Pietro
A véspera do meu casamento começou exatamente como você esperaria: com meu irmão mais velho, Thomas, me chamando de idiota e se divertindo com o rumo que as coisas vinham tomando desde que eu — palavras dele — “decidi foder com o nome da família e o destino resolveu me ensinar uma lição”.
— Agora sim eu me sinto vivo. Você está completamente ferrado, irmãozinho. Tipo, de um jeito que nem um plano de fuga bem bolado resolve, e essa é a melhor parte. Você não vai mais conseguir fugir da responsabilidade.
Ele estava jogado na poltrona do meu quarto, com uma taça de vinho na mão e um sorriso malicioso no rosto. Eu, por outro lado, estava no sofá, encarando meu reflexo em um copo de uísque pela metade.
— Eu não tô ferrado — retruquei, tentando soar confiante.
— Ah, não? Você dormiu com a filha do chefe da Bratva, e agora vai se casar com ela. Donna não quer nem olhar na sua cara, mesmo depois daquelas desculpas mequetrefes que você tentou dar a ela, e, sinceramente? Bella não viria ao seu casamento se não fosse a senhora da família Kuhn.
— Thomas, se você veio aqui só pra fazer piada e me lembrar dos meus erros, pode ir embora.
Ele gargalhou, aquele riso alto e exagerado que me irritava desde que éramos crianças, a risada de quem “sabia” que estava certo sobre tudo e que era por isso que eu estava tão irritado.
— Pietro, eu tô aqui porque quero ver como você vai sair dessa. Você sempre teve uma sorte absurda, mas acho que até ela vai te abandonar dessa vez. Não dá pra continuar contando com o nome da família e usando charme barato pra se safar de tudo e todos.
Eu revirei os olhos e tomei outro gole do uísque. Ele tinha razão em uma coisa: minha sorte parecia ter tirado férias. Não era como se eu tivesse planejado isso. Na verdade, "planejamento" não era uma palavra que eu usava muito na vida.
— Você nem gostava da Donna, pra começo de conversa, não é? Agora consegue ver como tudo foi em vão? — Thomas perguntou, inclinado para frente como se estivesse prestes a descobrir um segredo.
— Isso não importa — respondi rápido demais. — Estou cansado de pensar no passado. Donna está casada e feliz. Nossa história já acabou, acho que eu deveria estar mais preocupado com a mulher com quem vou me casar amanhã.
Thomas bufou.
— Você pelo menos sabe o nome dela?
— Irina — murmurei. — Posso não sentir nada por ela, mas não vou morrer por causa de um casamento arranjado.
Thomas levantou uma sobrancelha, claramente se divertindo.
— Você vai descobrir que casamento pode ser pior do que morte, dependendo da esposa.
Joguei uma almofada nele, mas ele só riu mais alto, como se nada do que eu falasse ou fizesse mudasse o quão bem ele estava com o fato de que eu estava “ferrado”.
***
Mais tarde, enquanto eu tentava me esconder no jardim da mansão principal, onde praticamente todos estavam hospedados, já que o casamento seria no jardim central, a situação ficou ainda mais surreal. Irina passou por mim sem nem me olhar. Nada. Nenhum aceno de cabeça, nenhum "oi". Era como se eu fosse invisível para aquela mulher.
Ela estava ao telefone, falando algo em russo que eu não conseguia entender, mas, pelo tom, não era nada que envolvesse unicórnios ou arco-íris.
— Você deveria falar com ela. — Thomas apareceu do nada, porque é claro que ele não sabia respeitar o espaço pessoal de ninguém e considerando que eu o havia largado sozinho no meu quarto, ele só devia ter me seguido como um bom intrometido que era.
— Ela tá ocupada.
— Ela tá ignorando você. Tem diferença.
Eu bufei, mas fiquei onde estava. O que eu ia dizer? "Oi, desculpa por destruir sua vida social e te forçar a casar comigo. Quer dividir uma pizza?"
— Você é inacreditável — Thomas disse, balançando a cabeça. — Tá com medo de falar com a mulher com quem vai casar amanhã?
— Eu não tô com medo. Só… tô esperando o momento certo.
— Pietro, você já mentiu melhor que isso — ele zombou e sem me dar chances para retrucar, simplesmente bateu em meu ombro e foi embora, rindo da minha cara.
***
Quando chegou a hora de dormir, eu estava tão tenso que mal consegui pregar os olhos. Minha mente estava girando em círculos.
O que eu sabia sobre Irina Luzhin? Além do fato de que ela era linda e tinha um talento especial para me fazer sentir como um idiota, não muito.
Talvez fosse melhor assim. Talvez não saber nada facilitasse as coisas. Afinal, casamento é só um contrato, certo? Uma formalidade.
Eu tentei me convencer disso enquanto o sono finalmente me venceu. Mas na manhã seguinte, acordei com Thomas batendo na porta como se toda a mansão estivesse pegando fogo.
— Levanta, noivo do ano! É hoje o grande dia!
Enterrei o rosto no travesseiro, soltando um gemido.
— Thomas, vai embora.
— Nem pensar. Eu fiz questão de estar aqui só para ver isso. Não vou perder um segundo. Agora levanta antes que a noiva mude de ideia, afinal... nós dois sabemos que ela deve estar louca para fugir de um casamento com você.
