Pietro
O dia do meu casamento realmente chegou.
Eu sabia que chegaria, claro. Mas saber e sentir são coisas bem diferentes. E agora, de pé diante do espelho, com o terno impecável e o cabelo arrumado, tudo o que eu conseguia pensar era: como diabos eu vim parar aqui?
A resposta? Má decisão após má decisão.
Não é como se eu tivesse acordado um dia e pensado: "Ah, sabe o que seria uma boa ideia? Me envolver com a Bratva, brigar com meu irmão, tentar arruinar o casamento de outra mulher, e, no meio disso tudo, acabar casando com a única filha e princesinha da casa Luzhin. Irina Luzhin."
Foi mais uma sequência de caos. E, como sempre, eu fui o epicentro.
— Tá pronto, noivo? — A voz de Thomas me tira dos pensamentos.
Eu sabia que ele estava ali, porque o nosso pai me mataria se viesse no lugar dele. Na real, nosso pai nem queria olhar na minha cara desde o ocorrido com Donna. Eu sabia que ele ficaria furioso, mas não esperava... que ele me desse um gelo como esse.
Mamãe estava conversando com ele. “LIDANDO” com a situação. Mas eu sabia que pra ele, eu tinha fodido com tudo quando decidi desonrar a filha do Henry e sequer fui capaz de honrar um compromisso com ela.
Eu entendia o meu erro agora, e queria dizer isso pra ele, mas era meio tarde. Então, encarei o meu irmão. Ele entrou no quarto sem esperar resposta, como sempre faz. Seu olhar era metade diversão, metade decepção, um combo que ele reservou só pra mim desde que eu me lembro.
— Pronto é um conceito relativo. Mas estou vestido, se é isso que você quer saber.
— Ótimo. Porque não importa se você tá pronto ou não. Hoje, você vai dizer sim, Pietro. E vai sorrir enquanto faz isso.
— Obrigado pela motivação, coach.
Ele dá um sorriso ácido, jogando uma gravata extra em cima da cama.
— Não é motivação. É um lembrete. Você causou isso. Agora, aguente as consequências.
Thomas nunca perde a chance de me lembrar do estrago que causei. E, honestamente, eu não podia culpá-lo. Nosso relacionamento já estava desgastado antes dessa bagunça começar, mas agora? Eu praticamente dei o golpe final, e por mais que ele estivesse se divertindo, eu sabia que tinha uma parte dele com medo do quão “obediente” eu vinha sendo sobre o casamento.
— Você acha que ela vai olhar na minha cara hoje? — perguntei, ajustando a gravata no espelho.
— Irina? Talvez. Mas se olhar, vai ser pra deixar claro que ela prefere arrancar os olhos do que ser sua esposa.
— Sempre tão otimista.
— Só estou sendo realista. Você não conquistou essa mulher antes do casamento, e não vai ser o "sim" de hoje que vai mudar isso. Mas, quem sabe? Você tem um certo charme patético. Talvez funcione.
Eu sabia que ele estava certo. Desde que fiquei noivo de Irina, tentei, de todas as formas, criar algum tipo de conexão com ela. Conversas casuais? Ela cortava com uma frase seca. Gestos amigáveis? Ignorados. Elogios? Ela me olhava como se eu fosse um inseto inconveniente.
Tudo que eu conseguia pensar agora era: como vou fazer isso funcionar quando estivermos morando juntos?
Porque, por mais que isso fosse um casamento forçado, eu não queria que fosse um desastre completo.
E, se eu fosse honesto comigo mesmo, eu não queria que ela me odiasse para sempre. Eu entendia o porquê ela podia me odiar, só não queria que continuasse assim. Era cansativo. Desnecessário.
***
Na igreja, tudo parecia surreal.
Os convidados estavam lá, muitos deles rostos familiares, e o restante, a elite do mundo da máfia. O ambiente era grandioso, cheio de flores brancas e velas, o tipo de casamento que parecia saído de um filme.
Eu estava de pé no altar, tentando parecer relaxado enquanto, por dentro, sentia como se estivesse preso em um pesadelo.
Foi então que eu a vi.
Ela entrou pela porta, de braço dado com o pai, e por um momento, o mundo parou.
Ela estava deslumbrante. O vestido branco realçava cada detalhe dela, dos ombros delicados ao olhar penetrante que parecia uma arma.
E o que era mais impressionante — e aterrorizante — era a expressão dela. Não havia nenhum sorriso, nenhum traço de emoção. Ela parecia tão calma quanto uma tempestade prestes a estourar.
Quando nossos olhos se encontraram, senti um frio na espinha. Não era nervosismo. Era a certeza de que nada disso seria fácil.
Ela chegou ao altar e Ivan Luzhin entregou sua mão para mim, como se estivesse me entregando uma bomba-relógio.
— Cuide bem dela. Ou não cuidarei bem de você — ele murmurou, baixo o suficiente para que só eu ouvisse.
Engoli em seco, acenando.
— Pode deixar.
***
O juramento foi… estranho.
Eu segui o roteiro, dizendo "sim" no momento certo e tentando soar convincente. Mas, o tempo todo, eu podia sentir o olhar de Irina queimando em mim.
Quando foi a vez dela, sua voz foi firme, quase desafiadora.
— Sim.
