Pietro
Se eu pudesse descrever minha lua de mel em uma palavra, seria: desastre.
Talvez eu estivesse sendo dramático, mas, francamente, não parecia. Desde o momento em que o jatinho pousou, Irina estava empenhada em me tratar como se eu fosse invisível, irrelevante.
No hotel, a primeira surpresa veio na recepção.
— Dois quartos, por favor. — Eu a ouvi dizer a primeira frase desde o aeroporto e ela me pegou de surpresa para dizer o mínimo.
— Dois? — perguntei, confuso.
Irina se virou para mim, com aquele olhar que conseguia ser mais gelado do que uma nevasca.
— Sim, dois. Ou você achou que nós dois íamos compartilhar um quarto?
Eu abri a boca para responder, mas não consegui pensar em nada inteligente para dizer. Era óbvio que esperava dividir um quarto. Afinal, éramos recém-casados. Mas ela parecia estar vivendo em outra realidade, uma onde eu era apenas um incômodo que ela precisava suportar.
— Eu... só achei que seria mais prático. Afinal estamos casados e...
— Bom, você achou errado.
E foi isso. Sem discussão, sem possibilidade de negociação. Ela pegou a chave do quarto dela, virou nos calcanhares e foi embora.
Fiquei ali parado por um momento, processando o que tinha acabado de acontecer.
"Dois quartos", pensei, incrédulo. Essa mulher estava realmente decidida a me manter o mais distante possível, mesmo depois de ter me dito sim em frente ao altar.
***
Depois de deixar minhas malas no quarto, que, por sinal, era grande o suficiente para um time de futebol, mas incrivelmente vazio sem ela, decidi que precisava de ajuda.
Ou de conselhos. Ou, pelo menos, de alguém que pudesse me dizer que não era o fim do mundo.
Então, claro, liguei para Thomas. Ele tinha experiência em um relacionamento que começou sem amor e eu sabia que embora ele e Bella tivessem fingido muito bem, no começo nem tudo tinha sido flores.
Ele atendeu no terceiro toque, com a voz carregada daquele humor ácido que eu já esperava.
— Pietro, meu querido irmão recém-casado.
— Thomas... por que você parece tão feliz em me atender?
— Porque a essas horas você não deveria estar me ligando, maninho... então, o que houve? Sua lua de mel não tá sendo tudo o que você esperava? — ele zombou, claramente sabendo que algo tinha dado bem errado.
— Se você quer saber, não.
Thomas riu, e eu já me arrependi de ter ligado.
— Deixa eu adivinhar. Ela te ignorou no voo e agora está fingindo que você não existe no hotel. Acertei?
— Quase. Ela fez questão de reservar dois quartos.
Houve uma pausa, seguida por uma gargalhada tão alta que precisei afastar o telefone do ouvido.
— Dois quartos? Isso é incrível! Francamente, Pietro, o que você esperava? Que ela caísse aos seus pés? Que implorasse pra foder com você?
— Eu não esperava que ela fosse tão... tão...
— Inteligente?
— Implacável!
— Ah, então você finalmente percebeu. Sabe, irmão, a Irina é mais esperta do que você. Sempre foi. O fato de você não ter percebido isso antes só prova o quanto você subestimou a mulher com quem se casou e o quão ferrado você está.
— Eu não subestimei ninguém! Eu só...
— Você só foi você. Egoísta, impulsivo e um pouco burro.
— Obrigado, Thomas. Sempre muito gentil.
— De nada. Mas, falando sério, o que você quer que eu diga? Que ela vai mudar de ideia e se apaixonar por você da noite pro dia? Não vai. Você não fez nenhum favor a essa garota, Pietro. Muito pelo contrário. Então, talvez seja hora de parar de esperar que ela te dê algo de graça e começar a merecer o respeito dela.
As palavras dele me atingiram como um soco no estômago.
— Então é isso? Só preciso aceitar que ela me odeia e seguir em frente?
— Basicamente, sim. Mas, se você quer uma dica de verdade, pare de agir como se fosse o centro do universo. Ela não vai te admirar porque você diz que merece. Se quer conquistar a Irina, é melhor levantar sua bundinha branca e começar a pensar em outra pessoa que não seja você mesmo. A menos que, claro, queira continuar sendo ignorado e tratado como irrelevante pela mulher com quem vai viver pelo resto da sua vida.
Eu fiquei em silêncio por um momento, processando o que ele disse.
— E se eu não conseguir?
— Bom, nesse caso, você vai passar o resto da vida casado com uma mulher que te ignora. Mas, honestamente, não seria tão diferente de como você lidava com os relacionamentos antes, né?
Ele disse com aquela mania chata de jogar verdades na minha cara.
— Você é insuportável, sabia?
— Eu sei. Boa sorte, irmão. Você vai precisar.
E ele desligou.
***
Deitei na cama, encarando o teto e sentindo uma mistura de frustração e resignação.
Thomas estava certo, por mais que eu odiasse admitir. Eu não podia esperar que Irina simplesmente mudasse de ideia sobre mim. Eu tinha estragado as coisas de várias maneiras e, agora, estava preso nesse casamento por mais razões do que gostaria de lembrar.
Mas, enquanto pensava sobre tudo, uma coisa ficou clara: eu não ia desistir.
