Ou você achou que nós dois íamos compartilhar um quarto?Eu abri a boca para responder, mas não consegui pensar em nada inteligente para dizer. Era óbvio que esperava dividir um quarto. Afinal, éramos recém-casados. Mas ela parecia estar vivendo em outra realidade, uma onde eu era apenas um incômodo que ela precisava suportar.— Eu... só achei que seria mais prático. Afinal estamos casados e...— Bom, você achou errad