Ele parecia tão feliz dizendo isso, que eu me questionei sobre o quanto o meu irmão me odiava. Eu sabia que não era exatamente o príncipe encantado dos sonhos de Irina Luzhin, mas se ela tinha aceitado dormir comigo naquela noite, naquele momento do bar, então tinha algo de bom em mim que a atraía.
Era quase cruel continuar me tratando como algo indesejado que seria recusado por ela. Francamente. Eu era um dos homens mais desejado da Itália e se unisse os interessados em se juntar a família Kuhn, de grande parte da Alemanha, também.
Irina era uma mulher de sorte e isso era um fato, mas considerando tudo que eu tinha feito ultimamente, eu sabia que não tinha direito de reclamar ou ter esse tipo de discussão com Thomas, então franzi os lábios a contragosto e suspirei, seguindo o que ele me disse e me levantando da cama de uma vez.
Eu não tinha escolha. Levantei, passei a mão pelos cabelos e encarei meu reflexo no espelho.
Era isso.
Hoje eu ia casar.
E, com sorte, ainda estaria vivo no final do dia.
PietroO dia do meu casamento realmente chegou.Eu sabia que chegaria, claro. Mas saber e sentir são coisas bem diferentes. E agora, de pé diante do espelho, com o terno impecável e o cabelo arrumado, tudo o que eu conseguia pensar era: como diabos eu vim parar aqui?A resposta? Má decisão após má decisão.Não é como se eu tivesse acordado um dia e pensado: "Ah, sabe o que seria uma boa ideia? Me envolver com a Bratva, brigar com meu irmão, tentar arruinar o casamento de outra mulher, e, no meio disso tudo, acabar casando com a única filha e princesinha da casa Luzhin. Irina Luzhin."Foi mais uma sequência de caos. E, como sempre, eu fui o epicentro.— Tá pronto, noivo? — A voz de Thomas me tira dos pensamentos.Eu sabia que ele estava ali, porque o nosso pai me mataria se viesse no lugar dele. Na real, nosso pai nem queria olhar na minha cara desde o ocorrido com Donna. Eu sabia que ele ficaria furioso, mas não esperava... que ele me desse um gelo como esse.Mamãe estava conversando
IrinaEu sabia que tinha cometido um erro naquela noite. Um erro enorme.Não sou o tipo de pessoa que age sem pensar, mas, naquela maldita festa, algo em Pietro Kuhn me fez baixar a guarda. Talvez fosse o jeito que ele ria, como se o mundo inteiro fosse uma piada que só ele entendia. Ou talvez fosse o fato de que ele parecia tão fora de lugar entre todos aqueles homens sérios, cheios de segredos e intenções sombrias.Ele era diferente naquela noite. Ou, pelo menos, parecia ser.O Pietro Kuhn que me seduziu era charmoso, espirituoso e surpreendentemente persuasivo. Ele tinha aquela energia que fazia você querer ficar por perto, só para ver o que ele diria a seguir. Mas o Pietro que vi na manhã seguinte era outra pessoa.E é isso que ainda me irrita. Era tudo parte de um maldito jogo.Quando acordei ao lado dele, foi como se o feitiço tivesse se quebrado. Não era mais o homem que me fez rir enquanto dançávamos ao som de uma música que nenhum dos dois gostava. Não era mais o homem que se
PietroSe eu pudesse descrever minha lua de mel em uma palavra, seria: desastre.Talvez eu estivesse sendo dramático, mas, francamente, não parecia. Desde o momento em que o jatinho pousou, Irina estava empenhada em me tratar como se eu fosse invisível, irrelevante.No hotel, a primeira surpresa veio na recepção.— Dois quartos, por favor. — Eu a ouvi dizer a primeira frase desde o aeroporto e ela me pegou de surpresa para dizer o mínimo.— Dois? — perguntei, confuso.Irina se virou para mim, com aquele olhar que conseguia ser mais gelado do que uma nevasca.— Sim, dois. Ou você achou que nós dois íamos compartilhar um quarto?Eu abri a boca para responder, mas não consegui pensar em nada inteligente para dizer. Era óbvio que esperava dividir um quarto. Afinal, éramos recém-casados. Mas ela parecia estar vivendo em outra realidade, uma onde eu era apenas um incômodo que ela precisava suportar.— Eu... só achei que seria mais prático. Afinal estamos casados e...— Bom, você achou errad
PietroHá uma coisa sobre mim que nunca foi um segredo: eu sempre consegui o que eu queria.Desde criança, fosse pela insistência ou pelo charme — normalmente os dois —, as coisas acabavam dando certo para mim. Não importava se era o último pedaço de bolo, a atenção de alguém ou, mais recentemente, desde meus 18 anos, uma mulher, e Donna McNight era um desses exemplos.Mas Irina Luzhin era um caso à parte.Não que eu estivesse preocupado. Pelo menos, não de verdade. No fundo, eu acreditava que era só uma questão de tempo até ela perceber que, entre todas as opções que o mundo tinha para oferecer, estar casada comigo não era tão ruim assim.Afinal, eu era um homem e tanto. Mas naquela manhã, depois de Irina ter me evitado durante nosso primeiro dia no hotel e após mais uma noite silenciosa onde nossos quartos separados simbolizavam o abismo entre nós, um que ela não parecia nem mesmo um pouco interessada em desfazer, decidi que estava na hora de mudar minha estratégia.Se Irina queria