Não era apenas uma questão de manter as aparências ou cumprir meu papel na aliança entre nossas famílias. Era algo mais profundo, algo que eu não queria admitir nem para mim mesmo.
Eu queria conquistar Irina.
Não só porque era um desafio — e, sim, ela era o maior desafio que já enfrentei —, mas porque, no fundo, havia algo nela que me fazia querer dobrar o seu gênio forte.
Claro, isso era mais fácil na teoria. Na prática, eu estava em um quarto enorme, sozinho, enquanto minha esposa estava no outro lado do hotel, provavelmente planejando formas de continuar me ignorando pelo resto das nossas vidas.
Respirei fundo, fechando os olhos e decidindo que amanhã seria um novo dia.
Eu não sabia exatamente como, mas iria fazer Irina enxergar que eu era mais do que ela pensava.
Mesmo que fosse preciso cada grama de charme, paciência e esforço que eu tivesse.
Afinal, eu era um Kuhn e os Kuhn nunca fugiam de um desafio, e eu não ia começar agora.
PietroHá uma coisa sobre mim que nunca foi um segredo: eu sempre consegui o que eu queria.Desde criança, fosse pela insistência ou pelo charme — normalmente os dois —, as coisas acabavam dando certo para mim. Não importava se era o último pedaço de bolo, a atenção de alguém ou, mais recentemente, desde meus 18 anos, uma mulher, e Donna McNight era um desses exemplos.Mas Irina Luzhin era um caso à parte.Não que eu estivesse preocupado. Pelo menos, não de verdade. No fundo, eu acreditava que era só uma questão de tempo até ela perceber que, entre todas as opções que o mundo tinha para oferecer, estar casada comigo não era tão ruim assim.Afinal, eu era um homem e tanto. Mas naquela manhã, depois de Irina ter me evitado durante nosso primeiro dia no hotel e após mais uma noite silenciosa onde nossos quartos separados simbolizavam o abismo entre nós, um que ela não parecia nem mesmo um pouco interessada em desfazer, decidi que estava na hora de mudar minha estratégia.Se Irina queria
PrólogoPietroA véspera do meu casamento começou exatamente como você esperaria: com meu irmão mais velho, Thomas, me chamando de idiota e se divertindo com o rumo que as coisas vinham tomando desde que eu — palavras dele — “decidi foder com o nome da família e o destino resolveu me ensinar uma lição”.— Agora sim eu me sinto vivo. Você está completamente ferrado, irmãozinho. Tipo, de um jeito que nem um plano de fuga bem bolado resolve, e essa é a melhor parte. Você não vai mais conseguir fugir da responsabilidade.Ele estava jogado na poltrona do meu quarto, com uma taça de vinho na mão e um sorriso malicioso no rosto. Eu, por outro lado, estava no sofá, encarando meu reflexo em um copo de uísque pela metade.— Eu não tô ferrado — retruquei, tentando soar confiante.— Ah, não? Você dormiu com a filha do chefe da Bratva, e agora vai se casar com ela. Donna não quer nem olhar na sua cara, mesmo depois daquelas desculpas mequetrefes que você tentou dar a ela, e, sinceramente? Bella nã
PietroO dia do meu casamento realmente chegou.Eu sabia que chegaria, claro. Mas saber e sentir são coisas bem diferentes. E agora, de pé diante do espelho, com o terno impecável e o cabelo arrumado, tudo o que eu conseguia pensar era: como diabos eu vim parar aqui?A resposta? Má decisão após má decisão.Não é como se eu tivesse acordado um dia e pensado: "Ah, sabe o que seria uma boa ideia? Me envolver com a Bratva, brigar com meu irmão, tentar arruinar o casamento de outra mulher, e, no meio disso tudo, acabar casando com a única filha e princesinha da casa Luzhin. Irina Luzhin."Foi mais uma sequência de caos. E, como sempre, eu fui o epicentro.— Tá pronto, noivo? — A voz de Thomas me tira dos pensamentos.Eu sabia que ele estava ali, porque o nosso pai me mataria se viesse no lugar dele. Na real, nosso pai nem queria olhar na minha cara desde o ocorrido com Donna. Eu sabia que ele ficaria furioso, mas não esperava... que ele me desse um gelo como esse.Mamãe estava conversando
IrinaEu sabia que tinha cometido um erro naquela noite. Um erro enorme.Não sou o tipo de pessoa que age sem pensar, mas, naquela maldita festa, algo em Pietro Kuhn me fez baixar a guarda. Talvez fosse o jeito que ele ria, como se o mundo inteiro fosse uma piada que só ele entendia. Ou talvez fosse o fato de que ele parecia tão fora de lugar entre todos aqueles homens sérios, cheios de segredos e intenções sombrias.Ele era diferente naquela noite. Ou, pelo menos, parecia ser.O Pietro Kuhn que me seduziu era charmoso, espirituoso e surpreendentemente persuasivo. Ele tinha aquela energia que fazia você querer ficar por perto, só para ver o que ele diria a seguir. Mas o Pietro que vi na manhã seguinte era outra pessoa.E é isso que ainda me irrita. Era tudo parte de um maldito jogo.Quando acordei ao lado dele, foi como se o feitiço tivesse se quebrado. Não era mais o homem que me fez rir enquanto dançávamos ao som de uma música que nenhum dos dois gostava. Não era mais o homem que se