Stefanos
O carro já estava estacionado em frente à mansão, o motor ligado, e o motorista com os olhos fixos no retrovisor, aguardando a ordem final.
Johan desceu os últimos degraus da entrada como se estivesse indo para um passeio qualquer. A mochila jogada nas costas, a expressão entediada, aquela mesma que ele usava desde pequeno quando queria fingir que não se importava.
Mas agora, ele não estava enganando ninguém.
Muito menos a mim.
Abri a porta do carro devagar e parei ao lado dela, bloqueando a passagem.
"Tem certeza que n&a
StefanosSubi as escadas devagar, com a cabeça cheia e o coração mais pesado do que gostaria de admitir.Quando parei em frente à porta do quarto, ouvi o silêncio. Um silêncio que pesava mais do que qualquer rugido de guerra.Bati levemente."Entra," ouvi a voz baixa de Jenna.Empurrei a porta e encontrei Nuria sentada na cama, com o colar preso entre os dedos.Ela não me viu de imediato. Estava perdida, olhando para o objeto como se ele pudesse responder todas as perguntas que a atormentavam.
StefanosAinda sentia Nuria contra o meu peito, o cheiro dela tentando me ancorar à realidade, quando bateram na porta.Uma batida curta. Rápida. Urgente.Meu corpo entrou em alerta automático."É isso que eu quero dizer com sempre tem algo a mais..." Nuria suspirou me encarando."Te prometi o céu, não disse que já estávamos lá." ela sorriu de lado e beijei seus lábios com carinho.A afastei devagar, sentindo o calor dela me escapar, e caminhei até a porta.R
StefanosO silêncio depois da destruição era ensurdecedor.Fiquei parado no meio do hall, olhando ao redor.Madeira quebrada. Vidros estilhaçados. Móveis partidos ao meio.O reflexo exato do que eu sentia por dentro.Minhas mãos ainda tremiam, mas agora era diferente.Não era raiva.Era algo pior.Era o vazio.Por um instante, senti o peso dos olhos de Nuria e Rylan sobre mim.Mas não me movi.
NuriaA luz dourada da lareira dançava pelo pequeno salão enquanto o som do riso preenchia o ambiente. Meu pai serviu mais uma rodada de vinho, minha mãe cortava pedaços extras de torta para Elias, e Gael ainda insistia em me provocar."Você vai mesmo fazer isso?" Ele perguntou, encostado na mesa, os braços cruzados."Claro que vai," meu pai respondeu antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. "Minha filha, primeira violinista da Orquestra Nacional!"O orgulho em sua voz fez meu peito vibrar. Ser escolhida para a Orquestra Nacional era um sonho que eu nem ousava imaginar, e agora estava diante de mim. Mas havia um preço."Se eu aceitar, terei que viver entre os humanos."O silêncio caiu por um instante.A Alcateia Lunar sempre fora meu lar. Uma comunidade fechada, isolada dos humanos, escondida entre as montanhas. Enquanto outras alcateias tentavam se misturar ao mundo moderno, a nossa se mantinha fiel às tradições antigas. Saindo dali, eu me tornaria mais uma loba aventureira."Você
NuriaSeis meses.Seis meses de agonia. De dor. De espera.Seis meses de um pesadelo sem fim, onde cada dia era um lembrete de que minha existência não me pertencia mais.O Alfa da Alcateia Invernal não era um homem. Era uma sentença.Desde a noite em que Solon marcou minha pele com seus dentes, eu me tornei sua propriedade. Seu experimento. Seu fracasso.Ele me trancou em um quarto, me forçou a beber seus chás, a suportar seus toques, a ouvir suas promessas doentias. Me reduziu a nada além de um ventre vazio, uma peça defeituosa no seu plano de grandeza.E agora, meu tempo acabou.A sentença seria cumprida.Meus olhos estavam fechados, mas eu já sentia tudo ao meu redor.O cheiro da terra úmida. O vento cortante da noite. As correntes frias ao redor dos meus pulsos e tornozelos. A respiração irregular das outras mulheres condenadas.O altar estava pronto.Eu seria sacrificada à Deusa.Um grito cortou o silêncio.Dessa vez, eu abri os olhos.A dor veio de imediato. O ferro cravado em
StefanosO cheiro de sangue ainda impregnava o ar. Denso. Ferroso. Familiar.Eu estava acostumado a ele.A guerra moldou quem eu sou. Desde jovem, fui treinado para isso, para caçar, para matar, para nunca hesitar. Enquanto outros alfas se preocupavam com política e alianças frágeis, eu me fortalecia no campo de batalha.Minha alcateia prosperava porque eu a construí com ferro e sangue.E foi isso que chamou a atenção do Alfa Supremo.Aos vinte anos, recebi minha primeira ordem direta. Aos vinte e cinco, me tornei seu lobo de confiança. Hoje, aos trinta e oito, sou mais do que apenas um Alfa.Sou seu executor. Seu cão de briga. O predador que ele solta quando quer que alguém desapareça.E, até agora, nunca falhei.A Alcateia Invernal já estava condenada antes mesmo de eu pisar naquele solo. Solon cavou a própria ruína, preso em sua obsessão cega, agarrando-se a rituais ultrapassados e crenças insanas.Se as investigações estivessem corretas, ele fazia parte de um clã não reconhecido p
NuriaO salão estava em silêncio, mas não era um silêncio vazio. Era sufocante, carregado, um campo de batalha onde as palavras eram lâminas afiadas, e eu sabia que a primeira a vacilar seria a primeira a sangrar.Stefanos pegou a garrafa no aparador, encheu o copo e virou o líquido em um único gole antes de se servir de mais uma dose. O whisky queimava sua garganta, mas não tanto quanto sua paciência ao lidar comigo.Então, me olhou.Havia algo calculado naquele olhar. Ele me estudava não como uma mulher, mas como um enigma que ele queria desmontar peça por peça.Apoiou-se na mesa, os dedos longos girando o copo lentamente. O whisky refletia a luz branda do salão, mas seus olhos... prateados como lâminas, prontos para cortar no momento certo."Vai me dizer seu nome ou quer que eu arranque de você aos poucos?"Segurei seu olhar sem hesitar.Não responder era minha única arma agora.Mas ele não era do tipo que desistia facilmente.O canto de sua boca puxou um sorriso de leve. "Acha que
StefanosSaí do salão sem olhar para trás. A porta se fechou com um baque seco, selando minha decisão."Leve-a para os aposentos das criadas," ordenei ao guarda mais próximo. "Diga que troque essa roupa imunda e se apresente a mim vestida como uma serva."O soldado assentiu, mas hesitou."Ela… vai resistir, Alfa."Soltei um suspiro curto, passando a língua pelos dentes. Óbvio que resistiria. Ela ainda não entendia que resistência era inútil."Então ensine a ela," respondi, cortante. "Mas sem marcas visíveis. Ainda preciso do que ela sabe."O guarda acenou e entrou na sala.Eu segui pelo lado oposto.Meus passos ecoavam pelo piso de mármore, mas minha mente estava em outro lugar.Nas marcas dela.As cicatrizes nos pulsos e tornozelos falavam de algo brutal, mas isso não me surpreendia. Muitas lobas capturadas carregavam cicatrizes.O que me intrigava era outra coisa.Os calos específicos nas pontas dos dedos.Aquilo não era de esfregar chão.Não era de carregar caixas, lavar roupas ou