Simples, direto, mas sem nenhuma emoção.
Quando o padre anunciou que podíamos nos beijar, me virei para ela, hesitante. Irina olhou para mim como quem diz: "Você tenta e eu te mato."
Eu optei por um beijo rápido, formal, mal tocando seus lábios.
Depois disso, tudo foi um borrão. Cumprimentos, fotos, olhares de julgamento. Mas, o que ficou gravado em mim foi a expressão de Irina. Ela não estava feliz. Não estava furiosa. Ela estava... indiferente.
E essa indiferença era pior do que qualquer coisa.
Enquanto saíamos da igreja, ela ao meu lado, eu só conseguia pensar: como vou dobrá-la?
Não importa o que fosse preciso — charme, paciência, sedução —, eu ia dar um jeito.
Porque, no fundo, por mais que fosse difícil admitir, Irina Luzhin tinha algo que eu queria. Algo que, pela primeira vez, parecia mais importante do que salvar minha própria pele.
Eu só precisava descobrir como chegar lá.
IrinaEu sabia que tinha cometido um erro naquela noite. Um erro enorme.Não sou o tipo de pessoa que age sem pensar, mas, naquela maldita festa, algo em Pietro Kuhn me fez baixar a guarda. Talvez fosse o jeito que ele ria, como se o mundo inteiro fosse uma piada que só ele entendia. Ou talvez fosse o fato de que ele parecia tão fora de lugar entre todos aqueles homens sérios, cheios de segredos e intenções sombrias.Ele era diferente naquela noite. Ou, pelo menos, parecia ser.O Pietro Kuhn que me seduziu era charmoso, espirituoso e surpreendentemente persuasivo. Ele tinha aquela energia que fazia você querer ficar por perto, só para ver o que ele diria a seguir. Mas o Pietro que vi na manhã seguinte era outra pessoa.E é isso que ainda me irrita. Era tudo parte de um maldito jogo.Quando acordei ao lado dele, foi como se o feitiço tivesse se quebrado. Não era mais o homem que me fez rir enquanto dançávamos ao som de uma música que nenhum dos dois gostava. Não era mais o homem que se
PietroSe eu pudesse descrever minha lua de mel em uma palavra, seria: desastre.Talvez eu estivesse sendo dramático, mas, francamente, não parecia. Desde o momento em que o jatinho pousou, Irina estava empenhada em me tratar como se eu fosse invisível, irrelevante.No hotel, a primeira surpresa veio na recepção.— Dois quartos, por favor. — Eu a ouvi dizer a primeira frase desde o aeroporto e ela me pegou de surpresa para dizer o mínimo.— Dois? — perguntei, confuso.Irina se virou para mim, com aquele olhar que conseguia ser mais gelado do que uma nevasca.— Sim, dois. Ou você achou que nós dois íamos compartilhar um quarto?Eu abri a boca para responder, mas não consegui pensar em nada inteligente para dizer. Era óbvio que esperava dividir um quarto. Afinal, éramos recém-casados. Mas ela parecia estar vivendo em outra realidade, uma onde eu era apenas um incômodo que ela precisava suportar.— Eu... só achei que seria mais prático. Afinal estamos casados e...— Bom, você achou errad
PietroHá uma coisa sobre mim que nunca foi um segredo: eu sempre consegui o que eu queria.Desde criança, fosse pela insistência ou pelo charme — normalmente os dois —, as coisas acabavam dando certo para mim. Não importava se era o último pedaço de bolo, a atenção de alguém ou, mais recentemente, desde meus 18 anos, uma mulher, e Donna McNight era um desses exemplos.Mas Irina Luzhin era um caso à parte.Não que eu estivesse preocupado. Pelo menos, não de verdade. No fundo, eu acreditava que era só uma questão de tempo até ela perceber que, entre todas as opções que o mundo tinha para oferecer, estar casada comigo não era tão ruim assim.Afinal, eu era um homem e tanto. Mas naquela manhã, depois de Irina ter me evitado durante nosso primeiro dia no hotel e após mais uma noite silenciosa onde nossos quartos separados simbolizavam o abismo entre nós, um que ela não parecia nem mesmo um pouco interessada em desfazer, decidi que estava na hora de mudar minha estratégia.Se Irina queria
PrólogoPietroA véspera do meu casamento começou exatamente como você esperaria: com meu irmão mais velho, Thomas, me chamando de idiota e se divertindo com o rumo que as coisas vinham tomando desde que eu — palavras dele — “decidi foder com o nome da família e o destino resolveu me ensinar uma lição”.— Agora sim eu me sinto vivo. Você está completamente ferrado, irmãozinho. Tipo, de um jeito que nem um plano de fuga bem bolado resolve, e essa é a melhor parte. Você não vai mais conseguir fugir da responsabilidade.Ele estava jogado na poltrona do meu quarto, com uma taça de vinho na mão e um sorriso malicioso no rosto. Eu, por outro lado, estava no sofá, encarando meu reflexo em um copo de uísque pela metade.— Eu não tô ferrado — retruquei, tentando soar confiante.— Ah, não? Você dormiu com a filha do chefe da Bratva, e agora vai se casar com ela. Donna não quer nem olhar na sua cara, mesmo depois daquelas desculpas mequetrefes que você tentou dar a ela, e, sinceramente? Bella nã