NuriaO sono ainda me envolvia como um manto quente quando meu cobertor foi brutalmente arrancado de cima de mim.O frio da manhã atingiu minha pele, me fazendo estremecer.Eu me encolhi, tentando puxar as cobertas de volta, mas elas haviam desaparecido.E então percebi.Que tinha alguém no meu quarto.Ou melhor… Stefanos.Abri os olhos de repente, piscando contra a penumbra do quarto. A primeira coisa que vi foram as pernas longas e firmes de um lobo parado ao lado da minha cama.A segunda foi o brilho prateado de seus olhos me observando com frieza.Minha respiração parou por um instante.Ele segurava minha coberta casualmente em uma das mãos, como se tivesse todo o direito de simplesmente arrancá-la de mim. Como se minha privacidade não existisse.Mas o que realmente me instigou não foi isso.Foi o jeito que ele me olhava.Seu olhar desceu pelo meu corpo devagar. Avaliando. Medindo.E, por um instante, antes que ele pudesse esconder…Eu vi.Desejo.Ele desviou os olhos rápido, seu
StefanosO cheiro de suor, poeira e fúria impregnava o campo de treinamento.Os lobos haviam se dispersado, deixando apenas rastros da luta nos sulcos profundos do solo. O eco dos golpes ainda parecia vibrar no ar, como um lembrete mudo da violência que havia acontecido ali.Mas eu ainda não estava satisfeito.Minhas mãos se fechavam em punhos enquanto caminhava para longe, tentando expulsar a inquietação que queimava sob minha pele. Meu lobo estava furioso, rosnando dentro de mim como um animal enjaulado.Era irracional.Era inaceitável.E, acima de tudo, erapor causa dela.
NuriaO motor do carro rugia contra a estrada de terra, enquanto o vento cortava o silêncio pesado dentro do veículo.Meus músculos ainda protestavam após o treino. Cada parte do meu corpo latejava, me lembrando da humilhação que passei hoje. Mas o desconforto físico era o menor dos meus problemas.Rylan dirigia com uma calma irritante, uma mão no volante, a outra descansando casualmente no câmbio. Seu olhar, no entanto, não era tão relaxado. Ele me observava pelo canto dos olhos, avaliando cada pequeno detalhe da minha expressão."Então, o treino foi intenso, hein?" Sua voz era leve demais para o cansaço que ainda pesava sobre mim.
NuriaEu o observei.Stefanos.O lobo que caminhava pelo salão como se carregasse o peso de todos os segredos do mundo nos ombros largos e tensos. O Alfa que, poucas horas atrás, tinha me arrancado do chão com promessas veladas e olhos em brasa.E agora…Ele me ignorava.Depois de anunciar que eu tocaria na recepção, seguiu falando com a governanta, repassando ordens, apontando detalhes como se eu não estivesse ali. Como se nada tivesse acontecido. Como se eu não passasse de mais uma criada curvada sobre o chão sujo.
StefanosO cheiro de sangue cortou o ar como uma lâmina.Mas não era sangue comum.Era doce. Metálico. Denso.E azul.Por um instante, o tempo parou.Meus olhos desceram lentamente até o chão do salão, onde gotas se acumulavam como pequenas maldições líquidas. Azul escuro, quase brilhante. O tipo de coisa que não deveria existir.“Ela é uma aberração, meu Alfa,” a voz de Diana soou como veneno destilado. “Solon sabia. Só nunca entendi por que ele a manteve viva.”Ela sorria. Orgulhosa. Triunfante. Como se tivesse acabado de entregar uma arma carregada em minhas mãos.Meus olhos voaram para Nuria.Ela estava imóvel.Como se congelada.A mão pressionando o corte. O sangue escorrendo entre os dedos. Os olhos arregalados. A respiração presa.Diana continuou, impiedosa:“Agora tudo faz sentido,” Diana insistiu, impiedosa. “Essa... coisa, se disfarçando de loba. Solon não sabia o que fazer com ela. Mas você... ah, você vai saber.”Nuria deu um passo para trás, puxando o braço com força, dese
NuriaO som das trancas ecoou como um trovão nos meus ouvidos.Três. Quatro voltas da chave. Um estalo seco. Um fim.E então, o silêncio.O corredor escuro da prisão particular de Stefanos se fechou atrás dos guardas, e tudo o que restou foi o eco de seus passos se afastando… e a respiração descompassada presa na minha garganta.O cheiro de pedra fria, ferrugem e musgo impregnava o ar da cela como um fantasma antigo. E com ele, vieram as memórias.Memórias que eu lutei tanto para enterrar.A umidade da parede atrás de mim. A sensação da corrente imaginária no tornozelo. O som abafado da dor. O medo.As celas de Solon não eram muito diferentes. Talvez mais sujas. Talvez mais escuras.Mas a pior semelhança entre elas… era o que me faziam sentir.Sozinha.Fraca.Objeto.Meu corpo ainda latejava da pressão das mãos de Stefanos em meu pescoço, e eu sentia a marca da dor não apenas na pele — mas no peito. Onde ele havia tocado o que restava da minha confiança.Ele me olhou como os outros já
StefanosA lareira do escritório crepitava baixinho, mas o calor não chegava até mim. A madeira queimava lenta, e mesmo assim... tudo em mim era pedra.Papel após papel. Pergaminhos gastos. Registros antigos demais para estarem em bom estado, mas que tinham sido cuidadosamente preservados, como se alguém já soubesse que um dia, essas palavras voltariam a importar.A lenda dos Sangue Azul. Os Millenares da Deusa.O termo era sempre sussurrado — nunca afirmado. Sempre escrito em entrelinhas, como se a mera grafia pudesse atrair algo que os autores temiam mais do que respeitavam.“Entre as linhagens esquecidas, nasceram os que não se submetem. Aqueles que herdaram o sangue da primeira loba, ferida por deuses, marcada por relâmpagos. Eles não são nossos. E nunca serão.”Minhas mãos estavam cerradas sobre a madeira da mesa. Cada músculo do meu antebraço estava tensionado. Eu sentia meus dentes pressionando com força, como se tentar segurar o lobo dentro de mim fosse uma batalha física.Mas
StefanosO corredor da ala principal estava silencioso demais. Cada passo meu reverberava entre os vitrais e as colunas como uma acusação sussurrada. As paredes pareciam mais estreitas, mais opressoras, como se ouvissem tudo o que eu não dizia.Mas o que realmente pesava sobre mim…Eram os gritos.O som da voz de Nuria ainda ecoava nos meus ouvidos como uma lâmina enferrujada. O desespero cru. O medo rasgado na garganta. A forma como ela se encolheu no canto da cela, como se esperasse ser despedaçada a qualquer instante.Aquilo não era encenação.Não era fraqueza.Era memória viva.E meu lobo… rosnava.Ele havia ficado inquieto desde que a deixei no quarto. Mas não por preocupação racional. Era algo mais instintivo. Primitivo.Ela se acalmou assim que respirei perto dela.Não foi a cela, nem o calor. Foi meu cheiro. Foi minha presença. Como se, de algum jeito, o lobo dentro dela soubesse que eu era um abrigo.E isso...Isso me corroía.“Ela não é uma de nós.”Minha mente insistia ness