Capítulo 03

Irina

Eu sabia que tinha cometido um erro naquela noite. Um erro enorme.

Não sou o tipo de pessoa que age sem pensar, mas, naquela maldita festa, algo em Pietro Kuhn me fez baixar a guarda. Talvez fosse o jeito que ele ria, como se o mundo inteiro fosse uma piada que só ele entendia. Ou talvez fosse o fato de que ele parecia tão fora de lugar entre todos aqueles homens sérios, cheios de segredos e intenções sombrias.

Ele era diferente naquela noite. Ou, pelo menos, parecia ser.

O Pietro Kuhn que me seduziu era charmoso, espirituoso e surpreendentemente persuasivo. Ele tinha aquela energia que fazia você querer ficar por perto, só para ver o que ele diria a seguir. Mas o Pietro que vi na manhã seguinte era outra pessoa.

E é isso que ainda me irrita. Era tudo parte de um maldito jogo.

Quando acordei ao lado dele, foi como se o feitiço tivesse se quebrado. Não era mais o homem que me fez rir enquanto dançávamos ao som de uma música que nenhum dos dois gostava. Não era mais o homem que segurou minha mão de um jeito quase protetor quando atravessamos a sala cheia de olhares curiosos.

Era só... Pietro Kuhn.

Um oportunista. Um maldito filho da puta que queria uma foda pra “se consolar” porque seu antigo brinquedinho estava prestes a se casar. Era um homem medíocre.

— Irina, eu posso explicar... — Ele começou a me procurar para dizer, quando percebeu que eu já sabia de tudo, principalmente da parte em que ele tentou fugir da responsabilidade.

Eu não deixei ele terminar. Não queria ouvir as desculpas. Não precisava.

— Não diga nada. Vai ser melhor.

Foi tudo que me dignei a dizer antes de deixá-lo falando sozinho e desde então, fiz questão de evitar ele o máximo possível — no noivado, nos ensaios, em todo maldito “encontro” das famílias.

***

Agora, semanas depois, estou sentada em um jatinho particular minutos depois de dizer sim para ele em um maldito altar, ali, bem ao lado do homem que, de alguma forma, conseguiu transformar minha vida em um inferno. Pietro está quieto, o que é raro, olhando pela janela com um sorriso que parece deslocado.

— Você sempre sorri quando está prestes a arruinar a vida de alguém? — perguntei, minha voz mais afiada do que eu pretendia.

Ele se virou para mim, claramente surpreso, mas ainda com aquele sorriso irritante.

— Eu não estou arruinando a sua vida, Irina. Se quiser, posso até melhorar ela.

Revirei os olhos, cruzando os braços.

— Por favor. Você nem consegue melhorar a sua própria vida, Pietro. Como espera melhorar a minha? Vai desaparecer, por acaso? Pular do avião?

Ele riu, como se eu tivesse contado uma piada.

— Tanto faz. Eu só estava tentando ser educado.

Essa era a questão com Pietro. Ele sempre parece estar jogando, como se a vida inteira fosse uma espécie de desafio que ele precisa superar. E eu? Eu era apenas mais uma peça no tabuleiro dele.

Eu não gosto de ser uma peça. Me recuso a ser parte de uma jogada.

Meu pai queria que eu me casasse com Pietro para selar uma aliança entre nossas famílias e para “consertar” a burrada que eu fiz ao ser exposta. Ao ser pega com ele na cama. Ele achava que era a melhor solução, a mais segura. E talvez estivesse certo. Mas, para mim, isso era um castigo.

Porque, no fundo, eu sabia que Pietro só aceitou esse casamento por interesse. Não porque me queria. Não porque se importava comigo ou sequer se sentia culpado, mas porque ele não tinha outra opção e agora, ele estava ferrado.

— Você está muito quieta — ele interrompeu meus pensamentos, inclinando-se levemente na minha direção.

— Estou ocupada tentando ignorar você.

Ele arfou ao me ouvir e fingiu um gesto de dor, colocando a mão no peito.

— Isso foi cruel, até mesmo para você.

— Cruel seria você tentar falar comigo de novo. Que tal manter o silêncio? Pode ser? Poupe meus ouvidos.

Ele riu de novo, mas

voltou a olhar para a janela, finalmente me dando o espaço que eu queria.

***

Durante o voo, me peguei pensando em como minha vida chegou a esse ponto. Não foi só o erro de uma noite. Não. Foi um erro construído ao longo de anos, com escolhas que, na época, pareciam certas, mas que agora só me lembravam do quanto fui ingênua.

Eu sabia que Pietro Kuhn era perigoso. Não de um jeito óbvio, como os homens que meu pai costumava lidar. Ele era perigoso porque fazia você acreditar nele. Ele tinha aquele carisma irritante que fazia as pessoas se sentirem à vontade e confiarem nele.

E eu? Eu caí. Mas isso não ia acontecer de novo.

— Eu sei o que você está pensando.

Levantei os olhos, surpresa ao ouvir a voz dele.

— Duvido.

— Você está pensando que eu sou um idiota. E talvez eu seja. Mas, pelo menos, sou um idiota honesto.

— Honesto? Essa é boa.

Ele se virou completamente para mim, apoiando o cotovelo no braço da poltrona.

— Eu nunca menti para você, Irina. Você sabia exatamente quem eu era. Só porque você queria acreditar em outra coisa, isso não é culpa minha.

— Ah, então agora a culpa é minha? Que conveniente.

— Eu não disse isso. Mas também não vou assumir a culpa inteira.

Ele sorriu de novo, aquele sorriso que deveria ser encantador, mas que só me irritava.

— Você é impossível.

— E você gosta disso.

Cruzei os braços, voltando a olhar pela janela. Não iria dar a ele a satisfação de uma resposta. Não irei dar nada a esse filho de uma puta. Quando o jatinho finalmente pousou, fui a primeira a sair, ansiosa para me afastar de Pietro por pelo menos alguns minutos. A ilha onde iremos passar a lua de mel era paradisíaca, com praias de areia branca e um mar azul-turquesa.

Mas, para mim, era só mais uma prisão.

— Gostou da vista? — Pietro perguntou, aparecendo do meu lado.

— A vista é linda. Pena que a companhia não combina.

Ele riu, mas não disse nada. Em vez disso, pegou minha mala e a carregou como se estivesse tentando impressionar.

— Acha por acaso que eu sou estúpida o suficiente para me impressionar porque você carregou a minha mala?

— No momento eu só acho que você é muito mal humorada. Mas nada que uma foda não resolva.

Eu parei, surpresa pela sinceridade na voz dele e a completa cara de pau desse desgraçado.

— Eu prefiro morrer a foder com você.

Ele se virou para mim, com aquele sorriso provocador.

— Ah, eu não diria isso depois do quanto você gemeu na nossa primeira noite.

— Vá a merda, Pietro Kuhn! — eu rosnei e passei por ele sem olhar para trás.

Eu não podia confiar nele. Não podia confiar em ninguém.

E, acima de tudo, eu não podia permitir que Pietro Kuhn se aproximasse de mim novamente.

Porque, se havia uma coisa que aprendi, era que ninguém usava meu coração como arma. Nunca mais.

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